O silêncio dos galos



Capítulo 10
O silêncio dos galos


O dia raiou e nada mais era como havia sido. Um terrível poder havia sido despertado e mesmo aquela que cutucara o dragão adormecido ignorava a extensão do malfeito. Sua indole maldosa não deixou que se condoesse de ver um povo sucumbir ao aviltante encantamento que traçou destinos depois daquela noite de maldição.

Os elfos, até então vivendo pacificamente entre a proteção da floresta e seus encantos, abandonou seus lares ancestrais e irrompeu nas aldeias em busca de casas que pudessem servir, fielmente, para sempre. Levaram consigo toda a produção das plantações que prezavam, naqueles dias de penúria, e ofereceram aos seus donos, amos, como passara a chamar-se os bruxos que os admitiram em suas casas. Foram bem-vindos, ainda mais com os braços cobertos de nabos e sorrisos servis nas bocas. Mas os olhos eram baços, e o calor dos fogões onde se alojavam à noite não aquecia seus corpos sem vontade. Muitos bruxos questionaram aquele estranho fato mas poucos tentaram entender ou revertê-lo. Era conveniente ter comida e servos chegados inesperadamente numa manhã faminta. O orgulho dos bruxos não deixou que vissem aqueles seres como um povo de quem fora roubada a liberdade e a consciência. Bastava-lhes que os olhassem com admiração, carregassem a lenha e lhes trouxesse sapatos secos.

Isobel não lamentou. Adoeceu seriamente logo após o encantamento e a febre alta a fez delirar por dias. Teve o corpo coberto de escamas, que depois caíram deixando marcas permanentes. Sua aparência ficou tão horrenda que passou a ser evitada pelo resto da aldeia, mesmo os bruxos. Isobel não lamentou, novamente. Seus intentos foram bem sucedidos e ela pooderia concretizar o que planejara há muito tempo. A fome não era mais um empecilho e um elfo idoso, o mesmo ancião que lhe negara os nabos, agora colhia as ervas que ela necessitava. Isobel estava feliz. Adquirira mais poder do que imaginara um dia e tinha um escravo a lhe fazer as vontades. Mas feliz é uma palavra inadequada para Isobel. Ela não conhecia a paz que traz a felicidade, apenas a satisfação do desejo realizado.

A bruxa e o elfo seguiram novamente para a montanha, pois lá deveria existir o que ela precisava. Agora que Isobel conhecia o segredo do dragão, não precisaria seguir até Limerick em busca do ovo. Seguiria pela trilha e vasculharia as muitas câmaras da caverna até encontrar. E assim o fez, seguida de perto pelo velho elfo, que levava o fardo dos utensílios que Isobel precisaria e o fardo de ser um maldito servindo seu carrasco. Como a bruxa já tinha o sapo, que trazia num saco de tecido roto, poderia ficar na caverna de Sigurd e preparar o feitiço que planejara antes mesmo de seu filho partir.

Não recebera notícias de Salazar, mas assim que tudo estivesse pronto, ela o chamaria. Tinha o elfo que lhe serviria de mensageiro e estava certa de que Salazar ficaria contente com o que ela estava criando para ele. Todo Slytherin precisa de um animalzinho de estimação.

Ninguém lhe perguntou sobre o desaparecimento dos galos. Isobel não lamentou. Não fazia questão de travar conhecimentos com ninguém agora que tinha à vista o seu sonho acalentado em vias de se realizar. Quando Salazar viesse pegar seu bicho certamente se dedicaria, com maior determinação, a resgatar o que os trouxas lhes haviam roubado. Isobel tornara fácil intimidá-los. O que Isobel não sabia é que Salazar tinha outros planos.

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