*capítulo três*



Capítulo Três
Ou I Caught Myself


And that was the day that I promise/ I'd never sing of love if it does not exist/ But darling.../ You are the only exception – The Only Exception, Paramore


Mais um domingo tinha se passado. O terceiro depois do festival. Revelara a foto com a Taylor e algumas que tinha tirado com o Sirius. A com Taylor tinha mandado revelar do tamanho de uma folha A4. As junto ao Sirius acabei deixando do tamanho comum, pois meu dinheiro meio que tinha terminado. Mas, mesmo não querendo dar o braço a torcer, percebi que as com o Sirius tinham ficado tão espontâneas, como se já fôssemos amigos há muito tempo, que eu quase as tinha amado tanto quanto a que eu estava ao lado da Taylor Swift.


Vai saber. Eu era bipolar de vez em quando. Talvez. É.


O Black, nas três sextas-feiras antecedentes, tinha me perguntado nas aulas de Política Inglesa sobre a minha “retribuição” por conta do show da Taylor. Tudo o que eu podia dizer era:


- Não posso. Tenho que estudar.


Ele, eu podia constatar facilmente, não ficava muito satisfeito e conformado, mas sorria e completava:


- Talvez domingo que vem.


E eu dizia:


- É – só que eu sabia que não teríamos mais nenhum domingo.


Eu estava atolada com os trabalhos finais (principalmente com o de História Geral) e ainda tinha que arrumar tempo para revisar algumas matérias que já fazia um tempinho que estudara (tipo ligações e química orgânica) para que as provas finais não me surpreendessem tanto. A parte que eu “tinha que estudar” não era nem um pouco mentira. Mas tinha um que também de desculpa, sabe. Toda hora que o via se aproximar de mim (com o sorrisinho torto) eu sabia do que se tratava aquela abordagem e tirava da cartola a primeira desculpa concreta. Ele bem sabia o quanto eu estava me esforçando. Não que Sirius tivesse se tornado o meu melhor amigo; ele era, no máximo, um cara muito querido por mim. Tudo bem, as horas que passávamos conversando com o James e com o Remus depois das aulas (após de as meninas irem embora para o shopping, por exemplo) tinham nos aproximado bastante. Já sabia o nome dos pais dele, o nome do cachorro, do irmão e até do da empregada. Sirius tinha ânsia de me contar tudo sobre a sua vida, como se eu fosse, sei lá, a nova namoradinha dele, mas eu me retraía bastante, porque não estava acostumada com tanta intimidade. Eu tinha quase pavor de intimidade. Intimidade leva a compromisso, e compromisso pode ocasionar mágoas. E eu não estava disposta a me magoar.


Mas eu segurava tudo. Sorria a ele só para mostrar que tudo estava bem. Que, por mais que ele estivesse querendo muito mais do que eu podia oferecer àquele momento, estávamos bem.


Sirius, no todo, era até compreensível. Ofereceu-se diversas vezes para me divertir, até que uma tarde, pegando-me desprevenida, perguntou-me se eu não queria ajuda em Química e em Biologia. Tipo, não que eu fosse, sabe, burra, eu só tinha dificuldades, entende. E para falar a verdade, metade da sala não fazia idéia do que o professor espalhava pelo quadro todas as manhãs de terça-feira. Todos sabiam que eram reações e exercícios específicos de algum conteúdo dentro da Química, mas não entendiam ou não sabiam resolver. E o Ai-Meu-Olho era do tipo que se irritava facilmente se algum aluno fazia a mesma pergunta a ele. Eu mesma, que não era de ficar quieta durante as aulas quando tinha alguma dúvida, não ousava muito passar dos limites com ele.


Na segunda-feira, quando cheguei à escola, percebi que tinha teatro. É, mais uma vez tinha dormido mais do que o permitido, o que me fez quase surtar, porque pegaria apenas o último tempo e era a quarta semana seguida que faltava à aula de Literatura Inglesa e ainda não sabia que tema tinha pegado para o trabalho final. Teatro não era a minha matéria favorita, mas como era obrigatória, eu tinha que manter ao menos uma preferência fingida. O Sanchez era legal; não se parecia em nada com aquela professora idiota do HSM. Primeiro: ele era um cara, logicamente; segundo: para ele tanto fazia se estávamos realmente nos empenhando (o salário dele não mudaria se descobrisse um ator ou atriz ali); terceiro: tínhamos uma relação bastante próxima, porque ele não era frio e não ligava se eu não me importava com a sua matéria.


- Oi, desculpa – sussurrei precariamente assim que entrei ofegando na salinha fedida.


O professor, como sempre, sorriu e indicou que eu deveria me acomodar ao semicírculo mal-feito no chão pelos alunos.


Sentei ao final esquerdo, cruzei as pernas e tentei não me largar por inteira na frente do grupo. Não me lembrava a que horas da madrugada me levantara da mesa da sala, largando os livros lá, e ido para a cama. Quando despertei, já pela tarde, papai tinha deixado um recadinho na geladeira, dizendo que tinha ido tomar café da manhã com os caras do Clube de Leitura e ficaria na casa da Debby e do Carl, pois ambos tinham interesse em seu novo livro romancista. Tomei um longo banho, esperando que isso me animasse, comi o resto da lasanha que papai tinha feito no sábado e parti para a escola com minha camionete velha.


O Sr. Flower, o diretor, me olhara com o pior dos olhares, como sempre fazia quando me via chegando atrasada. Ele só não me expulsava ou me rodava porque eu tinha notas bem boas (tudo bem, Química eu ficava na média, mas isso não fazia de mim uma total idiota, afinal, todos têm dificuldades em alguma matéria, certo? Aposto como a maioria detesta matemática), e sabia que eu precisava estar ali. Oxford estava tão perto, quase a um palmo, e eu me esforçava completamente. E, além do mais, apesar de papai não receber tanto dinheiro pelos seus livros ótimos (não tinham vampiros nos livros dele, então isso meio que fazia as pessoas não se interessarem por eles) dava um duro danado para me manter na escola, do jeito que queria que sua adolescência tivesse sido, porque ele largara tudo no segundo ano.


Senti um cutucão leve nas costelas, o que me fez dar um pulinho de susto. Com os meus olhos ainda sonolentos, olhei para o meu lado.


Novamente, quem?


Ahãm, Sirius Black. Sério, parecia que ele me perseguia. Mas aí me lembrei que ele fazia aquela aula comigo.


- E aí, de novo atrasada, hum? – ele riu baixo.


- É, sempre – sorri tímida e cansada.


Esperava mesmo que não fosse dormir ali. Apesar de ter dormido bastante (ei, dormi até quase às duas da tarde), parecia que o sono estava se acumulando novamente, como se eu nem tivesse tirado os olhos dos livros há horas. E a minha cabeça latejava pungentemente, impedindo-me de me focar nas palavras de Sanchez. Queria pedir licença e correr até a enfermaria para pedir algum analgésico, mas como acabara de entrar achei que aquilo fosse soar como falta de educação.


- Lily e Dorcas querem falar com você depois da aula. Disseram que se você não viesse hoje iriam caçá-la – Sirius me informou.


 Depois de três semanas com Sirius junto a nós, Lily e Dorcas se acostumaram rapidamente com a presença dele. Os meninos ficaram animados por tê-lo como amigo, porque Sirius conseguiu ajudar o James a tempo com o seu trabalho de História e tinha conseguido uns livros bastante úteis de Botânica para o Remus, que estava um pouco perdido nessa matéria. Era incompreensível, mas eu estava gostando de ter Sirius sempre ao nosso lado. Sem contar que ele se autoconvidara um monte de vezes para ler os livros de papai, nas cinco vezes que tinha ficado para jantar lá em casa, o que deixou meu pai muito contente e ansioso. Há muito tempo que ninguém da minha idade dizia que estava com vontade de ler os livros românticos do meu pai, especialmente um garoto.


Às vezes, Sirius me acompanhava até em casa e estudávamos juntos, com meu pai sempre de olho, lá da cozinha, é claro. Como nenhum dos meus outros amigos tinha tanto interesse em passar uma tarde estudando, geralmente Sirius ficava lá até tarde, até mesmo depois do noticiário das nove. Ríamos, estudávamos, conversávamos, comíamos os cookies de papai, líamos as passagens dos livros pedidos pela escola, jantávamos, assistíamos a clipes da MTV e víamos o noticiário. Aí Sirius se despedia de nós e ia para casa, deixando-me com uma espécie de buraco no estômago, como se eu tivesse perdido alguém.


Minha mãe já tinha ido embora (de vez em quando eu falava com ela escondido de papai, para não chateá-lo), mas não conseguia saber se sentia sua falta. Com certeza amava seus almoços e suas músicas antigas, mas com sua partida não sabia se necessitava mais daquelas lembranças. Já com Sirius, sempre que ele partia, eu almejava que ele voltasse para conversar mais comigo. As nossas horas estavam sendo não necessárias a mim que, quando o fazia com Lily ou Dorcas, percebia que não era a mesma coisa, que preferia aquilo com Sirius. Eu sei, eu era idiota e não estava entendendo nada daquilo.


Então, em uma noite, entendi. Foi aquela noite que caí naquele buraco da traição. Não acreditara que conseguira me trair mais uma fez, mas acontecera. De novo, eu tinha quebrado mais uma promessa. Aquela promessa que fingia conseguir levar adiante.
 


>>Flashback mode on<<


Já passava da meia-noite e eu rolava de um lado para outro da cama. Reações exotérmicas represavam ou liberavam calor? Eu tinha estudado aquilo aquela tarde, porém não me recordava mais. Queria me levantar e procurar a resposta nos cadernos, mas sabia que acordaria meu pai, e que ele ficaria triste por saber que, mais uma noite, eu estava estudando demais. Nota mental: procurar o que é Reação Exotérmica. Tentei dormir. Fechei os olhos e imaginei um lugar calmo, perto da praia, onde podia ouvir ondas imaginárias baterem em pedras. Ouvia-as claramente agora. Tum. Era grave e rápido demais. Tum. Abri meus olhos. Tum. Franzia a testa. Eu já tinha parado de imaginar a praia, mas as ondas continuavam batendo. Tum. 


O barulho não era mais como ondas. Eram como um punho fechado batendo em algo.


Assustei-me.


Vagarosa e hesitantemente, fui tirando o lençol sobre meu corpo e me levantando da cama. 


Pé ante pé, descalça, segui o som. Vinha da sala.


Tum.


Alguém batia na porta. Seria o porteiro? Mas por que tão tarde? Não estávamos fazendo barulhos. Nunca fazíamos barulhos, na verdade. Eu e papai éramos os condôminos mais silêncios do prédio.


Olhei pelo olho mágico. Vi cabelos ondulados caindo maravilhosamente nas pestanas do garoto.


Coloquei a mão na boca, assombrada.


Fui até o quarto de papai e fechei sua porta. Então, abri a da frente e fiquei cara a cara com um Sirius muito bem vestido para um final de noite. Assim que ele passou os olhos pela minha calça de algodão e pela blusinha de alças arqueou uma sobrancelha. Droga, tinha me esquecido de colocar um casaquinho por cima. Atender a porta no meio da noite para um cara gostoso e sexy sem sutiã não é muito confortável.


- Hum, oi – falei – O que faz aqui? Sabia que já passa da meia-noite?


- Ei, relaxa. Quero levá-la a um lugar – o do sorrisinho fofo e torto me disse. Meus peitos sem um sutiã não pareciam incomodá-lo.


Quase soltei uma gargalhada. Oi, eu estava tentando pegar no sono e ele aparecia na minha casa, querendo me levar para dar um passeio noturno?


- A essa hora? – franzi meu nariz.


- Com certeza. Adoro meninas de pijamas – ele riu, fazendo-me aborrecer e envergonhar ainda mais.


- Não sei se é uma boa idéia – assinalei.


- Claro que é. E pela sua cara você ainda nem dormiu, o que me leva a pensar que precisa de uma distração – Sirius rebateu convicto.


- Não preciso de distrações – argumentei.


- Ah, Lene, não banque a difícil. Noites também são para serem curtidas – ele sorriu.


Olhei para a porta fechada do quarto de meu pai. Se fosse uma saída rápida ele nem notaria...


- Hum, vou vestir alguma coisa – falei, deixando-o ali no corredor.


Apressadamente fui à busca de uma calça jeans limpa e um uma camiseta, sem me esquecer de um sutiã, claro.


Peguei minha bolsa de bolinhas, colocando dentro dela meu celular e as chaves de casa. Retornei à porta, onde Sirius ainda me aguardava.


- Aonde irá me levar? – perguntei assim que o vi de novo.


- Não posso revelar – ele riu, fazendo suspense.


Irritei-me, mas nada disse. Continuei calada até seu carro.


Ele pegou a rodovia II e nos afastamos ainda mais do centro. Comecei a ficar em pânico. E se ele fosse me fazer algum mal? Eu não sabia se o conhecia o suficiente para dizer se ele fosse, tipo, me levar a alguma festa a qual eu não estava a fim de ir.


- Chegamos – seu riso me deixou intrigada.


Estava muito escuro lá fora. Ouvia um barulho esquisito, como que de uma cachoeira.


- Estamos em uma reversa florestal? Existem reservas por aqui? – cochichei.


- Não, não – isso pareceu atiçá-lo ainda mais – Isso daqui não é uma reserva. Estamos em uma espécie de pequena hidrelétrica. É uma daquelas sub-hidrelétricas que construíram há uns anos, lembra?


- Elas ainda funcionam? Achei que as tivessem desativado – surpreendi-me.


- Sim, estão desativadas, mas como não removeram as turbinas, a força da água ainda as move. Mais de perto dá para ver melhor – ele agora segurou minha mão, para que eu não resvalasse nos cascalhos.


Quando ficamos sob as luzes quentes que iluminavam o local (aparentemente nem os holofotes o governo tinha desativado) sorri maravilhada. Pequeninas gotículas batiam em minha pele, mas não o suficiente para me encharcar. A incrível cascata que descia de uma das turbinas brilhava como um véu gigantesco de prata.


- Caramba – foi a única palavra que encontrei para expressar o que senti.


- Venha – ele me puxou por mais alguns metros e então subimos as escadinhas para chegar mais perto da queda d’água. A estrutura de ferro que nos segurava bambeava um pouco, mas não parecia corroída. Sentamo-nos lado a lado e ficamos observando a água velozmente cair.


- Por que não faz esse tipo de coisa? – Sirius me perguntou uma hora.


- Sair no meio da noite? – eu ri.


- Não, só fazer coisas que a distraia dos livros – explicou.


- Você sabe, não tenho tempo.


- Parece que está com tempo agora – analisou. Eu ri.


- Qualquer coisa, eu digo que me obrigou – falei.


- Ah – ele riu – Deveria sair mais, sério. Ao menos, aos fins de semana.


- Ah, de novo, não é? – eu ri – Não vai parar nunca de me convidar?


- Não.


- Por quê?


- Porque gosto de você, e amigos gostam de sair juntos aos fins de semana – ele deu de ombros.


- Não sou desse tipo, sabe.


- Que sai com os amigos no sábado? – Sirius franziu a testa ligeiramente.


- Não. Não sou esse tipo de menina – expliquei – Os caras não correm atrás de mim.


- Eu não estou correndo atrás de você, Lene – Sirius se divertiu – Só quero que você aja como uma menina típica. Ao menos, por uma noite.


- Estou sendo uma menina típica por essa noite, não estou? Então, acho que já tivemos o nosso encontro de domingo... bem, numa quarta à noite.


- Não é aqui que quero mesmo levá-la.


- Ah é? E para onde quer me levar? – inquiri.


- Quando sairmos, você saberá – ele sorriu mega fofo.


- Caramba, por que nunca consegue ser racional?


- Não sei, acho que detetives não são muito racionais – Sirius riu mínimo.


Ele juntou nossos dedos. E foi bem aí que senti. Aquela coisa. Olhei para ele e constatei que tinha acabado de quebrar minha promessa. Isso porque, no segundo seguinte, eu estava com os meus lábios nos dele. E, sério, não tinha beijado muitos caras na vida (talvez uns cinco), mas aquele beijo, sei lá, foi muito mais. Não foi apenas um beijo esquisito. Foi um beijo esquisito e amoroso. Eu detectei amor naqueles lábios, sabe. Não como se ele somente me amasse como amiga, mas como menina. E foi a melhor sensação da noite.


- Sirius – eu disse depois eu parti o beijo.


- Não diga nada, não estrague o momento, Lene – ele pediu, e eu, meio trôpega, deitei minha cabeça em seu ombro.


Ficamos ali por mais de uma hora olhando aquela água e nos beijando.


Não era coisa de amigo. Mas eu não sabia do que era.


>>Flashback mode off<<


Voltando ao teatro: Sirius ainda me encarava.


- Hum, tudo bem – respondi.


O restante da aula foi preenchido com exercícios de emoções, nos quais o professor concedera a mim e ao Sirius (que concordou em seu meu parceiro) mais uma estrelhinha dourada. 


Depois daquele inferno, Sirius me acompanhou até o pátio, onde ficamos esperando as meninas e James e Remus.


- O que vai fazer até o jantar? – ele me perguntou como quem não quer nada.


- Se eu não dormir antes, tentarei acabar o trabalho final de Escrita. Preciso ainda de mais sessenta páginas. Já terminou o seu?


- Não. Não sou muito de escrever, entende – Sirius me disse.


- Hm – resmunguei.


- Não quer jantar lá em casa?


- Hm, não dá. Tenho que fazer o jantar, porque meu pai está fora. Foi àquela palestra sobre Romance no Século XXI.


- Então, se jantar lá em casa, não precisa fazer janta – Sirius sorriu.


- Hm, olha, não dá mesmo – falei – Tenho que escrever aquela porcaria até semana que vem.


- Lene, você está fugindo de mim, ou o quê? – Sirius me perguntou, rindo.


- Não estou – neguei veemente e surpresa – Só não tenho...


- Tempo – ele completou – Entendo. Bem, quem sabe amanhã.


- Certo, pensarei – fingi prometer.


Logo as meninas chegaram e fomos para a casa de Dorcas ajudá-la a pintar sua casa. Sua mãe resolvera mudar o “ar” da casa, pintando as paredes da sala de douradas. Sim, douradas. Quando o Sol batia nelas era um caos só. Ofuscava a visão e quase nos deixavam cegas.


Lily ainda tinha aquela idéia fixa de que o Sirius estava apaixonado por mim e ficava horas devaneando sobre isso, até que eu me irritava e ia para casa. Não tinha contado sobre aquela semana que, quando Sirius ia lá para casa e não tinha ninguém por perto, ficamos nos beijando. Não sabia o que achariam se eu revelasse. Porque, oi, eu dizia que não gostava dele, mas adorava seus beijos e seu cabelo e seus olhos. Então, é, eu estava apaixonada, mas não conseguia admitir.


Dois dias depois, o James tinha me mandado uma mensagem. Ele quase nunca me mandava mensagens, só quando queria saber onde Lily estava (que, quase sempre, estava comigo ou com Dorcas).


FESTA DO JAMES NESSE SÁBADO, A PARTIR DAS 14H! TRAGAM SEUS BIQUINIS, GAROTAS!


Tipo, eu não gostava nem de usar saias ou vestidos, entende. Imagine um biquíni na frente de todas aquelas garotas super cool. É, nunca rolava. O James vivia dando esses tipos de festas no verão, mas se eu comparecia, só ficava vendo as meninas na água (incluindo a Lily e a Dorcas) e assistindo a filmes na sala.


Assim que quinta chegou e Sirius e eu tivemos que nos juntar para o período de Biologia II, ele logo me perguntou sobre a festa de James. Queria saber se eu iria.


- Não sei.


- Ah, Lene, assim você nem vai conseguir entrar na faculdade, porque vai morrer de estresse antes! – ele me disse.


- Estou fazendo o melhor que posso – me desculpei.


- Então, irá à festa?


- Não sei – repeti.


- Tudo bem, eu lhe pego às duas da tarde.


- Sirius! Eu não concordei.


- Não conscientemente, mas subconscientemente, sim – ele falou.


Bufei.


- Bem, você irá chegar lá em casa e vai se decepcionar.


- Não vou – ele me garantiu.


Rolei os olhos. O Sirius era um convencido, sabe.


E foi naquela mesma quinta-feira que ele, após nos encontrarmos nos jardins do fundo do colégio para nos beijarmos um pouco, me convidou para uma noite especial.


- Não vou – respondi.


- Não é só para você. Quero convidar também seu pai – ele me falou.


Opa, se meu pai estava sendo colocado no meio, era porque a coisa era séria.


- Por quê? - eu quis saber.


- Vamos para a sua casa que lá eu falo com o seu pai – Sirius respondeu.


- Mas Sirius! E se eu não puder mesmo? Você irá me forçar?


- Não, mas posso lhe chantagear – ele sorriu.


Sorri também.


Tudo bem, ele foi lá para casa. Passamos mais uma vez o resto de uma tarde estudando, vendo TV e nos beijando (isso porque papai não estava em casa, tinha ido até o fórum resolver umas coisas). Quando papai chegou da rua, perto das sete da noite (eu e Sirius tínhamos pedido uma pizza), Sirius, claro, foi lá abordá-lo.


- Hmm, senhor, tenho um convite a vocês.


Sério, eu me surpreendia com a polidez de Sirius para com meu pai. Meu pai adorava meninos simpáticos.


- Claro, Sirius, diga – papai sorriu com a lata de Coca Cola na mão – E pare de me chamar de “senhor”, porque ainda não preciso de andador ou de bengalas.


Rimos.


- Meu pai arranjou ingressos extras para o jogo de basquete da segunda divisão que acontecerá essa noite e quero convidá-los para assisti-lo comigo e com meus pais – Sirius disse, assim que parou de rir.


Meu pai, um eterno apaixonado em basquete, abriu a boca, esquecendo-se da lata na mão.


- Uau, Sirius, é mesmo? Tem certeza? Ingressos para nós? – eu sentia sua emoção preencher o apartamento; virou-se para mim, como se eu não estivesse ouvindo a conversa – Ouviu, Leninha?


- Claro, pai.


Nossa, o Sirius me surpreendia diversas vezes. Ele era um amor.


- O que acha de ir, Leninha? – papai me perguntou.


- Hm, pai, sabe que eu não... – eu tentei me desvencilhar daquele problema, mas não pude porque o Sirius estava fazendo aquela cara (que sempre fazia quando eu não o queria beijar na escola, por conta do risco de sermos pegos) para mim, e então desisti – Certo, certo, tudo bem – revirei os olhos.


- Ah, maravilha! – os dois disseram ao mesmo tempo.


Papai foi tomar um banho e, logo em seguida, eu também fui. Como sempre, escolhi uma roupa bem simples, apenas uma calça jeans preta, All Star e uma blusinha azul listrada. Prendi meu cabelo e disse aos caras que estava pronta. Meu pai tinha ido rapidamente pegar a correspondência com o porteiro e então Sirius e eu ficamos sozinhos por alguns minutos.


- Por que não anda com o seu cabelo solto? – ele me perguntou, olhando para meu rabo-de-cabelo.


- Não sei, acho que não gosto muito. Meu cabelo é meio revoltado – contei.


- Não pode soltá-lo apenas por hoje?


- Hm, por quê? Você tem um problema com o meu cabelo preso? – eu ri.


- Nunca a vi de cabelo solto. Quero ver.


- Hm, acho que não vai querer.


- Vamos lá, Lene.


- Caramba, como você é insistente – reclamei, soltando meus cabelos ondulados.


- Está vendo? Muito melhor – Sirius disse, passando os dedos por uma mecha.


- Seu doente – xinguei, rindo.


E então eu fui para o maldito jogo com o cabelo solto. Sirius não parava de acariciá-los, quando sabia que meu pai não estava olhando.


Lá no estádio, conheci a mãe e o pai de Sirius. Ambos eram muito educados e pareciam que tinham criado o filho para ser o espelho deles. Já irmão de Sirius, não estava lá, pois tinha ido a uma festa.


Apesar de toda animação dos pais dele e do meu, Sirius não parecia que queria mesmo prestar atenção ao jogo. Como os adultos estavam com os olhos na bola, tornava-se fácil que Sirius fizesse chegar seus lábios até meu ouvido esquerdo, sussurrando-me coisas, ou meramente para mordiscar o lóbulo de minha orelha. Toda fez que fazia aquilo, eu me arrepiava. Pergunta-me se não tinha chegado longe com ele. Tipo, mordidinhas na orelha? Eu, Marlene Mckinnon, permitindo isso? Desde quando? Então, mesmo que eu soubesse que estava mesmo apaixonada por ele, percebi que não podia continuar com aquilo. Okay, Sirius não tinha alterado o caminho para eu conseguir chegar ao meu sonho; na verdade, tinha-o facilitado, pois as tardes que estudava comigo tornava o estudo muito melhor, sem contar que tinha aprendido muito com ele. Mas eu não queria ter me apaixonado. Eu mal queria o amor, de fato. Não sabia se iria gostar de toda aquela carga de intimidade. Sirius me respeitava muito, não me leve a mal, mas eu sabia que uma hora aquela coisa iria acontecer. Sabe? E eu não iria me permitir chegar tão, tão longe. Não queria ter tanta intimidade com um garoto estando apaixonada, porque se caso houvesse alguma separação, ela seria bastante dolorosa. E, de novo, eu não estava disposta a sofrer.


Então, achei que deveria falar algo a ele. Muitas vezes cogitei virar para ele dizer: “Não dá mais, Sirius. Sinto muito. Temos que parar de nos beijar”. Mas sabia que, mesmo que ele não estivesse tão apaixonado por mim quanto eu estava por ele, eu o machucaria e não queria morrer com aquela culpa.


Sirius era muito fofo comigo. Era paciente, não ficava dizendo que eu deveria trocar minhas roupas velhas por algo mais de grife e não ficava dizendo que queria transar comigo. Ele só me beijava. Nem tinha rolado algum tipo de intimidade física ainda. Então, apesar de talvez saber que eu não passava de uma amiga para ele, Sirius era o tipo de cara certo para mim. Ajudava-me quando necessário, levava-me a lugares relaxantes e me beijava muito. Ele estava se tornando uma espécie de escape para toda aquela minha pressão.


Quando o jogo acabou, Sirius nos trouxe para casa, dizendo que tudo bem para ele. Eu fiquei feliz por aquilo.


Ao chegarmos em casa, papai esperou que eu descesse do carro e entrasse com ele, mas não fiz isso.


- Pai, já subo, okay? Preciso conversar uma coisa sobre o trabalho de Escrita com o Sirius – falei.


Papai, já um pouco cansado, concordou, agradeceu ao Sirius pela noite e se despediu brevemente dele.


- Seu pai pareceu se divertir hoje, hum? – Sirius comentou.


- É – concordei, me aconchegando em seu peito e fechando os olhos.


- É melhor entrar, já está caindo de sono – Sirius cutucou gentilmente a minha bochecha.


- Já vou – disse eu. Falava com ele sobre o nosso lance ou não? Será que o magoaria demais? Será que me magoaria demais?


- Hoje, nada de saídas, certo? – ele me disse.


- Que bom – respondi.


- Sério, Lene, vá para cama. Você nem sabe o que está falando mais – ele riu.


- Cala a boca – pedi e fiz minha boca encontrar a dele, demoradamente.


Beijamo-nos até meu pai telefonar para mim, questionando a minha demora.


Um pouco decepcionada e frustrada, despedi-me de Sirius e entrei em casa.


Papai estava tomando um copo de leite quando abri a porta.


- Lene, que demora – ele reclamou.


- Desculpe – pedi.


Meu pai, então, ficou tenso.


Captei o momento e percebi que depois daquilo viria perguntas íntimas. Ai, não.


- Hm, Leninha, você não está tendo alguma coisa com esse menino, está? – ele me perguntou.


Ui, pronto.


- Hm, não – corei e vi que ele percebeu e por isso resolvi abrir o jogo – Bem, mais ou menos. Nós nos beijamos algumas vezes, mas é só isso – deixei bem claro.


- Hm – ele fez – Sirius parece lhe fazer feliz.


- É, ele me faz. Muito mesmo – revelei.


- Vocês vão namorar?


- Não sei – ri – Acho que não.


- Ah – papai tirou a pelezinha de dedo – Bem, vá se deitar. Precisa de uma boa noite de sono – ele apontou para a porta de meu quarto.


Obedeci-lhe.


Tirei as roupas e as troquei pelo pijama descombinado. Apesar da contradição que sentia em meu peito por achar que aquilo seria exagerado, teclei a seguinte mensagem a Sirius:


EU AMO VOCÊ.


Não demorou nem cinco minutos e ele me respondeu:


VÁ DORMIR, LENE! (:


Ri baixo e descansei minha cabeça no travesseiro. Não pensei em nada, pois logo adormeci. 


x.x.x

N/a: Yeeeey *--* Mais um capítulo por causa do Natal. Sim. Então, divirtam-se! Amo todos os comentários de vocês e continuem assim (: 
       Desejo um Feliz Natal a todos e ótimos presentes (:
       Beeijo ;*

       Nina H. 


24/12/2010

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Comentários (2)

  • Lana Silva

    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkTipo Lene o sono é terrivel mesmo.  Amei o capitulo *-------------*Sirius tá conseguindo mudar aos poucos algumas coisas na Lene \O/amando mesmo flr, perfeitooo *-*beijoos! 

    2012-09-10
  • IsaBlack

    owwwwwwwwwwwn! *_________* Como assim: eu amo você; E  resposta: vai dormir, lene. ? asuhuashuahsuahsu :D liiiiiiiiiiindos! aiai... ^^ vou msm cumprir minha promessa (eu n sou feito a lene! rs.) e comentar todoooo cap! Não sei como não achei essa fic anteeees!

    2011-05-09
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