O Acampamento



O dia de Charlie Wesley geralmente começava com um banho muito quente. Na verdade anormalmente quente, porque a água era aquecida pela chama de um dragão, o único amigável de toda a reserva, que vivia solto do lado de fora do seu chalé de pedra, claro, porque numa reserva de dragões morar num chalé de madeira não era coberto por nenhum seguro, especialmente o do Gringotes, que seu irmão lhe vendera há muito tempo, quando ainda era um desmanchador de feitiços júnior no Gringotes do beco Diagonal.
Charlie geralmente se levantava antes de todos os pesquisadores do acampamento, afinal, agora ele era o chefe, desde que o Sr Fleuss, o pesquisador-chefe anterior, fora transferido, quando que um rabo córneo húngaro decidira que iria devorá-lo mal passado, de qualquer forma, por causa de uma pesquisa de campo malsucedida. Para o bem estar daquele acampamento, o melhor fora mandar o pesquisador para a América do Sul para pesquisar as salamandras andinas, uma vez que dragões não conseguem voar sobre longas extensões de água.   
Não era nada ruim chegar a chefia de pesquisa aos 27 anos, e Charlie sabia disso. Agora, aos 29, ele era o cérebro daquele lugar, tomando contra dos mínimos detalhes, e mantendo Norberto, o dragão que vivia no acampamento, sempre muito bem alimentado, uma vez que o humor de um dragão era tão sensível quanto o seu estômago. Aquela manhã seria especialmente agitada, era o início do Verão, e eles teriam que passar longas horas voando em vassouras sobre a área da reserva para localizar os ninhos mais recentes, a uma distância prudente. Era por isso que um dos pré-requisitos do Instituto para recrutar gente para trabalhar nas reservas de preservação de dragões, além do domínio de feitiços de proteção e de memória, era habilidade no vôo em vassoura.
Havia ainda mais três acampamentos ao longo da reserva de Éden, mas aquele era o mais importante, o mais conhecido, o principal de todos. E Charlie era o cérebro dele.
É verdade que Charlie não fazia aquilo com o qual sempre sonhara: nos tempos de Hogwarts fora tão bom apanhador que todos apostavam que ele chegasse ao quadribol profissional. Só que a sua vida mudara de forma drástica ao sair de Hogwarts. Não podia se dar ao luxo de querer ficar dois ou três anos com baixíssimo salário num time de segunda ou terceira divisão da Federação de Quadribol, esperando que algum time grande o contratasse. Ele queria independência financeira, o mais rápido possível.
Recusando a oferta de seu pai para trabalhar no Ministério (o pai achava que assim ele poderia tentar treinar nos fins de semana e até arrumar um lugar no quadribol), ele achou na sessão de classificados do profeta diário a chance que sempre quisera. Lembrava-se feliz da sua última visita a Hogwarts, logo depois da aprovação para o estágio na reserva. Dumbledore escrevera-lhe uma carta de recomendação, e Hagrid o seguira por toda parte, os olhos brilhando e repetindo: “mande fotos, sim? Mande fotos dos dragões que encontrar...”  
Não se lembrava de um dia ter se arrependido por um segundo sequer dessa decisão. Aquele lugar estranho e frio o transformara em um homem de verdade. Cravada nas montanhas da Romênia, a enorme reserva de muitos hectares era inóspita e ideal para formar um espírito forte: bem entre os Cárpatos e os Alpes da Transilvânia, onde não havia muitas cidades trouxas, e mais nenhuma aldeia bruxa, apenas aquele acampamento, de onde voavam para tentar salvar os últimos dragões de duas espécies, que coabitavam naquele espaço que ironicamente era chamado pelos bruxos de Éden.
Por séculos os bruxos haviam perseguido os dragões, e isso os tornara raros, tão raros quanto mortais. Protegê-los fizera de Charlie um homem arredio e solitário, porque ele via nos olhos das feras a desconfiança dos homens, e via, triste, que eles tinham razões para desconfiar. Havia mais de mil feitiços com ingredientes ligados aos Dragões: os olhos, as unhas, as escamas, o couro, as fibras brancas e luminosas de seu coração, a parte mais mágica dessas criaturas, e claro, seu precioso sangue e seus doze usos, conhecidos há mais de meio século. Por séculos os bruxos haviam massacrado impiedosamente os Dragões, porque nem mesmo eles eram imunes ao “Avada Kedavra”.
Era verdade que ao sul da China agora havia um entreposto de Dragões Chineses, que eram menos ferozes e se reproduziam com mais facilidade. Nesse lugar eram criados e depois abatidos, de forma o menos cruel possível, dez Dragões por ano, o que supria todas as necessidades da comunidade mágica. Mas o sangue do Dragão tinha que ser extraído com o animal vivo, e havia feitiços específicos com sangue de Dragões Noruegueses e Rabos-Córneos Húngaros, que povoavam aquela reserva. Duas vezes por ano, no fim do verão e no fim do inverno, os pesquisadores enfeitiçavam alguns dragões, e com eles em transe, que era sempre um transe instável e perigoso, extraíam alguns litros de sangue de cada espécie de Dragão, que eram vendidos a peso de ouro para sustentar aquele projeto de preservação.
Charlie esticou-se olhando o sol nascer atrás das montanhas. Seria um longo dia, e ele precisava estar preparado. Um rapaz saiu de dentro de outra cabana de pedra. Era de estatura mediana, meio forte, cabelos castanhos e curtos. Era agora o melhor amigo de Charlie,  porque tinham histórias parecidas: Olívio Wood também tentara ser goleiro de quadribol e desistira, indo parar ali. Porém enquanto Charlie esquecera o quadribol, Olívio não suportara essa derrota pessoal. Tinha vivido para o Quadribol, e trabalhar ali era um consolo amargo para quem perdera um grande sonho, que dois anos entre os dragões não haviam ainda sepultado.
­– Bom dia, Charlie – bocejou Olívio – pronto para mais uma grande aventura  brincando de pique esconde com nossas pedras negras que cospem fogo?
­– Bem... acho que você precisa primeiro de um café... não parece ter dormido bem...
– Oh, não, não mesmo...Cho pulou para a minha cama e nos divertimos a noite toda...
­– Eu ouvi isso – gritou uma voz feminina de dentro da mesma cabana – uma moça oriental muito bonita saiu então do chalé de pedra e disse:
­– Charlie, por favor... quando vou parar de dividir a cabana com esse doente?
Charlie riu. Olívio indicara Cho cerca de um mês antes para trabalhar ali, eles haviam sido colegas em Hogwarts, e Cho, embora não quisesse mais nada com quadribol, ainda era uma excelente piloto de vassoura, e era agora a estagiária do acampamento, com grandes chances de ser efetivada no emprego ao fim do Verão.
– Cho... somos doze aqui, e seis chalés... você já viu com QUEM eu divido meu espaço?
Charlie dormia com Eddie, o cozinheiro louco do acampamento, que costumava andar nu pelo acampamento, principalmente no inverno. Comentava-se que ele era um aborto, e por isso usava técnicas de meditação e mentalização, e se dizia “um bruxo da nova era”, mesmo fazendo a pior omelete que se tinha notícia em toda a Romênia. A única coisa que provava que ele não era um aborto, era o fato de ter um diploma de Durmstrang, o que, para Olívio, era um sinal de que a escola era uma porcaria, e não de que ele era um bom bruxo.
Completavam o Staff do acampamento mais oito bruxos, três formados em Beauxbattons: Janine, uma moça ruiva e baixa, de óculos de fundo de garrafa, Roger, um rapaz louro e pouco falante, o médico do acampamento e Michel, que era alto e magro, mas sabia como ninguém como laçar um Dragão pelo pescoço. Outros dois haviam se formado pela escola de Magia Ibérica, um português e uma espanhola, Davi e Micaela. Havia ainda Primakova, uma Russa que se formara em Durmstrang, e dois sul americanos: Zalif, que era Argentino, e o brasileiro Celso, que além de implicar com o argentino, não conseguia chamar o dragão do acampamento por nenhum nome que não fosse “Tibúrcio”.
O brasileiro e o argentino davam um show à parte naquele acampamento com suas brigas engraçadas, que normalmente acabavam com o argentino gritando impropérios em espanhol para o brasileiro, e nunca além disso, porque  Celso era um dos maiores caras que Charlie já vira voar numa vassoura. É claro que ele não era nem a metade de Hagrid, por exemplo, mas Hagrid não saía por aí montado em uma vassoura e girando uma corrente sobre a cabeça, como ele já vira o outro fazer, quando precisavam laçar algum dragão em iminência de sair da reserva. Já o argentino, era pequeno e nervoso, mas especialista em poções como ele jamais conhecera: seus preparados derrubantes, com os quais eles embebiam dardos que eram soprados em zarabatanas para nocautear dragões enfurecidos, eram mais fortes que a mais forte poção do morto-vivo conhecida. Cada pessoa tinha sua função e todos eram peritos, ali excelência garantia sobrevivência.
Charlie observou os outros, que estavam todos se dirigindo ao refeitório para tomar o duvidoso desjejum preparado por Eddie. Quando todos acabaram, Charlie levantou-se e disse:
– Reunião, grupo. Precisamos traçar as diretrizes de trabalho para o verão.
Rapidamente, ele começou a explicar quais as metas que estabelecera para a reserva até o fim daquele período. O verão era sempre a época mais agitada, porque os dragões machos começavam a caçar mais, fazendo o estoque para o longo período de hibernação que ia de outubro a fevereiro, quando se recolhiam nas profundas cavernas sob as montanhas, as fêmeas com os filhotes, nascidos no começo do verão, os machos solitários. O trabalho na reserva diminuía mas não cessava, porque era justamente no inverno que os traficantes de sangue e órgãos de dragão tentavam invadir uma ou outra caverna para matá-los. Mas no verão, a vida ali era muito agitada, pois era preciso patrulhar a reserva para evitar que Dragões voassem fora dos limites, de manhã até a noite, quando podiam observar à distância as labaredas dos dragões, torrando as presas antes de devorá-las. Fora o homem, o dragão era o único animal que costumava cozinhar.
Charlie,  enquanto falava, observava o rosto dos seus companheiros. Não podia deixar de pensar que, como ele, todos ali eram meio solitários. Era difícil manter uma relação amorosa quando se trabalha num lugar isolado e, na maior parte do ano, inóspito e frio. Charlie em Hogwarts fizera enorme sucesso com as garotas, mas ali, no meio do nada, havia muito poucas garotas que pudessem se impressionar com ele. Janine, além de não fazer o seu tipo, parecia ser apaixonada por Michel desde os tempos de Beauxbatons. Micaela e Primakova eram lindas, mas ligeiramente inacessíveis, uma vez que tinham seus namorados e, sempre que podiam, desaparatavam para ficar com eles.
Ele e os outros rapazes costumavam sair nas redondezas, e ele não podia negar que já tivera muitos casinhos passageiros, a maioria com moças trouxas que nem sabiam o que ele era. Não que tivesse especial queda por trouxas, e sim porque bruxas, mesmo as mais ousadas, não costumavam morar a menos de 200 quilômetros de qualquer reserva natural de dragões. Agora havia Cho, e embora ela fosse linda e todos os outros solitários do acampamento ficassem dando em cima dela, ele achava que não valia a pena tentar nada com uma colega de trabalho recém admitida, e pior, uma jovem estagiária. Não. Ele conhecia limites éticos.
Acabada a sua preleção, a equipe de terra e a equipe de patrulha se dividiram e tomaram seus postos. Em terra ficavam Eddie, Zalif, Micaela, Roger e Janine. O restante foi catar suas vassouras de trabalho. Cada um recebera ao entrar na reserva uma Chopper Firebolt, uma vassoura rápida de viagens, com um grande bornal acoplado, onde eles colocavam os apetrechos de controle de Dragões. Laços Mágicos, correntes reforçadas e encantadas, zarabatanas com setas de poção derrubante (usadas só em último caso, porque era difícil conseguir soprar a zarabatana e acertar a seta em um dos cinco pontos sensíveis do dragão: entre os olhos, sob as asas, onde eles não tinham escamas e o couro era mais macio e nas duas grandes artérias que podiam ser vistas em relevo na pele membranosa das asas, próximas a estrutura óssea. Fora isso levavam medicamentos para dragões feridos, macas expansíveis, frascos de poção atordoante que podia ser espirrada nos olhos dos dragões, evitando inclusive por alguns minutos que eles lançassem chamas que os alcaçassem nas vassouras. E, fora todo esse equipamento, ainda ia um grande pote de pomada para queimadura.
Eles dispararam para o céu e Charlie mandou que se dividissem em duplas, mas pediu a Cho que acompanhasse ele e Olívio. Não achava ainda prudente que a menina ficasse sozinha com alguém menos experiente. Ele e Olívio podiam laçar qualquer Dragão hostil, e ainda evitar que ela se ferisse. Não achava bom deixá-la voar sozinha com apenas um laçador, mesmo que este fosse Celso ou Michel. Assim, ordenou que Primakova seguisse com Michel e Davi com Celso. A rotina a ser seguida era simples: laçar qualquer Dragão que estivesse voando para fora da reserva, e lançar-lhe o feitiço de oposição direcional. Em caso de perigo maior, era só soprar o apito que cada um levava ao pescoço, e o apito de todos os outros faria barulho, atraindo os demais magicamente.
Charlie olhou a bússola mágica acoplada ao cabo de sua vassoura. Era mais que uma bússola, porque trazia pontinhos correspondentes a cada um da equipe, e mais grandes pontos vermelhos, que começavam a se agitar conforme o sol aquecia. Dragões eram animais diurnos, o que ainda tornava mais difícil ocultá-los dos trouxas. O grande rebanho de cabras das montanhas normalmente os mantinha ali na reserva, mas vez por outra o cheiro dos carneiros e ovelhas domésticos além das montanhas os atraía além do que deveriam voar. O dever dele e de sua equipe era mantê-los ali naquele grande espaço, além de evitar que olhos não autorizados os avistassem. Como toda a reserva era enfeitiçada com um encantamento que ocultava os dragões e suas labaredas à vista de quem estivesse fora de seus limites, essa era sempre a parte mais fácil.
– Equipamentos checados? – ele perguntou, e todos assentiram – tenham um bom dia de trabalho, então. – ele disse, colocando os óculos protetores e disparando para o céu azul, sempre frio naquela região montanhosa.
Bastava esse gesto, e tudo mais desaparecia. O céu era o elemento de Charlie,  e ele amava voar. Voando sentia-se tão selvagem quanto um dragão, e esquecia que era um solitário no mundo, alguém que sentia a falta de alguém que ele não sabia quem era, uma mulher com quem pudesse dividir sonhos e paixões, alguém que fosse como ele, alguém com quem pudesse voar.
– Pensando em que, Charlie? – perguntou Cho a ele, quando voavam emparelhados ao longo do limite sul da reserva. Ele olhou a menina com interesse, Olívio estava à sua direita, e Cho à esquerda, mas ele sentia os olhos do rapaz prestando atenção, como se a conversa o interessasse muito. “Ele nem disfarça” – pensou Charlie.
– Em nada em particular, Cho. Normalmente quando estamos trabalhando, minha cabeça se esvazia – ele mentiu.
– Há quanto tempo você trabalha aqui?
– Onze anos. Sou o mais antigo, por isso sou o chefe. Tirando Eddie, todos da minha época desistiram, ou...
– Ou...
– Ou morreram – ele disse, lembrando-se do acidente que ocorrera no seu segundo ano de reserva, em que um grande amigo morrera. – eu uma vez também, quase desisti, também... – ele sorriu e ela devolveu-lhe o sorriso. Cho era linda. Estaria interessada nele? Ia começar uma conversa banal, quando um alerta luminoso apareceu na sua bússola. Um invasor, pouco além do ponto onde estavam, e, pior, muito próximo de um Dragão fêmea que agitava-se, num movimento típico da pré-postura dos ovos. Mal ou bem intencionado, um sujeito lá embaixo corria perigo.
– Droga! – ele gritou e soprou com toda a força o apito. Ia precisar de toda ajuda naquele caso, pelo que podia sentir. – perder altitude, perder altitude – disse, a voz ganhando um tom de comando inflexível como aço. Cho e Olívio o seguiram, ele e Olívio já abrindo o bornal e sacando a corrente.– Poção atordoante, Cho, pegue a sua...
A adrenalina jorrou em seu sangue, ao ver uma labareda aparecendo lá embaixo, adiante. Julgou ter ouvido um grito feminino. O que uma mulher faria ali, naquele fim de mundo? Só podia ser alguma trouxa idiota perdida... malditos montanhistas, achavam chique se enfiar na Transilvânia, e depois, ele que se virasse para apagar-lhes a memória depois de deixá-los em lugar seguro. Quando algum se machucava era pior. Felizmente, nunca nenhum morrera desde que ele começara a trabalhar ali. Tomou distância de Olívio, Já rodando no ar a corrente encantada, pronto para laçar o pescoço do dragão. Uma nova labareda incendiou uma árvore. Estavam bem sobre o local.
– Cho! Pulverizar!
Cho tocou a garrafa com a varinha, e logo uma nuvem densa e esverdeada desceu sobre a Floresta, bem no instante em que o dragão levantou seu pescoço longo, abrindo a boca para mais um jorro de chamas.
– Agora, Olívio!
Lançaram as correntes rapidamente, e ele ouviu com alívio o zunido de outras vassouras se aproximando, segurava com força a corrente encantada. Mas ainda assim, o rabo-córneo húngaro lá embaixo, continuava se debatendo. Viu mais duas correntes arremessadas, e viu Davi lançando uma segunda garrafa na direção da clareira aberta pelas chamas do dragão na floresta. Olhava fixo para o espaço sob a copa das árvores. Na bússola, o ponto do invasor permanecia parado, mas iluminado, sinal que quem quer que fosse, até agora estava vivo. Uma árvore lá embaixo foi arremessada pelo rabo do dragão, que agora já estava sob o efeito da poção e não podia mais lançar chamas, mas ainda não parecia ter arrefecido. Ouviu uma voz atrás dele.
– Vai ser preciso usar um dardo... – ele virou-se e viu Celso. O enorme bruxo segurava a sua corrente, que era mais forte que todas e a única com o peso real. Calrlinhos atirou sua corrente para ele, e ele segurou firmemente. Sem dizer palavra, disparou para baixo, já tirando a zarabatana equipada de dentro do bornal. Voou em círculo sobre a clareira. Então, desceu à frente do lugar. O dragão deu um urro que sacudiu tudo. Com os dois pés no chão, ele saltou da vassoura, e por um instante, os olhos dele e do dragão se encontraram. O animal abriu a boca, como se quisesse soltar sua chama, agora temporariamente extinta. Quando investiu a cabeça contra ele, Charlie mirou e soprou, bem entre os olhos.
Com um estrondo, o Dragão desabou desacordado, e Charlie deu um suspiro. Foi até a vassoura e olhou a bússola. O ponto ainda estava luminoso, e continuava parado no mesmo lugar, pouco além da clareira, metros adiante de onde ele estava. Com seu senso apurado de direção, correu entre as árvores, até ver um corpo caído de bruços, pouco adiante. A poção atordoante derrubara o invasor. Podia ver que era uma garota, de cabelos longos e louros, quase brancos de tão claros, fulgurantes. Ela não era trouxa, nem montanhista, ele podia ver pelas vestes inconfundivelmente bruxas.
Aproximando-se, Charlie abaixou-se do lado da mulher, virando-a para cima, para ver seu rosto. Quando fez isso ela abriu os olhos, tentou dizer alguma coisa e então, desmaiou novamente. Ele ainda ficou segurando-a na mesma posição, desacordada, por alguns instantes. Nem ele sabia dizer porque, mas estava abalado. Nunca acreditara nesse tipo de coisa, mas, assim que seus olhos encararam os dela, Charlie soube que estava apaixonado por aquela estranha.

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