(In)Certezas.



NOTA: Peço que me perdoem pela demora em publicar. Como já sabem, a rotina por aqui anda uma loucura. Creio eu que a partir do dia 25 as coisas já estejam melhores e eu consiga publicar mais vezes. Espero que não tenham abandonado a fanfic :)


 


* * *


 


O céu lá fora estava escuro como o interior misterioso da Floresta Proibida. Havia uma larga janela entreaberta permitindo perante si a circulação do vento calmo das primeiras horas da manhã, refrescando todo o quarto em que descansavam Hermione e Eileen no dormitório feminino da Grifinória. A primeira, a propósito, tivera uma noite turbulenta.


Durante as poucas horas em que conseguira manter-se de olhos cerrados, Hermione revirara-se pelo sono. Sua boca, outrora silenciosa, murmurava palavras incompreensíveis em baixo volume. E ninguém ouvira. Porém, diante da tela projetada pelas suas pálpebras fechadas, ela vira o monstro a torturar-lhe. Era um ser de figura indefinida, mas ainda assim assustadora, e que lhe dizia o nome como se fosse algo natural a fazer naquele momento. E as rajadas de poder enfraqueciam os ossos de Hermione, a fazendo cair ao chão. Tudo era dor, ondas prateadas de dor. Até que ela acordou de uma única vez, respirando com dificuldade e examinando ao seu redor com os olhos bem abertos.


Estava sozinha, concluiu para o seu alívio, espalmando o peito com os dedos abertos que acompanhavam sua respiração forçada. Estava à salvo, era apenas um sonho. Ou melhor, um pesadelo. Eileen não pôde ver, mas por diversas vezes ela repetira aquelas palavras como se fossem um mantra. Até que o silêncio do quarto se tornasse incômodo e ela precisasse sair dali para o bem da sua sanidade.


 


Assim, Hermione descera os pés delicados e pequenos no chão frio do dormitório, ao mesmo tempo em que jogava o manto negro das vestes sonserinas sob os ombros que a camisola deixava nus. Após uma única olhada, ela calçara os chinelos largos e felpudos nos pés, murmurando maldições contra a baixa luz que invadia as janelas, dificultando o processo. Por fim, se vira livre, alcançando alguns metros diante do salão comunal sonserino.


Enquanto andava pelas grossas paredes de pedra - desertas àquela hora -, Hermione pensara sobre onde iria naquele momento. Considerara por fim que os monitores eram poucos e as rondas tranquilas, o que tornava possível que visitasse o lugar que mais adorava: a torre de astronomia. Que lugar lhe permitiria entregar seus pensamentos à ordem e paz, daquele modo? Bem, nenhum, na opinião da pequena Gaunt.


E lá fora ela, repleta de certeza ostensiva, na direção da torre mais alta do castelo. Enquanto caminhava silenciosamente, sempre olhando para os lados afim de perceber qualquer aproximação que fosse possível, pensara na amiga que permanecera dormindo em sua cama. Eileen estava tão alegre nos últimos dias, falando pelos cotovelos sobre seu adorável Snape... E Hermione a invejou por aquilo naquele momento. Queria tanto apenas se preocupar com garotos, estudos, a roupa que usaria no dia seguinte. Porém, o universo sempre conspirava para que ela tivesse de proteger aos demais, para que algo lhe tirasse o sono e perturbasse suas horas ativas.


 


Hermione parara por alguns instantes diante da entrada da torre de astronomia. Era uma porta larga e de madeira escura, sempre entreaberta e raramente utilizada, visto que poucos eram os alunos que optavam por adentrar àquele universo deslumbrante de constelações e significados. Mas ela era uma entre os poucos e ali entrara de uma vez, deparando-se com um céu imensamente estrelado, algo que ela jamais vira. E jamais veria no mundo, ela sabia, graças ao livro que lera sobre a história de Hogwarts.


Quando por fim sentiu-se mais calma, perante a bela visão que se esparramava pelo céu diante de si, Hermione sentou-se em uma pequena banqueta de madeira rústica. Por mais que se sentisse segura agora, a tensão ainda não abandonara suas veias por completo. Determinada, tratou logo de colocar um sorriso nitidamente forçado no rosto, mas este não durou por muito tempo, sendo substituído por uma careta inconformada.


Então a sonserina aderiu ao que era inevitável naquele momento: pensar no que havia lhe acontecido. Fitando ainda o céu, ela pôde ver duas estrelas brilhantes se transformarem em imensos olhos ofídicos diante de si, os mesmos olhos que a perseguiam nos seus pesadelos mais insanos. E Hermione já não lembrava mais o que era aquilo, o monstruoso Voldemort, mas na profundidade do seu ser os sentimentos profundos que possuía jamais seriam apagados. Mesmo que ela não os entendesse.


Então ela se moveu algumas vezes no pequeno banco em movimentos não sincronizados, sentindo-se muito incomodada.


"Por que tudo isso está acontecendo comigo?", ela questionou a si mesma em um sussurro inaudível.


Assim que o silêncio se fez presente mais uma vez, levando o som das suas palavras com o vento, Hermione desviou os olhos do céu e uma lembrança específica veio perante seus olhos amendoados e chorosos. Ela ouvira Tom Riddle perguntar a mesma coisa sobre si em uma das memórias, memórias estas que agora eram apenas suas, visto que já não havia mais Morgana Gaunt ou um livro misterioso - que se tornara claro como o dia quando as duas bruxas haviam, por fim, se encontrado.


Então aquela cena, tão viva, tomou conta dos pensamentos da sonserina mais uma vez. Ali surgira Tom Riddle, opaco diante dos olhos dela como se a cena em si fosse feita de fumaça dissipada pelo ar. E ela o viu, tendo ao seu lado dois garotos que ela nunca notara antes em Hogwarts. Por um lado, ficara feliz ao saber que um dia aquele pequeno garoto teria amigos, que o pré-conceito sobre seu sangue impuro magicamente seria vencido alguma hora. Por outro, sabia bem que aquilo era, senão, as portas para uma série de acontecimentos horrendos que ela já havia visto também.


Perante tais conclusões, os pensamentos foram embora aos poucos, deixando que outra cena surgisse em meio a tormenta de reflexões que viviam a assolar os pensamentos de Hermione todos os dias. E ali surgira diante dos olhos dela o mesmo Tom Riddle, olhando para os lados com disconfiança, como se jurasse estar sendo observado. A sobrancelha direita erguida drasticamente, como Hermione já notara que ele fazia com certa frequência. Mais uma das manias dele que ela passara a conhecer tão bem. De todo modo, a cena poderia até mesmo ser bela, se o garoto não sumisse em seguida pela Travessa do Tranco.


O tempo estava voando, Hermione sabia. O que faria para impedir aquele descendente de Slytherin de se tornar um monstro?


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Comentários (1)

  • Violettaa

    Wow...muitas emoções a vista... Aguardo o próximo Beijos =) 

    2012-11-13
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