Depressão ♥





Depressão


 


 Marlene McKinnon se encontrava na cozinha usando um hobe rosa claro, descalça, um xícara de café fumegante nas mãos. Ela observava um garoto de dezessete anos que comia bolo de chocolate como se essa fosse sua melhor refeição. Um sorriso inconsciente surgiu em seus lábios.


 


 Sirius Black olhou para ela.


 


 - O que? – perguntou.


 


 A morena apenas balançou a cabeça para ele. Foi a deixa perfeita para que Sirius voltasse a se concentrar na comida, fazendo Marlene se voltar para seus próprios pensamentos.


 


 A mulher se lembrou da noite passada, quando chegara encharcada no apartamento, só para cair deitada no sofá com Sirius. É claro que Lily chegara bem na hora, isso era típico da sorte de Marlene. Mas ela seguira o conselho da ruiva e transara com um garoto menor de idade. Por Deus, ele era menor de idade! E ainda fizera isso no sofá! No sofá!


 


 Marlene ainda se lembrava vagamente de tê-lo levado para uma banheira com água quente, mas não sabia qual banheira tinha usado exatamente – se a de seu quarto, se a do quarto de Lily. E acordara hoje de manhã deitada nua em sua cama ao lado de Sirius.


 


 Depois passara a tarde ao lado do garoto.


 


 Ela não podia estar em seu juízo perfeito.


 


 Era sobre isso que estava meditando, quando a porta da frente se abriu e fechou – um pouco forte demais -, assustando Marlene e Sirius.


 


 Lily Evans entrou. Marlene se lembrava de não tê-la visto o dia todo, mas chegara à conclusão de que a amiga voltara para James Potter. De qualquer modo, quando Lily olhou o casal sentado na cozinha, Lene esperava que ela dissesse algo como “aproveitaram bem o dia?” ou “pelo visto alguém tirou o atraso ontem”. Mas, surpreendendo até a si mesma, Lily sorriu tristemente e disse:


 


 - Oi, Lene. – depois se dirigindo à Sirius: - Como vai, Sirius?


 


 - Oi, Lily. – respondeu o garoto. Mas Marlene manteve-se quieta, estudando Lily, tendo certeza de que havia algo de errado com ela.


 


 Sem dizer mais nada, a ruiva se dirigiu ao seu quarto e fechou a porta.


 


 - Que estranho... – murmurou Marlene.


 


 - O que é estranho?


 


 - Ela me pareceu um tanto... triste.


 


 Sirius bufou.


 


 - Relaxe, Lene. – disse. – Talvez ela só esteja num humor menos irônico.


 


 Marlene não respondeu, fitando, sem entender, a porta do quarto da amiga. Normalmente, quando Lily deixava de lado seu humor irônico, como dissera Sirius, era sinal de que alguma coisa estava errada. E essa coisa era especificamente relacionada com culpa.    


 


 Da última vez que Lily ficara assim, fora por causa de Katherine McCanzey. Assim que a ruiva descobrira que Kate se apaixonara, ela sentira tanta culpa que chorara compulsivamente por dias. E a coisa se repetiu com todos os personagens de quem ela “abusara”.


 


 Lily fazia seu trabalho como ninguém, mas diferentemente do que muitos pensam, ela também se sentia mal por enganar e usar a história das pessoas como um benefício próprio. E desta vez não era diferente.


 


 Marlene se perguntou se James havia lhe dito algo que despertara a tristeza dela tão cedo. Normalmente, Lily tinha esses ataques depois que o livro era publicado.


 


 - Sirius – começou ela. – Você poderia ir para casa de táxi? Tenho que resolver umas coisas e não acho que possa fazer isso com você aqui. Tudo bem?


 


 O garoto olhou de Lene para o quarto de Lily e fez o caminho de volta. Por um momento, Sirius fez uma careta, ligeiramente inclinado à irritação, mas ouviu um soluço alto vindo do quarto e sorriu, sabendo exatamente o que Marlene tinha para resolver.


 


 - Não tem problema... – respondeu.


 


 Marlene pagou o táxi para Sirius quando este acabou de comer e depois voltou para o apartamento, fechando a porta atrás de si (tudo isso bem rápido, se for retirada a parte em que Sirius rouba um beijo particularmente erótico dela antes de entrar no táxi). A morena pegou o telefone e teclou o número de Kate, sabendo que não conseguiria resolver tudo aquilo sozinha.


 


XX


 


 - LILY EVANS! – uma loira furiosa berrava do lado de fora do quarto de Lily, esmurrando a porta. Marlene pulava de susto a cada murro de Katherine. – ABRA ESSA PORTA AGORA!


 


 Lily, que estava dentro do quarto, no escuro, nem sequer levantou a cabeça. Porque simplesmente não podiam deixá-la em paz? Reclamavam todo o tempo sobre seu comportamento, mas este era mudado, as coisas pareciam desandar.


 


 - Lil’s, por favor! – gritou Marlene, mantendo-se longe da porta (esta já estava sendo esmurrada por Katherine), sua voz consideravelmente abafada.


 


 - “Por favor” uma vírgula! – retrucou Katherine, indignada. Ela bateu mais uma vez na porta com toda a força que conseguiu arrancar de seu braço. Não houve resposta. – Se não abrir essa porta agora, não terei outra escolha, se não deixar seu quarto intransitável! – ameaçou, quase explodindo, tamanha era sua impaciência.


 


 Por algum motivo que nem Lily saberia explicar, ela acreditou nas palavras da loira e – com a cara inchada, com o cabelo embaraçado e só usando uma blusa de moletom velha – se levantou para abrir a porta.


 


 As duas amigas entraram no quarto e observaram Lily voltar a se jogar na cama, como se fosse a pessoa mais infeliz do mundo e não tivesse forças para ficar de pé.


 


 Marlene olhou para ela, penalizada e se sentou na ponta da cama, alisando o pé da ruiva carinhosamente.


 


 Katherine bufou, irritada, como se fizesse pouco caso da depressão da amiga deitada na cama.


 


 - Lily, por favor, não tente se fazer de vítima para mim! – disse ela, cruzando os braços. – Nós três sabemos o que você faz, como você faz e o quanto isso parece desprezível para alguns, mas... – ela foi interrompida.


 


 - Você acha que eu não me sinto desprezível?! – exclamou Lily, a voz abafada pelo travesseiro. Mas, ainda assim, dava para perceber que ela estava chorando.     


 


 Marlene olhou de cara feia para Kate, acariciando o pé da amiga com ainda mais suavidade, mas esta não se deixou abalar e continuou com a bronca:


 


 - Lily, dá para ver o quanto você está se sentindo péssima e, vamos combinar, você até merece se sentir assim. – disse Kate, tentando se conter. – Mas se isso te machuca... Então, porque insiste em continuar?


 


 Lily se sentou, o rosto manchado de lágrimas.


 


 - Kate, essa é a única coisa que eu sei fazer! – disse ela, fungando. – Você é uma engenheira incrível – apontou seu dedo para Kate. - Marlene é uma estilista consagrada – apontou o dedo para Lene. - E eu? – apontou para o próprio peito. - O que eu sou? – perguntou, parecendo acabada. – A única coisa que eu sei fazer é viver! E uso isso para escrever livros. Uso as pessoas para conseguir personagens, uso fatos ocorridos na vida dessas pessoas para conseguir uma história! – Lily soluçou alto. – Não consigo imaginar coisa mais imbecil do que essa, mas é a única coisa que eu sei fazer!


 


 - Não fale assim, Lil’s... – sussurrou Marlene. Esses surtos da amiga sempre a comoviam. Lily era sempre tão forte e tão decidida... era um horror vê-la assim.


 


 - Não fale assim, porque é mentira! – disse Kate. – Nós todas sabemos que qualquer editora desse país briga para publicar um livro seu. Você é boa no que faz.


 


 Lily fez uma cara de incredulidade.


 


 - Boa no que eu faço? Boa em enganar as pessoas? Boa em se aproveitar da desgraça alheia? Boa em joga-las fora quando não me são mais úteis? – ela disse, soando pateticamente irônica. – E você ainda espera que eu não me sinta... nojenta?


 


 Como ela conseguia sentir nojo de si mesma?


 


 - Pare de falar como se fosse uma miserável! – gritou Katherine, perdendo a paciência. Diferentemente de Marlene, Kate odiava os surtos de culpa que Lily tinha. Ela nunca se sentia comovida com eles. Aliás, odiava a auto-piedade. Isso significava que a pessoa envolvida estava à beira da depressão e, para Katherine, depressão significava suicídio.


 


 - Você não entende, não é?! – gritou Lily de volta, se levantando, limpando as lágrimas do rosto ferozmente. – Você não faz a menor idéia!


 


 - Não, eu sinceramente não entendo! – exclamou Katherine, sendo honesta.


 


 - Parem de discutir, por favor... – pediu Marlene, ainda sentada na cama, a mão planando pelo lugar onde o pé de Lily já não estava, um pedido silencioso no olhar.


 


 Lily fechou os olhos com força, tentando em vão se acalmar. Ela andou de um lado para outro, a mão direita pousada na testa, enquanto a esquerda estava apoiada na cintura. Mais lágrimas caiam em seu rosto sardento, mas ela as ignorava, constatando o quão inúteis elas eram.


 


 - Droga, Kate, eu sou igual à ele! – ela disse, desconsolada e ambas as amigas entenderam o que aquilo significava. – Ele me usou até estragar e depois me descartou quando viu que eu não era mais útil.


 


 Katherine sentiu a raiva se esvair de seu corpo, como a água escapa por entre os dedos. Marlene sentiu os olhos marejados e apertou as mãos contra a boca, reprimindo palavras de consolação que ela sabia que não ajudariam.


 


 - Merda – xingou Kate.


 


 - Foi isso que o James disse que te deixou assim? – perguntou Lene. – Quer dizer, James mencionou algo que te lembrou disso?


 


 - James perguntou o nome dele. – respondeu Lily, se sentando na cama, pousando o rosto nas mãos.


 


 - Merda – repetiu Katherine.


 


 Lily se deixou levar pelo mesmo choro compulsivo que a abatera minutos antes. Seu corpo tremia e soluços altos escapavam por entre seus dentes.


 


 - Você não é igual à ele, Lily... – disse Marlene, alisando os cabelos de Lily.


 


 Lily rejeitou o carinho da amiga com aceno de mãos.


 


 - Sou sim – soluçou ela. – Sou bem pior do que ele, por que eu me arrependo.


 


 - É isso que te faz melhor do que qualquer pessoa. – assegurou Lene.


 


 - Não, isso é o que me faz pior. Eu me arrependo, mas continuo fazendo. – discordou Lily. – Eu me odeio.


 


 Katherine atravessou o quarto e se sentou do lado de Lily, que deitou a cabeça em seu colo. Marlene voltou à alisar-lhe os pés.


 


 - James é um ótimo garoto. E mesmo assim eu o engano na cara de pau, só pra poder publicar uma boa história. Ele ficou preocupado que pudesse ter me ofendido quando perguntou sobre meu pai. Eu vi isso. – Lily soltou; as mulheres deixaram-na falar. – Me sinto desprezível por estragar a vida dele como eu faço.


 


 E nada mais foi dito.


 


 Ninguém se dignou a abrir a boca novamente. Marlene absorveu as palavras da companheira em silêncio, relembrando quem era o pai de Lily e sentindo-se penalizada. Katherine acariciou os cabelos flamejantes de Lily até que esta dormisse.


 


 - Merda – disse uma última vez.


 


XX


 


 N/A: eai, meu povo? Tudo bom? Me perdoem pelo capítulo dramático e panz, mas era uma parte da história que simplesmente não podia faltar. Não sei se você aproveitaram o capítulo, mas eu juro que o próximo vai voltar com a Lily fogosa que a gente já conhece.


 


 Agradeço a quem esta fazendo o grande favor de comentar, vocês não sabem o quão importante é o comentário de vocês. Obrigado mesmo.


 


 Bem, eu já reli esse cap, mas se vocês acharem algum errinho, me digam.


 


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Comentários (2)

  • Spencer Cavanaugh

    Vixeee agora sim eu tô mais curiosa ainda, o que pode ser esse pai da Lily em ? Tentando entender aqui como é que ele a usava e o porque....Bem, espero descobrir logo, porque a curiosidade me matar O.O bem amei o capitulo , deu pra perceber que as meninas sempre ficam do lado dela - bem digo de se importarem e tal. Amei isso bjoos *-* 

    2012-10-31
  • Sah Espósito

    Heiii eu acheio um erroUM capitulo minusculoooo!!1quero mais ne meu autorrsrsQue drama, nunca esperei ver a Lily assi e voce me surpreendeuparabéns=]

    2012-01-13
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