Sarando feridas.*REPOSTADO*

Capítulo 2: Sarando feridas.

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Ao chegarem à entrada da ala hospitalar se depararam com o local apinhado de gente. Muitos curandeiros, aparentemente do Saint Mungus devido o uniforme que usavam, andavam por ali ajudando a cuidar dos feridos. Atarefados, corriam de um lado para outro com frascos de poções nas mãos. Todas as macas estavam ocupadas e outras, menores, estavam sendo conjuradas para atender os casos menos graves, e boa parte delas já estavam ocupadas por colegas ou conhecidos de Harry e Hermione.

Pessoas apressadas e aflitas chegavam a todo instante, procurando por familiares e amigos, outros tantos estavam já à beira de seus leitos os abraçando aliviados, e alguns apenas se oferecendo como voluntários. Sem dúvidas, aquele era o local mais barulhento e movimentado do castelo, mas, apesar da atmosfera carregada, as conversas pareciam acaloradas e, inclusive, entusiasmadas.

À esquerda viram Luna Lovegood acompanhando Dino Thomas, que parecia estar dormindo em uma das macas improvisadas. Os dois haviam ficado muito amigos após a captura pelos comensais. Mais à frente, do lado direito, estava um carrancudo Neville sendo praticamente forçado pela avó a tomar uma poção. Harry queria muito falar com eles, mas em outro momento talvez, pois uma massa de cabelos vermelhos, bem ao fundo da enfermaria, chamou sua atenção.

Por um momento, Harry chegou a pensar que sua presença passaria despercebida. Ledo engano. Assim que ele e Hermione entraram, a balburdia logo se transformou em um silêncio constrangedor. Todas as atenções se voltaram para eles.

 Harry temia amargamente que isso acontecesse. No momento, achava que só era um rapaz extremamente cansado, faminto, cheio de cortes e hematomas. Mas para todos ali ele era mais que isso. Para seu profundo desgosto, todos ali o consideravam “o salvador do mundo mágico”. Se antes a fama idiota que tinha o incomodava, agora definitivamente ele teria de se acostumar com isso.

Corajosamente, seguiu em frente tentando não olhar para o chão, porém, nada o preparou para o que se seguiu. Neville começou a aplaudir e foi rapidamente seguido por Luna, depois a Sra. Longbotton e todos os curandeiros, inclusive madame Pomfrey, até que toda a ala hospitalar prorrompeu em aplausos.

Harry ficou sem reação e procurou pela mão de Hermione, na qual, assim que encontrou, apertou com força, recebendo retorno da amiga. Caminhou pela ala sem saber como reagir aos acenos e sorrisinhos que vinham de todas as direções. Olhou de relance para os lados com um sorriso acanhado nos lábios, e ergueu uma das mãos em agradecimento, desejando que um hipogrifo caísse em cima dele naquele momento. Apertou ainda mais a mão de Hermione puxando-a decidido até o fundo da sala.

- Herrmion’! Arry! – disse Fleur abraçando cada um.

- Harry! Procurei você por toda a parte. Estava tão preocupada. – disparou a senhora Weasley agarrando-o em um abraço carinhoso e aliviado e, em seguida, segurando seu rosto com as mãos - Céus, olhe só o seu estado! Está pior que o Rony. Vamos, sente na cama que trarei um curandeiro para te medicar. E ninguém saia daqui! Não quero mais perder nenhum de vocês de vista! – disse, mostrando a cama e saindo em direção aos curandeiros.

Aos poucos as atenções desviaram de Harry e a enfermaria a foi voltando ao normal.

Harry viu que, além da senhora Weasley e Fleur, Rony, Percy e Gui também estavam ali. Percy estava sentado na cama somente com uma faixa amarrada no tornozelo esquerdo, mas parecendo bem, assim como Gui e Fleur, que estavam de pé apenas com alguns arranhões. Já Rony ocupava uma cadeira logo ao lado, com os cortes já parcialmente fechados e apenas alguns hematomas nos braços, parecendo bastante cansado. Apesar de estarem bem, Harry nunca os tinha visto tão arrasados. Até mesmo Percy, sempre tão pomposo e cheio de dignidade, mais parecia um fantasma no momento.

Fleur caminhou até Harry e o abraçou novamente, com uma força que nem parecia ser dela, o que lhe rendeu algumas caretas e um pequeno gemido de dor.

- Ah, Arry... me desculp’!

- Tudo bem! – Harry respondeu, tentando sorrir.

- Cara, você ta um bagaço! – disse Gui, dando um tapinha em seu ombro.

- É, e eu acho que mais do que nunca precisa de um banho, assim como eu. – Rony falou enquanto era abraçado por Hermione – E você também Mione.

Nesse momento, madame Pomfrey e um jovem curandeiro apareceram com suas bandejas abarrotadas de pequenos frascos coloridos. Forçaram Harry e Hermione a sentarem na cama ao lado de Percy e, com ajuda da Sra. Weasley, começaram a passar poções em seus ferimentos, que instantaneamente se fechavam.

- Vocês realmente passaram por momentos bem difíceis enquanto estiveram desaparecidos. - comentou a curandeira analisando as cicatrizes pelo corpo de Harry – Essas marcas não são tão antigas e a maioria vai desaparecer totalmente. Quem tratou desses ferimentos fez um ótimo trabalho. – disse, lançando um sorriso para Hermione.

- É! Não sei o que seriamos de nós dois sem ela. – disse Rony, lembrando particularmente do quase estrunchamento que sofreu após uma aparatação mal sucedida.

- Bom, quem sabe a senhorita siga esse caminho após se formar, hein? Você tem talento. – madame Pomfrey sugeriu enquanto verificava os resultados de seu trabalho nos machucados de Harry; dando-se por satisfeita, guardou os materiais dizendo: - Acho que uma boa poção revigorante seria bem-vinda. Só um instante!- E se retirou para sua sala.

Hermione fitava a Sra. Weasley, que parecia absorta em pensamentos e levemente distraída enquanto terminava de passar uma poção em um corte grande de sua perna.

- Eh... Sra. Weasley... Eu... – tentou falar a jovem, mas, parecendo não encontrar as palavras certas, segurou no braço da senhora e a trouxe lentamente para um abraço, murmurando um ‘sinto muito’.

A senhora Weasley retribuiu o gesto e, não conseguindo controlar a emoção, se entregou profundamente ao abraço sincero de Hermione. Fleur também abraçou Gui, escondendo o belo rosto no peito do marido que ficou acariciando seus cabelos platinados distraidamente observando sua mãe e Hermione. Rony, estranhamente sério, caminhou lentamente até a janela, de onde passou a admirar os jardins da escola. Percy, no entanto, baixou a cabeça e disse:

- Harry, eu acho que te devo desculpas. – começou muito vermelho e parecendo bastante envergonhado.

Harry nunca vira Percy tão humilde e isso o fez desviar a atenção de Hermione e da Sra. Weasley. Ao fitá-lo se deu conta de que não tinha o que perdoar, além do mais, dificilmente alguém ali passara por todo esse período de trevas sem cometer erros. Ele mesmo cometera vários. 

- Percy, eu não tenho o que perdoar. – Harry respondeu sinceramente.

- Isso não apaga o fato de eu ter sido um verdadeiro imbecil com você e com minha família por todo esse tempo!

Harry teve que concordar intimamente com isso, porém, apenas segurou no ombro do rapaz e disse:

- Bem vindo de volta!

Percy levantou a cabeça com um discreto sorriso, afinal, achava que o mínimo que ele merecia de Harry era um belo soco bem ao estilo trouxa. Foram interrompidos pelo retorno de madame Pomfrey que trazia quatro frascos de poções, entregando-os a Percy, Rony, Harry e Hermione.

- Bebam tudo de uma vez, os ajudará a se sentir melhor!

Os quatro beberam em meio a caretas devido ao gosto amargo da poção e em seguida se sentiram bem mais dispostos.

- Se quiserem podem ir descansar. Minerva me pediu para avisar que seus dormitórios no salão comunal da Grifinória estão à disposição. A senha é PAZ. Se quiserem algo para comer algum dos elfos domésticos do castelo pode levar até lá, já que, imagino, um pouco de privacidade não lhes fará mal algum, certo? – dizia rápido enquanto recolhia os frascos vazios – Sugiro que descansem e qualquer mal-estar me procurem imediatamente aqui! – Olhou para cada um deles e acrescentou – Cuidem-se jovens, e aproveitem para tirar um bom sono, afinal, precisam apagar um pouco os horrores pela qual foram obrigados a passar. Ah, isso pode ajudar a relaxar. – disse tirando um frasco cheio de um líquido azul e depositando nas mãos de Hermione, que sorriu ao reconhecer a poção – Tenho certeza de que a senhorita sabe do que se trata. Dividam entre vocês.

- O que é isso Mione? – perguntou Rony, olhando o frasco com curiosidade, assim que a curandeira se retirou.

Quem respondeu foi Harry.

- Poção para dormir sem sonhar!

- Como você sabe? – quis saber Rony, olhando divertido para Harry, que ergueu as sobrancelhas.

- Bem, na verdade só sei por que já tomei algumas vezes. – respondeu, dando de ombros, no que Rony pareceu satisfeito.

- Eu preferia que fôssemos todos para a Toca, mas Arthur e eu ainda temos que cuidar de algumas coisas aqui e... – Molly dizia enquanto guardava um casaco em sua bolsa – Bom, é melhor vocês subirem para o dormitório, além do mais, terão mais conforto aqui em Hogwarts. Não saiam sem nos avisar. Não quero ficar como louca procurando vocês, entenderam?

- Você e papai também precisam descansar, mãe. Já disse que posso ficar aqui mais um pouco e cuidar do restante. – falou Gui afagando os cabelos da mãe.

- Obrigada querido! Mas seu pai e eu já estamos dando um jeito. É melhor você ir para casa levar sua esposa para descansar, qualquer coisa eu aviso. – depositou um beijo na testa do filho mais velho e lançou um sorriso cansado aos demais, se retirando a seguir.

- Onde está a Gina? – quis saber Hermione, o que fez Harry olhar ao redor aguardando resposta, pois havia tempo que não a via.

- Está fazendo companhia ao Jorge. Vocês devem imaginar o estado em que ele está, não é? – disse Gui pesaroso.

- Todos nós estamos péssimos, mas Jorge está irreconhecível. Não aceita de forma alguma a morte do Fred e está reagindo muito pior que a mamãe.

Após as palavras de Percy, um silêncio doloroso se seguiu.

- Acho melhor subirmos. Não agüento mais ficar aqui! – disse Rony segurando timidamente a mão de Hermione, que sorriu para ele.

- Também vou para casa. Mais tarde apareço. – falou Gui – Ainda é cedo e acho que merecemos descansar o resto do dia. Não quer vir conosco Percy?

- Ah, eu... não sei! – respondeu meio sem jeito.

- Orra vamos! Temos quartes en casa parra você! – insistiu Fleur olhando para o cunhado.

- Tudo bem então!

- Não vou dizer para vocês três se cuidarem, porque pelo visto vocês sabem fazer isso muito bem. Até logo! – Gui acenou, se retirando a seguir com a esposa e o irmão.

- É, que bom que recuperamos o Percy. Infelizmente isso não apaga o fato de termos perdido o Fred. É tão injusto! – desabafou um Rony cabisbaixo e abatido.

- Rony, eu... – começou Harry, no que foi interrompido pelo amigo.

- Ah, Harry, nem vem! Você não vai me pedir desculpas pela morte do Fred, não é? – disse o ruivo bruscamente, encarando o amigo.

Harry olhou de um Rony impaciente e com as orelhas já começando a ficarem vermelhas para uma Hermione aflita que mordia o lábio inferior, e daí novamente para o amigo. Nem mesmo ele saberia dizer quão forte era o sentimento que ele tinha por aqueles dois. Eram tão diferentes um do outro, cada um com seu jeito peculiar. Mas essas diferenças pareciam se encaixar de uma forma inexplicável, fazendo com que as qualidades de um encobrissem as falhas do outro, tornando a amizade deles um fato concreto e indissolúvel. Enfim sentiu aquele nó em seu peito começar a afrouxar.

- Não cara! Só ia dizer que você pode contar comigo. Ainda sou seu amigo, não é?

Rony sorriu, mas em seguida estreitou os olhos e pôs a mão livre – a outra ainda estava firme na de Hermione – no queixo, falsamente pensativo.

- Isso depende. Quem sabe se você pedir para o Monstro preparar uns sanduíches bem apetitosos e levar até o dormitório pra gente eu possa pensar se ainda vale a pena ser amigo de alguém tão cabeçudo. – Rony disse, finalmente arrancando um sorriso dos amigos. Então, passou o braço pelos ombros de Harry, e apertou ainda mais a mão de Hermione, dizendo: - Bom, então vamos de uma vez pra esse bendito dormitório... minha cama de dossel já deve estar impaciente pra receber esse corpinho!

Então seguiram juntos para o tão merecido descanso.

 

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