Hogwarts, Querida Hogwarts.



Hermione estivera procurando por uma cabine vazia no Expresso durante meia hora, que mais lhe parecera uma eternidade. Andara desde o início do trem até os fundos numa busca incansável, parando às vezes para cumprimentar outros alunos - que ao contrário da sua época natural, eram muito cordiais. Os bons modos dos pomposos anos 40 eram visíveis ali, até mesmo entre os jovens risonhos e marotos.


Fora por fim, após uma breve conversa com Septimus Weasley sobre a seleção das Casas em Hogwarts naquele ano, que ela avistara uma cabine deserta. Ou quase. Ao abri-la devagar, espichando o pescoço proporcional a uma garota de dez anos para dentro da cabine do trem, ela avistara um garoto que lhe parecia conhecido. E era. Tom Marvolo Riddle. Porém, Hermione já não se lembrava mais das memórias relacionadas àquele período da vida dele, que ela assistira através do livro. Isso se devia ao fato de que as memórias sobre a vida de Hermione Granger - a garota que ela costumava ser antes de ir para 1940 -, estavam se deteriorando gradativamente. Assim, as memórias mais recentes daquela vida iam sumindo para que a vivência atual lhe fosse assimilada. Não que ela houvesse percebido isso.


 


— Olá. — Ela dissera em volume baixo, temendo a reação do garoto sentado em um dos bancos. — Eu posso me sentar aqui?


 


Mas ele não respondera. Sequer virara o rosto da janela que observava incessantemente, deixando-a ali diante da porta semi-aberta. Sem protestos maiores, ainda que se sentindo pouco confortável, ela entrou e se sentou. Apesar de tudo, não conseguira ter um vislumbre completo do rosto do garoto. Ele olhava para a janela - através de onde já se via o verde dominante - como se apreciasse uma obra cativante.


Ao sentar-se, porém, Hermione o examinou por inteiro. Ele deveria ser um ou dois anos mais velho do que ela, visto que já trajava as usuais vestes Sonserinas das quais ela ainda se lembrava. Tinha a pele branca e os cabelos muito escuros, além dos olhos que brilhavam com o reflexo da luz vinda de fora da cabine. Não havia expressão naquele rosto, que era de aparência agradável.


 


— Eu me chamo Hermione. — Ela dissera, tentando iniciar um assunto qualquer.


— Tom Riddle. — Limitara-se o menino, olhando-a por um breve instante.


 


Por um minuto, Hermione temeu que ele já houvesse se tornado um monstro. Era tudo de que se lembrava sobre Tom Riddle: ele um dia se tornaria Voldemort. E de fato ele já vivera muita coisa até aquele momento.


Aquele seria o segundo ano de Tom em Hogwarts, o que lhe garantira certa bagagem de vivência no mundo bruxo. E sofrimento em ambos. Inicialmente fora um garoto alegre, atencioso, interessado. O aluno e amigo exemplar. Porém isso se esgotara durante uma aula de História da Magia em especial, onde o professor narrara a fundação de Hogwarts. Como se era esperado, a descendência produzida por cada um dos quatro fundadores fora citada com atenção única, pairando a nuvem densa sobre o jovem Tom Riddle.


"E eis que nós temos entre nós, até hoje, descendentes dos quatro bruxos fundadores de Hogwarts", citara o professor naquele dia já distante. "Nosso companheiro Tom Riddle é um deles e tem o mesmo porte mágico de seu antecessor, apesar do sangue impuro. Um excelente bruxo, se me permitem dizer!". 


E aquilo bastara para que fosse instaurada a ruína. A notícia do sangue impuro de Tom, o que naquela época era algo extremamente incomum e desonroso, se espalhara por toda a Hogwarts. E por mais que Dumbledore lhe afagasse os ombros com sentimento fraternal, o sonserino nunca mais fora o mesmo.


As pessoas lhe apontavam com inferioridade, os colegas abriam espaço para que ele passasse sem aproximar-se. Os sonserinos amaldiçoavam sua seleção pelas costas, dizendo que era ultrajante um sangue-sujo em sua Casa, principalmente por ele manchar o sangue de Slytherin.


E o que Hermione via diante de si, mesmo após um ano dos acontecimentos terem se passado, era obra de todas essas coisas. Um garoto de estrutura física perfeitamente capaz, mas que estava com seu íntimo destroçado. A antiga grifa não sabia de tudo isso, mas notara que algo estava errado com aquele garoto quando os olhos de ambos se encontraram por breves instantes. E logo em seguida ele voltara a fitar a janela, deixando-a tão só quanto era possível estar.


Hermione passara as horas seguintes matutando sobre coisas diversas que lhe diziam respeito. Estava muito bem adaptada aos costumes da época e aos novos pais, visto que sua excepcional inteligência e dedicação a aprender tudo que pudesse lhe auxiliavam demasiadamente. Ela não teria problemas em se tornar a melhor aluna da década novamente. A mãe, inclusive, já lhe apresentara seu candidato a futuro genro: Charlie Greengrass, sonserino e sangue-puro.


Não que as crianças pensassem em coisas do tipo, mas eles haviam se sentido tão confortáveis na presença um do outro que a idéia não seria ruim a Hermione, que achava engraçado tudo aquilo diante de sua visão adiantada.


E assim as horas de viagem se passaram: janelas, pensamentos, leituras, sonos sem sonhos. Até que o Expresso parasse, revelando a escuridão da noite e barquinhos iluminados magicamente, guiando Hermione mais uma vez pelas águas escuras do Lago Negro até os portões de Hogwarts. Um belo sonho que ela estava vivendo mais uma vez e jamais teria como descrever em palavras com exatidão.


 


* * *


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Comentários (1)

  • Violettaa

    perfeito adorei... Fora a parte que Hermione esta apagando suas memorias lentamente, e nossa imagina quando ela chegar no sétimo ano quando a ação realmente acontece modo ansiosa On... Aguardando o próximo Beijo,beijo ^_^  

    2012-10-19
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