*capítulo um*



Capítulo Um
Ou
Let The Flames Begin


“Não importa quantas canções de corações partidos você escreva, não importa quantas vezes você se machuque, você sempre vai se apaixonar de novo” – Taylor Swift


Não, eu não era esse tipo de garota. Você dever estar pensando: “Mas essa Marlene é mesmo muito mentirosa!”. Não, isso também não era eu. E eu me conhecia pra caramba, viu? Tudo bem, a maioria das pessoas que tinham algum tipo de relacionamento comigo (minhas amigas e meus amigos) dizia que eu era muito hipócrita por manter segredos e nunca dividi-los, mas isso só comprovava o fato de que eu bem me conhecia para resistir bravamente à minha decisão de manter a minha privacidade bem guardadinha e longe de todos. Certamente, segredos não compartilhados podem vir a provocar danos, mas até então não tinham me importunado. Tipo, eu não era nenhuma humana que namorava um vampiro esquisitão e não podia contar sobre isso para mais ninguém. Aliás, qual é o problema dessas meninas de hoje em dia? Por que ficam fantasiando com vampiros de outros séculos se existem caras de verdade por aí, que aceitam qualquer tipo de parada? Não sei, acho que nunca fui criança o suficiente para gostar desses mundos irreais. E essa era outra circunstância que me denunciava e que fazia de mim uma menina bem esquisita e atípica.


Não sei, mas acho que era do tipo doente, entende? Não era rodeada pelas meninas mais populares, as minhas notas em química eram uma negação (até para mim) e eu nem tinha um namorado. As minhas amigas tinham namorados. Mas, eu, Marlene Mckinnon, por que teria um namorado? Imagine, não precisava. Era do tipo autossuficiente, mas, cara, eu era uma menina quase normal. Merecia um pouco de amor. Okay, admito que não era nenhum mel que atraía abelhas pra tudo que era lado. Os únicos meninos com que tinha mesmo que conviver era o Remus e o James. Fora eles, nenhum outro se interessava muito pelos meus papos ou mais propriamente por mim. Não que eu fosse feia; eu até me achava bonitinha (dependendo do estado que meu cabelo amanhecia depois de uma noite se sono pesado). Tudo bem, talvez aquilo coincidisse com algum quadro pós-traumático relacionado àquela vez na terceira série que as meninas do quinto ano me prenderam no banheiro e jogaram tinta em mim. Sendo que eu nem as conhecia. E elas falaram para o diretor que estava somente brincando comigo e que aquilo era um ritual de passagem e de aceitação no grupinho delas. Daí quando elas fizeram pior na semana seguinte, foram expulsas, porque queimaram também os livros da Lily e, sério, ela ficou muito possessa e praticamente quebrou aquelas garotas, mesmo que elas fossem bem mais altas do que ela. Só que, sério, por que eu tinha que ser uma das únicas garotas da minha série que ligava de fato para notas ao invés de batons ou vampiros e lobisomens? Até minhas melhores (e únicas) amigas, a Lily e a Dorcas, estavam nessa onda horrorosa de nunca estar em casa para estudar, e quando estavam era porque estavam grudadas naqueles livros de vampiros. Aliás, quantos livros sobre vampiros gatos existem de verdade? Tipo, mil? Um milhão? Porque parece que aquilo é como a reprodução de bactérias. De uma logo tem duzentas em, tipo, vinte minutos. O que aconteceu com, sei lá, Harry Potter ou com os livros do Dan Brown? Espero nunca pegar essa doença, de verdade. Já é bem ruim essas meninas estarem correndo atrás do Justin Bieber e dos Jonas Brothers. Argh, mesmo, mesmo, mesmo.


Bem, como o meu carro era daqueles bem do mal, que praticamente tem vida própria e que ligam quando realmente querem, eu estava, como sempre, maldizendo de minha vida. Pelos mesmos conceitos, pelos mesmos motivos. Todos os dias, todas as manhãs eram iguais. Eu me levantava, ia averiguar o estado deplorável de meu cabelo, prendia-o em um rabo de cavalo, tentava comer alguma coisa, dizia tchau para o meu pai, que quase sempre acabava adormecendo no sofá da sala (porque seu quarto não tinha TV e a que tínhamos se localizava na sala), e ia para a aula. Normalmente acordava atrasada e perdia os primeiros períodos das manhãs; não que isso fosse um grande problema, porque eu tinha a Lily para me ajudar de vez em quando (quando não estava lendo aqueles livros ou sendo idiota o suficiente para eu querê-la longe de mim) e, além do mais, eu sempre conseguia estudar por conta própria (menos em química e matemática).


Naquela manhã, porém, aquelas orbes fervorosas e cristalinas e o sorriso torto me desconcertaram. Acho que era quinta-feira e já tinha me ausentado de três aulas. Lily, sempre impaciente, me deu um cutucão assim que me viu entrar toda desatenciosa.


- Cara, de novo. Sabe que a Sra. Drew pode fazê-la repetir por faltas, não sabe? – Lily me falou, encostada no pilar.


- Ela é professora de...? – eu, sempre desorganizada, folheava meu caderno de inglês, procurando a matéria para a prova do período seguinte.


- História Inglesa, Lene – Lily suspirou levemente decepcionada.


Acho mesmo que ela não deveria agir daquele modo. Nem motivos ela tinha. Eu era muito aplicada, esforçava-me até adormecer sobre os livros; Lily mal escutava os professores e apenas estudava quando ia lá para casa (porque eu praticamente a obrigava, chantageando-a com barras de chocolate).


Sem olhá-la continuei, apressada, a procurar precariamente com os olhos os títulos sublinhados.


Nexos Oracionais
Palavras que introduzem uma determinada relação entre orações ou outras palavras (conjunções ou preposições).


Certo. Certo.


Era aquilo mesmo que caía na prova, não era?


Lily não me dera todos os detalhes na semana anterior. Odiava quando ela ocultava informações escolares.


- Ah, é verdade. Sempre me esqueço – respondi entretida na lista de palavras a serem estudadas. Não me detinha muito nelas, porque apenas restavam cinco minutos para a troca de períodos e se eu tivesse que “estudar”, seria bem rapidinho. Tinha me esquecido de Inglês, porque estava ocupada demais tentando decifrar Geometria – Por que não está na aula? – perguntei, dando-me conta que Lily deveria estar escutando algo sobre o conflito do Iraque ou sobre o New Deal. 


Lily soltou um risinho, que saiu mais pelo nariz do que pelos seus lábios cheios de gloss rosa.


- O TOC está fazendo uma maldita revisão. Até parece que suporto revisões. Prefiro muito mais quando o James me... – Lily parou quando lancei a ela um olhar enojado. Eu odiava quando minhas amigas me passavam detalhes demais de seus relacionamentos. Talvez porque isso me fazia recordar que eu não tinha relacionamento com nenhum cara – Hm, certo. Desculpa.


Balancei a cabeça, em um sinal claro que ela deveria esquecer daquilo.


- Vai matar aula com o James depois do intervalo? – eu quis saber.


Bem, James não era, assim, o melhor exemplo do mundo, se é que me entende. Sempre estava metido em uma confusãozinha básica. No todo, era um bom garoto. Um bom garoto para Lily (menos quando combinavam de matar aula para se agarrarem no depósito do estabelecimento do pai dele), um bom amigo e um ótimo assistente de mudança. Quando eu e meu pai nos mudamos para o Leste da cidade, o James nos ajudou a encaixotar tudo e a levar tudo para a nova casa na camionete de entregas da família. Okay, todos os meus amigos ajudaram, mas só o James tinha uma camionete que comportasse direitinho as minhas caixas com os dizeres de “FRÁGIL!” ou de “STAY AWAY FROM HERE!”.


- Não sei. Acho que ele tem prova com o Boobs – Lily disse; eu resmunguei vagamente – Você deveria ir junto.


Tirei meus olhos das linhas do caderno. Lily era uma psicopata.


- Ah é, para ver vocês dois quase fazendo sexo na minha frente – falei desgostosa.


Lily corou e fez biquinho, demonstrando sua mágoa.


- Nós só ficamos um pouquinho animados demais – defendeu-se, ainda com o rosto pegando fogo.


- Ah, claro – meu sarcasmo se fez presente.


- Bom, estávamos pensando em ir ao Parque dos Perdidos e tomar aquele suco alcoólico do Mathy.


- Lily – irritei-me. Ninguém entendia o quanto eu precisava me esforçar no colégio – Não posso, está bem? Além do mais, sabia que a inspeção sanitária interditou por seis meses o bar do Mathy há uns dois anos? É, detectaram esporos de Bacíllus anthracis, que causa carbúnculo. E sabia que os Estados Unidos podem ser atacados por essas bactérias a qualquer momento por um terrorista retardado? Então, há pessoas morrendo e você quer sair para beber um pouco? Lily, caia na real, faltam dois meses para essa porcaria de ano acabar e se eu não for aceita em Oxford, possivelmente serei garçonete pelo resto da minha vida!


Lily pareceu ficar entre o ultraje e o acanhamento.


- Hey, alguém já lhe disse para relaxar um pouco? Cara, você não pára nunca de falar na escola e em notas e na merda da faculdade – Lily disse com uma cara bem feia.


- Talvez porque eu, ao contrário de muitos aqui, me preocupe com o meu futuro. Quero dizer, quer mesmo ficar presa nessa cidade para sempre? – perguntei.


- Tanto faz. Eu posso abrir a minha própria loja virtual de roupas e ser feliz assim – ela retrucou.


- Hm – meu suspiro, por intervenção dos infernos, saiu mais como um bufo selvagem – Só que sem faculdade as coisas não serão sempre as mesmas.


- Ai, por favor, pare de falar sobre faculdades, garota! Oi, você tem um mundo para descobrir e prefere ficar se dedicando integralmente a coisas banais! – Lily estava ficando, se possível, ainda mais vermelha, mas não era de vergonha.


Lily andava bem estressadinha, naquelas semanas. Talvez porque começou a perceber que levaria bomba em mais de três disciplinas. Ah, não. Esquece, acho que isso foi sarcasmo gratuito. Até mesmo a Dorcas levava os estudos um pouquinho mais a sério do que Lily. E isso representava muito, sabe. Possivelmente o problema estava na raiz de todas as crises emocionais dela: James. Sim, eu disse que ele era um bom garoto. Mas acho que ocultei alguns fatos negativos sobre ele. Tipo, a infidelidade constante, o machismo e a imaturidade. Não tinha como negar que ele era incrivelmente apaixonado por sua namorada, mas, sabe como é, ele era o James Potter. Lily, apesar de saber dos, hm, vícios de James, nunca que o largaria. Dizia que ele era o amor da vida dela, que tinham nascido para ficarem juntos e mais blábláblá meloso ainda. Só que, bom, eu tinha minhas dúvidas. Como Lily sabia que James era mesmo o certo se este vivia aprontado, deixando-a furiosa e triste? Não que eu fosse a das mais céticas. Meu grau de ceticismo era, tipo, um, no máximo. O pé atrás só aparecia quando o assunto era amor ou casamento. Bem, o quê? O que você queria? Que tipo de menina rejeita vampiros brilhantes e ainda crê no amor? Okay, deviam existir muitas garotas na minha situação, mas, ei, nenhuma delas se chamava Marlene Mckinnon. Certo? Além do mais, eu nunca tinha ligado muito para a opinião dos outros acerca de minhas convicções. Lily e Dorcas tentavam lançar em mim um pouco da magia delas; a magia de estarem apaixonadas e de acreditar no amor. Mas, digamos que nada reagia, entende.


Com tínhamos aquele tipo de discussão praticamente todos os dias, limitei-me a suspirar cansada e resignada. Aquele ano estava sendo o pior do todos. Não que meus anos anteriores tivessem sido um presente dos céus. Nenhum deles tinha sido fáceis. Mas o último, o em questão, estava um porre. Eu estudava mais do que podia suportar, minhas noites acabavam sendo preenchidas por números complexos e por fórmulas físicas, meu sono estava tão irregular quanto a minha fome, minha aparência (segundo a gentileza de minhas amigas) estava “lamentável”, esquecia-me facilmente de compromissos, faltava constantemente às aulas de Biologia e de Cálculo II e eu não tinha um namorado para me aliviar de qualquer tensão. Tipo, de todas as mencionadas acima, por exemplo.


É, Marlene, ninguém lhe tinha dito que as coisas não seriam complexas.


- Lene, você sabe que eu e a Dorcas ficamos no seu pé porque estamos preocupadas, então vê se ouve um pouco a gente – Lily me disse em um tom meio preocupada e irritada.


- Lembrarei-me disso, pode deixar – concordei inutilmente. Minhas promessas eram sempre quebradas; talvez porque elas eram feitas a mim mesma. O sinal soou. Lily permaneceu no mesmo lugar – Aula?


- Merda de prova – resmungou.


Os alunos começaram a sair de suas respectivas salas. Alguns, não havia dúvida, mortos de cansaço; outros, não tão acabados assim, mas bastante entediados. É, Geopolítica não era uma das disciplinas mais adoradas por todos. Junto com o mar de pessoas quase desconhecidas (mas familiares) veio Dorcas, que acabara de sair de Geopolítica, aula que Lily deveria que acabado de assistir, ao invés de ter matado.


- Gente, precisamos colocar fogo na sala da Dude antes que ela acabe comigo! – Dorcas chegou reclamando – E você deveria parar de matar a aula, Lily. A Dude me perguntou de você.


- E daí? – Lily quis saber, sem humor ou interesse.


- E daí que você vai ter que tirar, tipo, um A menos na prova final de Geopolítica – a outra respondeu.


- Que se dane – Lily deu de ombros, mais entretida com o grupo de meninos parado em frente aos armários.


Dorcas ficou com cara de assombro, apesar de conhecer a Lily tão bem quanto eu. Sabíamos que, de um jeito ou de outro, Lily fecharia as notas com muita coerência. Os professores, ainda que ela preferisse ficar se agarrando com o James na escadaria de incêndio a assistir mais do que dois períodos por dia de aulas, viam nela um potencial maravilhoso. O Sr. Sanchez, de Teatro, adorava a “áurea brilhante e fugaz” de Lily. Já o Sr. Butterfinger, o de Debate, achava que Lily era uma das poucas alunas que sabiam entender o dom de uma súplica bastante fervorosa. Como se, tipo, eu não tirasse A na matéria dele desde o último semestre do ano anterior. Mas, bom, eu nem dava tanta importância assim a Debate ou a Teatro. Não conseguia compreender porque tínhamos que ser obrigados a ter essas aulas, quando eu podia estar estudando as Leis de Mendel ou Topografia. Achava mesmo que algumas das aulas que eram obrigatórias a todos eram uma perda de tempo. Qual era graça de fingir ser um moinho em Dom Quixote de La Mancha? Ou uma fada em Sonho de Uma Noite de Verão? Sério, só a Dorcas para gostar dessas coisas. Só ela ansiava pelas terça-feiras, porque o último tempo era dedicado ao Teatro. Normalmente, devo admitir, eu matava os períodos de Teatro. Só comparecia quando Dorcas me avisava que era dia de avaliação em grupo ou individual. E ainda que eu não estivesse lá a maior parte das aulas, o Sr Sanchez sempre me dava A. Acho que depois que conversei com ele, no início daquele ano, sobre a minha carga horária disponível e a minha facilidade em almejar sonhos impossíveis, ele se comovera com o meu esforço pessoal e concordou em não pegar tão pesado comigo. 


Não que por me ausentar de suas aulas, eu estivesse conseguindo manter a minha média em Cálculo ou conseguindo elevar a de Química. Matemática, Química e Física, não eram o meu ponto forte, entende. Durante as explicações eu até entendia, anotava observações importantes, mas em casa, quando tinha mesmo que pegar pesado para as provas, tudo tinha ido dar um volta, sabe, e tinha mais dificuldade. Não que eu fosse, tipo, a aluna mais inteligente do pedaço. Com certeza a Marion era muito mais, só que ela não estava tentando pegar uma bolsa em Oxford em Jornalismo. Ela queria Farmacologia e estudaria na faculdade local da cidade.


- Ah, gente, eu preciso comentar isso com vocês! – Dorcas, como sempre, ignorou a má-educação de Lily, e de repente seu rosto estava redonho, cheio de alegria – Tem um novo cara na minha sala. Vocês deveriam tê-lo visto! Ele era, tipo, o maior gato. Eu sei que tenho o Reminho, mas, puxa, esse novo cara é uma coisa muito sexy.


- Aposto como o James é mais – Lily rebateu com um ar de superioridade misturado com desinteresse completo.


- Hm, não sei, não – Dorcas riu, mas logo continuou: -  Tipo, a Dude fez o cara se apresentar e tudo, acho que o nome dele é Sirius Black e veio de Michigan, porque estava em intercâmbio. Um amor, não é?


- Tanto faz. O que será que a Rose fez para nós no refeitório? Tomara que não tenha arroz integral de novo – Lily falou, ajeitando o seu cabelo, porque avistamos o James chegando.


Dorcas olhou para mim, esperando a minha reação. Eu dei de ombros. O que eu queriria com um novato? Minhas amigas tinham umas expectativas bastante esquisitas, às vezes, sabe. Ela suspirou, desanimada conosco.


- E aí, baby – o James cumprimentou a namorada com um casto selinho.


- Oi, bebê. Como foi com o Troll? – Lily quis saber, demonstrando um pouco mais de empatia.


- Aquele cara é um imbecil. Ele quer mesmo que eu largue o time por causa da minha média em História Geral – James respondeu enfezado.


- Mas se você conseguir recuperar um pouquinho no trabalho final ele não pode querer tirá-lo do time – Dorcas observou, porque ela mesma tinha que se sair bem no trabalho final.


- É, mas, sabe como é, minhas notas quase nunca são elevadas – James riu.


- Eu lhe ajudo. Sabe que, por mais que eu não vá muito a essa aula, sei razoavelmente sobre o assunto – Lily disse, tentando animá-lo.


- Ah, por favor, não tente enganá-lo! – Dorcas soltou um risinho rouco – Ele sabe o que vai rolar quando vocês ficarem sozinhos “estudando”.


- Certo, então – Lily ficou com a expressão azeda – Podíamos organizar um grupo de estudos – propôs agora alegre - Eu, você, o Remos e a Lene - ela apontou para cada um - Vai ser até menos maçante estudar assim.


- Hm, é uma boa idéia – comentei – Mas só se vocês realmente se esforçarem, porque das outras vezes, vocês só ficaram fofocando e vendo TV – salientei, jogando o meu olhar perigoso principalmente a James.


- Tudo bem, cara Lene, eu dou a minha palavra de escoteiro que não irei ficar beijando a Lily nem implicando com o Reminho – James falou meio que se divertindo.


- Cala a boca, seu mentiroso! Você nunca foi escoteiro! – a Lily deu um tapa amoroso no braço do namorado, rindo.


Nisto, eu, ainda com os cadernos na mão, verifiquei o relógio simples que o diretor tinha mandado instalar em todos os andares (como se isso fosse ajudar o pessoal que gostava de matar aula a não fazerem aquilo) e fui abaixando meus olhos em direção à massa de alunos que preenchia o corredor largo. Foi bem quando fiz isso que o vi. Seu cabelo negro, um pouco comprido, todo ondulado e perfeitinho, se balançava de acordo com o seu andar. Meus olhos o analisaram: camisa justa de mangas compridas, aberta até o terceiro botão, estilo militar (que realçava incrivelmente seus olhos azuis claros tão penetrantes que achei que estivesse encarando o Sol), algumas correntinhas finas prateadas no pescoço, calça jeans escura bem agarrada e um tênis All Star clássico. Ui, sexy. Muito sexy.


Então, achei que meus pulmões tinham parado. Achei mesmo que estivesse morrendo. Não sabia se conseguiria inspirar o oxigênio e as impurezas contidas no ar para dentro de mim. Não me lembro se cheguei a piscar, mas acho que não, pois se piscasse perderia algum movimento dele. O cara carregava livros, exatamente como eu.


Pensei: Como é que nunca o tinha percebido por ali?


Eu estudava naquela escola desde os dez anos! Eu era familiarizada por todos os alunos que me cercavam; evitava contatos diretos, pois a grande maioria cheirava drogas a maior parte do tempo ou se ligava nas roupas que usavam. No entanto, era capaz de dizer quem era quem, sabe. E esse cara eu absolutamente não conhecia.


Ele, então, (não faço idéia de como) percebeu que eu o seguia com os olhos e me olhou também. Foi tipo dois segundos, sabe. Mas assim que voltou a encarar seu caminho, um sorriso torto se fez presente em seus lábios (possivelmente) completamente beijáveis. Foi como se ele tivesse gostado de perceber que eu o encarava. E isso me deixou curiosa e intrigada.


Geralmente os meninos não davam sorrisinhos tortos para mim. Nenhum tipo de sorriso, na verdade.


- Lene, cara, vamos? O que foi? – Dorcas agitava seus dedos longos na frente de meu nariz, irritando-me.


- Hã? – eu perguntei brilhantemente.


- Opa. Quem você viu? – Lily perguntou com uma voz sugestiva.


Notei que Remus tinha chegado até nós. Balancei a cabeça rapidamente, tentando colocar as idéias de modo organizado em minha cabeça.


Passou, Marlene, passou.


- Ninguém, estava pensando na prova – menti, e ela pareceu acreditar.


Não havia garantias de que eu fosse rever o Sr. Sexy-e-Gostoso.


Por isso, segui para a aula de Inglês como sempre (mas um pouco mais distraída do que o normal).


A prova, mesmo eu tendo revisto alguns tópicos minutos antes, me surpreendeu bastante. Pulei algumas, voltei várias e chutei diversas. Droga, como tinha me esquecido daquilo? Eu e a minha amnésia!


Já no refeitório, tentei a todo custo e com muita minúcia procurar o cara da camisa militar. Nada. Ele virara fumacinha. Não dera as caras por lá nem por um segundo; toda hora que a porta era aberta, possibilitando entradas, eu olhava para lá, mas nunca era ele. No fim, de tanto manusear o meu pescoço, desisti. Talvez na saída ou no dia seguinte.


Certo, não foi nada disso. Não precisei esperar mais três horas ou até a manhã posterior. Isso porque quando entrei na minha sala de Biologia II, no último perído (que eu não dividia com nenhum dos meus amigos), lá estava ele bem sentadinho, com as pernas uma de cada lado, anotando alguma coisa em uma folha de caderno intacta. E bem ao lado de onde eu me sentava. Tipo, o Bexter tinha sido transferido de escola, a mando de seus pais, de modo que passei umas cinco semanas sem par naquela aula (o que era um pouco bom, porque o Bexter mais atrapalhava do que ajudava). Mas, aparentemente, não mais. Digo, não ficaria mais sozinha.


Automaticamente senti meu corpo gelar, gelar muito, e minhas bochechas esquentaram, porque lembrei que fiquei olhando para ele como se fosse um leão faminto. O que ele deveria estar pensando de mim? Que sou, tipo, ninfomaníaca! Ou não, porque quando escorreguei para o meu banquinho, ele levantou os olhos rapidamente e fechou o caderno muito rápido.


Eu não sabia o que falar, sabe. Eu fiquei quieta por uns cinco minutos, até que ele puxasse conversa.


- Hm, acho que sou seu novo colega de laboratório – disse em um tom hesitante, mas simpático.


Ele olhava para mim com um sorriso sem dentes, mas bastante encantador.


- É – falei. Caramba, Marlene, você estava na frente do Sr. Sexy-e-Gostoso, não dava para ser mais obtusa? Pigarrei desconfortável – O Bexter saiu da escola e tal – expliquei.


- Ah, me falaram isso, quando vim aqui na semana passada – ele me disse - Ele não era muito bom, não é? O diretor disse que ficava contente por saber que “a minha colega de Biologia II” teria, finalmente, um parceiro decente – seu riso tinha um som tão gostoso, que quase me perdi nele.


Também deixei me levar pela situação e ri.


- É, ele vivia derramando as coisas em mim – falei.


- Acho que tenho um bom senso de coordenação, então acho que não precisará se preocupar com baços de ratos em você – brincou ele em um tom tão divertido, que me compeliu a continuar a rir – Mas, se iremos passar uma hora por semana juntos, precisa se apresentar.


Parei de rir. Uia, tão direto. Gostei.


- Marlene Mckinnon – fiz menção de apertar seus dedos, mas ao passo que eu estava pensando em fazer tal ação, o Sr. Sexy-Gostoso-e-Divertido já estava com os seus dedos nos meus - Mas pode me chamar de Lene. Nunca de Leninha. Só quem me chama assim é o meu pai – disse, amaldiçoando-me. Desde quando eu contava segredos a uma pessoa que não conhecia mais de dois minutos? Estranho.


- Marlene – ele repetiu, como se esperasse que seu cérebro gravasse meu nome para sempre – Eu sou o Sirius Black.


Sorri, encantada mais uma vez.


Ai, caramba! Eu deveria parar de trabalhar com tantas canetinhas marca-texto!


Senti-me drogada. Entorpecida. Bobamente feliz.


- Então, por que mudou de colégio tão no final do ano letivo? – perguntei depois que pairou uma espécie de vácuo na conversa por causa dos nossos sorrisos.


- Estava em intercâmbio. Fui para os Estados Unidos, sabe. Meu pai teve que se mudar por um período para Michigan e eu fui junto com ele – Sirius me explicou.


- Ah, espere! Você é o novato? – meu queixo caiu.


Não era à toa que a Dorcas estava toda desesperada lá no corredor quando falara dele.


- Hm, acho que sim – Sirius sorriu sem graça.


- Ah. É que você faz aula de Geopolítica com uma amiga minha, na verdade duas, se contarmos as poucas vezes que a Lily aparece por lá.


- Hmmm. E daí? – ele quis saber, lançando-me o mesmo sorrisinho torto que me mandara lá no corredor.


- A Dorcas falou de você – comentei.


- É, a maioria das pessoas lá achou o máximo eu ter estado em intercâmbio – ele comentou rindo baixo.


OMG! A circunstância até estava parecendo o começo idiota do livro Crepúsculo! Sabe, quando a Bella e o Edward são colegas de mesa em Biologia! Ai, maldita analogia real! Por quê? Por que a situação tinha que ser tão IGUAL ao livro? Não acredito que estava mesmo acontecendo! (Mas o Sirius era muito mais sexy do que o Robert Pattinson, me desculpem meninas. Sem contar que ele não era um vampiro vegetariano que pregava o sexo somente depois do casamento. Quero dizer, quem liga para isso? A Lily e o James transavam o tempo todo e eram bastante felizes).


Daí, conversamos um pouco sobre os oito meses que Sirius passou lá em Michigan e sobre os anos que eu estudava naquela escola, antes que o professor chegasse e distribuísse pequeninas amostras de variadas espécies de folhas para detectarmos se elas eram monocotiledôneas ou dicotiledôneas. Não foi tão ruim. Com Sirius era bastante divertido, até.


No final, faltando apenas alguns minutos para o sinal, ele já tinha me contado sobre o Nugget, seu cachorro Golden Retriever e sobre a sua estranha relação com os gatos da vizinha.


Tipo, aquele cara era ma-ra-vi-lho-so. Era todo lindo e do tipo que nunca chegaria perto de mim, mas, na verdade, não era nada disso. Sirius estava sendo bastante tolerante comigo e parecia que até tinha gostado de me conhecer.


- Então, nos vemos por aí – ele me disse, já se levantando, pois tinha colocado seu estojo mais rápido do que eu na mochila.


- Ah, certo – falei – Hm, não quer conhecer meus amigos? Eles devem estar ali no corredor – apontei para a porta.


Sirius continuou me encarando.


- Não tenho tempo, desculpe – respondeu-me, mas não se esquecendo do sorriso torto – Talvez em outra oportunidade.


Não posso dizer que não me decepcionei.


- Hm, tudo bem. Então, até amanhã. Ou quinta que vem – acenei minimamente.


- Certamente – foi a última coisa que me disse antes de se virar e me deixar sozinha na mesa.


Deixei que todos fossem embora para que eu pudesse ficar sozinha comigo mesma. Eu sempre precisava de momentos assim. Acho que porque eu sabia que se me enfiasse em casa, já me atiraria nos livros e cadernos. Isso era tão estressante e desgastante, porém necessário; era a minha única chance de conseguir o que eu queria. Não que eu quisesse mesmo deixar papai, sabe. Depois que a minha mãe fugiu com o cabeleireiro dela (pois é, não é tão verdade assim que esses caras com tesouras nas mãos são gays. Mas podia ser que o Esteven fosse uma exceção), papai ficou meio sem saber o que fazer por um tempo. Ele só ficava na frente da TV assistindo aos jogos da liga de basquete ou na cozinha assando cookies ou bolos. Vagarosamente, depois que conseguimos comprar o nosso pacato apartamento, ele se estabilizou. Voltou a sair com os amigos e voltou também a escrever seu romance do século XVI. Mas, sabe, eu sabia, por mais que ele negasse, que ele não estava feliz. Só estava, sabe como é, tentando continuar a vida. No entanto, ainda que eu estivesse com pena de meu pai (se eu fosse embora para Oxford quem é que o lembraria de ouvir os comunicados da secretária eletrônica ou de levar o lixo para fora?), era a minha vida. No inverno tinha feito dezoito anos e precisava de mais independência, precisava sentir que o que eu estava fazendo era o certo. Claro que todos estavam contra mim. Todos não rapavam de repetir: “Marlene, pare de estudar tanto, vá se divertir”. Mas eu não conseguia, estava convicta em alcançar o meu sonho. Nem que para isso eu tivesse que parar de comer e diminuir as minhas horas de sono de oito para cinco horas. Eu estava completamente decidida e ninguém iria me refrear.


E se esse Sirius fosse entrar na minha vida, ele seria um empecilho grandiosamente tentador. Tudo bem, ele só era, até ali, meu colega de Biologia II, mas e se dali a algumas semanas fosse mais do que isso? E se eu me apaixonasse pra valer por ele? Eu só pensaria nele e me desviaria de minha jornada.


Eu não podia me permitir fraquejar quase na linha de chegada. Faltavam só dois meses para o fim do ano.


Então, eu fiz uma promessa: não iria me apaixonar por Sirius Black.


Parece um juramento bastante idiota, mas eu iria persistir naquilo. Até quando ele me olhasse surpreso e até quando ele abrisse sorrisos tortos. Eu tinha que tentar.


Daí, com um grande suspiro e mais um reforço mental (“Não irei me apaixonar por Sirius Black”), levantei-me do banquinho e andei devagar até a saída do colégio.


Meus amigos, como sempre, me esperavam. Eu sorri e me lembrei de Sirius.


Voltei a repetir: não irei me apaixonar por Sirius Black.


Quanto mais eu dizia seu nome em meu cérebro, mais eu tinha ânsia de vê-lo no dia seguinte. 



x.x.x

N/a: Yeeey *-* Como prometido, aqui está o cap. Bem no dia do meu aniver *--* Eu nem sei como estou arranjando tempo para vir aqui e postá-lo, já que tenho que correr atrás do ingresso do Paramore, ir ver Nárnia e jantar fora à noite D: Mas tudo bem, eu disse que postaria hoje ;D Então, como presentinhos de aniversário comentem bastante ((((: Sabem que só assim o próximo capítulo virá. Então, vamos lá, não vai doer. Amo vocês e espero que aproveitem a fic *---*
     #ps especial *--*: awn, Cecília, sabe que amo pra sempre as suas capas *o* Obrigada por fazer a dessa fic *---*  E sabe que uma hora eu vou pegar todas as suas fics pra ler (: Beijo especial, flor! 
     Beeijo ;*

     Nina H.  


16/12/2010

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Comentários (2)

  • Lana Silva

    AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHNossa eu simplesmente amei o capitulo, tipo o Sirius é perfeito, a Lene ela é demais. Tipo tudo que ela disse no inicio sobre filmes eu concordo com tudo - talvez por isso que eu ainda esteja solteira kkk ou como minha amiga costuma dizer encalhada.Serio, acho que Sirius vai entrar para muda a vida dela *-*Bem, o capitulo foi realmente perfeito flr, eu ri muito a Lily é muito desleixada com os estudos, até achei que seria meio diferente kkk tô amandobeijoos! 

    2012-09-10
  • IsaBlack

    Aaaaaaaaaaaaaaain! Não vou aguentar comentar só nom fim! Acho que vou fazer isso em TODOOOOOS! que fic maiiiiiiiiiis perfeitaaaaaa! *----------------------* Sirius LINDO! ^^ Amandoooo! parabens, amoree! x)

    2011-05-09
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