IDIOMA ESTRANHO



CAPÍTULO 7


 


IDIOMA ESTRANHO


 


 


 


 


 


 


 


 


O segundo caso de petrificação em Hogwarts não pôde mais ser mantido em segredo, principalmente porque todos notaram a ausência de Colin Creevey nas aulas. O problema é que aquilo começou a render uma nova onda de desconfiança e suspeita em direção a Harry, sendo que um dos maiores disseminadores de boatos era Ernest McMillan, da Lufa-Lufa. O texugo loiro levantava hipóteses que dariam inveja no mais fanático adepto da Teoria da Conspiração, dizendo que Harry tinha tudo para ser o Herdeiro de Slytherin, fundamentando suas especulações no que Montague havia dito após a petrificação de Argus Filch e no assédio do pequeno admirador de Harry, que teria sido petrificado por ser de origem trouxa e para deixar de importuná-lo.


 


Naquela mesma manhã, Harry teve alta da Enfermaria, com os ossos de seu braço direito já reconstituídos, embora o membro ainda estivesse pouco sensível e com a sensação de estar endurecido e meio entorpecido.


_Essa sensação vai passar, assim que você começar a mover mais o braço, Sr. Potter. Pode ir, já não há nada que o prenda por aqui. _ disse Madame Pomfrey _ Por enquanto, pelo menos. Puxou ao pai, que sempre vinha parar aqui, com lesões do Quadribol.


 


Harry saiu da Enfermaria e, logo em seguida, encontrou-se com Rony, Hermione e Algie. No caminho, Gina e Luna alcançaram o grupo, logo seguidas por Neville, Soraya e Nereida, todos preocupados com ele.


_Agora já estou melhor, gente. Mas não desejo para ninguém a sensação dos efeitos do tal de Esquelesce. _ disse Harry.


_Algie nos disse o que aconteceu com Colin Creevey. _ disse Gina.


_Então a Câmara Secreta é real. _ disse Luna _ Como papai já desconfiava.


_Mas ninguém dava crédito a Nigel Xenophillus Lovegood, devido à linha incomum do Pasquim _ comentou Nereida.


_Só que agora vai ficar difícil de negar. _ disse Neville _ Ainda mais depois de duas petrificações de alunos de origem trouxa.


_O que nos leva a pensar... Se formos acompanhar as lendas, a pessoa que abriu a Câmara deve ser o Herdeiro de Slytherin. _ disse Soraya _ Mas quem poderia ser?


_Não sei. _ respondeu Gina, de mãos dadas com Harry _ Mas, se estiver por aqui, só pode ser aluno, professor ou funcionário.


_Tem razão. Dificilmente seria gente de fora. _ disse Hermione.


_Até porque seria quase impossível entrar em Hogwarts sem ser percebido.


_A não ser, Rony, que a pessoa tivesse conhecimento das passagens secretas da escola, inclusive daquelas que nem Fred e Jorge conhecem. _ disse Algie.


_Ainda assim, o leque é grande. _ disse Gina _ Embora possamos restringi-lo um pouco, priorizando os sonserinos. E quem faz parte de uma família que está na Sonserina quase que desde a fundação de Hogwarts?


_Draco Malfoy. _ respondeu Soraya _ Será que meu “querido priminho” pode ter algum envolvimento com isso?


_Acho pouco provável que ele tenha envolvimento. _ disse Harry.


_Malfoy vai ter de lhe dar um baita presente de Natal, Harry. Você sempre está dando votos de confiança àquela lombriga oxigenada. _ disse Rony.


_Eu disse que ele não tinha ENVOLVIMENTO na coisa. _ disse Harry, pensativo, enquanto caminhava _ O que não significa que ele não possa ter CONHECIMENTO de algo, talvez alguma história do tempo de seus pais ou avós. Como Gina disse, os Malfoy estão na Sonserina há muitos séculos e pode haver algum fato, alguma história que Draco somente sinta-se à vontade para contar entre Serpentes.


_Pode ser. _ disse Nereida _ Se bem que ele dificilmente iria abrir-se comigo, devido a eu estar sempre com vocês e também porque mesmo na Sonserina o pessoal me vê de modo diferente por eu ser considerada “meio-grifinória”, por causa da minha mãe, embora ninguém diga nada abertamente porque papai é o Diretor da Casa. Acho que nem mesmo meu pai sendo padrinho dele, Draco me diria algo de mais privado.


_Hein?! _ admirou-se Neville _ Severo Snape é padrinho de Draco Malfoy?


_Pouca gente sabe disso, foi no final dos Dias Negros. Dizem que Lucius Malfoy chegou a convidar o próprio Lorde e que ele estava inclinado a aceitar. Mas, quando soube que Narcisa havia feito o convite ao meu pai, declinou em favor dele. Não sei por que razão. Nem sei se essa história é verdadeira.


_Difícil imaginar aquele demônio com cara de cobra sendo padrinho de alguém. Mas, de Lord Voldemort, pode-se esperar qualquer coisa. _ comentou Soraya _ Ei, Mione, por que você está tão calada?


_Estava pensando... se Draco Malfoy poderia abrir-se com alguém da Sonserina, talvez os mais indicados fossem o par de trasgos que sempre o acompanham, como se fossem guarda-costas. _ disse Hermione.


_Fala de Vincent Crabbe e Gregory Goyle? _ perguntou Luna _ Faz sentido, Malfoy poderia contar qualquer coisa àquelas gárgulas que elas esqueceriam no minuto seguinte.


_Não sei não, Luna. _ disse Nereida _ Aqueles dois gorilas só fingem-se de burros. Não têm nada de bobos, são mesmo amigos de Draco e realmente parecem protegê-lo de alguma coisa.


_Só se for das investidas da Pansy Parkinson. _ disse Rony _ Aquela lá não desgruda dele e, segundo eu soube, é apaixonada por ele desde a primeira infância.


 


Todos riram com o comentário do ruivo.


 


_Mas qual é a sua ideia, Mione? _ perguntou Harry.


_Lembro-me de que o Prof. Snape mencionou em uma aula, outro dia, algo sobre uma poção capaz de fazer com que uma pessoa assuma, por tempo limitado, a aparência de outra.


_Fala da Poção Polissuco, Mione? _ perguntou Soraya _ Soube que ela já foi muito utilizada para missões de espionagem, durante os Dias Negros.


_Exatamente, Soraya. Se dois ou três de nós pudessem substituir sonserinos, preferencialmente Crabbe e Goyle, além de um terceiro à escolha, talvez Draco pudesse dizer alguma coisa que não diria normalmente.


_Já estou achando que vai sobrar para nós. _ resmungou Harry, olhando para Rony.


_Deve ser o destino. _ disse Rony _ Mas como vamos conseguir a fórmula e as instruções de preparo? Com certeza não está nos livros da disciplina de Poções para o segundo ano.


_Nem do sétimo, Rony. _ disse Hermione, abraçando o namorado e fazendo uma cara meio desanimada _ Pelo que eu soube, ela se encontra em um livro raro, guardado na Seção Reservada da Biblioteca, intitulado “Poções Muy Potentes”. Só que para podermos retirá-lo, será necessário driblar aquele urubu da Madame Pince. Só mesmo com a solicitação de um adulto.


_Teria de ser um professor ou alguém com um status semelhante. _ disse Gina, pensativa _ Só que ninguém seria tão tapado ao ponto de solicitar esse livro, a pedido de um grupo de jovens de onze e doze anos.


_Realmente, o sujeito teria de ser muito lesado... _ e Harry foi interrompido por um tapinha nas costas. Ao voltar-se, deu de cara com Gilderoy Lockhart, desta vez trajando vestes verde-água.


_Harry, eu queria pedir desculpas por meu erro com seu braço, ontem. Se houver alguma coisa que eu possa fazer para compensá-lo, é só pedir. Não tenha pressa, pode pensar com tranquilidade. Certamente deve haver algo de que você precise, uma dica, uma orientação, algo do tipo. Sei que você é um bom aluno e que sua amiga, a Srta. Granger, é um dos cérebros mais privilegiados de Hogwarts, mas alguém com mais experiência sempre poderá ser de grande utilidade.


_Obrigado, Sr. Lockhart. _ disse Harry _ Creio que precisaremos de sua ajuda, proximamente. Pode estar certo de que irei procurá-lo.


_Sem problemas, Harry. Estarei ao seu dispor. _ disse Gilderoy, dando um de seus sorrisos cintilantes e seguindo seu caminho.


_Caracas, Harry! O cara esvaziou seu braço e você ainda foi gentil com ele. Qualquer outro iria, no mínimo, mandá-lo para “Aquele Lugar”. _ disse Rony _ Por que você agiu assim?


_A primeira razão, Rony, é que o simples fato de Gilderoy Lockhart estar apavorado com a possibilidade de meu pai fazer brotarem urtigas-bravas do traseiro dele já me deixa para lá de satisfeito. _ disse Harry, enquanto todos riam.


_E qual seria a segunda? _ perguntou Algie.


_A segunda razão, maninho, é que eu acho que encontramos o nosso pato e ele está prontinho para ser depenado. _ respondeu Harry, com uma cara marota que o deixava mais parecido com Tiago _ Gilderoy ainda nem faz idéia da ajuda que vai nos dar.


Entre risos, seguiram pelo corredor, até que encontraram com Draco Malfoy, logicamente acompanhado por Crabbe e Goyle.


_Oi, Harry. Como vai o braço?


_Recuperado, Draco, muito obrigado.


_E as “partes”, Malfoy? _ perguntou Rony, em tom de gozação, mas realmente preocupado com Draco, graças à famosa “solidariedade masculina”. Afinal, era preciso ser homem para ter idéia da dor pela qual Draco Malfoy havia passado..


_A continuidade da linhagem Malfoy está garantida, Weasley, não fique preocupado. _ respondeu Draco, também em tom brincalhão _ Ah, tenho novidades. Eu soube que depois da petrificação de Colin Creevey que, aliás, não fará muita falta...


_MALFOY! _ disse Luna olhando feio para Draco.


_... Brincadeira, gente. _ desculpou-se o loiro.


_E de mau gosto. _ disse Hermione.


_Bem, eu soube que o Clube de Duelos será reaberto, por iniciativa do Sr. Lockhart. _ disse Draco _ E será dirigido por ele, pelo Prof. Snape e pelo Prof. Mason, com a primeira reunião prevista para a noite de terça-feira. (“Mais um item para a agenda cheia dos Inseparáveis”, pensou Harry).


_Ainda bem que vai ter gente competente. _ disse Neville _ Se deixássemos somente por conta do Lockhart, imaginem a meleca que iria sair.


_Com certeza, Longbottom. _ disse Draco _ Bem, vou indo. Greg, Vince, vamos nessa.


 


Os dois brutamontes seguiram Draco, enquanto os Inseparáveis foram para o pátio, aproveitarem o domingo enquanto o sol ainda estava bom e o tempo não havia esfriado demais, embora estivesse prevista queda de neve, proximamente, talvez para a semana seguinte.


 


_Vai ser bom termos instrução de duelos. _ disse Gina _ Quem sabe se não teremos de nos defender de algum perigo?


_Principalmente os pobres alunos normais, aqueles que não possuem treinamento Ninja, não é? _ brincou Nereida.


 


Todos riram.


 


Naquele meio tempo, Draco Malfoy deu uma desculpa a Crabbe e Goyle, enquanto retornava para a Sala Comunal da Sonserina. Chegando ao dormitório, pegou uma prancheta, um pergaminho, pena e tinteiro. Procurou por um lugar que lhe proporcionasse a privacidade necessária e entrou no banheiro, trancando-se em um dos boxes. Pensando em como faria, começou a escrever uma carta que, daquela vez, não seria anônima. Ele queria que o destinatário soubesse que ele era o remetente, principalmente porque vira algo em suas mãos que ele tinha certeza absoluta de que representava grande perigo.


 


Algo que já vira antes, nas mãos de seu pai.


 


Na noite de terça-feira, em uma grande sala do terceiro andar, a primeira reunião do Clube de Duelos teve início, com todos os alunos interessados reunidos à volta de um tablado, sobre o qual se encontravam Lockhart, Snape e Mason. O primeiro tratou de tomar a frente das atividades, devidamente trajado para tal, com luvas e um colete de esgrima que exibia seu brasão de família.


_Boa noite, alunos. Com a colaboração de Severo Snape e Derek Mason, que concordaram em atuar como meus auxiliares, pretendo deixá-los um pouco mais preparados para que possam defender-se de eventuais ameaças. _ disse ele, com mais um de seus sorrisos cintilantes, arrancando suspiros de algumas alunas.


Mason e Snape apenas entreolharam-se, fazendo uma cara de “deixa-o-pavão-exibir-a plumagem”. Os três posicionaram-se para uma demonstração.


_Primeiramente, vamos simular uma situação de ataque e defesa, na qual vocês poderão envolver-se... _ ia dizendo Mason, mas foi interrompido por Lockart.


_... E podem acreditar que eu já passei por muitas dessas, meus jovens. Inclusive tendo de duelar contra mais de um oponente ao mesmo tempo. Derek e Severo irão me atacar e eu demonstrarei a defesa e o contra-ataque.


_Tem certeza de que pode contra nós dois ao mesmo tempo, Gilderoy? Acho que você está dando o passo maior do que a perna. _ preocupou-se Snape.


_Fique tranquilo, Severo. _ e voltou-se para os alunos _ Não se assustem, devolverei seus professores inteiros para vocês, talvez um pouco amarrotados.


 


Naquele momento, Mason e Snape entreolharam-se novamente, mas com caras que, se Gilderoy tivesse um pouquinho de juízo, sairia correndo ao vê-las. Postando-se frente a frente, os três cumprimentaram-se, Snape e Mason com curtas reverências protocolares e Gilderoy com uma reverência extremamente floreada.


_Se eu não conhecesse a fama que esse cara tem com as mulheres, pensaria que ele era boiola. _ sussurrou Dean Thomas, ao ouvido de Seamus Finnigan. Harry Potter e Justin Finch-Fletchley, que estavam perto, seguraram o riso.


Em seguida, afastaram-se cerca de dez passos e posicionaram-se para lançarem seus feitiços.


_Podem atacar. Vou bloquear e contra-atacar. _ disse Lockhart _ Não precisam conter a força (“Foi ele mesmo quem pediu”, sussurraram Derek e Severo, um para o outro, ambos com sorrisos malvados no rosto).


 


_EXPELLIARMUS!!! _ bradaram Snape e Mason ao mesmo tempo, disparando o Feitiço de Desarmamento com toda a força que puderam reunir. Gilderoy Lockhart foi atingido em cheio e lançado pelo ar, rodopiando até atingir a parede oposta e cair no chão. Por sorte, todas as paredes e boa parte do chão estavam revestidas por colchões e tatames.


_Será que ele está bem? _ perguntou Lilá Brown.


_E quem está ligando? _ redargüiu Neville.


_Fica fria, Lilá. _ disse Algie _ Vaso ruim não quebra fácil.


_Tudo bem com você, Gilderoy? _ perguntou angelicalmente Derek Mason, fingindo preocupação. O Auror, filho do sonserino Hiram e da corvinal Renata, sabia ser bastante sacana quando era preciso. Severo Snape limitou-se a olhar, aparentando sua habitual indiferença, mas gargalhando por dentro _ Tem certeza de que não quebrou nada?


_Continuo inteiro, Derek. _ disse Lockhart, segurando um gemido de dor e levantando-se _ Será preciso mais do que isso para me incapacitar. Vamos novamente...


Ao ver a cara de Snape, mudou de idéia. O olhar do professor de Poções dava a entender que ele poderia sair dali dentro de um frasco.


_... Pensando bem, creio que os alunos já devem ter tido uma idéia geral daquilo que deve ser feito. Poderemos dividi-los em duplas, para que treinem ataque e defesa.


_Mesmo porque outra dessas ele não agüenta. _ sussurrou Soraya para Hermione, enquanto os Inseparáveis seguravam o riso.


 


As duplas começaram a ser formadas e Rony foi colocado com Harry. Naquele momento, Snape e Mason intervieram.


_Gilderoy, a varinha do Sr. Weasley não está cem por cento confiável. Seria melhor que ele fizesse par com um professor. _ disse Snape _ Enquanto isso, poderíamos ver um outro parceiro de treino para o Sr. Potter.


_E quem você sugere, Severo? _ perguntou Lockhart.


_O Sr. Malfoy está sem parceiro. Creio que ele não faria objeção em fazer dupla com o Sr. Potter.


_Enquanto isso, o Sr. Weasley poderia fazer dupla comigo. _ disse Mason.


_Certo, Prof. Mason. _ disse Rony _ Afinal, o senhor pode fazer algo se minha varinha começar a dar problemas.


Quando chegou a hora de Harry e Draco fazerem sua demonstração no tablado, Snape manifestou-se.


_Como filho de Auror, principalmente um tão experiente quanto Tiago, o Sr. Potter deve possuir um certo conhecimento de Feitiços de Combate, principalmente pelo que testemunhamos no ano passado, quando ele atingiu um Death Eater com um “Сибирский Нокаут”, um “Nocaute Siberiano”. Não é qualquer bruxinho que consegue invocar aquele punho de gelo, sem contar que o Sr. Potter também consegue invocar o “Διός Τυκός” o “Machado de Zeus”, o qual soubemos que ele usou contra o próprio Lorde das Trevas. Creio que o Sr. Malfoy não precisará se conter. _ disse ele, com um olhar bastante significativo para Draco. Os dois garotos posicionaram-se e trocaram os cumprimentos protocolares.


 


_Acho que o Prof. Snape está querendo ver o circo pegar fogo, Harry. E agora, o que a gente faz? _ perguntou Draco _ Terei de pegar pesado e mostrar o que sei e olha que não é pouca coisa.


_Pode mandar que eu dou conta, Draco. _ respondeu Harry, com tranqüilidade e confiança.


_Então, lá vai. “Everte Statem”!! _ um forte raio partiu da varinha de Draco e foi contido por Harry, embora tivesse feito o garoto recuar quase uns dois metros com a onda de choque.


_Muito bom. “Protego”! “Rictusempra”! _ Harry contra-atacou rapidamente e Draco não conseguiu proteger-se _ Vamos rir um pouquinho, Draco.


Rindo sem parar com o Feitiço de Cócegas, a muito custo Draco Malfoy conseguiu encerrá-lo e reagir.


_ “Finite”! Pega essa agora, Harry. “Culex”! _ uma nuvem de mosquitos envolveu Harry, que tratou de dissipá-la.


_ “Zephyr”! Essa foi boa, Draco. Mas que tal isso, para aumentar minha vantagem? “Tarantallegra! Cinta Evanesco”! _ Com o feitiço de Harry, o cinto de Draco desapareceu e suas calças caíram. Até ele riu, enquanto suas pernas moviam-se, descontroladamente, até que ele encerrou o feitiço.


 


_Sr. Malfoy, coloque o Sr. Potter frente a frente com uma ameaça real. Use aquele Feitiço Conjuratório que treinamos. _ disse Snape.


_O senhor tem certeza, Prof. Snape? _ perguntou Draco, ainda segurando as calças e, ante a afirmativa do professor, atacou _ Harry, cuidado com essa, agora. “Serpensortia”!


 


Uma Naja de cerca de um metro e meio foi conjurada e enrodilhou-se no tablado, entre Harry e Draco. Harry preparou-se para dar um jeito nela, mas Snape aproximou-se dos dois, querendo pegar no pé do bruxinho.


_Calma, Potter. Deixe que eu me livrarei dela para você.


Mas, intrometendo-se, Gilderoy Lockhart brandiu sua varinha.


_Não, Severo. Não se preocupe. Pode deixar tudo por minha conta (“Esse era o meu medo. Agora é certo que vai dar zica”, pensou Mason). “Alarte Ascendare”! _ bradou ele.


 


Em vez de desaparecer, a cobra subiu cerca de cinco metros e caiu, batendo no chão e ficando mais irritada. Então, estacou em frente a Justin Finch-Fletchley, prestes a atacá-lo. Harry estava próximo e poderia paralisar a Naja mas, em um reflexo, gritou.


_ “PARE! NÃO ATAQUE”! _ inacreditavelmente, a serpente parou e encarou Justin. Sem perceber o que fazia, Harry continuou falando _ “FIQUE QUIETA, ELE NÃO LHE FEZ NADA”! “AFASTE-SE”!


 


A Naja afastou-se de Justin e enrodilhou-se no meio do tablado, permanecendo quieta. Todos estavam silenciosos e de olhos arregalados, olhando para Harry. Até mesmo os Inseparáveis e mais Lockhart, Snape e Mason tinham expressões estranhas no rosto.


 


_Que tipo de brincadeira você pensa que está fazendo, Harry? _ perguntou Justin, olhando para o colega entre assustado e indignado.


 


_Creio que já é o bastante por esta noite. _ disse Mason _ Vamos todos nos recolher.


_De acordo, Derek. “Vipera Evanesco”! _ com um feitiço, Snape fez com que a cobra desaparecesse e todos saíram da sala.


 


Harry ia abrir a boca para perguntar o motivo de toda aquela confusão, mas Hermione tratou de puxá-lo e sair com ele do meio da multidão.


_Não diga nada, Harry. Vamos para a Sala Comunal.


 


Entrando e saindo de várias passagens secretas e atalhos, chegaram à Sala Comunal antes de todos, mas não antes das notícias. Pirraça havia encarregado-se daquilo, com muita eficiência. Tanto que, ao entrarem na Sala Comunal, vários dos colegas que estavam lá deram uma desculpa e recolheram-se aos dormitórios. Melhor, pois as poltronas ficaram todas para os Inseparáveis que puderam conversar com mais privacidade, assim que os restantes chegaram.


 


_Harry, você é Ofidioglota! _ exclamou Rony.


_Como eu poderia? Não faço a menor ideia de como se fala Ofidiano.


_Mas você falou com a cobra que Malfoy conjurou. _ disse Algie _ Parecia que você a estava dominando.


_Foi um reflexo! Não sei por que eu gritei com ela, em vez de usar um Feitiço de Desaparição!


_Lembra-se, Harry, de algo parecido que aconteceu quando éramos menores? Certa vez fomos ao zoológico e Duda começou a bater no vidro de uma jiboia, que deu mostras de estar incomodada. Nossos pais e mais Tio Válter e Tia Petúnia não repararam, mas eu vi que a cobra ficou te encarando. Harry tinha oito anos e eu sete.


_Agora que você comentou, Algie, eu estou me lembrando. De algum modo, fiquei sabendo que ela, embora nascida em cativeiro, queria conhecer o Brasil, de onde seus pais haviam vindo. E ainda há um outro fato. Lembram-se de quando alguns Death Eaters tentaram me sequestrar, no ano passado?


_Sim, você usou o “Nocaute Siberiano” em um deles. _ disse Soraya _ Foi o bastante para segurá-los até a chegada de Dumbledore.


_Eu é que não queria estar na pele daquele que levou o “Machado de Zeus” do Prof. Dumbledore. Deve ter ficado mancando um tempão.


_Ficou mesmo. _ disse Harry, lembrando-se de suas suspeitas _ Mas eu quero citar o fato de que, naquele dia, Nagini me apertou.


_Nagini? _ perguntou Gina _ Fala daquela cobra de estimação do Voldemort?


_A própria. Ela e Voldemort estavam em contato telepático e eu entendia o que a cobra falava. Só que eu nunca soube lhufas de Ofidiano, nem sei se há livros ou dicionários que traduzam esse idioma esquisito de silvos e bufos para língua de gente. Talvez um Feitiço de Idioma.


_Tipo um “Vernaculum Ofidiana”, por exemplo? _ sugeriu Hermione, lembrando-se do que já lera _ Mas seria preciso muito poder para usá-lo. Quanto mais complicado ou antigo e desconhecido é o idioma, mais difícil é a execução do feitiço. Se a pessoa não nasceu com a capacidade, não é fácil aprender o idioma ou usar um feitiço para falá-lo. Teria de ser alguém com o nível de poder de Snape, Mason, McGonnagall, Flitwick ou, mais provavelmente, de Dumbledore.


_Ou seja, do nível de Gilderoy Lockhart, nem por sonho. _ disse Soraya e todos riram.


 


_O pior é que agora vão desconfiar mais ainda de que você possa ser o Herdeiro de Slytherin, Harry. _ disse Neville _ Lembra-se de que o velho Salazar Slytherin era Ofidioglota? Pois não vai faltar gente para pensar que você possa ser um descendente.


_Nem pensar. _ disse Harry _ Estudei a linhagem dos Potter o mais que pude e, até onde alcancei, não vi nenhuma ligação com Slytherin.


_Se bem que, como Salazar Slytherin viveu há mais de mil anos, a exatidão dos registros não pode ser confirmada. _ disse Algie _ E se isso fosse possível, poderíamos ter uma ligação.


_Brrr, nem imagine isso. _ disse Harry, enquanto Gina o abraçava, diante do olhar comicamente furioso de Rony _ Slytherin lembra serpentes, Sonserina e tudo o que pode ter ligação com as Trevas. Aliás, alguém tem mais algum dado para atualizar o “Dossiê Voldemort”?


_Pouca coisa, algo sobre atentados ocorridos na Rússia, durante os anos da Guerra Fria. _ disse Hermione, disfarçando um bocejo _ Mas acho que dá para vermos isso amanhã. Já está tarde e mais uma semana de aulas está para começar. Eu estou indo dormir. Quem me acompanha?


_Eu. _ disse Gina, dando um beijo em Harry e levantando-se.


_Eu também. _ disse Soraya _ O soninho está começando a bater.


 


Os garotos também levantaram-se e dirigiram-se aos dormitórios. Afinal, o fim de semana não durava para sempre. Harry anotou mentalmente que teria de pedir desculpas a Justin Finch-Fletchley pelo susto e explicar ao texugo que não sabia como havia falado em Ofidiano.


 


Pelo seu lado, Hermione ainda estava pensando em algo que ocorrera durante a sessão de treinos do Clube de Duelos.


Havia feito par com Millicent Bulstrode, da Sonserina e, em um momento no qual as duas estiveram próximas, a loira abrutalhada sussurrara algo ao seu ouvido, que deixara Hermione Granger entre surpresa e enciumada, fazendo-a lembrar-se do Natal do ano anterior, quando haviam viajado na mesma Troyka até a estação de Hogsmeade e ela notara os olhares da outra para o ruivo.


A sonserina dissera: “Você pode ser um prodígio e talvez achar-se melhor do que os outros. Mas Ronald Weasley é muito mais do que você merece e esteja certa de que você não está à altura do amor dele, sua CDF Traça-de-Livros”!


 


No dia seguinte, aproveitando o fato da aula de Herbologia haver sido cancelada por causa das primeiras neves, que começaram a cair subitamente e com força, Harry saiu à procura de Justin, para desculpar-se com ele. Sem conseguir encontrá-lo, entrou na Bieblioteca e aproximou-se de um grupo de alunos da Lufa-Lufa que estavam entretidos em uma conversa em voz baixa, Ernest McMillan entre eles.


 


_Alguém viu Justin? _ perguntou Harry.


_Por quê? O que quer com ele? _ perguntou McMillan, de modo meio grosseiro.


_Baixa a bola, Ernie. _ disse Harry _ Eu só quero pedir desculpas pelo susto e explicar que não faço a menor idéia de como foi que falei em Ofidiano.


_Tá, conta outra. Sua fluência era a de quem nasceu sabendo falar o idioma.


_E como é que você sabe? _ perguntou Harry, de forma provocativa para o colega, que se dera conta do que acabara de dizer _ Por acaso conhece o Ofidiano? Vá catar besouros, Ernie! Acha mesmo que eu mandaria aquela cobra atacar o Justin? Eu simplesmente acabei gritando com ela, em um reflexo. Nem sei como foi que as palavras saíram em Ofidiano, mas o mais importante é que o bicho ficou quieto e não atacou.


_Até parece. Antes que tenha idéias, aviso que sou puro-sangue há, pelo menos, umas nove gerações.


_Não estou nem aí se você é puro-sangue, mestiço ou de origem trouxa. Só sei que preciso pedir desculpas ao Justin e vou encontrá-lo. Com licença.


 


Harry saiu rapidamente da Biblioteca e quase caiu sentado, ao trombar com Hagrid.


_Desculpe, Harry. Para quê a pressa?


_Estou procurando Justin Finch-Fletchley, para explicar o que aconteceu ontem à noite. E esse galo morto, Hagrid? Vai fazer algum despacho de macumba? Eles são mais comuns no Brasil.


_Não, nada disso. _ disse o enorme Guarda-Caça, rindo _ Essas práticas não são bem vistas em Hogwarts. Há algum tempo, alguns galos têm amanhecido mortos e eu acredito que possa ser obra de um bicho-papão ou de alguma raposa. Agora, que o inverno está chegando, elas ficam mais desesperadas atrás de comida e podem ficar mais ousadas. Como você sabe, eu não posso usar magia sem permissão, pois não cheguei a me formar. Então, vim procurar Dumbledore, para que ele me autorize a lançar um Feitiço de Proteção no galinheiro. Bem, até logo. Espero que você o encontre, para deixar claro que não tem nada a ver com aquele velho doido do Slytherin.


 


Hagrid seguiu para um lado e Harry para o outro, prestando atenção nas salas, para ver se encontrava Justin Finch-Fletchley. Até que, virando em uma curva dos corredores, viu algo que o deixou arrepiado, sem que tivesse nada a ver com a manhã gelada.


 


O Fantasma-Residente da Grifinória, Sir Nicholas de Mimsy-Porpington, estava parado, flutuando no meio do corredor.


Só que ele não estava como habitualmente, branco-perolado e translúcido.


Ele estava enegrecido, com uma aparência chamuscada.


E, caído junto a ele, havia um aluno de Hogwarts, um aluno do segundo ano (“Agora sim, o caldeirão acabou de entornar e a poção desceu toda pelo ralo”, pensou Harry).


 


O aluno em questão era da Lufa-Lufa.


 


Mais precisamente, Justin Finch-Fletchley.


 


Petrificado.


 


A terceira vítima.

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