Destino



Capítulo 24
Destino

- Ced... – toquei o rosto dele com meus dedos – Não se preocupe! Tudo vai ficar bem...
- Mas e se tudo for em vão? E se acontecer o pior?
- Ced... Nunca pense no pior... E se acontecer... Aconteceu! Mas nada terá sido em vão! Agora vem... Vamos dar uma volta! – puxei um Cedrico desanimado pela mão.
Fomos para o jardim. No mesmo lugar. Ficamos, ali, parados, observando o lago.
- Só quero que você saiba que, aconteça o que acontecer, eu amo você! – falou Cedrico, dessa vez se virando para mim.
- Eu também te amo, Ced... Mas despedidas não serão necessárias! Confie em mim!
Puxei-o para perto de mim e beijei-o, como nunca fizera antes. Como se o medo me dominasse e pudesse levar meus mais profundos sentimentos por aquele garoto.
Foi uma (mais uma) noite turbulenta. Com vários pesadelos e acordando várias vezes.
O dia seguinte acordou estranho. Uma nuvem de chuva encobria o castelo de Hogwarts. Seguimos com as aulas normais aquele dia, embora não conseguia pensar em nada. Nenhum aluno foi avisado do acontecimento daquela noite. Dumbledore preferira manter tudo em segredo.
À tarde, encontrei Rony, que acabara de me informar que Cedrico procurara por mim. Procurei-o, mas sem sucesso.
Saímos do castelo às 19h30min... Até chegarmos à floresta, atingiríamos o horário combinado. Saímos, deixando um Rony impaciente, um Dumbledore pensativo e uma Hermione chorosa. Até aquela hora, nenhuma palavra fora trocada entre nós três, e Cedrico pareceu ter alguma coisa para me dizer.
As árvores faziam um barulho estranho. Os galhos, ao serem pisados, emitiam sons apavorantes. Seguimos os três, lado a lado.
Onde é que aquilo tudo iria parar? Até que ponto deveríamos alcançar? A resposta veio em breve. Chegamos ao centro da floresta. Uma claridão insuportável de doer os olhos. De longe, apenas três vultos poderiam ser vistos. Caminhamos bem, até onde poderíamos distinguir os rostos.
Era o que ela imaginava. Parados a frente estavam Voldemort, Draco Malfoy e Melanie Addam. Os três possuíam uma expressão parecida e tinham um sorriso vitorioso nos lábios.
- Ah, vejam só.... Eles não são tão covardes quanto imaginávamos... – começou Voldemort.
- Mas vieram pra uma festinha particular que acabará em segundos... – Melanie aproveitara a deixa.
- Vocês acham mesmo que estão com essa bola toda não? – provoquei.
- Ah, veja só... Eles aprenderam a falar em Hogwarts! Interessante... – arriscou Voldemort.
- Não... Engano seu... Nós não aprendemos a falar em Hogwarts... Mas aprendemos a duelar! – afirmou Harry.
- Ah, Potter, Potter... Você sabe que terá o mesmo destino de seus pais... Não adianta mudar... Mas vamos ao que interessa! Somos três... Um para cada um... O que acham?
- Ótimo... Eu fico com a bonitinha... Ah, Melissa! Finalmente vamos poder acabar com essa história, não? – era Melanie.
- Eu fico com o que sobrou... Esse Diggory deve ser um babaca! – afirmou Malfoy.
- Veja só, Harry! E o destino nos uniu novamente...
Foi o que se viu naquela noite. Seis pessoas duelando. Melissa contra Melanie, Cedrico contra Malfoy e Harry contra Voldemort.
Estava sem dúvida nenhuma, uma disputa acirrada.
Mas a coisa tava pior para o lado de Melissa e Melanie.
- Você acha que foi tudo por acaso? – perguntou Melanie – Não. Assim como a morte de seus pais não foi por acaso...
- O que você quer dizer com isso?
- Você acha mesmo que seus pais morreram por um problema no carro? Não seja tola! Vou te contar a verdadeira história... Você foi chamada até Beauxbatons àquela noite pra quê? Era óbvio! Lord Voldemort queria tirar você do caminho...
- Eu sabia que Voldemort estava por trás disso!
- E então EU causei o “acidente”! – afirmou Melanie.
- Você o quê? – uma raiva se aglomerava no interior dela.
- EU MATEI SEUS PAIS! – Melanie riu – Eu fiz o carro cair daquele precipício! Achei que você fosse mais esperta, Melissa!
- Você é uma assassina fria e calculista!
- Ah, vamos parar com esses elogios! Vou acabar com você em menos de dois minutos! – falou Melanie.
- Ah... Não vai ser tão fácil assim querida!
- AVADA KEDAVRA! – gritou Melanie.
- EXPELLIARMUS! – gritou Melissa ao mesmo tempo.
Mas, as duas varinhas não se ligaram como todos imaginaram que seria. Pelo contrário. Nem chegaram a se encostar. Alguma coisa realmente diferente acontecia ali. Algum tipo de arco invisível impedia que os dois feitiços se unissem. Melanie parecia não entender a situação.
Já do outro lado da floresta... Harry, Voldemort, Cedrico e Malfoy também não pareciam obter sucesso em nenhum dos lados.
Num momento de descontração, Harry conseguira imobilizar Voldemort. Estava ali, estatelado. Impossibilitado de se mexer.
Melanie e Malfoy pareceram se desesperar ao verem a cena.
Melanie desistiu da maldição da morte e começou a apelar.
- CRUCIO! – gritou ela.
Melissa caiu no chão e começou a se contorcer. Por que se desconcentrara justo naquela hora? Melanie fazia sem dó, nem piedade.
Até que ela parou. Melissa arfava no chão.
- CRUCIO! – Melanie gritara outra vez.
Melissa voltara a se contorcer. Sentia uma dor insuportável dentro de si. Como se fosse morrer a qualquer momento.
Harry fitava Voldemort. Melanie continuava a aplicar a maldição Cruciatus em Melissa. Desistira, após umas quatro ou cinco tentativas.
- Vamos cair fora, Malfoy! Deixa-os aí... Não quero nem saber... Vai sujar pro nosso lado! Vamos embora... – Melanie parou ao lado de Voldemort e num minuto todos desapareceram.
Estava cansado. Apoiei a mão nos joelhos, baixando a coluna. Até ver o que não queria. Justo ela?
Ela se encontrava deitada no centro da floresta. Parecia sofrer muito. Estava pálida. Ofegava bastante e tinha o peito arfando. Caminhei próximo a ela e me ajoelhei. Seus cabelos loiros, por mais incrível que parecesse, permanecia intacto. Virou o rosto lentamente até ficar frente a frente comigo. Seus olhos lacrimejavam. Uma dor tomou todo o meu corpo de uma só vez. Observei-a silenciosamente.
- Estraguei tudo não foi? – começou lentamente, com dificuldade para falar.
- Claro que não! Você foi maravilhosa!
- Ced... – ela pareceu com uma grande dificuldade – Eu sei que pode parecer estranho, mas...
- Xiuu – coloquei um dedo em seus lábios.
- Preciso falar – continuou tomando fôlego – Não posso mais agüentar, Ced! Dói muito!
- Calma, Mel! Você pode! Você vai conseguir chegar ao castelo e poderá... – tentei continuar.
- Ced, não! Não dá mais! Eu sinto... – ela sorriu docemente como se aquilo a fizesse ficar mais tranqüila – Escuta... Eu te amo.
- Mel pára! – chorei.
Ela me fitou por algum tempo, contemplando-me. Em seguida, levou a mão até o bolso da capa e tirou um pedaço de pergaminho molhado. Colocou-o entre meus dedos e fechou-os, selando.
- Escrevi pra você. – sorriu.
Chorei. Ela estava ali, se perguntando como pudera se queixar sobre as coisas que lhe acontecera, se tinha um garoto perfeito, ao seu lado?
Remexi nos bolsos e ela pareceu atenta à situação.
- Harry está bem? – perguntou.
Limitei-me a assentir, preocupando-me apenas em encontrar alguma coisa nos bolsos. Quando encontrei, fitei-a. Uma lágrima escorrera dos meus olhos. Aproximei-me dela, e mostrei uma pequena caixinha de veludo preto em minhas mãos. Ela continuava a me fitar.
Limitei-me a abrir, ainda olhando os olhos tristes dela. Um anel de ouro branco reluziu dentro da caixa.
- Sabe o que é isso? – perguntei.
Ela chorou.
- Eu ia te pedir em namoro antes de descobrir sobre isso daqui... – esquadrinhei o local.
Ela não agüentou e chorou, mas não por muito tempo. Sorri. As lágrimas escorrendo sem medo pelo meu rosto.
- E então senhorita Bittencourt... Aceita namorar comigo? – perguntei, lutando contra minhas dores.
Ela limitou-se a assentir. As palavras já não conseguiam sair de sua boca. Peguei cuidadosamente sua mão direita, ela respirou fundo. Sentia dor. Fitei-a. Não sei quantos minutos realmente se passaram, até colocar o anel em seu dedo.
Imediatamente, ela levou a mesma mão até tocar meu rosto. A sua pele estava fria. Ficou assim por algum tempo. As lágrimas saltando pelos olhos, mas ela não conseguia esconder o sorriso. Aquele mesmo de quando nos encontrávamos. Os olhos brilhavam.
Ela fez menção de trazer meu rosto para mais perto e eu a acompanhei, transpondo nossas barreiras. Levou seus lábios aos meus. A frieza desses percorreu meu corpo rapidamente.
- Obrigada, Ced. – afastamo-nos um pouco, onde só nossos olhares se comunicavam.
Alisei carinhosamente sua pele e ela limitou-se a sorrir.
- Quero que fique com isto – ela levou as mãos atrás da nuca e retirou a correntinha prateada, entregando-a a mim – E eu quero que siga a sua vida normalmente.
- Eu te amo. – murmurou. Uma lágrima escorrera dos olhos dela.
- Eu também te amo. – uma lágrima escorreu pelo meu olho e foi parar em minha garganta.
Como um último ato e último desejo, levou seus lábios, enrijecidos pela frieza, aos meus.
Apesar do arrepio congelado que alcançava cada linha do meu corpo, ainda conseguia me sentir tranqüilo. Um calor instável, ela me acalmava.
Aos poucos percebi seus lábios relaxados e frios. Soltei-a e toda a felicidade havia se esvaído de meu corpo. Foram as últimas palavras que conseguiu pronunciar. Ela agora estava séria e já perdera o brilho no olhar.
Um grito ecoou pela floresta. Talvez significasse alguma coisa para alguém. Ela estava tão confiante...
Talvez aquele grito não tenha sido o suficiente para demostrar tamanha minha dor. Chorei muito ainda. Harry tentou me levar da floresta. Não podia deixá-la ali. Não naquele lugar frio.
Peguei-a no colo e carreguei-a até o jardim de Hogwarts. Todos pareceram muito felizes com o retorno dos três. Mas alguma coisa estava errada. Hermione fora a primeira a perceber o acontecido. Entrara em choque e chorava compulsivamente enquanto abraçava Harry.
E eu, ajoelhado frente ao corpo dela, chorava. Sem medo de críticas ou observações. Era doloroso saber que Melissa Bittencourt, a mulher que eu amava, estava agora morta.
Não poderia dormir aquela noite. O corpo fora retirado para o enterro no dia seguinte.
Fui até o local que ela mais gostava. A pedra que dava ampla visão do lago. Chorei ao me lembrar dela sentada, brincando com os fios de cabelo, enquanto me beijava. A corretinha ainda continuava apertada na minha mão.
Coloquei-a, sentindo-me mais tranqüilo. Mas uma coisa ainda me atormentava. Fui até Dumbledore para esclarecer a minha dúvida.
- Professor... Eu preciso saber de uma coisa sobre a morte da... – não consegui pronunciar.
- Imaginei que me procurasse...
- A Maldição Cruciatus pode matar? Que eu saiba ela leva as pessoas a loucura... Mas não sabia que a morte também! – afirmou Cedrico, não escondendo a lágrima que insistia em rolar de seus olhos.
- A maldição Cruciatus, Cedrico, não pode matar... – explicou Dumbledore.
- Mas, como a ela...?
- A Melissa perdera uma parte de si quando os pais morreram e outra parte quando ocorreu a morte dos avós... Portanto, ela tinha uma pequena parte que queria viver ainda... Uma pequena parte que queria lutar pela vida! Ela estava reencontrando forças nesse momento em que encontrou você Cedrico, mas infelizmente essa força que conseguiu não foi suficiente... Não era mais forte do que a que ela perdeu, entende? – explicou Dumbledore.
- Acho que sim... Bem, obrigada diretor.
- Não há de quer Cedrico... Mas lembre-se que a vida não termina aqui...
- Talvez a minha acabe sim, diretor... Perdi um pedaço tão grande quanto o dela... Talvez essa minha parte que quer viver esteja muito fraca para continuar!
E dizendo isso, me retirei. Precisava de um lugar tranqüilo ao qual não me incomodassem. Onde me deixassem chorar a maior perda da minha vida. Em minha mão, o pedaço de pergaminho amassado continuava. Abri. Uma caligrafia perfeita e pequena ocupava todo o papel.


Começou como um sentimento,
Que se transformou em uma esperança,
Que se transformou em um pensamento silencioso,
Que se transformou em uma palavra silenciosa,
E então essa palavra cresceu alta e mais alta
Até que teve uma batalha de choro.


Eu voltarei quando você me chamar.
Não precisa dizer adeus.
Só porque tudo está mudando
Não significa que nada será como antes.


Tudo que pode fazer é tentar conhecer quem são seus amigos
Como se sua cabeça estivesse na guerra.
Escolha uma estrela no horizonte escuro
E siga a luz.


Você voltará quando estiver acabado
Não precisa dizer adeus.
Você voltará quando estiver acabado
Não precisa dizer adeus.


Agora estamos de volta no começo.
É só um sentimento e ninguém pode sentir ainda,
Mas só porque ninguém pode sentir também,
Não significa que você também precisa esquecer.


Deixe as memórias crescerem fortes e mais fortes
Até que estejam na frente dos seus olhos.


Você voltará quando eles te chamarem
Não precisa dizer adeus.


Chorei. Em meu peito, um turbilhão de sentimentos. Estaquei. Ela sabia desde o início. Mas como os pensamentos vieram eles se foram. Concentrei-me na música. Eram as palavras mais doces que alguém poderia ouvir. Sim, porque em minha cabeça, ela estava ali, cantando e tocando para mim. Com a voz mais doce e mais suave que alguém poderia ter. E com um sorriso satisfeito e angelical.
Não foi fácil seguir os outros dias. Recusava-me a responder a qualquer pergunta. Quase dera um murro na cara de um garoto que queria saber como ela tinha morrido.

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