*capítulo cinco*



Capítulo Cinco
Ou Misery Business


 “Quando pensamos que conhecemos uma pessoa por inteiro e achamos que sabemos o que é melhor para ela, deveríamos tentar lembrar que não sabemos nem mesmo o que é melhor para nós” – Hayley Williams


Abrir os olhos parecia complicado. Minhas pálpebras estavam tão pesadas, que não conseguiam obedecer meus mandamentos. Tentei outra vez. Nada. Então, aspirei vagarosamente o perfume masculino que pairava no ar e que descia para dentro de minhas narinas de forma cadenciada. Quis me espreguiçar e procurar o meu pônei, mas percebi que eu estava envolvida por mãos pesadas, mas descansadas. Ouvia uma respiração áspera bater em meus cabelos ondulados (e revoltados, considerando que já era de manhã) e fiquei confusa. “Marlene, você ainda está sonhando!”, respondi a minha mente. Com esforço e preguiça, descerrei minhas pestanas. A imagem que vi era bastante embaçada. A minha mesa com a minha cadeira pareciam esfumaçadas, como se pertencessem àqueles pintores antigos. Pisquei rapidamente algumas vezes. A imagem foi tomando foco e consegui discernir os objetos que estavam sobre o tampo da mesa.


Eu sentia calor. Não era um calor comum, de quando estamos cheio de roupas que nossos pais nos mandam vestir. Era um calor humano quase insuportável. Achei que fosse sufocar com aquelas mãos sobre mim. Fui me erguendo de maneira atrofiada e doente, até conseguir ficar sentada. E quando me sentei, olhei para o meu lado e constatei que Sirius estava ali. O calor que sentia não vinha exatamente de mim; ele dissipava o maior calor entre nós. Olhei para nós: estávamos debaixo do lençol da minha cama, totalmente cobertos, porque, talvez, fosse a única coisa que não denunciava que estávamos nus. Levei uma das mãos até minha cabeça, que latejava (as minhas constantes crises de enxaqueca tinham minimizado desde o começo do lance com Sirius, mas ainda as sentia ora ou outra), e desejei poder descansar mais. Com muito cuidado, levantei-me do colchão, esperando que Sirius não despertasse àquele momento, enrolei-me na toalha de banho pendurada no gancho atrás da porta e fui em direção ao banheiro do corredor. Olhando precariamente em meu despertador, os ponteiros marcavam dez e trinta e três; era mesmo uma sorte que papai só fosse voltar da pescaria na terça-feira.


Chaveando a porta do banheiro, olhei-me ao espelho: nada mal. Eu estava com cara de quem tinha tido uma boa noite de sono, embora estivesse um pouco tonta e com dor de cabeça. Apesar de toda a minha felicidade (e eu não sabia de onde ela vinha), recuperei o começo da noite em um só pensamento. Sirius. Fora ele quem tudo começara. Okay, eu não tinha exatamente dito: “Não, Sirius”, mas ainda assim, ele não parara. Hm, nem eu. Ai, caramba, por que eu estava me importando tanto com aquilo? Eu já tinha transado algumas vezes e nenhuma daquelas noites tinham me incomodado tanto quanto a com Sirius. Bem, acho que eu sabia qual era o problema. O porquê de eu estar tão feliz, mas tão envergonhada. Eu tinha me entregado tão facilmente sem ter pensado nas conseqüências e aquela Marlene não era a que todos conheciam. A Marlene que meu pai e minhas amigas conheciam teria rido de Sirius e se despedido dele, para que ele não passasse a noite comigo. E, com certeza, eu não teria me envolvido tão intimamente com ele, antes de ter ido para cama. Eu estava apaixonada por Sirius, pelamor! E podia ser que o sentimento me compelira a não fazer objeção alguma frente aos seus beijos pelo meu corpo. Hm. Eu estava tão ferrada.


Tomei um banho rápido e me lembrei que perto das quatro da tarde eu deveria ir para a Praça VI por causa da “festinha” que meu ano esperava arrecadar dinheiro para a nossa viagem nas férias, como despedida de Ensino Médio. Só que quando entrei de novo em meu quarto (só de toalha, porque sempre me trocava ali), Sirius já acordara, mas continuava deitado (com os olhos abertos).


- Hey – ele me falou, sorrindo ainda sonolento.


- Hm – eu disse não me importando em fingir um sorriso sem os dentes. Não estava com vontade de sorrir. Estava com vontade de sumir.


- Vem aqui – ele exigiu ainda com aquela voz super sexy, estendendo um dos braços, esperando que eu pegasse sua mão e me deitasse mais uma vez ao seu lado.


Só que eu não dei nenhum passo para perto dele.


- Vou me trocar, espere um pouco – falei, afastando-me para meu armário, a fim de procurar alguma roupa.


Sirius permaneceu na cama, observando-me.


- Hey, qual é o seu problema? Eu já vi cada pedacinho do seu corpo, Lene – ele me disse, quando comecei a voltar para o banheiro para me vestir.


- Hm, agora quero privacidade – dei de ombros, mentindo.


- Sua louca – Sirius riu, espreguiçando-se.


Coloquei rapidamente a calcinha, a calça jeans rasgada, o sutiã e a camiseta velha. Penteei meu cabelo e saí do banheiro.


A essa altura, Sirius também já tinha se vestido. Ao menos, a cueca e a calça.


- Quer café? – perguntei, sem olhar para ele.


- Opa. Quero, sim – ele fez menção de chegar perto de mim, mas fingi que não o vi e fui para a cozinha.


É, eu estava bem idiota. Não, correção: eu era bem idiota. Porque, acorda, que menina rejeita Sirius Black sem roupa na sua cama? Hm? Só eu mesma.


Sirius abriu as janelas da sala para que o Sol iluminasse o ambiente, e eu me ocupei a fazer o café e a tirar alguns cookies que papai tinha deixado (um pote gigante) para mim para que eu e Sirius comêssemos como “café da manhã”.


Minutos depois, Sirius veio procurar meus lábios, mas eu falei que tinha que ligar para papai e descobrir como estava a pescaria dele. Sirius pareceu não se importar, mas tentou caçar minha boca enquanto eu falava ao telefone, o que me deixou muito irritada.


- Hey, você está esquisita – Sirius analisou, enquanto degustávamos o café quente e forte – Muito quieta.


- Eu sou assim – dei de ombros, abaixando meus olhos.


- Não é não. Você até que fala bastante – Sirius riu e pegou a minha mão que não estava fazendo nada. Não tentei me desvencilhar dele, porque assim que senti seu toque, algo dentro de mim se acalmou – O que está acontecendo, Marlene?


- Nada – falei. Lembrei-me do episódio de Os Simpsons em que o Homer disse ao Bart que quando uma mulher responde “nada” é porque está com algum problema. E, é, eu estava com um problema. Eu precisava que Sirius não agisse como um apaixonado, quando, na verdade, só me considerava amiga dele (apesar de ter transado comigo e não ter nada a dizer a respeito).


- Hm – ele resmungou e continuou a alisar as costas de minha mão.


Percebi que, por mais que tivéssemos tido uma noite completamente diferente (e uma noite que eu não desejava nunca, porque se ela acontecesse, significava que estaríamos em um nível elevado de intimidade, coisa que eu detestava), o Sirius continuava igual. Não me disse “eu amo você”, como aqueles filmes idiotas românticos abordavam a cena ou como eu imaginara que ele teria feito. Não, o Sirius não mencionou amor. Nem mesmo antes de termos caído no sono. Ele só me beijara e dissera que deveríamos dormir.


Tipo, que porcaria tinha sido aquela?


Então, de fato, o meu medo de intimidade corporal tinha algum fundamento. De que adiantava se entregar se eu não sabia se ele me amava do mesmo jeito que eu o amava? Marlene, sua burra!


Além de envergonhada, podia ser que eu estivesse também arrependida. Nas outras vezes, não tinha como eu ter me arrependido, porque eu não estava apaixonada por nenhum daqueles caras. Só rolou, não sei se você me entende. Era só uma coisa de momento, de querer experimentar. Eu não tinha dito nada em relação ao amor a eles. E nem eles a mim. Mas... Sirius... bem, mesmo querendo lutar contra aquilo, eu sabia que o amava. Ele tinha entrado em minha vida com um só propósito: fazer-me apaixonar por ele. Não necessariamente para me machucar, como estava fazendo naquela manhã, mas... só para me fazer feliz. E eu estava sendo muito feliz ao lado dele. Bem, até aquela noite de sábado, claro. Porque nada, nem mesmo aquela briguinha idiota que tínhamos tido na mesmo tarde, tinha me magoado mais. Puxa, ele nem me respondera um: “Cala a boca, você sabe que eu também a amo”, depois que eu dissera que o amava, antes de dormirmos. Então, como eu poderia estar segura com aquilo? Como ele tinha a coragem de me indagar a respeito? Será que ele não ligava os pontos?


Ele ficou um pouco ali no apartamento, talvez para descobrir o que eu tinha (bem, se ele não sabia, não seria eu que lhe revelaria), mas logo foi embora, porque tinha prometido a sua mãe aparar a grama e dar banho no Nugget. Sirius até me convidou para ir junto, mas neguei, dizendo que devia estudar (coisa que o fez, como sempre, rir).


- Certo. Mas vê se se cuida. Encontramo-nos na praça mais tarde? – ele me perguntara, já no corredor, aguardando o elevador.


- É, pode ser – minha voz hesitante não o impediu de me lançar um sorrisinho sexy, que fingi que não me afetara.


Ele avançou contra mim e beijou meus lábios. Eu deixei, porque sentia saudade daquele gesto, mas logo parti o beijo, para que me concentrasse e não me magoasse ainda mais.


As horas passaram devagar. Hm, não que eu estivesse estudando. Não, eu mentira. Parecia que era o dia da mentira para Marlene Mckinnon. Mas quem ligava? Eu, pela primeira vez, não me sentia culpada por tal coisa. Meu pai não estava em casa, de modo que nunca saberia que eu trocara a tarde de domingo para ficar com meus pensamentos e com a TV, assistindo ao canal da MTV. Aliás, eu nem gostava da MTV, sempre achava que a emissora manipulava as bandas e os clipes a serem adorados pela sociedade desprovida de qualquer tipo de cultura (ei, a Lily nunca se dera ao trabalho de ouvir os Beatles! Como poderia, então, gostar dessas bandas coloridinhas com musiquinhas emos?).


Sério, eu ainda não acreditava que Sirius achara que eu fosse apenas mais uma garota. Tipo, se eu fosse como as outras (apenas mais uma) não teria esperado duas semanas para ir para a cama com ele. De jeito nenhum. Certo, eu nem esperava transar com ele, para começo de conversa. Só que o que podia ter feito, falando sério? Como eu poderia dizer não a ele? Justo ao Sirius? Não que Sirius se parecesse com James (sabe como é, aquele tipo de homem que é sacana até mesmo com a própria namorada que diz amar muito), mas achei mesmo que, se ele estava fazendo aquilo comigo, era porque me amava, ao menos, um pouquinho.


Tudo bem, tudo bem, pode me chamar de idiota. Isso era praticamente inquestionável. Eu era e estava sendo uma idiota. Sei que muitas meninas não agiriam daquela forma, realmente nem se importariam com o jeito como o Sirius tinha me tratado. Bem, ele tinha sido muito fofo, mas e o “Eu amo você”? É, eu também esperava essa frase. Qualquer menina apaixonada esperaria essa frase, na verdade. Certo? Ou vai me dizer que eu era uma louca? Hm, eu era louca, certo que sim. Mas eu estava apaixonada, pelamor! E se ele não estava tão apaixonado assim por mim, deveria ter me dito, para que eu não fosse tão longe com ele. Assim, eu teria evitado me machucar. Mas Sirius me disse algo? Bem, disse. Mais ou menos. Ele dissera que estávamos curtindo. Nem tinha me pedido em namoro, era verdade, nem me dito nada relacionado ao amor, mas também não era como se tivesse deixado bem claro tipo de relacionamento mantínhamos.


Eu não queria ter de ir à praça para encontrá-lo. Se eu o visse, com certeza, sairia fugindo dele. Sei que pareceria besteira e infantilidade, mas eu não sabia se o agüentaria ao meu lado agindo como se estivesse tudo bem. Porque, bem, convenhamos, nada estava bem. As coisas podiam estar boas antes da noite de sábado, mas no domingo tinham se transformado em um pesadelo muito, muito doloroso.


“Certo, esqueça-se disso, Marlene”, rugi para mim mesma, antes que de sair para o estacionamento do prédio, a fim de pegar o carro e ir para a maldita festinha.


A praça estava abarrotada. Até mesmo alguns professores estavam ali para apreciar nossas barraquinhas, que nunca apareciam para as comemorações de turma. Só, claro, o diretor ficava nelas para supervisionar, caso rolasse ilegalidades de quaisquer formas. Eu, claro, não tinha ido vestida propriamente para uma festinha elegante. As outras meninas estavam deslumbrantes, como se não fôssemos brincar de pescaria ou de corrida com saco. Olhando-as, percebi, com um que de alegria, que eu era a única normal ali. Apesar de saber que eu estava feliz por não ser como aquelas garotas, sentia-me diminuída de algum jeito. Talvez porque o Sirius não estivesse ali ao meu lado, visto que sempre que ele estava, sentia-me muito melhor. Porém, achava que nunca mais me sentiria feliz de verdade comigo mesma, sem ele.


Lily e Dorcas vieram correndo com seus namorados. Todos eles pareciam bastante animados, mal sabiam pelo o que eu passava (claro que não, eu não tinha aberto a minha boca).


- Hey, cadê o Sirius, achei que vocês viriam juntos – Lily olhava para os lados, talvez procurando Sirius.


- Hm, não – respondi.


- Ele não passou na sua casa? – Dorcas pareceu tolamente triste.


- Não – falei, achando que podíamos mudar de assunto.


- Vocês... passaram a noite juntos? – Lily quis saber com uma mistura de ansiedade e de questionamento supersério.


Droga.


Por que elas sempre achavam que as coisas tinham que ser assim?


- Não interessa – cruzei os braços, tomando cuidado para que Remus e James não escutassem a nossa conversinha.


- Mentirosa – Lily riu.


Olhei feio para a ruiva.


- Aaah, sério? Vocês, então, realmente... – Dorcas, claro, não podia se sentir excluída daquilo – Finalmente, hein, Lene? Achei que você fosse começar a cantar musiquinhas country e pintar o cabelo de loiro. 


Caramba, minhas amigas eram uma idiotas.


Ri fingida.


- Não é da conta de vocês, certo? – eu estava começando a ficar seriamente irritada.


Com aquele Sol e com aquelas nuvens tão fofinhas, eu tinha que ficar mais irritada e magoada?


- Marlene, tudo que tem a ver com você, tem a ver conosco! Esqueceu-se? Somos suas melhores amigas. As suas únicas amigas, na verdade – Lily respondeu, como sempre, liberando a leoa furiosa que sempre morava dentro de si – Então, pode começar a contar tudinho. Sem abafar os detalhes sórdidos, por favor!


E então, sem nem responder a elas, saí andando. Elas, claro, foram, até certo ponto atrás de mim, mas quando notaram Sirius se aproximar de mim, prontamente desaceleraram os passos e começaram a cochichar entre elas. Eu não me importei, pois tinha algo bem pior com o que lidar.


- Hey, Lene – Sirius disse, sorrindo.


- Oi – sorri sem vontade, querendo estar o mais longe possível dele.


Por que eu não podia sumir? Seria bem mais fácil lidar com aquilo se eu fosse, tipo, uma mosquinha. É, acho. Hm, talvez.


- Quer comer alguma coisa? – ele perguntou.


Eu só tinha comido os cookies que papai me deixara, então, é, eu estava com tanta fome que comeria qualquer coisa dali, mesmo que os crepes, os pretzel e os churros estivessem sem inspeção sanitária.


- É, quero – comecei a andar ao lado dele, mas sem muita intimidade. Sabia que, por mais que tivéssemos tido uma noite, eu não queria demonstrar aquilo ao mundo. Achei que estávamos muito bem lado a lado e não dava para perceber que tínhamos transado.


Dividimos um crepe doce e uma lata de Coca Cola. Novamente ele repetiu que eu estava estranha e que nada falava. Eu só disse que não estava a fim de falar e ele riu.


É, Sirius, aquilo era mesmo engraçado. Seu idiota.


Então, fomos para a barraquinha de atiro ao alvo. Tínhamos que acertar nos patinhos que dançavam pela pista com as arminhas de tinta.


- Então é isso? – perguntei.


- Hm, do que está falando?


- Não me vai dizer mais nada?


- O que quer ouvir?


- Esquece.


- Lene?


- Estou estressada, é isso.


- Se você quer conversar, podemos conversar. Quer conversar?


- Não.


- Ah é, porque parece mesmo que você nem quer me bater. Por que quer me bater?


- Eu não quero bater em você.


- Você está com cara de quem quer bater em mim, Lene.


- Não estou nada.


- O que você tem?


- Não interessa.


- De novo isso?


- O que quer dizer?


- Ontem você brigou comigo porque eu não queria lhe dizer uma coisa, e agora quem está fazendo isso é você.


- Ah. E daí?


- Quer dizer que isso pode valer para você e não para mim?


- Cala a boca. Você nem parece irritado com isso.


- Bem, por que me irritaria? Eu sei que você gosta dessa coisa de privacidade e procuro respeitar.


- Caramba, muito obrigada, então – falei sarcástica.


- O que quer ouvir, afinal, Marlene?


- O que acha que quero ouvir?


- Eu estaria perguntando se já soubesse a resposta?


- Argh – grunhi.


- Marlene, qual é. Você nunca foi assim.


- E você acha que me conhece?


- Devo conhecer bem mais do que o restante de seus amigos. Principalmente considerando a noite que tivemos.


Ele tinha mesmo que lembra daquilo?


- Certo – murmurei – Então, quero saber como estamos.


Ele pareceu surpreso, porque logo repetiu a pergunta, meio que rindo. Não fiquei satisfeita.


- Bem, vamos continuar na mesma?


- Somos amigos, não somos? Então, é, vamos continuar como sempre estivemos. Ou acha que precisa de mais?


- Se eu acho que... – perdi a fala. Mas aí comecei a rir, descrente – Não, realmente não preciso de mais nada. De verdade. Nosso relacionamento, se é que isso pode ser mesmo chamado de relacionamento... está ótimo. Mais que ótimo. Está bom assim?


- Por que acho que você está um pouquinho sarcástica?


- Impressão sua.


- Ótimo. Então, está tudo bem conosco?


- Ah, super. De verdade – se ele percebeu a minha mentira, nada falou.


Daí, tudo meio que ficou na mesma. Ele não me beijou mais por um tempo (não ali no meio de tanta gente), ficamos brincando e arrecadando dinheiro para a viagem e rindo algumas vezes. Eu não podia dizer que estava infeliz, mas sabia que faltava algo. Igualmente quando a minha mãe me deixara.


Quando voltei para casa, as meninas apareceram lá (ah, imagine se elas não fariam isso) e pedimos pizza de calabresa e quatro queijos. Ficamos vendo Para Sempre Cinderela enquanto elas tentavam saber sobre a minha noite com Sirius.


- Mas, sério, Lene. Nós lhe contamos tudo, por que só dessa vez não pode fazer o mesmo? Tipo, você transou com o Sirius, não com o Tio do Semáforo! – Lily falava com a boca cheia de pizza.


- Como sabem que realmente transei com ele? – eu quis saber.


- Eu e James passamos por aqui perto das nove da noite, mas aí vimos o carro do Sirius estacionado e resolvemos não perturbar – Lily disse.


- Ah – falei. Fazia um mega sentido.


- Mas foi, pelo menos, bom? Ele a deixou feliz? – Dorcas perguntou.


Revirei meus olhos. Sabe cachorro com comida? Minhas amigas eram iguais.


- Bem, eu não sei – falei, lançando um olhar triste pela janela.


- Por...?


- Ele nunca me disse a palavra com “A” – respondi.


- Nem ontem?


- Não, muito menos ontem. Achei que ele diria, sabe, considerando o que tínhamos feito, mas... parece que eu estou amando sozinha nessa.


- Mas ele parece tão apaixonado por você! – Dorcas berrou.


- É, só parece, porque na verdade não está – suspirei.


- Caramba. Que cachorro – Lily vociferou.


- É, só que agora eu não consigo mais nem ficar perto dele, sabe – comentei.


- Quem sabe ele apenas não saiba o que sente por você – Dorcas arriscou.


- Ah, fala sério. Faz quase três semanas que estamos levando esse lance adiante – falei irritada – Como ele ainda não sabe que me ama? E se sabe que não me ama, por que não me fala?


- Você surtaria, Lene – Lily soltou um risinho.


- É, mas aceitaria, porque é a verdade! Como pode estar segura com ele, se ele não deixa claro o que sente por mim ou que tipo de relacionamento temos? – expliquei.


- Ele nunca falou de namoro?


- Ele nunca pegou na minha mão se não estamos a sós!


- Uau. Bem, o James é meio idiota de vez em quando, mas sempre diz que me ama – Lily comentou, como se isso fosse me ajudar.


- Acho que o Sirius consegue até ser pior do que o James – analisei, sendo um pouco maldosa.


As duas riram; eu mantive o meu semblante triste e distante.


Na manhã seguinte, na segunda, foi uma porcaria a aula de Teatro. Tentei levar adiante a coisa toda nas horas antecedentes, mas assim que vi Sirius já sentado no chão, formando o costumeiro círculo, meu humor despencou.


- Oi, dormiu bem? – ele logo me perguntou, quando me sentei ao seu lado.


- Acho que sim – menti.


Uau, então eu não iria apenas mentir pelo domingo todo? Eu já estava aprendendo a mentir pela semana? Boa, Marlene!


- O que acha de sairmos daqui e irmos até o Lago dos Cisnes? – ele me provocou, atiçando-me.


Quero dizer, não foi bem assim. Eu não queria sair com ele. Tipo, nunca mais. Não iria suportar tê-lo ao meu lado sabendo que ele não me amava. Nossa, como eu era clichê!


- Hm, não vai dar – falei, fingindo prestar atenção no monólogo do professor.


- Podemos estudar juntos depois. Sério – Sirius me tentou mais uma vez.


Mas eu estava convicta que seria inflexível. Não poderia, nunca mais, ceder a ele.


Eu sei, eu era uma besta.


- Hm, obrigada, mas realmente não poderei. Já não estudei o fim de semana inteiro, não posso me dar ao luxo de querer ser uma fracassada logo agora – eu falei, tentando não olhar para ele. Aqueles olhos azuis e aquele cabelo... uia, fariam me enlouquecer em um segundo.


- Você não é uma fracassada, Lene – Sirius riu de um jeito mega fofo, como se me consolasse.


- Hm – resmunguei.


Logo o professor nos chamou a atenção e tivesse que nos concentrar na tarefa proposta do dia.


O período passou muito rápido, porque tínhamos que nos organizar em trios e representar cenas diferenciadas de Os Três Mosqueteiros. Eu acabei junto a Sirius e a Emmeline Vance, uma garota loura com quem nunca tinha me dando muito bem.


Agora, fala sério. Os Três Mosqueteiros? Por favor! Eu por acaso queria ser atriz? Ou precisava melhorar o meu traquejo social? Tudo bem, eu era um pouco tímida, mas podia dizer que me relacionava muito bem com as pessoas a minha volta. Mantinha segredos, mas por privacidade. Eu gostava de privacidade. E achava que mais gente deveria começar a gostar dela também. Tipo, minhas amigas, primeiramente.


Depois da aula de Teatro, Sirius quis, mais uma vez, conversar comigo.


- Quer carona? – ele me perguntou.


- Não. Estou de carro.


- Ah – ele disse, não parecendo muito decepcionado.


- Vou indo. Até mais – acenei precariamente e segui meu caminho até o estacionamento.


Ele sorriu, mas acho que só por sorrir, porque pareceu que ele não fazia questão de fazer qualquer gesto.


Não importei, porque tinha muitas coisas na cabeça e precisava aliviar a minha tensão estudando. E, é, realmente estudei. Depois de dois dias longe dos livros e dos cadernos, eu estava, finalmente, voltando a ser a Marlene Mckinnon de sempre. A Marlene que meu pai tinha orgulho.


As meninas, no final da tarde, voltaram a se enfurnar em meu apartamento, acho que por pena. Elas achavam que, sem Sirius, eu estava muito debilitada e infeliz. E elas estavam certas. Sirius, mesmo que não demonstrasse tanta afeição por mim, era o meu porto seguro. Sei que carregávamos poucas semanas de relacionamento, mas para mim aquelas quase três semanas se tornaram três anos. Eu apenas almejava ficar ao seu lado, sendo abraçada ou beijada por ele. Era algo que me deixava mais como uma menina normal, que me fazia sentir parecida com as minhas amigas. E Sirius nunca tinha se incomodado com aquela Marlene estudiosa (quase maníaca por estudos), muito pelo contrário. Ele me apoiava muito naquela coisa de Oxford. Era por aquilo também que eu não conseguia desistir dele. Ele me fazia bem. Nunca queria me transformar, apenas me melhorar. Sirius era o tipo de cara que eu desejava conhecer desde... bem, desde que comecei a invejar minhas amigas por elas terem namorados e eu não. E Sirius era do tipo namorado perfeito. Fora aquele pequeno detalhe de nunca me dar a mão publicamente e nunca dizer a palavra “amor”. Mas fora aquelas coisinhas (hm, coisonas), nosso lance era perfeito.


Caramba, eu era do tipo que odiava romances, mas estava igualzinha àquelas meninas idiotas que se apaixonam e sofrem por um amor não-correspondido! Tipo a porcaria da Bella Swan! Mas acho que eu era bem pior do que ela, porque ao menos ela tinha (um pouco) de razão por estar deprimida, mas que desculpa eu tinha? Eu estava sofrendo por um cara que tinha transado comigo e que nem gostava de mim! Oi, eu podia ser mais patética? Ou será que eu estava errada? É, claro que não. Bem, só minhas amigas achavam que não. Ah, e eu, claro.


Mas acho que o mais inteligível era: Marlene Mckinnon apaixonada?


É, eu estava apaixonada. E era bem idiota nisso tudo. 


x.x.x

N/a: Yeey *--* Oi, meus boizinhos amados! *-* Nem sei como me lembrei de vir aqui postar, já que estou tão atolada com a semana horrenda de vestibulares, mas aproveitei um pouco das minhas duas horinhas de folga para mantê-los entretidos (: Espero que tenham gostado (ps: eu sei que a Lene está muito Bella Swan, mas pobre Lene, deixem-na ser emo q) e que comentem (: Sei que nas férias queremos fazer mil coisas e acabamos não fazendo nem metade do planejado, mas ficaria feliz se comentassem *-* Certas pessoas já me abandonaram, rum :/ ótimo começo de ano a todos e nos vemos semana que vem ;) 

Nina H.


07/01/2011

Compartilhe!

anúncio

Comentários (2)

  • Lana Silva

    VixeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeTipo eu não acho que ela seja idiota por estar apaixonada.Bem eu não queria estar na pele dela.Acho que se fosse ela eu seria sincera com o Sirius - mentira, eu acho que ficaria pior que ela, não conseguiria ser sincera, e ficaria muito mal kkk, mas ela é mais corajosa que eu kkkkamei o capitulo, foi ótimo flrbeijoos *-* 

    2012-09-10
  • IsaBlack

    Aiiiiiiiiiiiiin! Quero ver logo o que vai acontecer! vc me deixa Tããããããão curiosa, Ninaaaaa! *--* To amando essa fic! Sirius e Lene são inigualáveis! :D parabéns, de novo, amorinha! E desculpa pelos coments serem atrasados! :s Vou comentar em tds os caps mesmo, pra tirar o atraso! hauhauhau Beijoos

    2011-05-09
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.