Capítulo 04



N/A = Eu deveria ter postado isso antes de viajar, mas ficou uma loucura aqui em casa e não deu tempo u_u Aviso desde já que está sem devida revisão de uma beta, então, tenham paciencinha com meus errinhos, ta? /mimimi


Boa leitura! \o


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Como havia prometido, apenas meia-noite foi executar a segunda parte do plano. 


- De vigia, Rony. – falou Harry, antes de sair do lado do amigo, ouvindo, antes de se afastar demais um “ok” murmurado.


Escalou novamente até a janela e, antes de entrar confiando que o comensal havia lhe dito tudo, escutou atentamente para ver se não havia nada que pudesse resguardar o quarto. Se a realidade não fosse tão tétrica de estar tão próximo de morrer acaso qualquer coisinha desse errada, poderia até se sentir excitado por ter conseguido invadir a casa de seu maior inimigo. E mais ainda pelo fato de ele estar dentro dela durante a invasão e não ter notado nada de estranho. 


Tinha que admitir que, mesmo com toda a desgraça produzida por Voldemort, o Mercado Negro era uma consequência maravilhosa.


Quando teve uma certeza bem grande e seus braços também não aguentavam ficar mais pendurados às bordas da janela, entrou de mansinho, igual a um gato. Olhou em volta para ver se não havia nenhuma perturbação na escuridão que denunciasse não ser o único presente no quarto acordado. Viu as dobras da cortina do dossel, aproximando-se rápida e furtivamente. A precária luz fornecida pela janela sem cortinas era, ao mesmo tempo, seguro e perigoso. Abriu as cortinas, vendo o contorno do corpo, fazendo alguns cálculos rápidos para saber exatamente onde estaria a boca e o nariz. Do cinto que carregava, tirou um pequenino frasco de remédio, contendo Éter e umedeceu o pano que tirou de outro compartimento. Não queria ter a surpresa desagradável de saber que o escravo tinha sono leve e acordasse aos berros no meio do sequestro, por isso era melhor prevenir e mantê-lo inconsciente. 


Da mochila, retirou a capa da invisibilidade que haviam comprado no dia anterior, embrulhando o corpo e colocando-o sobre os ombros logo em seguida. Pensava, satisfeito, que tudo estava correndo perfeitamente bem... perfeitamente... de mais.


Chegou na janela. Descobriu o erro mais grotesco possível em seu plano. 


Do mesmo jeito que, obviamente, Voldemort não enxergaria Rony, Harry também não enxergava para executar a terceira parte do seu plano.


 


 

 


Rony vigiaria as janelas e a rua, enquanto Harry invadiria a casa. Quando ele aparecesse na janela, esperaria o sinal de Rony para saber se era seguro descer com o objetivo de seu plano. Tinham até combinado os sinais para o caso de aparecer alguém ou não. Tudo bem simples. 


Foi apenas quando viu o amigo adentrar a escuridão do quarto e desaparecer que arregalou os olhos e estremeceu, percebendo o terrível erro do plano. Como iria saber quando ele tinha retornado? Apesar dos feitiços desilusórios não serem a melhor invisibilidade, na completa escuridão era suficiente para fazer alguém literalmente desaparecer. Lembrou-se, logo após também, que encontrava-se na escuridão e devia estar sendo tão impossível de enxergá-lo quanto ele ao amigo.


Só um pensamento saltou de sua mente ao constatar o terrível erro: O que faria!? 


- Problema, problema... – resmungava Rony. Não fazia a mínima ideia de como faria para resolver aquilo. Não podia fazer barulho, ou Voldemort, que não dormia, iria ouvir e verificar. Como faria um sinal seguro e silencioso? E como saberia quando fazê-lo?


Sentia o suor de seu rosto, enquanto olhava desesperadamente para os lados na esperança, talvez vã, de encontrar a solução. 


O pior, ou talvez melhor, foi que encontrara. Do outro lado da rua no beco logo em frente, sob cobertores ralos, havia um mendigo que dormia – Harry e Rony imaginavam que devia ter traído alguém dos altos escalões, no meio das intrigas do Mercado Negro, e estava fugindo. Haviam estuporado-o antes de iniciarem o plano com medo de que pudesse acontecer algum imprevisto.


Saiu sorrateiro do seu posto de vigia, tentando ser o mais rápido e silencioso possível. “Não aparece, Harry, não aparece!” pensava desesperadamente enquanto se aproximava do mendigo para pegar “emprestado” temporariamente, sem uma devida permissão, o cobertor que usava. 


Olhou para os lados, antes de sair correndo pro outro lado da rua, para voltar ao posto de espera, driblando as armadilhas. O que se veria era como um cobertor que flutuava ao lado de um tipo de cortina de fumaça que parecia ter vida própria.


Voltou, olhando para as janelas suando extremamente frio, pois o cobertor era excepcionalmente visível e não haveria como despistar caso alguém decidisse olhar pela janela. Manteve-o erguido no ar, numa reza fervorosa. 


Depois de algum tempo, para seu quase infarto, uma roupa tinha aparecido na janela onde Harry desapareceu e demorou a entender que se tratava do amigo que parecia ter aderido a sua idéia de usar tecidos para poderem se comunicar.


Como um acordo mútuo e mudo, decidiram que o terceiro passo do plano precisava ser feito rapidamente, pois tinham que se livrar daqueles panos. Não tinha feito todo o sacrifício de feitiços desilusórios, capa da invisibilidade, para simplesmente serem descobertos com roupas improvisadas para se comunicar. 


Em minutos, Harry já pisava em terra firme ainda com a roupa que pegara do armário nas mãos e o corpo, embrulhado na capa da invisibilidade, estava nos ombros de Rony. Rony olhava indignado para as vestes que Harry tinha na mão, sussurrando freneticamente para que se livrasse daquilo. Harry não deu o braço a torcer. Não queria voltar lá em cima por algo tão banal e deixar pra fora da casa era uma loucura. Rony bufou, mas não disse nada. Mandou Harry devolver pelo menos o cobertor pego emprestado, enquanto entregava o pedaço de tecido puído.


Em poucos minutos, ambos corriam entre as sombras. O mais longe que conseguiram foi umas dez quadras, antes de começarem a ofegar. 


- Espera, Rony, como somos idiotas. – Harry ofegava, olhando a lua. Para seu desespero, estava chegando a hora de refazer o encanto e não daria para esconder de Rony se não pensasse em algo rápido.


- Harry, não podemos parar! Estamos só a dez quadras de distância! – Rony parecia não ter ouvido, virando-se para trás e olhando o amigo recostado na parede. Ou o que era possível ser visto. 


- Posso aparatar!


Silêncio. Só se ouvia o ruído das respirações. 


- Somos em três! – Rony quebrara o silêncio. Dava para notar que ele não acreditava que Harry conseguisse realmente aparatar com mais duas pessoas além dele sem acontecer algum desastre.


- Não temos muitas opções. Nossas pernas não farão o serviço direito. Se quiser, faço duas viagens. Uma com a carga e outra com você. – Harry parecia determinado, enquanto dava as costas e já ia para o beco mais próximo. 


- Ah... isso nunca funciona, nunca funciona! – ouviu os lamúrios de Rony às suas costas, enquanto este também corria logo atrás.


Sabia que Rony tinha más experiências com aparatação conjunta. Em uma, quase perdera a vida por uma aparatação apressada de Hermione que tirou um pedaço de carne do seu ombro e o fizera sangrar em abundância. 


Chegaram ao beco e revezaram a viagem. Rony não queria outra experiência terrível e diminuir a possibilidade de acontecer já era um alívio. Para Harry, só era mais trabalho. Primeiro levou a carga, depois levou Rony ao lugar que julgou o menos visitado possível.


- Harry, que escuridão é essa? – perguntou Rony, que não enxergava nada. 


- Sua antiga cela. Achei que fosse um lugar seguro. – Harry informou, acendendo a varinha logo em seguida.


- QUE? 


- Shiiiu! – Harry colocou o indicador sobre os lábios, para falar mais baixo – Quando vim aqui, não pretendia retirar o feitiço de anti-aparatação que existia, mas quando te vi, achei que era uma carga muito pesada para sair a pé sem ser notado. Por isso tive que retirar. Provavelmente, por não terem ainda te encontrado, eles não refizeram nenhum dos feitiços de proteção que retirei. Eles nem devem se importar com isso aqui, enquanto você estiver “foragido”.


- Você tem certeza, Harry? – Rony parecia muito nervoso. – Isso está me parecendo probabilidade demais. Não gosto de probabilidades, sou péssimo nisso, você sabe. 


- Terei mais certeza amanhã, mas por enquanto, isso aqui é o mais seguro que encontrei de última hora. Esses planejamentos apressados sempre têm defeitos para serem consertados de última hora. Como odeio isso. – Harry bufou – Agora dorme, enquanto eu fico de vigia pro caso de algo ter dado errado.


- Não vou conseguir dormir. – Rony dissera, recusando-se a deitar-se novamente no chão de sua antiga cela. 


- Consegue sim, Rony. Nem que eu tenha que te estuporar. – Harry disse muito sério, fazendo Rony empalidecer. O amigo sabia que Harry cumpria o que dizia.


- Tudo bem, tudo bem... – Rony olhou para o chão num misto de conformismo e repugnância. – Onde deixou o escravo? – ele perguntou, olhando para os lados, sem encontrá-lo. 


- Está ainda sob a capa da invisibilidade. Não se preocupe, deixei perto da parede e tem bastante espaço pra cá. Não irá esbarrar tão fácil. – ele informou, fazendo Rony suspirar.


Viu o amigo deitar e apagou a luz do Lumus. Também estava cansado, mas não ia adiantar dormir. Em poucos minutos, ouvia o roncar de Rony, obrigando-o a produzir um feitiço silencio. Sempre era assim, Harry era o último a dormir, para silenciar os roncos de Rony, e o primeiro a acordar. 


Em pouco tempo, sentiu o sangue começar a escorrer lentamente pela ferida que se abria. Fez o encantamento bem rápido, antes de abrir por completo. Respirou aliviado, pois eram raras as vezes que podia sentir uma dor tão mínima. No dia seguinte, não importava o método, ia arrancar do escravo a informação que precisava.


 


 


 


Rony tinha acordado num salto e, não vendo nada, só piorou seu estado de pânico. Tinha voltado para sua cela ou nunca tinha saído? Levantou os pulsos, mas não sentiu nada o que já o deixou mais aliviado. Mais calmo, lembrou-se do que tinha acontecido e do porque tinha voltado a sua antiga cela.


Tateou no escuro, sentindo Harry adormecido ao seu lado. Esperava que estivesse com um sono bem pesado, pois não queria ficar naquela escuridão, lembrando-se de seus dias encarcerado como um animal. Precisava, pelo menos, ter alguma luz que afugentasse as péssimas lembranças. 


Encontrou o que procurava ainda na mão do amigo que relutou em ceder os dedos de cima da varinha, mas finalmente conseguiu. Murmurou o feitiço e se fez a luz, acalmando seus nervos.


Olhou para os lados, pela primeira vez na vida enxergando o lugar através dos olhos e não do tato. 


Impressionantemente, seus cobertores ainda estavam ali, abandonados, parecendo esperá-lo. As correntes jaziam sobre ele, ocas e, para os olhos de Rony, pareciam sussurrar: “Você voltará para nós e, juntos, ficaremos para sempre.


Seus dedos seguraram mais firme a varinha e prenderam a respiração, voltando os olhos para Harry que continuava adormecido ao seu lado. Mas era como se as correntes tivessem olhos e estes pregados a suas costas desconfortavelmente. Precisava fazer alguma coisa para distrair a mente. Talvez fazer algo de útil. E se o escravo acordasse ainda sem nenhuma amarra? Poderia ser perigoso. 


Decidiu que precisava levar o escravo até as algemas e deixá-lo preso por segurança. Foi, de gatinho, até onde Harry tinha dito que o deixara, tateando e encontrando a capa que mais parecia água entre seus dedos. Respirou fundo, quando começou a retirar de volta do corpo, com a varinha preparada pro caso dele acordar.


Viu só um monte de cabelo castanho que espalhava-se por todo lado. Rony lembrou-se que Harry comentara que o escravo era alguém da antiga resistência e, antes de encontrar Rony, acreditava ser o único que tinha sobrevivido às execuções. Sentiu curiosidade de saber quem era e seus dedos foram até os fios castanhos que encobriam o rosto. 


Lentamente, foi retirando-os. Eram sedosos e bem cuidados e deslizavam por seus dedos calejados como se fossem pura seda. Em pouco tempo, a ponta de seus dedos sentiram a pele extremamente macia por baixo daqueles lindos cabelos. Os olhos azuis estavam cada vez mais vidrados em seus dedos, sem acreditar que estava tocando algo tão perfeito, diminuindo cada vez mais a velocidade da retirada dos fios. Temia que o encanto se acabasse quando visse, finalmente, o perfil do que já acreditava não ser um escravo, mas sim uma escrava.


Estava tão anestesiado que não reagiu em tempo, quando quase chegava ao ponto culminante que seria obrigado a ver finalmente quem era. 


- VOCÊ PROMETEU! – o berro foi ouvido estridentemente e logo em seguida um tapa sonoro.


- Ai! Desculpe, descul... – ele dizia em resposta a acusação, com a mão sobre um dos lados do rosto que ardia com o tapa recente. Levantava o rosto, automaticamente, quando interrompeu sua própria fala. 


Rony estava com o coração na boca e uma marca vermelha na bochecha direita, enquanto os olhos arregalados encaravam a poucos palmos a frente o rosto furioso de...


- Hermione!?! – Rony soltou, quase sem voz. Não podia acreditar naquilo. 


Ela pareceu assustar-se a visão dele também. Um par de olhos castanhos o encaravam vidrados, mas, diferente dele, parecia ter se recuperado do choque da revelação bem mais rápido, pois em segundos, os poucos palmos que distanciavam seus rostos foram reduzidos a quase nada, quando, num movimento muito rápido, agarrou sua blusa surrada e obrigou-o a ficar ainda mais perto. Estavam tão próximos que podia sentir a respiração dela.


- Real...? – ouviu o sussurro, observando os olhos dela analisarem milimetricamente seu rosto, incrédula – Nenhuma alucinação? – ela continuou, começando a tocá-lo como se simplesmente olhar fosse muito dúbio ainda. 


Sentiu as mãos dela apalpando-o, começando pelo seu rosto e descendo pelo seus braços e peito. Decidiu pará-la antes dela continuar mais ainda para baixo.


Pegou nos pulsos dela, fazendo-a parar. Apesar de ter assustado ao vê-la ainda viva, não lhe era tão difícil de assimilar. Se Harry podia estar vivo, porque ela não poderia? 


- Hermione... – ele dizia baixo, ambos cruzando os olhares – Sou... sou eu, de verdade. – seu coração batia tão rápido e descompassado que dificultava um pouco sua fala sair mais longa do que aquilo, sem começar a gaguejar.


Sentiu as lágrimas tomando conta de seus olhos, vendo que o mesmo ocorria nos dela. Abraçou-a fortemente, cegando-se com a cascata de cabelos castanhos, ouvindo em seus ouvidos os sussurros dela: 


- Vivo... você estava vivo.


- Não se importem comigo, não, viu. Só sou um castiçal. – Rony ouviu, sobressaltando-se com a voz de Harry logo ao lado e afastando-se automaticamente de Hermione. 


O amigo se encontrava com sua varinha novamente em mãos e segurando-a, literalmente, como se fosse um castiçal, com um arzinho de malícia naquele sorriso de lado. Nem tinha notado quando tinha largado a varinha e menos ainda quando ele tinha chegado tão de mansinho para reavê-la. Sentiu suas orelhas começarem a arder de tanta vergonha por tê-lo esquecido completamente. Obviamente tinha acordado com o berro de Hermione.


- Harry? – ouviu a voz espantada de Hermione logo ao lado. 


Rony teve quase certeza de que Hermione iria entrar em colapso, ao voltar os olhos para ela novamente. As marcas das lágrimas que caíram ainda estavam ali, recentes abaixo das pálpebras que arregalavam-se a visão de Harry.


- Hum... oi... Hermione? – Harry dissera, parecendo meio sem-jeito agora que ela parecia encará-lo fixamente. Alguma coisa no jeito dele dizia claramente que não tinha planejado essa parte ao chamar a atenção de ambos. Ou nem mesmo imaginaria que ocorresse tal reação de Hermione. 


Num reflexo muito rápido, Rony conseguiu aparar uma provável queda quando Hermione simplesmente desmaiou. Não teria muito estrago, sendo que estava sentada, mas mesmo assim, achava que machucaria.


- Acho que foi muitas novidades para ela. – Harry comentou, ao observá-la nos braços de Rony. 


- Você acha? – ele perguntou, analisando-a com ar preocupado.


- Apesar de estar muito feliz de saber algo assim, acredito que acabamos de nos deparar com um terrível problema, Rony. – Harry começou a falar, aproximando-se mais de onde estavam. 


- Que problema? – Rony desviou os olhos para encarar o amigo, intrigado.


- Isto... – ele pegou no queixo de Hermione e o ergueu levemente, iluminando a faixa de couro negro. 


- Que possessivo. Além de escravizá-la, colocou uma coleira nela com o nome dele! – Rony dissera indignado ao ver a placa dourada.


- Talvez a placa seja um capricho dele, mas a coleira não, Rony. – ele começou a falar, encarando aquilo com ar preocupado. 


- O que você quer dizer? – Rony procurava alguma coisa de anormal em Hermione para Harry estar tão preocupado.


- Não sei bem como funciona essas coleiras. Só sei que obriga a pessoa a ser leal de alguma forma aquele que é seu dono. Essa é a marca de sua escravidão. É como diferenciam um simples escravo trouxa de escravos mestiços e nascidos-trouxas. No caso da Hermione, seu dono... 


- ... é Você-Sabe-Quem... – Rony gemeu, ao complementar a frase que Harry tinha deixado no ar.


- Mas existe uma esperança. De acordo com a lógica, se conseguirmos tirar isso dela, sua obrigação com Você-Sabe-Quem se acaba. Mas, até onde soube, ninguém nunca nem tentou fazer algo assim. 


- Acha que tem esperança? – perguntou Rony, com ar duvidoso.


- Claro. Nenhum feitiço é tão indestrutível que não tenha pelo menos um contra-feitiço. – logo depois, Harry começou a cochichar consigo mesmo. – Agora se sobrevivemos, é uma outra história... 


- O que disse? – Rony perguntou, distraído com Hermione em seus braços.


- Nada. – respondeu calmamente – Mas, seja como for, nosso esconderijo improvisado funcionou. Não teve visitas inesperadas. 


- Percebi... você dormiu antes de me chamar! – Rony acusou, com os olhos estreitos.


- Ah, nem vem. Também estava cansado, não sou Você-Sabe-Quem que não precisa dormir, ok? – Harry já se defendia de um provável ataque de Rony a sua falta de responsabilidade de saber que não estava aguentando e não chamá-lo. 


Houve alguns momentos de silêncio, enquanto Rony parecia estar muito pensativo a encarar Hermione.


- Algum problema, Rony? – Harry decidiu perguntar, pois não era comum o amigo estar tão concentrado. 


- Harry... acha melhor nós a... – ele parecia ter dificuldade em formar a frase – algemarmos... sabe... para o caso dessa lealdade... digamos... ser a distância?


Rony parecia muito contrariado ao fazer essa pergunta. Harry poderia até sentir pena, afinal, Hermione nunca tinha deixado de ser como a irmã que Harry nunca tivera chances de ter e, para Rony, o amor de sua vida. 


- Pelo pouco que conseguimos ver, ela ainda parece a mesma Hermione que lembramos, mas não acho bom confiarmos tanto na sorte. Mantê-la ao menos imobilizada parcialmente enquanto esperamos ela acordar já deve adiantar. Sabe, como o feitiço da Perna Presa.


Viu Rony ficar mais aliviado com aquela resposta. Harry observou as algemas que encontravam-se sobre os cobertores, do mesmo jeito que tinha deixado ao libertá-lo, pelo canto dos olhos. Já tinha idéia do que aquela cabecinha oca devia estar pensando com aquilo. 


Como tinha dito, deixou-a parcialmente paralisada e ambos esperaram, em silêncio. Cada um enterrado nos próprios pensamentos.


 


 


 


Hermione acordou meio dolorida, o que não era exatamente comum. Parecia ter caído da cama, pois deitava-se sobre algo muito duro. A escuridão não era difícil de entender. Devia ser de noite. Mas o que incomodava é que poderia jurar que parecia ter tido um estranho sonho em que Harry e Rony estavam vivos. Já fazia anos que ela nem sonhava! 


Tentou se levantar, primeiro tateando a procura da cama. Devia estar ainda ali perto, é claro.


Não encontrava. 


Só faltava ter rolado para longe enquanto dormia! Ia ter que se levantar e tatear no escuro. Suas pernas não desgrudavam para poder fazer um apoio satisfatório. Mas o que estava acontecendo?


Uma idéia idiota lhe veio a mente: Feitiço da Perna Presa. 


- Mas que brincadeira ridícula é essa? – ela se perguntou indignada. Era só o que faltava. Parecia não estar contente com o que já fazia, precisava fazer aquelas brincadeiras infantis? Não tinha nem um pingo a cara dele, mas não achava que pudesse ser impossível, tampouco.


De repente se fez a luz em algum lugar que cegou-a momentaneamente. 


- Parece que acordou de novo. – ouviu uma voz familiar. Mas era impossível...


Abriu os olhos, piscando bastante. Tentando focalizar, tentando compreender que o que estava vendo era alguma coisa bem diferente do que o seu cérebro reconhecia. 


Aquele, simplesmente, não podia ser Harry Potter.


- Quem é você? – ela perguntou, pois aquilo com certeza era uma brincadeira. As cicatrizes eram para camuflar um outro rosto qualquer, claro. 


- Não reconhece, Hermione? Mas você o reconheceu não faz nem algumas... o que? Horas? – veio a voz do outro lado, fazendo-a se sobressaltar. – Sabe, sei que o Harry ta meio acabado... – viu os conhecidos olhos azuis olhando para o que ele chamava de Harry Potter de soslaio – sem ofensas, claro.


- Já entendi, Rony. – respondia com um ar conformado e até ligeiramente risonho. 


Não. Simplesmente aquilo não podia ser verdade.


- Não... – ela se negava a acreditar em algo tão ridículo, balançando a cabeça de um lado para o outro. Tampava os ouvidos e fechava os olhos. Devia tê-la enfeitiçado e estava tendo pesadelos propositais – Isso deve ser algum novo método dele de tentar me enlouquecer. – era completamente lógico e racional. Seus amigos, simplesmente, não podiam ter ressuscitado. Mesmo para os bruxos, a morte continuava a ser irreversível. 


- Hermione, não seja teimosa. Estamos vivos e não foi porque ressuscitamos. Nós sempre estivemos vivos, desde que nos separamos! – ouvia a voz de Harry, apesar de estar bem mais grave e tinha um toque de firmeza que nunca ouvira nos sete anos de convivência com ele. Mas, tinha que admitir, era a voz dele.


- Eu vi o seu corpo! – ela gritou com aquele espectro de um provável sonho, olhando-o nos olhos. Ainda se lembrava de Hagrid trazendo o corpo de Harry para que todos vissem – Eu vi o corpo de Rony! – ela olhou para o que devia ser o espectro de Rony, mas não suportou por muito tempo, antes de cair em prantos, desesperada. As lembranças afloravam muito vívidas. 


- Como você viu meu corpo, se eu nem morri! – Rony exclamava incrédulo, pegando-a pelos ombros, fazendo-a olhá-lo – Como você sabia que era meu corpo? Como? Viu meu rosto? É isso?


- Você estava deformado! – ela falou com a pressão que ele fazia – Praticamente não tinha rosto... – ela abaixou a voz, enquanto lembrava-se nitidamente, como uma assombração – Mas tinha os cabelos ruivos... e o medalhão... – ela choramingou baixo, começando a tremer. 


- O medalhão? O medalhão de Slytherin? – ele perguntou, parecendo acusações. Hermione só conseguia mover a cabeça afirmativamente – Vou matar aquele desgraçado!


- O que aconteceu? Como assim, ela reconheceu seu corpo com o medalhão que você destruiu? – Harry perguntava, tentando entender o que falavam. Era óbvio que havia perdido algum detalhe no meio da batalha. 


- Hermione tinha me dado o medalhão, quando você simplesmente sumiu sabe-se lá pra onde do castelo, e me fez prometer que iria devolvê-lo depois da batalha. Mas fui capturado, junto com Jorge e Percy. Não sei como ele soube do medalhão que eu carregava, mas ele arrancou de mim! Também não sei como ele camuflou qualquer outro corpo para parecer com o meu, mas já vi o objetivo... foi para enganar Hermione!


Hermione o olhava vidrada. Ecoava em sua mente algo já antigo, mas que pareceu bem vívido com as palavras de Rony. “Quem sabe, um dia, não possa lhe devolver seu querido namorado?” a voz do Lorde parecia reverberar pelas paredes de sua cabeça e, como um estranho quebra-cabeças, tudo fez sentido de uma vez só. 


- Mais... um... truque... – ela balbuciou lentamente, observando-o embaçado. Na hora, seu desespero era tanto ao ver o medalhão que nem cogitou a possibilidade de ter sido outro membro da família Weasley que pudesse estar ali.


Rony não tinha passado de mais um dos truques dele. Desde quando ele pretendia enlouquecê-la? Porque tinha escolhido ela para fazer isso? No início parecia algo tão disparatado. Escolhida por simplesmente ser a última, ainda viva, que sabia do seu passado, como matá-lo e quais armas usar. 


Mas ela não era.


Lentamente pegou a corrente que nunca tirava do pescoço e puxou para cima, aparecendo o medalhão de dentro de seu pijama. O mundo ficou algo banal, enquanto observava os detalhes daquele medalhão que era sua última lembrança concreta e palpável de Rony naqueles 10 anos. 


Que estranho presente para se dar a uma pessoa amada.”, dizia a voz macia em ecos por sua mente. A imagem dele, recostado na escrivaninha, enquanto girava o objeto entre os longos dedos para analisá-lo de todos os ângulos com os olhos cor-de-sangue apareceu logo depois. “Dar parte de mim como um amuleto de sorte.


Uma parte destruída de você como amuleto de sorte.”, lembrava-se de ter respondido, com certo sorriso. 


Continua sendo parte de mim.”, não conseguiu falar nada, por isso ele continuou, com um sorriso. Mas devo dizer que me sinto lisonjeado de começar a fazer parte de um relacionamento tão... belo? Ou, deveria dizer, trágico?”, os olhos voltaram-se para ela naquele momento, com um brilho de perversa diversão, enquanto ela tentava se livrar das cordas e esganá-lo com as próprias mãos. “Acredito que seria muito doloroso se perdesse algo tão precioso... Por isso, deixarei que continue com essa parte de mim, como uma singela lembrança do seu namorado.


Aquela última fala havia destruído as boas lembranças que afloravam em sua mente quando observava o medalhão. Sentia um estranho desejo contraditório de manter o medalhão perto por ser a única lembrança que sobrara de Rony e jogá-lo fora por ter sido parte da pessoa que provocou a morte de pessoas queridas, inclusive, daquele que o objeto representava. Inacreditavelmente, mesmo pensando que a parte dele que vivia ali tinha sido morta, olhá-lo todas as manhãs e a sua cobra era como ser esmagada pelo sentimento de incompetência. 


Ele arranjava, sempre, uma forma de fazer parte de suas lembranças e destruí-las, pedaço a pedaço.


- Hermione, você ainda guarda isso? – ouviu ao longe a voz de Rony, mesmo que soubesse que ele estava praticamente ao seu lado. 


- Guardo. – quase completou com um “infelizmente”, deprimido, mas segurou-se. Ele conseguia deturpar todas as suas lembranças para sempre acabar esbarrando nele. Antes que acabassem por ficar olhando aquilo e produzindo mais lembranças, arrancou das mãos de Rony e o guardou novamente – Ótimo, vocês me convenceram de que é possível que estejam vivos, então expliquem porque eu estou de camisola, num lugar completamente escuro e desconhecido, imobilizada com o Feitiço da Perna Presa. – ainda tinha seu ar cético. Havia coerência no que eles falavam, mas não podia acreditar assim.


- Cética, como sempre. – suspirou Harry. 


- Não se poderia esperar menos dela, né, Harry. – Rony dizia sorrindo, recebendo um olhar fuzilante de Hermione.


- Esquece, Hermione. Não podemos confiar uma informação dessas para você agora. – falou Harry, de braços cruzados – Você tem a coleira. É leal a Você-Sabe-Quem e pode estar se fingindo para poder saber onde a escondemos. Só vamos contar alguma coisa quando conseguirmos retirá-la. – sentenciou Harry, inflexível. 


- Leal? – Hermione, no começo, ficou meio assustada, parecendo assimilar o que ele falava, então começou a rir alto. Lágrimas se formaram de tanto que ria – Droga, eu sei que todos acham isso, mas ouvir é algo ironicamente hilário. – ela falava, limpando as lágrimas, conseguindo enxergar que ambos a estavam olhando com ar incrédulo – Acho que finalmente poderei desabafar com alguém a verdade sobre a nossa “lealdade”.


Depois de respirar profundamente algumas vezes, ela revelou. 


- Essa coleira não nos torna leais. Apenas nos obriga a seguir a risca todas as ordens que nos são dadas. É como uma Maldição Imperius, só que conseguimos pensar. – percebeu que eles não viam diferença alguma. Suspirou, enquanto explicava – Por exemplo: se alguém nos ordena para matar, iremos matar, mesmo que sabendo ser errado. Não controlamos nosso corpo, apenas nossos pensamentos.


- Não dá na mesma coisa? São leais. – Rony dissera, dando de ombros. 


- Não é a mesma coisa. – ela bufou, revirando os olhos. O mesmo Rony de sempre – Temos sentimentos, pensamos nos atos que fazemos. Se nos mandam matar, podemos ao menos escolher como a pessoa morrerá, se de modo indolor ou não. Ou seja, podemos deturpar as ordens que nos são dadas. – ambos ficaram chocados com o que ela dissera – Eles não conseguem nos controlar como aos elfos domésticos. Não somos completamente dedicados. Infelizmente, não acredito que outros escravos, como eu, reparem nessa diferença sutil e prefeririam muito mais estar sob uma Maldição Imperius do que com essa Coleira da Escravização. Eu mesma preferiria, mesmo sabendo dessa diferença.


- Prefeririam estar sob a Maldição Imperius? Porque? – Harry perguntou intrigado. Não havia uma possibilidade de liberdade por terem consciência e escapar? Deturparem alguma ordem? 


- Os outros, por não conhecer as possibilidades do que se pode fazer usando só essa coleira e se aproveitar da credulidade dos seus senhores que a coleira os prende por completo a eles. Todos acreditam piamente que nos tornamos como elfos domésticos quando usamos isso.


- Porque você não tenta fazer isso? – perguntou Rony com ar inocente. – Sabe, enganá-lo e escapar. 


- Eu já tentei, Rony. – respondeu rispidamente e sentiu-se levemente estranha por falar depois de tantos anos o nome dele – Mas ele sabia desse defeito. Parecia só esperar a hora que eu descobrisse. Por isso preferiria estar sob a Maldição Imperius. Não pensaria, não me importaria com o que acontece lá fora, com os outros... com o que... faz comigo... – nas duas últimas palavras apenas movia os lábios de tão baixo que foi ficando sua voz, enquanto seus olhos miravam seus joelhos grudados.


- O que, Hermione? – perguntou, para os ouvidos de Hermione, escandalosamente Rony. 


- Deixa! – ela falou, cruzando os braços, revoltada com sua memória que não parava de assediá-la com aquele maldito par de olhos cor-de-sangue.


- Hermione, sabe o que acontece acaso retirarmos isso de você? – Harry perguntou curiosamente.


- Não sei com exatidão, mas... acredito que ficarei livre, como aconteceu com Dobby. – respondeu, ficando repentinamente interessada. Havia um brilho de esperança em seu olhar tão reluzente, como se tivesse dito as palavras mágicas.


- Vamos tentar retirar isso, então. – Harry disse, fazendo um sinal afirmativo – Quando te liberar dessa coleira, vamos contar onde você está. Tudo bem?


Ela fez apenas um sinal afirmativo frenético, ainda mantendo o mesmo brilho de esperança desesperada em seu olhar. Todas as possíveis informações que ele pretendia dar, se tornaram desinteressantes, durante aqueles momentos. Só precisava tirar a coleira. isso.


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Respondendo reviews...


Kary = Bem, eu já tinha mesmo planejado fazer a reação deles à descoberta da 'mascote', acho que isso tava meio na cara que iria acontecer, né? xD Foi bem difícil escrever essa cena, mas acho que consegui fazer algo interessante u.u Sorry pela demora x.x


Krys = Nem precisava ter pedido! Ok, precisava sim, mas infelizmente não pude fazer pela visão da Hermione. Como pode perceber, ela estava meio 'apagada' no momento do 'rapto' xD No entanto, espero que tenha gostado de ter visto o planejamento dos garotos e o reencontro dos três \o como pedi a Kary, perdoe a demora na postagem e.e~


E aos que não mandam reviews, mas lêem a fanfic...


Obrigado por estarem lendo, o que significa que devem estar gostando. ^^ Qualquer crítica, aí está os comentários para isso \o elogios também são bem vindos, assim como sugestões do que gostariam de ver em capítulos futuros. o/

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Comentários (1)

  • KrysMorais

    Amei, amei, amei! Finalmente o trio está junto! Adorei o reencontro deles. Esperando o próximo capítulo!

    2011-08-15
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