Capitulo 11



Capitulo 11

                                           XXX--XXX


Levou mais dois dias para que Hermione terminasse a escultura de Harry. Ela tentou, quando chegou a hora, distanciar-se das emoções e julgar seu trabalho com objetividade.


 


Estivera certa em escolher madeira. Era um material mais caloroso do que pedra. Com a língua entre os dentes, procurou defeitos em sua obra de arte. E soube, sem convencimento, que aquela era uma de suas melhores peças. Talvez a melhor.


 


O rosto não era bonito de maneira estilizada, mas forte e convincente. Humor era revelado na curva das sobrancelhas e da boca. Ela traçou a ponta dos dedos sobre os lábios dele. Uma boca incrivelmente expressiva, pensou, lembrando-se do gosto e da textura. Sei exatamente a aparência desta boca quando ele está divertido, zangado ou excitado. E os olhos. Sei como eles são, como mudam de formato e de expressão conforme o humor. Leves para prazer, tempestuosos quando com raiva, escuros em paixão.


 


Conheço este rosto como conheço o meu próprio rosto... mas ainda não conheço a mente dele. Esta ainda me é estranha. Com um suspiro, Hermione cruzou os braços sobre a mesa e descansou o queixo neles.


 


Harry, um dia irá permitir que eu o conheça?, perguntou-se. Carinhosamente, tocou um cacho dos cabelos desordenados. Jessica o conhece, provavelmente melhor do que qualquer outra pessoa. Se ele amasse alguém...


 


O que aconteceria se eu reunisse coragem para lhe contar que o amo? O que aconteceria se simplesmente o procurasse e dissesse: "Eu amo você? Não exigindo nada, não esperando nada. Talvez ele tenha o direito de saber? Amor não é algo muito especial, muito raro para ser mantido trancado? Então Hermione imaginou os olhos de Harry repletos de pena.


 


— Eu não poderia suportar isso — murmurou, baixando a testa sobre a escultura de Harry. — Simplesmente não poderia suportar. — Uma batida à porta interrompeu seus pensamentos. Rapidamente, Hermione se recompôs e endireitou a postura na cadeira. — Entre.


 


Seu avô entrou, o boné de pescaria sobre os cabelos brancos.


 


— O que você acha de peixe fresco para o jantar? — O sorriso dele a informou que a pescaria matinal tinha sido bem-sucedida. Hermione inclinou a cabeça.


 


— Eu provavelmente poderia comer um pouco. — Ela sorriu, satisfeita em ver os olhos de Pop brilhando e as faces rosadas. Levantando-se, enlaçou seu pescoço com as mãos, como costumava fazer quando criança.


 


— Oh, eu amo você, Pop.


 


— Bem, bem. — Ele lhe acariciou os cabelos, tanto surpreso quanto feliz, — Também a amo, Hermione. Suponho que eu deveria trazer truta para casa com mais frequência.


 


Ela ergueu o rosto da curva do pescoço dele e sorriu.


 


— Não é preciso muita coisa para me fazer feliz.


 


Os olhos de Pop se tornaram sérios enquanto punha uma mecha dos cabelos da neta atrás da orelha.


 


— Não... Nunca foi. — A mão grande tocou o rosto de Hermione. — Você me deu tanto prazer durante todos esses anos, Hermione, tanta alegria. Vou sentir saudade quando estiver em Nova York.


 


— Oh, Pop. — Ela enterrou o rosto de novo e o abraçou. — Ficarei lá somente por um ou dois meses, depois voltarei para casa. — Podia sentir o aroma de cereja do tabaco que Pop carregava no bolso frontal da camisa. — Você até mesmo poderia ir comigo... a temporada estará terminada...


 


— Mione. — Ele a interrompeu e afastou-a de modo que os olhos dos dois se encontrassem. — Este é um começo para você. Não ponha restrições.


 


Meneando a cabeça, Hermione começou a andar de um lado para o outro, nervosa.


 


— Não estou fazendo isso. Não sei o que quer dizer...


 


— Você tem talento, e fará algo de si mesma, algo importante. — Pop olhou para os trabalhos dela ao redor da saía, até que seus olhos pousaram na escultura de Harry. — Você tem uma vida para começar. Quero que vá atrás disso a toda velocidade.


 


— Você faz parecer como se eu não fosse voltar para casa. — Hermione se virou e, vendo onde os olhos de seu avô descansavam, uniu as mãos. — Acabei de terminar isto. — Umedeceu os lábios e esforçou-se para manter o tom de voz casual. — Ficou boa, não acha?


 


— Sim, acho que está muito boa. — Ele a olhou, então. — Sente-se, Hermione, preciso conversar com você.


 


Ela reconheceu o tom e ficou tensa. Sem uma palavra, obedeceu, indo para a cadeira na frente dele. Pop esperou até que estivesse sentada, então estudou-lhe o rosto cuidadosamente.


 


— Pouco tempo atrás — começou ele —, eu lhe disse que as coisas mudam. Durante a maior parte de sua vida, tem sido só nós dois. Precisávamos um do outro, dependíamos um do outro. Tínhamos o parque para manter um teto sobre nossas cabeças e para nos dar algo pelo que trabalhar. — O tom se suavizou. — Nestes 18 anos em que vive comigo, não houve um único minuto em que fosse um fardo para mim. Você me manteve jovem. Acompanhei todos os estágios de seu crescimento, enquanto você me dava cada vez mais motivos de orgulho. É hora da próxima mudança.


 


Porque sentia um nó apertando sua garganta, Hermione engoliu em seco.


 


— Não entendo o que está tentando me dizer.


 


— É hora de você se mover pelo mundo, Hermione, hora de eu lhe permitir isso. — Pop pôs a mão no bolso da camisa e, cuidadosamente, retirou alguns papéis dobrados. Depois de abri-los, entregou-os a Hermione.


 


Ela hesitou antes de aceitá-los, os olhos fixos nos de seu avô. No instante em que viu os papéis, soube o que eram. Mas quando leu, leu cada sentença, cada palavra, até o fim.


 


— Então — disse ela, os olhos secos, a voz seca —, você vendeu o parque para ele.


 


— Quando eu assinar os papéis e você testemunhar isso — disse Pop. E viu a expressão devastada nos olhos da neta,


 


— Hermione, ouça-me. Pensei muito sobre o assunto. — Pegou os papéis, colocou-os sobre a mesa, então segurou as mãos dela.


 


— Harry não foi o primeiro a me abordar com uma oferta de compra, e esta não é a primeira vez que considero a questão. Antes, nem tudo se encaixava como eu queria... desta vez, se encaixa.


 


— O que se encaixa? — Hermione exigiu saber, sentindo os olhos se encherem de lágrimas.


 


— É o homem certo, Mione, e o momento certo. — Ele lhe acariciou as mãos, detestando vê-la sofrer. — Eu soube disso quando descobri a necessidade dos reparos. Estou disposto a abrir mão do parque, deixar alguém mais jovem assumir o controle, de modo que eu possa pescar. É isso que quero agora, Hermione, um barco e uma vara. E Katch é o homem que quero que assuma o parque. — Pop parou, pegando um lenço no bolso para enxugar os olhos. — Eu lhe disse que confiava nele, e continua sendo verdade. Entregar o comando do parque para Harry não me impedirá de pescar, e terei o estímulo sem as dores de cabeça. E você — continuou, secando as lágrimas do rosto dela —, precisa cortar os laços. Não pode fazer o que nasceu para fazer se continuar trabalhando com livros contábeis e folhas de pagamento.


 


— Se é o que você quer — começou Hermione, mas Pop a interrompeu.


 


— Não, tem de ser o que você quer. É por isso que as últimas linhas ainda estão em branco. — Ele a fitou com olhos sérios e intensos. — Eu não vou assinar isso, Hermione, a menos que você concorde. Tem de ser o que é melhor para nós dois.


 


Hermione se levantou novamente, e Pop lhe liberou as mãos para deixá-la andar até a janela. Naquele momento, era incapaz de entender seus próprios sentimentos. Sabia que ter concordado em fazer uma exposição em Nova York era um passo gigantesco para longe da vida que levava. E o parque era a parte principal daquela vida. Tinha consciência de que, a fim de perseguir sua própria carreira, não poderia continuar presa aos negócios de Joyland.


 


O parque havia representado segurança — sua responsabilidade, seu segundo lar — enquanto o homem atrás de si havia sido mãe e pai para ela. Lembrou-se da expressão de cautela no rosto do avô quando lhe contara que o parque precisava de dinheiro. Hermione sabia as infinitas horas e demandas que o verão traria.


 


Pop tinha o direito de viver seus últimos anos como escolhesse, decidiu. Com menos preocupações, com menos responsabilidades. Tinha o direito de pescar, de dormir até tarde e de cuidar de suas azaléas. Que direito Hermione tinha de lhe negar isso porque estava com medo de cortar seu último elo com a infância? Ele estava certo, era a hora para uma mudança.


 


Vagarosamente, aproximou-se da caixa de ferramentas e pegou uma caneta. Indo para Pop, estendeu-a.


 


— Assine. Teremos champanhe com a truta.


 


Pop pegou a caneta, mas manteve os olhos na neta.


 


— Você tem certeza, Mione?


 


Ela assentiu, tão certa por ele quanto estava incerta por si mesma.


 


— Absoluta. — Hermione sorriu e observou o brilho nos olhos de Pop antes que ele se abaixasse sobre o papel.


 


Ele assinou seu nome com um floreado, então passou a caneta para que Hermione assinasse como testemunha. Ela escreveu seu nome em letras claras e distintas, não permitindo que a mão tremesse.


 


— Suponho que devo ligar para Harry — disse Pop, suspirando como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. — Ou levar os papéis para ele.


 


— Eu os levo. — Cuidadosamente, Hermione dobrou os papéis de novo. — Gostaria de falar com ele.


 


— É uma boa ideia. Leve a picape — sugeriu Pop quando ela se dirigiu para a porta. — Parece que choverá.


 


Hermione estava calma no momento em que chegou à casa de Harry. Os papéis estavam guardados seguramente no bolso traseiro de sua calça. Parou a caminhonete atrás do Porsche preto e desceu.


 


O ar estava mortalmente parado, pesado, quase brilhando com a chuva contida. As nuvens acima estavam pretas e carregadas. Andou até a porta da frente e bateu, como fez muitos dias atrás. Como antes, não houve resposta. Ela desceu os degraus de novo e contornou a casa.


 


Não havia sinal de Harry no jardim, nenhum som exceto a voz do mar abafada pela cerca viva. Ele havia plantado um salgueiro estreito perto da inclinação que levava à praia. A terra ainda estava escura em volta da árvore, recém-revolvida. Incapaz de resistir, Megan se aproximou, querendo tocar as folhas novas e macias. A árvore não era mais alta do que ela, mas um dia, seria magnífica, graciosa, um refúgio do sol do verão. O instinto a fez continuar descendo o declive para a praia.


 


Com as mãos nos bolsos, Harry estava parado, observando a maré subir rapidamente. Como se sentindo a presença dela, virou-se.


 


— Eu estava parado aqui, pensando em você — disse ele. — Meu desejo a trouxe até mim?


 


Hermione tirou os papéis do bolso e deu a ele.


 


— É seu — declarou com calma. — Exatamente como queria.


 


Harry nem olhou para os papéis, mas ela viu a mudança de expressão nos olhos acinzentados.


 


— Gostaria de conversar com você, Mione. Vamos entrar.


 


— Não. — Ela deu um passo atrás para enfatizar sua recusa. — Realmente não há mais nada a ser dito.


 


— Isso pode ser verdade no seu caso, mas tenho muito a dizer. E você vai ouvir. — O tom de Harry era impaciente. Hermione ouviu isso quando sentiu uma súbita rajada de vento quebrar a calmaria.


 


— Não quero ouvir você, Harry. Isso é o que Pop quer, também. — Ela pôs os papéis nas mãos dele quando o primeiro raio surgiu no céu. — Pegue-os, por favor.


 


— Hermione, espere. — Ele segurou seu braço quando ela virou-se para partir, o trovão abafando suas palavras.


 


— Não vou esperar — exclamou ela, liberando o braço. — E pare de me agarrar. Você tem o que queria... não precisa mais de mim.


 


Harry praguejou, guardou os papéis no bolso e a segurou de novo, antes que Hermione desse três passos. Girou-a para si.


 


— Você não é tão tola assim.


 


— Não me diga o quanto sou tola. — Ela tentou se desvencilhar.


 


— Precisamos conversar. Tenho coisas a lhe dizer. É importante. — Uma rajada de vento bateu violentamente contra o rosto de Hermione.


 


— Você não entende um simples não? — gritou ela, a voz competindo com o barulho forte das ondas e o vento que aumentava. Lutou para se livrar do aperto dele. — Não quero conversar. Não quero ouvir o que você tem a dizer. Não me importo com o que tem a dizer.


 


A chuva explodiu das nuvens e caiu sobre eles. Instantaneamente, ficaram ensopados.


 


— Durona — replicou Harry, tão furioso quanto ela. — Mas você vai me ouvir. Agora, vamos entrar.


 


Ele começou a puxá-la contra a areia, mas Hermione girou de maneira brusca e conseguiu se libertar. A chuva caía em torrentes, envolvendo-os.


 


— Não! — gritou Hermione. — Não vou entrar com você.


 


— Oh, sim, você vai — corrigiu ele.


 


— O que fará? — perguntou ela. — Arrastar-me pelos cabelos?


 


— Não me tente. — Harry pegou-lhe a mão novamente, apenas para que Hermione a puxasse. — Tudo bem — disse ele. — Basta. — Em um movimento rápido que a pegou desprevenida, ergueu-a nos braços.


 


— Ponha-me no chão! — Hermione se contorceu e chutou, cega de fúria. Ele a ignorou, lidando com os esforços dela, aninhando-a mais junto a si e subindo a ladeira sem nenhum esforço aparente. Raios e trovões eram cada vez mais fortes. — Oh, eu detesto você! — declarou, enquanto ele a carregava rapidamente ao longo do gramado.


 


— Ótimo. Este é um começo. — Harry abriu a porta, empurrando-a com o quadril, então continuou andando, passando pela cozinha e indo para a sala de estar. Uma trilha de água se formava ao lado deles. Sem cerimônia, largou-a no sofá. — Fique sentada imóvel — ordenou antes que ela pudesse recuperar o fôlego. — E fique calada por um minuto. — Pegando um palito de fósforo longo, pôs fogo no papel esperando abaixo dos gravetos e lenha. Madeira seca estalou e pegou fogo quase imediatamente.


 


Recuperando o fôlego, Hermione levantou e dirigiu-se para a porta. Harry a deteve antes que seus dedos tocassem a maçaneta. Segurou-lhe os ombros com as costas dela contra a porta.


 


— Estou lhe avisando, Mione, minha paciência está no limite. Não me provoque.


 


— Você não me assusta — disse ela, impacientemente tirando os cabelos molhados dos olhos.


 


— Não estou tentando assustá-la. Estou tentando conversar racionalmente. Mas você é muito teimosa para se calar e ouvir.


 


Os olhos dela se arregalaram com nova fúria.


 


— Não fale comigo desse jeito! Não tenho de aceitar isso!


 


— Sim, tem. — Com habilidade, Harry a enfiou a mão dentro do bolso frontal da camisa dela e pegou a chave da caminhonete. — Enquanto eu estiver com isto.


 


— Posso andar — devolveu Hermione quando ele guardou as chaves no próprio bolso.


 


— Nessa chuva?


 


Ela cruzou os braços e começou a tremer.


 


— Devolva minhas chaves.


 


Em vez de responder, ele a conduziu ao longo da sala para a frente da lareira.


 


— Você está congelando. Precisa tirar estas roupas molhadas.


 


— Não vou fazer isso. Você está louco se acha que vou tirar as roupas na sua casa.


 


— Fique à vontade. — Harry removeu sua própria camisa ensopada e jogou-a de lado com raiva. — Você é a mulher mais teimosa e obstinada que conheço.


 


— Obrigada. — Hermione se esforçou para controlar a vontade de espirrar. — Isso é tudo que você queria dizer?


 


— Não. — Harry andou para o fogo novamente. — Esse é apenas o começo... há muito mais. Sente-se.


 


— Então talvez eu tenha de dizer o que quero antes. — Arrepios estavam lhe percorrendo a pele e ela lutou para não tremer. — Você não é presunçoso ou descuidado, ou uma pessoa que persegue a glória. E certamente foi honesto comigo.


— Ela secou água dos olhos, uma mistura de chuva e lágrimas. — Disse-me desde o começo que pretendia possuir o parque, e parece que com boas intenções. O que houve entre aquele começo e agora é culpa minha por ser tola o bastante para permitir que você mexesse comigo. — Hermione engoliu em seco, querendo salvar um pouco de orgulho. — Mas então, você é um homem difícil de ignorar. Agora, tem o que queria, e está tudo acabado.


 


— Só tenho parte do que queria. — Harry se aproximou e tocou os cabelos molhados.— Apenas parte, Mione.


 


Ela o olhou, cansada demais para discutir.


 


— Você não pode apenas me deixar em paz?


 


— Deixá-la em paz? Sabe quantas vezes andei por aquela praia às três da manha porque desejar você me mantinha acordado e dolorido? Sabe o quanto foi difícil liberá-la cada vez que a tive em meus braços? — Os dedos nos cabelos dela a puxaram para mais perto.


 


Os olhos de Hermione estavam arregalados agora enquanto pequenos tremores lhe percorriam a pele. O que ele estava dizendo? Ela não podia arriscar nada, não podia arriscar fazer conjecturas sobre o que Harry estava falando. Abruptamente, Harry praguejou e a tomou em seus braços.


 


Roupas finas não eram barreira para suas mãos. Harry lhe moldou os seios mesmo enquanto lhe explorava a boca. Hermione não protestou quando ele a baixou para o chão e começou a abrir os botões de sua blusa com desespero. Sua pele fria e molhada se transformou em fogo sob a ponta dos dedos fortes. A boca sensual era sedenta enquanto percorria seu pescoço e mais para baixo.


 


Havia apenas o crepitar da madeira e o barulho da chuva nas janelas para se misturar com a respiração de ambos. Uma lenha foi deslocada na lareira.


Hermione o ouviu inalar longa e profundamente.


 


— Desculpe-me. Eu queria conversar... há coisas que preciso lhe dizer. Mas necessito de você. Venho reprimindo isso há muito tempo.


 


Precisar. A mente de Hermione se focou na palavra. Precisar era infinitamente diferente de querer. Necessidade era algo mais pessoal... ainda distante do amor... mas ela deixou seu coração se alegrar com a palavra.


 


— Está tudo bem. — Hermione começou a se sentar, mas ele se inclinou sobre ela, dei¬ando seu corpo em chamas com o toque de pele nua contra pele nua. — Harry...


 


— Por favor, Mione. Ouça-me.


 


Ela estudou-lhe o rosto, notando que os olhos acinzentados e a boca estavam muito sérios, o que não era característico dele. Qualquer coisa que Harry quisesse dizer considerava importante.


 


— Tudo bem — murmurou ela, mais calma agora, pronta. — Vou ouvir.


 


— Quando a vi pela primeira vez, no primeiro minuto, eu a quis. Você sabe disso. — A voz dele era baixa, mas sem a calma usual. Algo parecia borbulhar sob a superfície. — Na primeira noite em que estivemos juntos, você me intrigou tanto quanto me atraiu. Pensei que seria uma simples questão de tê-la... um caso prazeroso por duas semanas.


 


— Eu sei. — Hermione falou suavemente, tentando não se sentir magoada pela verdade.


 


— Não... cale-se. — Ele pôs um dedo sobre os lábios dela por um momento. — Você não sabe. O sentimento deixou de ser simples quase imediatamente. Quando você veio jantar aqui, e pediu para ficar — Harry parou, afastando mechas molhadas do rosto de Hermione —, eu não pude permitir isso, e não entendia completamente o motivo. Eu queria você... queria mais do que qualquer mulher que já toquei, mais do que qualquer mulher com qual já sonhei... mas não podia tê-la.


 


— Harry... — Hermione meneou a cabeça, incerta se era forte o bastante para ouvir as palavras.


 


— Por favor. — Ela havia fechado os olhos, e Harry esperou até que Hermione os reabrisse antes de continuar: — Tentei me afastar de você, Mione. Tentei convencer a mim mesmo de que era imaginação o que estava me acontecendo. Então você estava atravessando o gramado, parecendo tão ultrajada e tão linda que não pude pensar em mais nada. — Enquanto ela permanecia deitada imóvel, ele lhe ergueu uma das mãos e pressionou-a nos seus lábios. O gesto mexeu com Hermione de maneira insuportável.


 


— Não faça isso — murmurou ela. — Por favor.


 


Harry a fitou com intensidade por um longo momento, então liberou sua mão.


 


— Eu a queria — continuou, numa voz mais calma do que os olhos. — Necessitava-a, e estava furioso com você por causa disso. — Ele descansou a testa contra a dela e fechou os olhos. — Eu nunca quis machucá-la, Mione... nem assustá-la.


 


Hermione permaneceu imóvel, ciente do tumulto emocional de Harry. A luz do fogo brincava sobre a pele dos braços poderosos.


 


— Parecia impossível que eu estivesse tão envolvido ao ponto de não ser capaz de me afastar — prosseguiu ele. — Mas você era tão constante nos meus pensamentos, tão presente em meus sonhos. Não havia espaço para mais nada. Naquela outra noite, depois que a levei para casa, finalmente admiti para mim mesmo que não queria uma escapatória. Não desta vez. Não de você. — Ele ergueu a cabeça e a encarou novamente. — Tenho algo para lhe dar, mas antes queria que soubesse que eu havia decidido não comprar mais o parque, até que seu avô me procurou ontem à noite. Eu não queria isso entre nós, mas foi o que ele quis. O que Pop achou que seria melhor para você e para ele. Mas se isso a magoa, rasgo os papéis.


 


— Não. — Hermione deu um suspiro cansado. — Sei que esta é a coisa certa. Mas é como perder alguém que você ama. Mesmo quando você sabe que é para o melhor, ainda assim dói. — A explosão parecia ter liberado os medos e a dor. — Por favor, não quero que se desculpe. Eu estava errada, vindo aqui desse jeito, gritando com você. Pop tem todo direito de vender o parque, e você tem todo direito de comprá-lo. — Hermione suspirou, querendo acabar com as explicações. — Suponho que me senti traída de alguma forma, e não quis raciocinar com clareza.


 


— E agora?


 


— Agora estou envergonhada por agir como uma tola. — Ela conseguiu um sorriso fraco. — Gostaria de me levantar e ir para casa. Pop ficará preocupado,


 


— Ainda não. — Quando Harry se inclinou sobre os calcanhares para pegar algo do bolso, Hermione se sentou, jogando os cabelos molhados e embaraçados para trás. Ele segurava uma caixa, pequena e fina. Brevemente, hesitou antes de lhe oferecer.


 


Intrigada, tanto pelo presente quanto pela tensão que sentia emanar de Harry, Hermione a abriu. E perdeu o fôlego.


 


Era uma esmeralda verde escura, lapidada em formato quadrado e maravilhosa em sua simplicidade. Perplexa, olhou fixamente para a pedra, depois para Harry. Sem palavras, meneou a cabeça.


 


— Harry. — Ela meneou a cabeça novamente. — Não posso aceitar isso.


 


— Não fale assim, Mione. — Harry fechou a mão sobre a sua. — Não lido bem com rejeição. — As palavras foram ditas com leveza, mas ela reconheceu, e ficou atônita por isso, a tensão do tom. Um pensamento lhe ocorreu, e seu coração saltou de alegria.


 


Hermione tentou permanecer calma e manter os olhos fixos nos dele.


 


— Não sei o que você está me pedindo.


 


Ele lhe apertou os dedos.


 


— Case-se comigo. Eu a amo.


 


Um turbilhão de emoções a inundou. Ele devia estar brincando, pensou rapidamente, embora não houvesse indício de divertimento nos olhos acinzentados. O rosto de Harry estava sério, e as palavras eram tão simples. Onde estavam as frases espirituosas, o charme improvisado? Trêmula, Hermione se levantou, segurando a caixinha com firmeza. Precisava refletir.


Casamento. Nunca havia esperado que ele lhe pedisse para compartilhar uma vida. Como seria a vida com Harry? Como uma montanha-russa. Seria um passeio rápido, agitado, cheio de curvas inesperadas e emoções indescritíveis. E haveria momentos tranquilos, também, pensou. Momentos solitários e preciosos, os quais tornariam cada novo giro mais excitante.


 


Talvez ele a tivesse pedido em casamento de maneira assim tão simples, sem qualquer sofisticação que poderia providenciar facilmente, porque estava tão vulnerável quanto ela. Que ideia! Hermione levou os dedos às têmporas. Harry Potter vulnerável.


 


Entretanto... lembrou-se do que tinha visto nos olhos dele.


 


Eu a amo. As três palavras simples, palavras faladas todos os dias por pessoas de todos os lugares, tinham mudado sua vida para sempre. Hermione se virou e, andando de volta, se ajoelhou ao seu lado. Os olhos estavam tão sérios e intensos quanto os dele.


 


Ela abriu a caixinha, então falou rapidamente no momento que viu a centelha de desespero nos olhos acinzentados.


 


— Isso pertence ao dedo anular de minha mão direita.


 


Então foi abraçada por ele, sua boca silenciada.


 


— Oh, Mione — murmurou Harry enquanto lhe dava diversos beijinhos no rosto. — Pensei que você fosse me rejeitar.


 


— Como poderia? — Ela lhe circulou o pescoço com os braços e tentou parar os movimentos da boca de Harry com a sua própria. — Eu o amo, Harry. — As palavras foram ditas contra os lábios dele. — Desesperadamente, completamente. Eu tinha me preparado para uma morte lenta quando você estivesse pronto para partir.


 


— Ninguém partirá agora. — Eles se deitaram no chão novamente, e ele enterrou o rosto nos cabelos de Hermione, que tinham o aroma de chuva. — Iremos para Nova Orleans. Uma rápida lua-de-mel antes que você precise voltar e trabalhar na exposição. Na primavera, iremos a Paris. — Harry ergueu o rosto e a fitou. — Tenho pensado sobre nós dois em Paris, fazendo amor. Quero ver seu rosto pela manhã, quando a luz é suave.


 


Ela tocou-lhe o rosto.


 


— Logo — sussurrou Hermione. — Vamos nos casar logo. Quero estar com você.


Ele pegou a caixinha que havia caído entre os dois. Removendo o anel, deslizou no dedo dela. Então, unindo a mão delicada à sua, olhou-a com intensidade.


 


— Considere isso uma união, Mione — murmurou ele com voz rouca. — Você não pode fugir agora.


 


— Não vou a lugar algum, — Ela ergueu a boca para beijá-lo.

                                                   
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Obrigada 
r.ad, Pacoalina e Laauras, por darem seus comentários e Muito Obrigada por terem respondido se queriam uma nova fic kkkkkkk é bom saber que alguém lê os meus – nada pequenos – recados kkkkkk

Obrigada a todos por estarem acompanhando...

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