O diário de Rowena



Capítulo 9
O diário de Rowena


“Desde que cheguei a Hogwarts.... – acho que levarei um certo tempo até me acostumar com este nome.... Desde que cheguei, tenho feito o possível para colocar alguma ordem nos planos. As idéias são excelentes mas não tem uma base objetiva. Godric não é um sonhador tolo e é bastante prático, muito embora prefira viver em aventuras e batalhas em lugar de organizar o reino. Ainda assim tem imaginado grandezas futuras sem tomar as providências necessárias para isso.

Helga, minha querida Helga, não há palavras para ela. Sempre tão criativa e dramática mas também completamente atrapalhada no meio da profusão de seres que a circundam quase o tempo todo, sejam plantas sejam animais, e perdida na barafunda de sementes, adubos, ervas, poções, frascos e caixas que parece pensar que precisa. Não há fim para tantos objetos que carregou para cá. Se já foi difícil encontrar um local apropriado para meus preciosos livros, imagino o que será encontrar um lugar para Helga e suas quinquilharias! Proporei que se construa um ambiente adequado para suas atividades botânicas, estufas, com cobertura de vidro, novidade mesmo entre os trouxas, mas muito útil para permitir a passagem da luz sem que o vento perturbe o crescimento de suas mudas. E terei de fazer isso o mais depressa possível, pois o tempo é escasso. Breve, deverão chegar os primeiros alunos.

Não sei o que teríamos feito sem a ajuda de Merlin.. Ele consegue inflamar o entusiasmo desses jovens fundadores... é assim que se refere a nós, por esses dias, querido Merlin! E esses jovens fundadores têm sonhos grandiosos, mas provavelmente estariam enredados em detalhes sem solução. Posso falar por mim, que almejo transmitir conhecimentos únicos aos nossos pupilos, conhecimentos que podem fazer que a bruxidade saia desse período de trevas e penúria em que se encontra, uma miséria que é muito mais profunda do que a mera escassez de comida e lares dignos, secos e seguros, ou mesmo de um reino onde possamos estar próximos e nos apoiarmos mutuamente. Falta-nos uma identidade, que se perdeu com a chegada dos romanos, há séculos atrás. Nos falta união. Talvez Morgana esteja certa em não abandonar Tintagel, nada há no mundo que ainda lembre o que éramos, a harmonia com a natureza em que vivíamos. Somos um povo que, lentamente, absorve os valores estrangeiros, abandona as tradições, esquece a magia... E não haverá futuro para os bruxos se permitirmos que as coisas persistam nesse rumo... Não haverá futuro para os Ravenclaw, nem mesmo para os Gryffindor.

Este não é o momento para sofrer por isto, sequer sei se haverá um momento para sofrer, de qualquer modo. Acreditava ter entendido todos os motivos de Godric em fazer-me a proposta sobre a escola mas, após o que ouvi, já não estou tão segura disso. Algo, talvez o destino, me fez sair dos meus aposentos e seguir para as escadas. O barulho que ouvi poderia ter sido uma das armaduras que resolvera sair a passear pelo castelo, coisa que acontece, às vezes... Afinal, não há motivo para não sair e tomar um pouco de ar fresco apenas por que se é uma armadura, não é mesmo? Mesmo assim, sabendo que o que vim fazer está tomando corpo e se realizará, sinto arder a decepção, inesperada.

Temo por Maeve. Edward não é um bruxo e, por mais compreensivo que seja,não entenderá como os bruxos se relacionam com a vida e seus mistérios, de que forma encontram o destino e como entendem que valores estranhos à nossa cultura não devem nos impedir de fazer o que consideramos certo e importante. Esperemos, apenas, que não advenham conseqüências.

Salazar lança-me olhares, mas não estou interessada, não vim em busca de romance ou aventura, nenhuma pelo menos que não seja de garantir às futuras gerações o conhecimento que está sendo negado à atual. E Godric... Não pensarei mais nisso.

Helga ficou deliciada quando Merlin cobriu as paredes das escadarias com quadros animados. Admito, foi uma idéia estupenda! O castelo pode ser bem frio e sem aconchego; ter nossos familiares e conhecidos, antepassados e heróis passeando entre as molduras é quase como não ter saído de casa. Lamento a falta que sinto de meu lar, esperava fazer de Hogwarts esse lar brevemente. Mas depois do que houve, creio que terei de aceitar que a escola será menos que um lar, pelo menos por algum tempo.

A presença de Merlin me é suficiente por agora, pelo que me dou por muito feliz. Na semana passada ele fez o que de melhor poderia ter feito em sua vida, penso eu, mesmo depois de ter preparado e entronizado um rei. Enfeitiçou – com um feitiço magnífico que eu desconhecia – o teto do grande salão, fazendo com que se pareça com o céu, lá fora. Assim, tem-se a sensação de estar ao ar livre e, nas noites de lua cheia, é quase um sonho fazer as refeições sob o céu iluminado. Grande Merlin. Se não fosse ele sei que teria consumido muitas noites preparando o encantamento dos apontamentos dos novos bruxos, que serão avisados por coruja ao completarem onze anos de idade, e a seleção para as casas também daria muito o que discutir. Decidimos organizar casas na escola, para podermos atender melhor nossos alunos, que não serão muitos no inicio mas aumentarão em número a medida que o tempo passar.

Sonho ter uma escola cheia de jovens estudantes, ávidos por saber, praticando feitiços nas horas vagas, voando em suas vassouras pelas terras ao redor do castelo, pesquisando na minha querida biblioteca. Assim, ficarei com os mais inteligentes, que tem fome e sede de conhecimentos. Godric escolherá os mais corajosos e bravos para sua torre e Helga, que tem o coração das mães, acolhera todos os de bom coração e aqueles que não se adequarem às demais casas. Apenas Salazar... ah, sempre Salazar, com suas idéias revolucionárias... ficará apenas com os puro-sangue que demonstrarem ambição e não forem submissos. Falta a Salazar a calma que a aceitação da dor costuma trazer aos corações.

Mas Merlin não se limitou a dar-nos um céu estrelado, disse-me ter feito algumas coisas especiais espalhadas pelo castelo, e que seriam uma surpresa para mim, algo que poderia buscar desvendar nas tardes mortiças do verão, quando o castelo estivesse vazio e os corvos não estivessem voando e me trazendo tarefas, e minha mente inquisitiva vagasse pelas tristezas. Meu querido Merlim, sinto apreensão por ele. Algo me diz que tempos ruins podem estar a espreita, uma tristeza que pesa-me o peito quando a tarde cai e as formas entram no mundo das sombras. Ouço essa voz sem palavras que articula uma mensagem indecifrável. Nem Maeve pôde ver nas brumas de sua bola de cristal, a dor não se lhe mostrou o rosto, o mistério cobriu-se de mantos escuros e, em suas dobras, mergulhou a verdade na mudez dos dias.”


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