Minha Primeira Amiga



Ele vinha andando de cabeça baixa, olhando a estrada que serpenteava, ate o horizonte, onde sumia seu final, algo nele estava errado, gotas de lagrimas desciam por sua face e pingavam no chão, seus olhos verdes que quebravam a escuridão nublada da estrada.


Uma arvore que fora esquecido pelos moradores, ficava seca, imóvel no chão, atrapalhando a passagem.


_Você é esquecida como eu – disse ele passando as mãos sujas de barro no rosto – você sabe por que ninguém gosta de mim? Fale por favor – ele gritou a puros pulmões, seus gritos fazendo ecos na estrada deserta.


Mais a arvore permanecia intacta parada sem vida, sentou no chão, e começou a atirar pedrinhas na estrada - Sabe – começou ele – eu faço coisas diferentes, acho que eu sou mágico, mais as mulheres disseram que eu era maluco, mais eu não acredito nelas – você acha que eu sou louco? – esperou por um tempo a arvore responder, mais não obtendo resposta continuou falando – eu faço coisas vir a mim, quando quero, eu consigo fazer as pessoas sentirem dor quando eu quero me desculpe – ele colocou a mão na raiz da arvore – faço isso porque todos me julgam sem me conhecer de verdade, isso é muito chato, fico sem amigos, sozinho, igual você, ninguém gosta de me ajudar, então faço eles pagarem por tudo. Quando quero falo com as cobras, e estranho mais eu falo, quando tinham algumas perto do lugar que eu morava, eu falava com elas, mais ai vinha alguém e as matava então eu fazia a pessoa a sentir dor, não –ele olhou para os galhos secos – com você eu não farei mal algum, Mais agora preciso continuar, estão atrás de mim, pessoas más, muito más.


Com um beijo no casco velho da arvore ele continuou, andando devagar, pela estranha, com um ultimo olhar, ele sumiu na escuridão da noite. A arvore tremeu um pouco, e se transformou em um homem, de barbas grisalhas, girou nos próprios calcanhares e com uma pequena perturbação da atmosfera, sumiu.


O pequeno garoto continuou andando, ate chegar perto de um lago, que estava congelado, plantas estavam presas no gelo, ele chegou perto do lago, e colocou sua mão encima do gelo, então o gele começou a derreter, fazendo a pequena folha se soltar  e navegar devagar ate a sua mão, ele a segurou, e começou a comer, pétalas por pétalas.


_Esta com fome? – um homem alto apareceu atrás dele o segurando pelo braço – porque fugiu do orfanato pirralho


Palavras não conseguiam se formar nos lábios do garoto, apenas lagrima descia por sua face suja de barro, o homem apertou mais o braço do garoto, que soltou um pequeno grito de dor, mais no momento o homem perdeu o equilíbrio caindo no chão se debatendo e gritando de dor, o garoto esfregava o braço e olhava o homem que havia o machucado, que era o predador, e agora a presa.


_Faça parar – gritava o homem – debatendo-se tentando se segurar em algum lugar.


Mais o garoto não se movia, um sorriso aparecia em seu rosto, crispado nos seus lábios, ele sentia prazer ao ver a pessoa que tentará lhe fazer mal, sentindo o peso da dor.


_Tom – gritou uma mulher que vinha correndo segurando a barra da saia – graças a Deus achamos você, você anda rápido hein, estamos tão longe do orfanato – olhando para baixo, viu a pessoa que mandará para encontrar o garoto, deitada no chão, tremendo, com um fiapo de sangue saindo pelo nariz – você fez de novo tom – a mulher olhava horrorizada.


O garoto então levantou o braço, mostrando o hematoma roxo que o homem o deixara, após o apertão, lagrimas ainda escorriam por sua face, que apesar de tudo era de uma criança maltratada.


_Você mereceu – as únicas palavras que a mulher conseguiu dizer, ajudando o homem pálido a levantar e segurando a mão de tom, caminharam ate uma velha caminhonete, depois de um tempo chegaram a uma velha casa – esta com fome Tom?


_Não senhora – respondeu o garoto, que olhava tudo assustado – posso ir para o meu quarto?


_Sim, sim, suba, a primeira porta do corredor – disse a mulher, tomando um pouco do vinho.


Subindo rápido, Tom abriu a porta e se jogou na cama, olhando o braço que havia os cinco dedos de seu agressor – todos pagaram – repetiu ele – todos. Ele olhava por uma janela de aspecto sujo, o vidro mal dava para enxergar a parte de fora, abrindo a janela com esforço, uma pequena criatura molenga caiu na cama fazendo um pequeno barulho, rapidamente o garoto se afastou da cama, mais o pequeno animal se levantou, uma cobra minúscula o olhava com a língua pra fora, sentindo o ar.


Tom tentou falar, mais da sua boca, saiu apenas um silvo, a cobra logo virou seu rosto, e respondeu no mesmo silvo mais agudo.


_Eu também sou sozinho-disse ele, se sentando na cama onde a cobra estava a poucos centímetros.


A cobra soltou um silvo.


_Meus pais também me deixaram – outro silvo.


_Tom – um barulho na porta – o que esta fazendo.


_Não é nada senhora – respondeu Tom, esta tudo bem. Obrigado.


Ah cobra havia sumido, Tom a procurou sem sucesso, cansado e com fome, sua barriga roncava alto no quarto, então ele se deitou na cama olhando o teto, que começou a girar por falta de vitaminas no seu corpo. Então coisas começaram a entrar pela janela, pães, sucos, queijos, bolos, todo o tipo de doce, Tom se sentou no chão, e começou a comer tudo que conseguia, a janela foi se fechando devagar sem fazer barulho, um olho muito azul apareceu no vidro que a manga do garoto havia limpado sem intenção, um piado alto, um sobressalto de Tom, que fez o suco cair no chão, o olho sumiu.


Depois de comer, Tom subiu na cama, e rapidamente caio no sono, barulhos começam a tentar despertado.


_Vamos lá tom – precisamos chegar ao orfanato em três horas – dizia a mulher enquanto o balançava.


Sem abrir os olhos, o garoto tentava tirar a mão daquela que perturbava seu sono – não quero ir – resmungava.


_E onde vai morar? Pare de frescura, e levante logo pirralho, e já disse para você não roubar comida – gritou ela, arrastado o pé ate a porta.


_Eu não roubei – ele falou inocentemente – eles entraram voando pela janela.


_Claro, Claro, estranho – terminou ela saindo e batendo a porta do quarto.


Tom se sentou na cama, a pequena cobra saiu de baixo do travesseiro _ Oi – disse o garoto sorrindo – que bom que apareceu – vou levar você comigo. A cobra assentiu com rapidez entrou no bolso das vestes rasgadas do pequeno garoto, que com um pulo, saio da cama, e desceu as escadas, sem muito animo para voltar para o lugar que mais o maltratava. A cobra colocou a cabeça pra fora, ele a olhou com o primeiro sorriso de felicidade, passando a ponta do dedo indicador na cabeça da cobra – vou chamá-la de Nagini.


Entrando no banco traseiro da caminhonete barulhenta, saiu roncando alto, balançando, entrando em uma estrada estreita, sumindo no horizonte, sem perceberem, que uma ave cor de fogo os seguia piando alto.

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