Cap. 9



Sirius cutucou James, fazendo sinal para Remus, com um sorriso malandro. Peter olhou para eles, com ar interrogativo. James revirou os olhos, soltou um suspiro exasperado e sussurrou para Sirius:
- Explica para ele.
O moreno chegou perto do gorducho e pronunciou algumas palavras, baixinho, no ouvido dele. Peter pareceu surpreso, no começo, depois olhou para Remus e soltou um guincho semelhante a uma gargalhada, que logo reprimiu, ao ser fulminado pelo olhar de James. Sirius sorriu e os outros dois o imitaram. Sentados na frente de Lupin, fixaram o olhar nele durante alguns momentos. À sombra de uma árvore, sentado sobre os joelhos, o jovem lobisomem lia um livro. Estudava… ou pelo menos, assim parecia, já que há mais de quinze minutos que não passava da mesma página.
Os outros três tornaram a olhar uns para os outros e, dessa vez, nenhum dos dois conseguiu reprimir as gargalhadas, fazendo Remus pular de susto, ao ser trazido tão abruptamente à realidade.
- Que susto! – Ele exclamou, olhando os outros, com um ar confuso. – O que foi que houve? Estão rindo do quê?
- De você, seu paspalho! – Brincou James, dando uma palmada amigável na cabeça de tom castanho-claro do outro.
Remus olhou em volta, depois olhou para si mesmo, como se procurasse alguma nódoa no impecável uniforme da Grifinória. Sem entender, olhou de novo os amigos, inquirindo, num misto de curiosidade com impaciência:
- O que foi, gente? Que caras são essas? O que foi que eu fiz?
- Ficou quinze minutos olhando a mesma página. – Guinchou Peter.
- Deve ser uma página muito interessante. – Comentou James, fingindo interesse. – Será que a gente pode ver o que tem aí de tão interessante que te faz perder quinze minutos lendo a mesma coisa?
Lupin corou até a raiz dos cabelos e os seus reflexos não foram rápidos o suficiente para fugir de Sirius, que pegou o livro que ele tinha nas mãos e leu em voz alta, com um ar falsamente intelectual, que funcionava como uma hilária combinação com o seu habitual ar conquistador e despojado:
- “Os alabases espongiformes são animais semelhantes às esponjas marinhas. Contudo, os seus poderes mágicos fazem toda a diferença. Quem tocar um alabase corre o risco de ser atingido pelos seus espinhos venenosos camuflados pela capa espôngica, o que pode levar a danos corporais e/ou cerebrais irreversíveis…” Muito interessante mesmo.
James assumiu um ar falsamente preocupado e brincou:
- Mmm… será que você conseguiu aparatar perto do mar, mergulhou e foi picado por uma alabase espongiforme, Aluado? Isso explicaria o seu ar de pateta!
Remus olhou os amigos, com um ar realmente apalermado e, depois de uns momentos, desatou a rir às gargalhadas:
- Quinze minutos, foi?
Peter anuiu com a cabeça:
- Quinze minutos. – Replicou. – Vistos pelo relógio.
Lupin não respondeu. Limitou-se a sorrir. Era difícil não contar para os amigos que tinha começado a namorar Mary e o quanto era grande a felicidade que fazia o seu coração pulsar mais rápido e quase pular do seu peito. O que mais queria era partilhar com os amigos a sua felicidade. Na verdade, queria gritar para todo mundo que estava apaixonado, que era amor de verdade e que a mulher da sua vida era alguém que poderia entendê-lo melhor do que ninguém. Contudo, não podia contar. Tinha prometido a Mary que não contaria nada sobre o seu namoro. Já traíra a sua confiança uma vez; não iria traí-la de novo.
Sirius abanou a cabeça:
- Não. – Comentou, fazendo um ruído com a língua. Não foi um abalase espongiforme que o picou. Foi uma vampirinha carnuda que o mordeu. – Imediatamente se arrependeu das suas palavras, ao reparar na consequente palidez do amigo. O sorriso e o rubor haviam desaparecido do rosto do Aluado, que os olhava, agora, com ar aflito, implorando:
- Por favor, nunca mais toquem nesse assunto!
Sirius, James e Peter, se entreolharam, sem saber o que fazer. Sirius passou um braço por cima do amigo, se desculpando.
- Desculpa, cara. Eu estava só brincando. Você sabe como eu sou meio idiota, às vezes, mas é tudo brincadeira. – Suspirou, em tom triste. – Ainda não aprendi direito a me controlar. Eu sei que você gosta dela e sei que é por causa dela que você está desse jeito, como se estivesse sonhando acordado… é o mesmo jeito que o Pontas fica quando pensa na Evans.
James lançou a Sirius um olhar furioso, mas logo mudou de ideias e resolveu também ladear Remus, alvitrando:
- O Almofadinhas fala demais, mas ele está certo. A gente sabe que você gosta da Hallow… e você pode ter certeza que, da nossa parte, nunca mais haverá qualquer tipo de brincadeira de mau-gosto contra ela. Além disso, agora a gente sabe os motivos que ela tem para ser como é. Jamais riríamos de uma pessoa assim.
Lupin suspirou. Exatamente como ele pensava. Eles não voltariam a fazer brincadeiras de mau-gosto com Mary. Ela podia ficar sossegada. Iria falar com ela, explicar o quanto eles o apoiavam… mas se contasse, teria que contar também o porquê da mudança de atitude deles em relação a ela… Mas essa mudança ela mesma iria notar. Como reagiria?
- Hei, Aluado! – Chamou a voz de Peter, trazendo-o de volta à realidade. – Pensando na “Bolinha”, de novo?
Imediatamente, James deu um tapa na cabeça de Peter, exclamando:
- Quem é você para chamar alguém de bolinha?
- Realmente… - Corroborou Sirius. – Gordo é você, Peter. – Acrescentou, com ar guloso. - A Hallow é… é cheiinha… na verdade, cheia de carnes, bem gostosinha! – Deteve-se, olhando para Remus, temendo a sua reação. – Sem ofensa, Aluado!
Lupin riu.
- Não me ofendeu. É bom saber que ela subiu na consideração de vocês só por eu ter me… - Corou e mediu as palavras. – me aproximado dela.
- Bom, você sabe que não é só por isso, não é? – Perguntou James, num tom mais sério, tentando alisar os cabelos. – Nós mudamos de opinião porque descobrimos os motivos dela e é isso que nós vamos responder a ela se ela perguntar alguma coisa.
- Não! – Quase gritou Remus. – Por favor, James, isso não!
Os outros o olharam, com a surpresa estampada nos olhos.
- O que foi, cara? – Perguntou Sirius. – “Isso não” o quê?
- Por favor, vocês não podem falar para ela que sabem que ela é uma vampira! – Exclamou Lupin aflito, com os olhos escurecendo, como se uma nuvem carregada tivesse passado por eles.
Os outros olhavam para ele como se estivessem olhando para um louco.
- Er… - Começou James. – Alô! Aluado… você esqueceu que nós estivemos lá?
- Não. – Respondeu o lobisomem. – Mas ela esqueceu. Ela tinha me feito jurar que não revelaria o segredo dela para ninguém. Quando tudo aquilo aconteceu, eu achei que ela não iria me perdoar por pensar que eu tinha aberto o jogo para vocês… Mas, aí, quando ela acordou, na manhã seguinte, já sem um pingo de vampirismo visível, ela tinha esquecido tudo. – Foi a vez dele corar. – Achei tão conveniente aquele esquecimento que…
- …que se aproveitou disso e resolveu mentir para a garota que você gosta! – Concluiu James, com um meio sorriso. – Muito bem, Aluado, está aprendendo algumas coisas aí com o nosso amigo Almofadinhas, o Conquistador.
- Modéstia à parte… - Riu Sirius, estufando o peito.
- Eu não menti! – Exclamou Remus, em tom indignado, mas se recriminando ao mesmo tempo. – Só omiti! – Do mesmo jeito que estava omitindo deles o fato de estar namorando Mary. Ah, mas isso, pelo menos iria terminar. Ele iria contar para ela. Já. Naquele momento. A sua expressão se alterou, ele se ergueu com um salto e disse apenas:
- Gente, a gente se vê na aula de Poções, tá? Tem um assunto que eu preciso resolver.
Deixando os outros pasmos com a sua reação repentina, Lupin correu na direção do canto isolado do jardim onde Mary e suas amigas costumavam passar o tempo. Absorto em seus pensamentos, decidido a falar imediatamente com a namorada e lhe dizer que tinha certeza que os amigos apoiariam o namoro dos dois, correu sem reparar em mais nada… sem reparar que, do lado oposto, vinha coxeando uma pessoa… uma menina do terceiro ano… Sem conseguir se desviar em tempo, Margareth, que sempre temera chegar perto de Remus, por medo que ele rejeitasse a sua amizade, acabou indo contra ele – ou ele contra ela -, caindo os dois no chão. Margareth não tinha como fugir. Remus estava na sua frente, pedindo desculpa e pegando a sua mão para ajudá-la a se levantar. Já vira aquela cena antes, mas dessa vez sentia que seria diferente, que ele não a deixaria fugir.

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