A Conspiração, um segredo em H



5> A conspiração, um segredo em Hogwarts

A chuva caía vagarosamente no pequeno vilarejo em Hogsmeade. O bar “Três Vassouras” estava bastante lotado aquele dia. Risos harmoniosos, cumprimentos e tranqüilidade eram o que se via em todo o bar. Havia todo o tipo de gente naquele lugar: duendes, bruxos, trouxas com talentos mágicos, entre uma porção de figuras que, se não fossem assustadores, seriam hilários.
Não era exatamente o tipo de ambiente que uma pessoa comum freqüentaria, mas afinal de contas, era o lugar perfeito para se tomar uma cerveja amanteigada. Madame Rosmerta, dona do bar, recebia todos os clientes calorosamente. Ela sempre passou uma energia positiva, uma mulher de garra que, a vida toda, tocou seu próprio negócio por sua conta.
A porta do bar se abriu, deixando a chuva penetrar no bar. Assim que se fechou, o clima pareceu ter esfriado, até se tornar gélido.
_ Lenha na fogueira! – gritou Rosmerta e, imediatamente, uma labareda intensa brotou da madeira seca que estava na lareira. O lugar estava se reaquecendo mas, o grupo de quatro pessoas que acabara de chegar não parecia contente com o clima de festa que contagiava a todos, o que, aliás, se tornou freqüente depois que Voldemort foi destruído.
O grupo seguiu uma mulher que estava à frente. Juntos, se sentaram ao redor de uma mesa, a mais distante da lareira e das pessoas. A mulher à frente tinha vestes púrpura, um chapéu oval e, em sua extremidade, um véu semitransparente que cobria seu rosto parcialmente, deixando os lábios apenas à mostra. O restante do grupo tinha suas faces cobertas por cachecóis, chapéus e capuzes. Rosmerta se dirigiu a eles, para atendê-los.
_ Sejam bem vindos. – disse ela com um contagiante sorriso –o que vão pedir?
_ Não pretendo beber nada aqui. – falou com rispidez a mulher.
_ Um uísque. – falou o homem ao seu lado, com uma voz arrastada e breve.
Os outros dois homens, por outro lado, se mantiveram em completo silêncio, sem nem dar ao trabalho de olhar à dona bar. Rosmerta não pareceu muito satisfeita depois do tratamento frio.
_ Muito bem, então... – resmungou ela, anotando o pedido na caderneta – um uísque.
_ Não demore. Não queremos ser incomodados. – falou a voz arrastada.
_ Pois não.
Rosmerta saiu da mesa, um tanto desconcertada, mas furiosa. Ela sempre foi uma mulher um tanto intransigente. Ao se distanciar da mesa, o grupo começou uma conversa um tanto desconfiada:
_ Não foi possível realizar o que deveria ser feito, mi...
_ Cale-se. – cochichou a voz arrastada, interrompendo a mulher que parecia tentar se explicar – não dê motivos para pensarem... Pois bem, você fracassou. Continue.
_ Eu... Não pude colocar o plano em prática. Sinto muito. Não era para acontecer. – a mulher parecia transtornada e seu sussurro saia quase como uma súplica.
_ Não adianta lamentar, sua inútil. – falou a mesma voz arrastada – eu não...
_ Prontinho. – Rosmerta se aproximara e trazia consigo uma bandeja com uma taça de uísque e a garrafa – seu pedido, senhor. São doze nuques.
O homem fez um gesto com a mão para a mulher que, entendendo o sinal, retirou algumas moedas do bolso e entregou à dona do bar.
_ Não nos perturbe mais, mulher. – falou à Rosmerta – não queremos mais nada de você.
Furiosa, Rosmerta saiu da mesa arrastando os pés, se segurando para não acerta-los com a garrafa bem no meio das fuças.
_ Como eu ia dizendo... – continuou a voz arrastada – graças ao seu fracasso, tive de preparar algo de extrema urgência. E todos viram o fracasso em minha investida contra ele. Não sei como, ou o porquê... Mas, novamente... Ele conseguiu.
_ Eu concluo, mi... Digo chefe, que, talvez o feitiço não tenha sido feito com tanta eficácia como seria se, bem... Se estivesse...
_ Não pense em concluir seu comentário inútil, Goyle. Você não está aqui para concluir ou pensar, o que não é seu forte. – guinchou a voz arrastada e, o segundo homem com quem discutira, abaixara a cabeça e ficara em completo silêncio – eu não estou disposto a esperar mais tempo. Temos que fazer alguma coisa.
_ Talvez... – o terceiro homem interrompeu – como sabemos, ele irá para Hogwarts, não é mesmo?
_ Não diga besteiras, Crabble. – sussurrou a mulher com certa insatisfação – acha mesmo que, dentro da escola, conseguiremos fazer alguma coisa. Viu, há dois anos atrás, como estão preparados para um duelo em magia? Somos em pequeno número. Não podemos...
_ Não venha repreender Crabble, sua mulherzinha insolente. – interrompeu o chefe do grupo – não tem essa moral. Estava mesmo considerando essa idéia do Crabble. Temos, no entanto, que estudar essa questão. Existe muito mais naquele lugar do que uma simples escola de magia.
_ O que quer dizer, chefe? – perguntou Goyle.
_ Uma pessoa muito próxima de mim andou pesquisando enquanto u estava, digamos, fora de circulação. É interessante o que se pode descobrir na sala de Alvo Dumbledore, sabem.
_ O senhor poderia... nos dividir essa informação? – perguntou a mulher.
O homem deu uma risada rouca e abafada, o que soava como um gemido de tortura.
_ Acha mesmo que, com a incompetência de vocês, eu dividiria uma informação tão importante? O único que posso lhes dizer é que, de um jeito ou de outro, eu vou vencer. Não existe a menor chance de perder agora. Não, agora que eu sei o que aquele lugarzinho esconde. Algo muito maior. Coloquem uma coisa nesses seus cérebros minúsculos: não existe a menor possibilidade de sairmos vencidos.
Os quatro abafaram risadas maléficas e, em seguida, a mulher continuou:
_ Diga-nos... o senhor nos inclui nesse plano de dominação?
_ De certa forma, sim. Mas não fiquem muito contentes. São funções pouco úteis. Você – falou a voz arrastada, se dirigindo à mulher – será, de certa forma, uma porta para minha entrada naquela escola.
_ Será uma honra... – disse ela, demonstrando pouco entusiasmo. E, ao que pareceu, o homem também percebera a hipocrisia por parte de sua seguidora. Olhou-a nos olhos e falou, ameaçadoramente:
_ Nem pense, garota. Não me deixe na mão... como eu gostaria que você fosse como Bella, fiel até a morte.
_ como ela está, chefe? – perguntou Goyle.
_ Está muito bem. Sobreviveu ao castigo, se é o que querem dizer – disse ele – seu corpo ainda está aos pedaços. Mas Pansy Parkinson está fazendo o que pode para curá-la. Vamos embora. O lugar está começando a ficar cheio. Podem acabar nos ouvindo. Levantem-se.
E, dizendo isso, os quatro se levantaram, suas vestes deslizando sorrateiramente no chão. Caminharam vagarosamente até a saída. A chuva já estava mais branda. Vendo isso, o grupo seguiu até o ponto mais escuro do vilarejo. Ali mesmo esses aparataram, deixando a noite gélida para os que queriam um pouco de diversão.

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Harry não poderia acreditar no que acabara de lhe ocorrer. Uma voz desconhecida falara com ele, mas não havia ninguém. Com certeza sua mente estava lhe pregando uma peça. Era impossível. A única vez em que isso lhe acontecera fora no segundo ano em Hogwarts, quando um basilisco havia se instalado na escola. Era pouco provável que outra dessa serpente gigante estivesse rondando A Toca. Não, definitivamente não era um basilisco. Não era ninguém à sua volta. A voz estava em sua cabeça. A voz que o chamara falava com ele em pensamento. Mas o que, seja quem fosse, estava querendo dizer com aquilo... “No jogo... Eu lhe mostrei... Meu grande poder...”. Não poderia ser verdade. Seu corpo estava trêmulo. Como poderia revidar ou se defender de algo que estava dentro de sua cabeça? Teve o sonho, o estranho sonho. Se lembrara de estar com Bellatriz aos seus pés, aparentemente morta. Inesperadamente, começou a gritar, pedindo que saísse de sua cabeça. O que, afinal de contas, queria dizer aquele sonho bizarro? Cogitou a hipótese de ser uma premonição, uma visão do futuro. Mas, pensando melhor, talvez fosse só um sonho.
Temeroso com a reação da voz em sua cabeça, Harry falou quase tão baixo quanto antes, para que não pensassem que estava ficando louco ou algo do tipo:
_ Quem... Quem está aí? O que quer dizer?
Silêncio. A voz parecia ter sumido de sua cabeça. Seria mesmo algum delírio? Preferiu não pensar nisso o resto da noite. Achou mais conveniente descansar e torcer para, a partir daquele dia, não ouvir nenhuma outra voz estranha.
Dirigiu-se até o quarto de Rony, onde sua cama de armar já estava pronta. A Sra. Weasley sempre tivera uma grande admiração por Harry, e sempre o tratava como um filho e, ele em resposta, a tratava como uma mãe.
Harry, por outro lado, não estava com um pingo de sono que fosse. Ficara quase dois dias seguidos dormindo confortavelmente n’A Toca. Não tinha motivos para dormir. Percebendo isso, Harry abriu seu malão com todos os seus pertences, procurando o antigo álbum que Hagrid lhe dera. Há muito tempo não olhava a foto dos pais, uma das poucas coisas que lhe dava mais alegria. Lá estavam as coisas que ele sempre trouxe consigo desde o dia em que as ganhara. O medalhão com a sigla R.A.B. e um espelho que Sirius lhe dera antes de morrer. Todo o seu passado cabia dentro de uma mala. Pensando nisso, Harry ficou se perguntando se valia a pena todos terem sofrido por causa dele. Ficou se perguntando se valia tanto quanto todos diziam. Dumbledore, Sirius, seus pais... Tantos foram os que morreram, apenas para que um jovem que mal podia acreditar em si mesmo continuasse vivo.
Um sentimento de culpa lhe veio à cabeça. Certamente ele daria sua vida pelas pessoas que mais amava. Harry derramaria a sua última gota de sangue, apenas para poder ver seus pais, Sirius e Dumbledore vivos outra vez. Seu pai e sua mãe trabalhando no Ministério, como a muito tempo. Sirius andando na sua velha moto voadora, e Dumbledore, com aquela barba alva e olhos muito azuis, tomando conta de Hogwarts, como fazia há muito tempo.
Harry ficou observando a mão que, durante a copa, fora mutilada pela explosão. Sentiu raiva de si mesmo. Durante muito tempo, Harry viveu ameaçado por magia das trevas. Porém, ele nunca saiu dessas situações com alguns arranhões e umas cicatrizes, algumas até que nunca sararam. Enquanto isso, alguns de seus entes queridos, que sempre foram esplêndidos bruxos, acabaram derrotados por Voldemort. Harry queria culpar alguém por tudo o que acontecera em sua vida. Mas, não adiantava culpar o Lord das Trevas. Já estava morto. A única pessoa que realmente Harry culpara era a si mesmo. Dezoito anos com o peso da culpa em suas costas, carregando esse fardo até o fim de sua vida. Harry viu lares felizes sendo destruídos, pessoas de coração nobre sendo exterminadas, enquanto seu corpo inútil permanecia ali, inteiro.
Lágrimas de ira e desespero, misturadas à dor da perda, rolavam em seu rosto. Sua face cansada já mostrava sua desistência. Por que, afinal de contas, aquele pomo não o matou ali mesmo? Por que se sentia tão culpado em estar vivo? Eram dores que o marcavam mais que uma cicatriz em forma de raio. Cerrou os punhos e os dentes, na tentativa inútil de afastar toda a sua dor. Mas nada poderia tirar de seu coração o remorso. Nunca pôde dizer ao seu padrinho o quanto o amava. Nunca perguntou a Dumbledore nada sobre a vida dele, ao invés disso, sempre falavam sobre Harry Potter. Nunca pôde beijar o rosto de sua mãe e poder demonstrar a admiração que tinha por ela. Nunca pôde dizer ao seu pai como era um excelente apanhador, e como era hábil na vassoura. Mas, talvez, todos eles já sabiam disso.

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Harry abriu os olhos. O sol que entrava pela janela incomodava seus olhos, que estavam desacostumados com a luz. Adormecera em cima do álbum de fotos, do espelho e da capa de invisibilidade. Talvez o desgaste emocional da noite anterior esgotara com o seu ânimo. E, pelo que parecia, Rony já estava acordado, pois sua cama desarrumada estava vazia. Harry recolocou seus pertences no malão, trocou de roupas e desceu para o café da manhã.
Não tinha pressa alguma em descer. Quanto mais tempo sozinho, melhor seria. Não queria ver mais ninguém se preocupando com seu estado, já havia dado muito trabalho aos weasley e não queria aborrecê-los ainda mais com seus delírios e vozes do além que o chamava. Mas, apesar de tudo, Harry se sentia muito melhor. Seu corpo e alma pareciam mais leves, como se parte de um peso que carregava fosse tirado de suas costas. Ele sabia como aquela casa o fazia se sentir bem, por isso não tinha a menor vontade de ir embora.
Ao chegar à cozinha, duas mesas compridas estavam postas para o café da manhã. Sentado em uma mesa estava o Sr. e a Sra. Weasley, os gêmeos, Lupin, Tonks, Carlinhos, Gui e Fleur. Na outra mesa estavam Rony, Hermione, Gina e Olho-Tonto Moody. Harry sentiu certa satisfação em vê-lo, já que o homem, apesar de velho, inspirava muita segurança. Depois de cumprimentar Fleur e parabenizá-la mais uma vez pelo casamento, Harry fez questão de se sentar ao lado dele, que estava a contar suas antigas histórias de como fazia para capturar Comensais.
_ Harry, você nem acredita! – exclamou Rony – Olho-Tonto estava nos contando que, uma fez, com o feitiço para desarmar, ele desarmou mais de quinze comensais!
_ Não fique tão estupefato, garoto. – rosnou Moody – fique sabendo que, mesmo assim, eles ainda conseguiram me derrubar. Foi muita sorte Kingsley Shacklebolt ter aparecido na hora certa. Eu poderia estar morto uma hora dessas.
Moody ficou observando a expressão de Harry. O jovem estava se servindo de um suco de abóbora e algumas torradas com geléia de morango.
_Hei, Harry. – falou Moody, seu olho esquerdo rodando para todos os lados, como se estivesse em vigilância – Está ansioso para começar as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas?
Harry ficou pensativo. Não tinha muita certeza se tinha competência para a profissão.
_ Não sei bem... tenho dezoito anos, e a turma para quem vou ensinar tem apenas três anos menos. É estranho, entende...
_ realmente, você é o professor mais novo da história, Harry. – continuou Moody com sua voz rouca – Mas todos sabemos que você sempre admirou essa matéria e sempre se mostrou eficiente nela. Se McGonagall o indicou para o cargo, certamente você tem a capacidade.
Harry ouvira as palavras de Moody com certo entusiasmo. Conhecia a Profa. McGonagall e sabia como ela era severa e exigente. Ouvir que ela própria o indicara como um professor capacitado para o cargo era um elogio e tanto.
_ Garanto que você consegue, Harry. – falou Hermione – você sempre foi melhor do que qualquer um em Defesa Contra as Artes das Trevas. Lembra-se da A.D.? Você ensinou perfeitamente o Patrono, Harry! O seu Patrono é, com certeza, um dos mais fortes que alguém já viu.
_ É isso aí, Harry. – concordou Rony – Você já conseguiu vencer dezenas de dementadores com um único Patrono. Aquilo foi magnífico.
_ É, acho que posso conseguir. – falou Harry, se sentindo mais confiante – Hermione, você disse que também iria para Hogwarts, não é mesmo?
_ Sim. Tenho que fazer algumas coisas. – respondeu ela, com um olhar misterioso.
_ Hei, e eu vou ficar aqui? – indagou rony – O próximo jogo é daqui a três meses e meio! Eu bem que poderia ir com vocês.
_ Harry, meu filho. – falou Sra. Weasley, que estava atenta à conversa – Hogwarts não é uma hospedaria.
_ Eu fico em Hogsmeade. Não tenho nada para fazer aqui mesmo...
_ Você tem que treinar,Rony. – retrucou Hermione – vocês vão jogar contra os búlgaros. Não vai ser fácil.
_ Eu posso treinar no campo da escola, acho que a Profa. McGonagall não se importaria. E Harry poderia jogar também. Nunca se sabe quando um apanhador vai se ausentar do jogo.
_ Falando nisso... – continuou Gui – o que aconteceu com o apanhador da Inglaterra?
_ Fawlks Flinter? Ele foi encontrado no beco do Rompheus. Aparentemente, ele foi pego de surpresa por algum torcedor alemão indignado. Tinha sido enfeitiçado com um feitiço para dormir.
_ enfeitiçado? – perguntou Moody – isso só...
_ Por favor, Moody. – falou Tonks, bebericando um pouco de vinho – não me venha com suas teorias conspiratórias.
_ Pode ter sido uma forma calculista que algum Comensal encontrou de explodir Harry em mil pedaços.
Harry cuspiu, discretamente, a torrada de sua boca. Moody, mesmo com suas paranóias, acertara várias vezes em ralação á conspirações. Mas, por outro lado, poderia ser apenas uma rincha de torcedores.
_ Um feitiço simples como esse, Moody? – falou Arthur – acha mesmo que eu Comensal deixaria as provas tão evidentes? Não há dúvidas que o pomo foi obra de algum Comensal mas, pensa que tudo isso foi premeditado? Oras. Você viu, Moody. Aquele pomo foi uma prova concreta de que a força das trevas está se dissipando, e um ataque desesperado desses só pode significar a decadência para eles.
_ Exatamente. – falou Moody – um ataque desesperado requer medidas desesperadas. Com certeza o tal Comensal não pensou bem antes de agir.
Todos pareceu discordar mas, Harry por outro lado, sentia que havia alguma coisa de verdade nas palavras de Olho-Tonto. Não havia mais nada a se fazer. Harry só poderia saborear o café da manhã com seus amigos e aproveitar o momento de confraternização.

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