*capítulo seis*



Capítulo Seis
Ou Emergency


“Você pensa que quer morrer, mas na verdade você só quer ser salvo” – Marlene Mckinnon


Tudo estava, afinal, acabando, bem como a minha mente previra. Meu cansaço me pegara, minha irritação se aflorara e minha impaciência parecia estar no limite. Eu parara de estudar feito louca (só estudava as matérias que realmente precisava, tipo, matemática e química), parara de sair com minhas amigas e parara, inclusive, de ver o Sirius.


Dois dias depois que meu pai chegara de viagem, eu estava estudando alguma coisa (não me lembrava o que, porque minha dor de cabeça estava tão atenuada que mal prestava atenção) e ele disse que sentia falta de Sirius.


- Eu também sinto, mas ele tinha outra coisa para fazer – falei.


- Vocês estavam tão grudados! Achei que ele não fosse largá-la tão cedo – meu pai disse.


Hm, na verdade, tinha sido eu quem o dispensara. Mas não precisava contar isso a papai. Ele estava vendo que eu não estava feliz e achou que a culpa fosse de Sirius (e eu nada faria para impedi-lo de pensar assim, porque, bem, era a realidade, mas por outros motivos, claro). Okay, a culpa também era um pouquinho minha, porque eu estava sendo egoísta e teimosa, mas quem ligava? Depois daquela noite, muitas coisas perderam a importância para mim. Inclusive, talvez, o amor. Eu já não ligava muito para ele, e depois da noite de sábado eu já o odiava. Tipo, odiava o amor. Apesar de estar com raiva também de Sirius (ele podia não ter me enganado, certo? Podia ter aberto o jogo desde o começo, nem que fosse por uma indireta), sabia que a porcaria do amor era bem mais culpado. Ou até eu era mais culpada do que Sirius. Bem, pense só, quem é que se iludira com aquilo? Quem é que tinha quebrado a promessa mais importante do ano? Eu. Quem não resistira aos olhos azuis e aos cabelos ondulados de Sirius? Marlene Mckinnon. E quem tinha dado a total liberdade para o cara em questão me levar para cama? Ahãm, euzinha aqui.


Então, resumo: Marlene Mckinnon era culpada por tudo que a estava fazendo sofrer.


E eu bem merecia.


Hm, okay, eu não era melodramática ou masoquista. Eu não merecia estar sofrendo daquele jeito. Só por causa de um amor não-correspondido, só por causa de uma transa, só por causa de um cara.


Fala sério.


Eu era a garota mais estúpida de todas, por mais que Lily e Dorcas achassem que eu estava mega certa por estar morrendo (hm, quase, né) pelas coisas que o Sirius não tinha dito e não tinha feito.


Se eu sabia que sofrer por ele era burrice, por que não conseguia parar? Não queria ter me apaixonado por ele, não queria ter me envolvido com ele, não queria ter ido para casa com ele. Não queria, mas por mais que eu dissesse: “Não, cérebro, pare agora!”, ele não parava, entende? Ele só respondia: “Você o quer. É inevitável. Vá lá e o beije”, então eu o fazia. Ia lá e dizia “Eu amo você” ao Sirius e o beijava. Mas o Sirius algum dia retribuiu? Não, nunquinha. Nunca me dissera: “Eu também a amo, sua boba”. Nada de... nada. Entende?


Ah, ou quem sabe meu problema era outro. Quem sabe era aquela coisa da confiança! Sabe qual? Eu ela muito esquisita, vivia evitando intimidade e conversar com garotos, então tinha achado o Sirius (me apaixonei por ele) e confiei demais. E aí, decepcionei-me. Talvez esse seja o problema de todos. Acreditamos demais nas pessoas. Quem sabe se pararmos de dar valor a cada coisinha que alguém nos diz ou nos faz, no fim, pode ser que não quebremos a cara com tanta força. Pode ser que não doa tanto. Pode ser que a hesitação nos empeça de sermos afetados por tantas coisas que não valem a pena que sintamos.


Ou, pode ser também que ela afunde com a nossa vida. Pode ser que ela transforme algo bom em ruim. Transforme um sonho em irrealidade, só porque não tentamos.


É, uma alternativa sempre tem dois caminhos. Duas conseqüências. Dois finais.


Como diria Marilyn Monroe: “parte de mim tem medo de se aproximar das pessoas, pois teme que elas me deixem”. 


Acho que eu era assim.


- Não podemos ter tudo o que queremos, pai – foi a minha resposta ao meu pai, naquela tarde.


Meu pai me olhou e olhou. Com certeza achou que tinha algo em mim que não mais se encaixava na Marlene que ele conhecia.


- Você está legal? – ele me perguntara.


- Estou. Quer me ajudar com matemática? – perguntei sarcástica.


Ele não riu. Pareceu muito preocupado.


Era engraçado, mas acho que meu pai era mais meu amigo do que de verdade um pai. Sei que é muito difícil manter a imagem de pai, mas ele realmente não era apenas um pai para mim. Ele, desde o começo, sempre fora o meu paraíso. Sabe aquela pessoa que você sempre (sempre realmente) pode contar? Tipo, e falar qualquer coisa? Meu pai era desse tipo. Eu tinha as meninas, é verdade, mas elas eram frescas e mal entendiam a minha cabeça. Não entendiam a minha obsessão por Oxford, não entenderam quando eu disse “Não estou nem aí” quando a minha mãe partiu com o seu cabeleireiro e não acho que estavam entendendo a minha tristeza pelo Sirius. Para elas, era apenas uma transa. Elas entendiam o amor, mas não sei se davam o mesmo valor. Dorcas, talvez fosse mais parecida comigo nesse ponto. Mas Lily? Não, ela não. Lily só ficava querendo saber se eu tinha aproveitado a minha noite com Sirius, ao passo que Dorcas ficava me perguntando se ele tinha me ligado alguma vez durante o dia. A resposta era sempre a mesma para as duas: “Eu quero Coca Cola, alguém compra para mim?”.


- Não, vou fazer o jantar. Quer o quê? – papai me falou.


- Água – eu disse.


Eu não estava com fome. Não andava mais com a mesma fome. Depois que Sirius e eu nos afastamos um pouco, tudo tinha perdido a graça. A TV, a comida, a Coca Cola, as bandas, as músicas, o amor.


Simplesmente tudo parecia estar em branco e preto.


Nada tinha cor, cheiro, gosto, diversão, felicidade ou risos.


Eu estava nadando para o lado contrário da correnteza. Eu era aquela pessoa diferente que tentava se manter viva com apenas um sorriso, quando sabia que nada estava bem.


Meu Deus, eu nem sabia como estava suportando.


No sábado, como eu não tinha nada para fazer (hm, além de estudar, porque, ainda que eu não estivesse mais animada, eu tentava) resolvi que precisava de um recomeço. Não de, tipo, salão de beleza completo (é a linguagem que Lily e Dorcas entendiam por “recomeço”), porque eu não era esse tipo de menina (eu até gostava de esmaltes, mas nada que chegasse perto da cor rosa), mas de uma mudança na disposição do meu quarto. Ahãm, eu mudei algumas coisas de lugar, como a mesa de estudos e a poltrona velha de Alysson. Mas meio que foi uma troca simples. Meu pai, claro, desacostumado àquilo (eu era do tipo metódica, sabe. Odiava que mexiam nas minhas coisas e que deixassem uma caneta sequer fora do lugar. Ahãm, eu precisava de um psiquiatra), só me perguntava se eu precisava de ajuda e se eu estava realmente bem. É, estava na cara que eu não estava nem um pouquinho bem. Na verdade, eu estava começando a ficar louca. Precisava de alguma clínica de reabilitação emocional urgentemente. Talvez eu pudesse ser amiguinha da Li-Lo e deixar para sempre a Marlene Mckinnon idiota e praticamente insuportável para trás. Mas, enquanto meu pai não tinha dinheiro para gastar com uma clínica caríssima de reabilitação, eu continuava a chorar pelos cantos do meu quarto quando não tinha ninguém em casa e antes de dormir e também continuava a ser idiota.


Afinal, mesmo se eu fosse amiga da Li-Lo ou da Paris Hilton, eu não me esqueceria de Sirius. As memórias perpetuariam em minha mente para sempre. Aqueles sorrisos, aqueles cabelos (um dos meus vícios era me deitar em seu peito e acariciar os cabelos dele), aqueles olhos, aquelas tardes, aquelas gargalhadas... Nada seria arrancado de mim. Eu me remoeria pelo resto de minha vida por ele ter sido tão babaca comigo.


É, estava na hora de eu aprender a levantar a cabeça e deixar tudo isso para trás.


Oi, uma semana é tempo suficiente, certo?


Bem, existem meninas que superam caras em, tipo, um fim de semana, claro, ficando com outros caras. Mas, nova e repetidamente, eu não era esse tipo de menina. Eu mal saía de casa aos fins de semana. Okay, Lily e Dorcas tentavam me arrastar para as baladas delas, mas eu precisava ficar em casa. As noites sem Sirius eram... vazias e sem graça. Tudo tinha perdido sentido sem ele ao meu lado.


Na segunda-feira seguinte, assim que o vi, não sabia se mudava meu rumo ou se fingia que não o vi ou se me enfiava no banheiro pelo resto do dia. Obviamente, os nossos encontros estavam vagos e cheios de vácuos e de “Hum, pois, vou indo ali”. Aquilo era o suficiente? Não. Eu precisava que ele se pronunciasse sobre o assunto. Que assumisse que apenas estava me enganando (um pouco) durante aquelas três semanas e que se desculpasse. Não precisava que ele dissesse que era um idiota que eu me amava, pois não sabia mais (apesar do meu sofrimento) se o queria verdadeiramente de volta. Tudo estava tenso entre nós.


Nossos risos eram tristes e desleixados.


Nossas conversas não eram mais preenchidas pelos nossos assuntos preferidos. Eram recheadas de reticências e silêncios.


Nossos encontros eram frios e distantes.


E não agüentava mais nada.


Não suportava nem quando ouvia seu nome ser proferido por alguém. Mas suportava, de fato, que eu pensasse em seu nome.


Qualquer coisa me machucava.


Ainda naquele dia, antes até da aula de Teatro, Sirius almoçou conosco. Na semana que passara, ele tinha se ausentado muito, ainda que eu o visse algumas vezes perambulando pelos corredores com algumas meninas. Lily, eu e Dorcas estávamos tensas. Se Sirius estava ali, era sempre um sinal claro que eu entraria em surto em algum momento.


- E aí, galera – o Sirius disse para nós.


- Senta aí, cara – James indicou uma cadeira.


- Valeu, aí – ele falou.


Eu automaticamente corei, acho que só por hábito.


Ele começou a conversar com os meninos sobre algum esporte (futebol, basquete, natação? Eu não sabia, pois não prestara atenção). Sua voz estava me incomodando, precisava de ele longe de mim.


- E você, Lene? – Sirius dirigiu o olhar e o sorriso para mim.


Ainda houvesse um precipício entre nós, ele mantinha a mesma alegria de sempre. Os mesmos sorrisos e os olhos sempre acesos.


- Hm, eu o quê? – fiz cara de poker face e larguei o garfo.


- Vai ao jogo de quarta?


- Ah... de futebol? – perguntei, totalmente lançando a Marlene-burra-e-tapada no mundo.


- É. Você vai? – ele quis saber.


- Hm – olhei para as meninas buscando apoio emocional – Talvez.


- Bem, eu vou ter que vir – Lily falou entediada. Tinha que prestigiar o namorado, claro.


- Ah, e eu vou vir, porque, ah, cara, quarta de noite não rola ficar em casa – Dorcas falou irritada.


É, minhas amigas nem estavam dando indireta alguma. Elas eram tão discretinhas.


- Hm, vou ver – dei de ombro, cedendo terrivelmente àquilo.


Chantagem. Essa parecia ser a melhor técnica para conseguir o que todos queriam.


Ou seria terrorismo sentimental? Hm, é.


Depois do almoço fui para casa dormir um pouco (é, matei Teatro e daí? Até parece que eu queria rever o Sirius. Era tipo: Restart ou Hóri? A morte, por favor), porque parecia que eu dormia, tipo, duas horas por noite, ainda que eu fosse me deitar antes das onze, já que não tinha nenhum cara para me roubar pela madrugada (e eu sentia falta daquilo). Acordava quase às cinco da manhã e ficava deitada na cama deixando meus pensamentos fluírem de maneira incongestionada e supérflua. E, claro, todos, de algum modo, em algum momento se convergiam para Sirius. E essa era a pior parte da manhã. Além, claro, de vê-lo na escola, porque, mesmo que eu não estivesse claramente o procurando, sempre topava com ele.


E então na quarta-feira decidi que, se era para acabar de vez com aquilo, eu iria naquela porcaria de jogo de futebol. Liguei para as meninas e perguntei se Lily podia me dar uma carona, pois já tinha que dar para a Dorcas (seu carro estava detido por seus pais por motivos óbvios. Remus e ela se agarrando dentro dele, todas as noites. Então, se ela não tinha mais o carro, eles não iriam se agarrar. Mas coitados dos pais de Dorcas, tão ingênuos! Eles não sabiam que todas as sextas-feiras o Remus passava a noite com Dorcas. Ahãm, no quarto dela. Fazendo você-sabe-o-quê). Lily pareceu muito satisfeita com a minha decisão.


- Cara, ainda bem que você vai, porque a Dorcas vai fugir para algum lugar para enfiar a língua na boca de Remus e eu ficarei sozinha na arquibancada, que nem a Taylor Swift – Lily me disse, ainda que entrei em seu carro.


- Ei – falei irritada. Pela Taylor, claro. Pobre criança, gente. Ninguém podia deixá-la em paz?


- Se o James não fosse jogar, você faria a mesma coisa, oras! – Dorcas berrou aborrecida pelo comentário.


- Tá, tá, calem a boca. Não comecem – logo falei, impedindo que aquilo se estendesse.


- Plu – Lily mostrou a língua para mim, preocupada com sua franja.


Sirius estava lá. Foi a primeira pessoa que vi. Lily saiu correndo para dar uma “boa sorte” ao namorado e Dorcas igualmente se escapuliu para junto de seu amado.


Fiquei com cara de mó ao cubo e desisti de fugir de Sirius. Fui até ele, mas sem olhá-lo muito.


- Hey – comecei.


- Como está?


Sério? Ele queria saber como eu estava? Bem, era a primeira vez que ele me perguntava aquilo depois daquela nossa noite. Como eu deveria me portar? O que deveria responder?


- Hm, vou indo – dei de ombros, imaginando se aquela resposta estava boa o bastante para ele.


- Maravilha – ele sorriu para mim, com aquele sorriso de matar – É melhor irmos para a arquibancada. Dizem que vai chover e o técnico não quer jogar embaixo de chuva, então irão adiantar o começo do jogo.


- Ah, então é melhor andarmos – falei.


E foi aí que ele tentou pegar na minha mão, como nos velhos tempos. Seus dedos se encostaram em meus e eu logo vi no que ia dar. E eu fiz a única coisa que podia ter feito: afastei minha mão, como se ele tivesse feito aquilo sem querer. Nossas mãos se esbarraram como se nunca tivessem se conhecido. Só que era a maior mentira, porque eu tinha conhecido outras partes do corpo de Sirius onze dias atrás. E, sério, eu tinha gostado muito.


Fingimos o melhor que pudemos que ele não tinha tentado nada e seguimos para gramado.


- Hey, futebol não é iraaaado, cara? – Conny nos perguntou no meio do caminho.


Conny era do tipo retardada. Com certeza estava dando em cima de Sirius.


É, estava. Ela se fazia de burra só para pegar todos os caras. Detestava-a com todas as minhas forças. Oi, os caras podiam gostar de alguém inteligente, não? Sirius tinha fingido muito bem que gostava de mim e eu era a maior nerd.


- Ahãm – Sirius respondeu – Alguém vai sentar ao seu lado?


- Não. Por quê? – os olhos de Conny se arregalaram como se um meteoro tivesse caído no campo - Você quer sentar?


- Quero. E Lene também – Sirius falou.


Conny murchou. De certo achava que Sirius queria sentar apenas com ela. Rá, se ferrou, fofa.


Ele me queria. Hm, não, mentira. Mas, ao menos, era comigo que ele queria ver o jogo.


- Aaaah – ela disse – Não, podem se sentar – apontou para os bancos brancos, sinalizando que eles estavam livres.


- Beleza – Sirius sorriu, empurrando-me com delicadeza para sua frente.


Sentamo-nos e esperamos.


Os gritos logo encheram o estádio e eu sabia que enquanto todos estivessem de olho do jogo, era impossível que Sirius tivesse alguma brecha para conversar comigo.


Mas eu estava enganada. Ele tentou puxar papo. Oras, por que não? Ele era Sirius Black.


- Tenho dois ingressos extras para o próximo jogo da liga da terceira divisão de basquete – ele aproveitou o ensejo e lançou.


- Muito legal – retribuí, rezando para que ele não viesse com mais um convite bobo.


Sim, ele tinha me convidado algumas vezes durante aqueles onze dias, mas claro que eu não aceitara nenhum convite. Eu sozinha com ele? Nãnão. Daria caquinha. Ou uma merda mesmo.


- Convide seu pai. Posso apanhá-los às sete – ele me falou.


- Não, obrigada – sorri pequeno, fingindo o máximo possível um ar descontraído.


- Ora, Lene – ele soltou um risinho.


Olhei-o.


Espera. Eu estava acompanhando direito? Ele nunca me falara sobre amor, transara comigo como se eu fosse só mais uma, estava fingindo que tudo estava bem e ainda me queria?


Comigo não, negão! Eu não cairia na dele outra vez. Uma queda já tinha sido o suficiente para acabar com o meu ano.


- Sirius, sabe que o final do ano letivo está muito próximo. E sabe ainda mais que Oxford não vai me esperar.


- É só uma noite – ele riu de novo, mas como se estivesse confuso.


- Com certeza você pensou na mesma frase no sábado retrasado, não? – perguntei em um tom amargurado e frio.


- O quê? – Sirius contorceu seu rosto, parecendo real e extremamente confuso agora.


Soltei um bufo. Aquele cara tinha que morrer, sério.


- Nada, Sirius, nada. Esquece – balancei a cabeça, irritada.


- Marl...


- Não, okay? Hoje não. De novo não – falei.


- De novo o quê, garota?


- Não quero mais ser enganada por você.


- De que v...


- Boa noite – desejei, levantando-me do banco fofo.


- Marlene! – ele berrou, esperando que eu parasse nas escadas, mas eu não parei.


Andei quase tropeçando em meus pés até quase a porta dupla do corredor que dava para o vestiário dos jogadores.


- Cara, pode parando aí. Você vai me explicar isso direitinho, antes que eu... – Sirius tinha me seguido e me pegado pelo braço com uma força que não gostei.


- Antes que você o quê? Me machuque mais? – perguntei histérica.


- Ah é? Eu a machuquei? – ele quis saber com o mesmo nível de irritação que eu.


- É – olhei para seus dedos em mim. Ele parecia furioso. Talvez bem mais do que eu – E pode tratando de me soltar, porque...


- Hey, gente! O jogo acabou? – uma Dorcas, arrumando o decote da blusa lilás, nos berrou, vindo do final do corredor. Remus, um tanto envergonhado, estava ao lado da namorada.


Sirius me soltou.


- Não. Só... estávamos conversando... O barulho estava muito alto lá – Sirius falou recuperando seu bom humor.


- É por isso que nunca vemos nenhum jogo inteiro – Dorcas riu, olhando de esguelha para Remus.


- Hm, eu já estava indo embora – eu disse, tentando quebrar o clima tenso entre mim e Sirius.


- Eu a levo para casa – ele teve a cara de pau de dizer.


Dorcas, que estava ocupada demais sendo beijada (de uma maneira que eu não queria ver) por Remus, não fez nada para me ajudar.


- Não, obrigada – rejeitei com um tom rude.


- Precisamos conversar, Lene – ele me disse em um tom baixo e mais contido.


- Pois eu não quero e não posso – e saí correndo para o estacionamento.


Saiam, de hora em hora, ônibus escolares do colégio por causa dos alunos que iam lá por causa da biblioteca á noite. E foi bem assim que consegui voltar para casa. Não mencionei nada para meu pai porque eu estava com aquela cara de “Allysson em uma segunda-feira”. E nem porque não dormi nadinha naquela noite. Estava com medo que no dia seguinte, Sirius me abordasse no meio de todo mundo do colégio.


Aí eu teria que odiá-lo para sempre. Porque se ele tentasse algo publicamente, eu podia, tipo, processá-lo por violar a minha privacidade ou sei lá. Ahãm, eu tinha aprendido muito sobre direito e jornalismo policial naquele ano.


Mas quando acordei no dia seguinte e olhei para o relógio, vi que já passava das onze da manhã. Papai tinha dado uma saída para o mercado e eu sabia que ele passaria na casa dos Madison e almoçaria lá.


Quando ele voltou não ficou muito surpreso por me ver em cima dos livros e cadernos.


- Ah, Leninha – ele suspirou triste, sorvendo o chá de camomila – Você sabe como eu fico triste por vê-la sempre do mesmo jeito.


- Sou assim, pai – ergui meus olhos nas linhas que lia – Oxford está perto demais para eu desistir logo agora.


- Hm, falando em desistir... – ele ficou constrangido.


- Hm?


- Sua mãe deixou um recado na nossa secretária eletrônica. Como foi que ela nos achou?


- Eu tenho falado com ela – falei.


- Marlene, como assim?


- Ela é minha mãe. Eu sei que nunca a perdoarei por ter nos largado, mas... ela me ouviu numa boa quando contei que...


- Hm?


- Que as meninas tinham sido um pouco idiotas comigo por causa dos estudos e tal – menti. Oi, eu não podia contar. Ele era meu pai. Não sei se todo pai quer mesmo saber com quem a filha está transando. Sei que ele adorava o Sirius, mas sexo era um dos itens da lista “Sobre o Que Não Falar Com Meu Pai”.


- Ah... Mas...


- O que ela queria? No recado, quer dizer – perguntei.


- Quer vir nos visitar.


Meu estômago afundou. Como é que era?


- Hã? – arregalei os olhos.


- Eu não sei. Foi isso. Ela quer saber como estamos.


- Quer jantar conosco?


- Não. Quer passar um fim de semana aqui.


- E você vai deixar? – me exaltei – Pai, conversar por telefone é uma coisa, agora abrigar a onça dentro de casa é burrice.


- Marlene! – ele exclamou.


Ah é, nada de xingamentos pejorativos.


- Opa. Certo. Ela virá quando?


- Não sei ao certo.


Bem, Allysson estacionou seu carrão em nossa garagem extra (bem, quando a senhora Molly viajava, ela dizia que podíamos usufruir de sua vaga) no final de semana.  Ela estava com umas roupas bem melhores. Eu me senti uma mendiga ao seu lado. Seu cabeleireiro era mesmo muito bom para ela. Ao menos tinha sido isso que ela me contara na noite de sábado.


– Marlene, você está tão magrinha! Aposto como seu pai não está cozinhando nada para você! – ela me falara a certa altura.


Meu pai fechou a cara e fez uma careta.


- Eu é que não tenho tido tempo para comer, Allyson. Hm, quer dizer, mãe – emendei rapidamente.


O último um ano tinha me desadaptado e chamar alguém de “mãe”. Ela não podia me culpar. Allyson era a única culpada. Fora ela nem me deixara naquela situação.


A mãe louca e idiota.


A filha louca e idiota.


Que par, viu.


Meu pai tinha mesmo muita sorte por ainda estar vivo convivendo comigo. Os vinte anos com minha mãe fora anos de sacrifício, daquilo eu bem sabia.


Allyson passou o resto da noite reclamando que meu quarto era calorento demais (sim, você acertou. Tive que dormir no sofá. Um terror só) e que lá não tinha TV. Falou que Estevan comprou uma TV de plasma só para ela e que nosso apartamento era pequeno demais. Ahãm, eu muito que me importava. Tipo, ela era outra que eu queria bem longe.


Mas, ao menos, ela ainda queria saber do meu “problema”.


- Ele é um idiota – decretei, no sábado.


- Eu achava que seu pai também era, mas acabei me casando com ele – ela me falou.


- Isso porque tinha descoberto que estava grávida de mim, né! – lembrei-a.


- Bem, ele ficava muito em meu pé, até que, não agüentando mais, aceitei o convite dele para jantar. E deu certo.


- O Sirius transou comigo e me esqueceu – eu disse em tom baixo, porque não queria que papai ouvisse aquilo.


- Tem certeza? Pode ser que esteja dançando demais com a sua mente.


- Não. Ele nunca me falou em amor.


- Mas você transou com ele mesmo assim, então se isso a incomodava, não a impediu de fazer o que fez.


Fiquei corada. Hm, não tinha pensado naquilo.


- Mas... mas... eu estava iludida. Achava que ele se declararia a qualquer momento! – exclamei baixo.


- Marlene. Aprenda: nunca tentei imaginar o que um homem vai fazer. Nós mesmas não sabemos o que queremos, então por que saberíamos o que eles querem?


Eu não chegava a odiar minha mãe. Não era isso. Mas ela tinha me magoado. E apesar de tudo, ela ainda era ótima em conselhos.


As nossas antigas noites eram produtivas. Conversávamos sobre o futuro, sobre caras, sobre esmaltes.


Naquele apartamento, só os caras continuavam em nossas mentes.


No dia seguinte, levantei-me e logo vi papai sentado na mesa da cozinha. Ele mantinha o semblante inexpressível.


- Pai? – chamei.


- Marlene – ele falou.


- O que foi? – meu coração pulsou doído.


- Allyson – resumiu.


- Ela está dormindo. Conversamos até tarde e com certez...


- Não, querida.


- O quê?


- Ela foi embora.


- Já? Mas e o bilhete? Achei que...


- E levou tudo.


Não sabia se tinha ouvido direito. Tudo que senti foi um gelo percorrer minha espinha.


- E fez o quê?


- Os mil e trezentos e cinco foram embora! Ela... – ele engoliu em seco – Ela nos roubou.


- Ela... – sabe, aquilo não parecia certo nem sendo falado.


- AHMEUDEUS! – berrei, correndo para meu quarto.


Se ela tivesse pegado também o meu dinheiro reserva, eu surtaria.


- Pai...


- Eu sei.


- Não, você não entende.


- Ela levou tudo o que tínhamos, Leninha.


- Eu... eu.... eu... – quase comecei a chorar ali.


Eu não gostava de chorar na frente das pessoas, sabe. Sentia-me invadida, de algum modo.


As minhas dois mil e quarenta libras que juntei quando trabalhei no verão na loja dos Potter tinham desaparecido, do mesmo modo que se nunca tivesse existido.


Papai me abraçou, tentando me amparar. Eu não sabia que estava pior.


Segunda-feira chegou rápida. Não tive ânimo nem para lavar o cabelo, quanto menos estudar. Cheguei à escola mais uma vez atrasada.


Eu tinha evitado Sirius desde o jogo de futebol e ele não tinha feito questão da minha presença. Então, estávamos mentindo muito bem.


Porém, berrei assim que encontrei um bilhete em meu armário.


ENCONTRE-ME NAS ESCADAS. NÃO CORRA DESSA VEZ, POR FAVOR.


Tudo bem, pode me chamar de qualquer nome que quiser, mas eu fui lá encontrá-lo. Sim, eu era uma idiota. Mas eu estava fraca demais até para fugir dele.


- Sirius? – perguntei, assim que ouvi passos no alto da escada.


Eu estava na nossa escada desde o final do almoço e ele aparecera apenas antes da aula de Teatro.


- Oi – ele falou vindo até mim e sentando-se ao meu lado – Por que está chorando?


- Lembra que você disse que éramos amigos? – perguntei.


- Claro – ele concordou.


- Então, será que só por hoje você pode voltar a me tratar como uma amiga?


- Quem disse que deixei de tratá-la assim?


Não respondi.


- O que aconteceu, Lene?


- Não quero dizer, mas você pode me abraçar?


- Marlene... – ele ficou estático. Parecia desconfiado.


- É só hoje. Por favor.


- Tudo bem – ele se rendeu, me recebendo em seu colo - Eu... ainda sou seu amigo. De verdade.


- Obrigada. Por tudo – falei, deixando as lágrimas silenciosas caírem na calça jeans de Sirius, enquanto ele afagava muito sem jeito meus cabelos.


- Você ainda é a minha preferida, Lene – ele falou.


Naquele momento, eu tinha dois motivos para chorar. 


x.x.x

N/a: Yeey *-* Awn, que péssimo momento pra Lene, pobre. Mas, né, a gente sabe que tudo vai ficar bem. No final. Não que eu esteja entregando o final da fic. Então, aproveitem o capítulo (: Fiz do coração <3 Por favor, continuem comentando e assim continuarei a postar semanalmente '-' 

Nina H.


14/01/2011

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Comentários (2)

  • Lana Silva

    Tipo senti vontade de matar o Sirius depois desse ultimo comentario dele.Acho que os garotos deveriam vir com um manual sobre o que não falar perto de uma garota.A mãe da Lene é terrivel, tô passada com ela O.ONossa tadinha :/amei o capitulo flrbeijoos *-* 

    2012-09-10
  • IsaBlack

    AIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII! Lindo lindo lindo! *---* Eu amo o Six, mesmo ele sendo um idiota muito fofo! hauhauhau Tadinha da Lene! Que mãe, hein? E o pai dela é tao gente booa! ^ AMANDO! como sempre! hauhauhua s22

    2011-05-09
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