Corujas e corvos



Capítulo 4
Corujas e corvos


Godric caminhou pelo salão, esfregando as mãos, e voltando pelo outro lado. Olhava pelas janelas para o céu, ansiosamente, aguardando a chegada das corujas que enviara há alguns dias. Esse era um momento delicado, embora tivesse grandes esperanças de que sua idéia seria bem recebida pelos amigos que, acreditava ele, compartilhavam de seus ideais.

Seu pai, fora enterrado com honras e tristeza há um mês, mas agora o pensamento de Godric estava voltado para o futuro. Em lugar de ceder ao lamento planejava estabelecer uma nova ordem nas coisas. Dependendo daquele encontro, um novo mundo poderia abrir-se aos bruxos da Bretanha. E justamente para realizar esse mundo é que Godric esquadrinhava os céus.

Maeve chegara no dia mesmo em que seu pai falecera e devia a ela o conforto que sentia em seu coração. Sua bondade e gentileza foram muito importantes para que suportasse a dor e a transcendesse, ousando dar esse passo após tanto tempo planejando. Seria eternamente grato à rainha que deixara sua casa e afazeres para trazer-lhe conselhos e esperança, mas temia que a atitude dela viesse a trazer-lhe complicações, pois viera sem o consentimento do marido. Não era coisa que melindrasse os bruxos de forma geral, mas os trouxas, e o rei Edward era um trouxa, não encaravam com a mesma condescendência essa liberdade que as bruxas usufruíam. Não eram desconhecidos, muito pelo contrário: Maeve e Godric estiveram quase noivos antes que ela decidisse por se unir ao rei irlandês. Entrementes, isso agora eram águas passadas e Godric estava contente pela presença da amiga no seu castelo. Quando os outros chegassem, certamente Maeve poderia ser muito útil pois era objetiva e criativa, além de ser habilidosa em prever o futuro. Godric nutria a esperança de que Maeve fizesse uma previsão favorável ao empreendimento que iniciava agora.

O sol quase se punha quando a primeira sombra surgiu no céu. Veio aproximando-se devagar, a princípio, e Godric pensou tratar-se de um falcão das redondezas. Mas logo se certificou que se tratava de um corvo, que pousou no peitoril da janela alta do andar superior do castelo, estendendo a pata para que Godric recolhesse a mensagem amarrada nela. E a mensagem não poderia ser melhor. Aberto o rolo de pergaminho, abaixo do brasão dos Ravenclaw, havia apenas uma palavra. Rowena dissera sim.

Na manhã seguinte chegava nova mensagem: uma coruja da neves trouxe-lhe outro sim, agora de Helga, que se dizia entusiasmada e marcava sua chegada para logo à tarde. Os preparativos estavam feitos para acomodar todos os convidados e uma grande mesa fora instalada no salão principal, onde Godric esperava reunir todos a quem enviara corujas.

Pelo meio da tarde chegou Helga, com grande quantidade de malas e caixas, o que anunciava que sua estada seria longa. Aparatou no meio do salão, trazendo consigo várias gaiolas com pássaros e muitos vasos de plantas. Abraçou Maeve, a quem não via há muitos anos, com grande alegria e, enquanto lhe segurava as mãos, sussurrou em seu ouvido algo que Godric não pode ouvir. Logo apertavam-se as mãos também e Helga principiou a descrever todas as idéias que havia tido, maravilhosas, afirmava, para o que devia ser um marco na história da bruxidade.

– E onde está Rowena?,– perguntou esbaforida, quase não dando tempo para respostas.
–Ainda não chegou. – disse Godric. – Mas confirmou que virá.
–Ótimo! – comemorou Helga. – Eu sabia que poderíamos contar com ela. Da última vez que nos encontramos – creio ter sido nas justas dos Elphick – ela se mostrava animada com a idéia. Não esperaria outra coisa de Rowena, ela é tão inteligente! Certamente percebe a grande oportunidade que temos aqui. Aliás ela nem tem com o que se preocupar, no final das contas, e nem sei porque demora tanto. Eu tive de resolver esse problema com Nessie antes de partir.

–Que problema? – perguntou Maeve, encaminhando-se para a porta do salão e levando Helga consigo.
–Ora! Pois então não conhecem Nessie? Ela não resiste a se mostrar para todo trouxa que se aproxime do lago. Preciso refazer os feitiços de ocultamento a todo instante! E também apagar memórias e sempre ficar de olho nela. É tão exibida! Se não cuidássemos ela certamente já teria saído do lago para visitar as aldeias próximas. É um doce de criatura, bem sabem, mas extremamente exibicionista.
Godric e Maeve riram, imaginando aquela criatura maior que um elefante, mas com nadadeiras, passeando pela praça da aldeia em busca de atenção e alguma iguaria, deixando todos em polvorosa!

E assim, Helga contou aos amigos sobre os preparativos da viagem, sobre os cuidados extras com Nessie, seus planos para o futuro e tudo que porventura lhe viera à cabeça, Maeve estava certa disso. Quando no inicio da noite chegou Rowena, Maeve recebeu-a com alegria e grande alívio. Rowena trouxera apenas uma bolsa de viagem e uma caixa com livros. Diante do estranhamento de Godric, explicou que todos os seus demais volumes seriam enviados brevemente, assim que tivesse providenciado um lugar adequado para eles. Godric concordou com um aceno de cabeça. Bem sabia que os livros de Rowena não ocupariam apenas uma sala do castelo mas, provavelmente, uma torre inteira.

Os amigos conversaram até tarde naquela noite, repassando os planos. Ao se recolherem, temiam que o amigo que não chegara acabasse por abandoná-los. Isso seria lamentável, pensavam, mas nada restava senão esperar.

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