Por um punhado de nabos



Capítulo 1
Por um punhado de nabos


Seguia o ano de 993 de Nosso Senhor com as estações se seguindo como manda a natureza. O inverno fora rigoroso aquele ano e muitas plantações ficaram completamente destruídas. Não muito havia resistido e, agora que a primavera finalmente se aproximava, muitos bruxos abandonaram as montanhas e se dirigiram aos acampamentos trouxas, no litoral, em busca de comida e meios de sobreviver. Essa não seria tarefa fácil pois o inverno atingira a todos, bruxos e trouxas. A magia, bem se sabe, não resolve todos os problemas.

Nas pequenas plantações, os elfos haviam colhido os últimos nabos, apenas o suficiente para alguns dias de alimentação parca, o que deixava os anciãos muito preocupados com a sobrevivência da tribo. Nem cogitavam abandonar aqueles campos, simples clareiras entre a vegetação fechada, onde viveram por muito mais tempo do que podiam lembrar. Alguma alternativa deveria ser encontrada, pensavam os velhos elfos, embora muitos dos jovens afirmassem, com seu desejo de aventuras, que deviam seguir os bruxos e estabelecer-se nas cidades.
No outono alguns desses bruxos tinham aparecido nas terras dos elfos e fizeram propostas de negócios aos anciãos, pretendendo trocar ferramentas e conhecimentos mágicos por nabos. Os líderes não aceitaram. Elfos não têm necessidade da magia dos bruxos porque têm a sua própria magia. Mas condoeram-se daqueles seres e lhes ofereceram uma tina de nabos. Os bruxos os aceitaram, pois estavam ficando com poucos víveres, mas não saíram dali muito satisfeitos.

Entre aqueles bruxos estava uma mulher bastante velha, de dedos nodosos e unhas escuras, que deixou o mais velho dos anciãos incomodado, algo aflito, embora ela não tivesse falado muito e nem proferido nenhuma ameaça. Era o jeito dela, uma atmosfera malfazeja que parecia criar com sua simples presença. Alegrou-se quando, finalmente, partiram. Não imaginou, contudo, o mal que poderia advir daquele encontro. Bruxos e elfos nunca foram muito chegados, ao contrário de outras espécies mágicas. Não eram tão arredios quanto os centauros nem tão opostos à presença bruxa nas proximidades, mas preferiam seguir suas tradições e tocar a vida sem interferências e os bruxos apreciavam ditar regras. Assim, quando se foram, toda a atenção do grupo voltou-se novamente ao problema da sobrevivência.

Longe dali, outro grupo estava reunido naquele momento com preocupações muito diferentes. O castelo que, por gerações pertencera à família Gryffindor, chegara às mãos de seu herdeiro natural, Godric, após a morte de seu pai. O jovem viu-se, então, diante da possibilidade de realizar um sonho acalentado por muito tempo.

Godric chegara de longa viagem e encontrara seu pai muito doente. Os ferimentos que sofrera nas muitas batalhas que lutara ao lado de Arthur finalmente mostraram seu efeito. Gregory Gryffindor lutara bravamente contra o tifo, mas a idade avançada e as lesões de batalha, que nunca se curaram por completo, o levaram a definhar em pouco tempo. Assim, quando seu único filho e herdeiro chegou, ele já estava às portas da morte.

A doença do pai pegara Godric de surpresa. Esperara chegar em casa e contar das campanhas bem sucedidas nas quais participara e que trouxeram mais glória à casa dos Gryffindor. No entanto, o destino fora ingrato e ele chegara tarde demais. Um mensageiro foi enviado a procura de Merlin mas o mago não foi encontrado e, agora, pouca esperança restara. Sem Merlin, o maior mago conhecido e velho amigo de Gregory, nada mais podia ser feito a não ser esperar a morte, com alguma calma e dignidade, se fosse isso possível.

Godric passou os últimos dias ao lado do leito de morte do pai, lamentando por aquele que fora um grande espadachim, um herói como poucos e um modelo entre os bruxos. Mais ainda – e lamentava por si – fora seu melhor amigo.

Gregory, sentindo que suas forças o deixavam, chamou seu filho para junto de si e entregou-lhe sua espada, com rubis no cabo, símbolo da casa Gryffindor e de sua honra e poder.

–Toma da espada da sua Casa, meu filho. Você é agora o líder dos Gryffindor, responsável por todos aqueles que se abrigam sob nossa proteção. Faça bom uso dela, defenda nossa honra e nossa descendência, e jure que nenhum outro haverá de empunhá-la que não seja um legítimo Gryffindor.

Godric jurou e chorou quando o espírito de seu pai abandonou o corpo e o mundo, deixando-lhe lembranças alegres, ensinamentos poderosos, saudade e a chefia de sua casa.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.