Limón y Sal



Domi não se preocupou em esperar a amiga acordada. Seja lá o que ela fazia quando dizia que “tinha assuntos a resolver” ela nunca voltava muito cedo e quando voltava normalmente estava de mau-humor, então ela dormiu despreocupada.


Sarah achava que ela e Alastair não sabiam do que se tratavam suas escapulidas, mas eles sabiam que tinha alguma coisa a ver com homem. Só isso explicaria porque ela passara de uma verdadeira “piriguete” a moça correta. Era até mesmo difícil conversar com ela sobre os gatos do colégio, porque ela simplesmente não prestava mais muita atenção neles!


A única coisa que ela queria saber era quem era esse tal namorado misterioso da loira. E não era a única. Mas ela fazia tanta questão do segredo a respeito disso tudo que Domi e Alastair desistiram de investigar. Sarah devia ter um bom motivo para querer esconder deles.


De qualquer forma, aquilo não mudava o fato de que eles se divertiam muito andando pelo castelo “coletando” possíveis pretendentes. De Potter a Malfoy passando por Snape e Filch (“nojento!”). Mas nenhum valeria a pena o segredo e outros não passavam de brincadeira. Quer dizer... Filch? Fala sério!


O problema é que naquela quarta-feira Domi pensou seriamente em quais seriam os possíveis pretendentes. Porque pela primeira vez acordou e Sarah não estava dormindo na cama ao lado.


Depois do susto ela decidiu acatar a idéia de Leslie, sua colega de quarto. Vai ver ela simplesmente passou a noite fora com o seu namorado. Não que as pessoas fizessem aquilo com muita freqüência ali em Hogwarts, mas acontecia.


Então Domi foi tomar o café da manhã. E nada de Sarah. Então foi a vez de Alastair a acalmar: “Se ela passou a noite fora é provável que ela se atrase um pouco”. Mas dessa vez Domi não acreditou. Ela podia ser meio doida às vezes, mas Sarah era responsável. Ela era uma Corvinal, pelo amor de Merlin! Nunca ficaria namorando em lugar de assistir as aulas! A morena estava começando a se preocupar.


E a coisa só ficou pior quando Sarah não apareceu na aula de McGonagall. No fim da aula, quando a professora a questionou sobre a colega, Domi sabia que podia ter mentido. Sabia que podia ter salvado a amiga de uma possível detenção, mas a idéia de que alguma coisa tivesse acontecido com ela a impulsionou a dizer a verdade. Ela tinha saído à noite e não tinha voltado desde então. Já eram quase dez horas da manhã. Mais de 12 horas sem que Domi a visse.


McGonagall não fez nenhum alarde. Mandou que Domi fosse assistir a suas aulas e prometeu que a encontraria. Dominique fez o que a professora pediu, mas não se concentrou em nenhuma aula, porque além de tudo, começava a se perguntar se fizera a coisa certa delatando a amiga.  

***


Domi não se preocupou em esperar a amiga acordada. Seja lá o que ela fazia quando dizia que “tinha assuntos a resolver” ela nunca voltava muito cedo e quando voltava normalmente estava de mau-humor, então ela dormiu despreocupada.


Sarah achava que ela e Alastair não sabiam do que se tratavam suas escapulidas, mas eles sabiam que tinha alguma coisa a ver com homem. Só isso explicaria porque ela passara de uma verdadeira “piriguete” a moça correta. Era até mesmo difícil conversar com ela sobre os gatos do colégio, porque ela simplesmente não prestava mais muita atenção neles!


A única coisa que ela queria saber era quem era esse tal namorado misterioso da loira. E não era a única. Mas ela fazia tanta questão do segredo a respeito disso tudo que Domi e Alastair desistiram de investigar. Sarah devia ter um bom motivo para querer esconder deles.


De qualquer forma, aquilo não mudava o fato de que eles se divertiam muito andando pelo castelo “coletando” possíveis pretendentes. De Potter a Malfoy passando por Snape e Filch (“nojento!”). Mas nenhum valeria a pena o segredo e outros não passavam de brincadeira. Quer dizer... Filch? Fala sério!


O problema é que naquela quarta-feira Domi pensou seriamente em quais seriam os possíveis pretendentes. Porque pela primeira vez acordou e Sarah não estava dormindo na cama ao lado.


Depois do susto ela decidiu acatar a idéia de Leslie, sua colega de quarto. Vai ver ela simplesmente passou a noite fora com o seu namorado. Não que as pessoas fizessem aquilo com muita freqüência ali em Hogwarts, mas acontecia.


Então Domi foi tomar o café da manhã. E nada de Sarah. Então foi a vez de Alastair a acalmar: “Se ela passou a noite fora é provável que ela se atrase um pouco”. Mas dessa vez Domi não acreditou. Ela podia ser meio doida às vezes, mas Sarah era responsável. Ela era uma Corvinal, pelo amor de Merlin! Nunca ficaria namorando em lugar de assistir as aulas! A morena estava começando a se preocupar.


E a coisa só ficou pior quando Sarah não apareceu na aula de McGonagall. No fim da aula, quando a professora a questionou sobre a colega, Domi sabia que podia ter mentido. Sabia que podia ter salvado a amiga de uma possível detenção, mas a idéia de que alguma coisa tivesse acontecido com ela a impulsionou a dizer a verdade. Ela tinha saído à noite e não tinha voltado desde então. Já eram quase dez horas da manhã. Mais de 12 horas sem que Domi a visse.


McGonagall não fez nenhum alarde. Mandou que Domi fosse assistir a suas aulas e prometeu que a encontraria. Dominique fez o que a professora pediu, mas não se concentrou em nenhuma aula, porque além de tudo, começava a se perguntar se fizera a coisa certa delatando a amiga. 


 


“Senhorita May!!!”


Foi com essas palavras martelando muito dolorosamente em sua cabeça que Sarah acordou.


Evanesco” foi a segunda coisa que ouviu, seguido de passos em sua direção. Decidiu que era melhor abrir os olhos, já que sua cabeça parecia pesada demais para ser levantada sem a ajuda de um Wingardium.


O primeiro rosto que viu foi o de Flitwick. Depois identificou alguns fantasmas e, perto da porta, Filch e Madame Norra. Podia ser loucura, mas ela jurava que ambos estavam sorrindo. Sadicamente.


Depois disso, ela queria perguntar o que estava acontecendo, mas produziu apenas um grunhido, já que sua boca parecia colada. E depois um gemido, porque notou que não era apenas sua cabeça doía, como quase seu corpo todo e que ela estava enjoada. Na verdade ela tinha vontade de...


Isso pelo menos fez com que ela conseguisse se levantar. Mas ainda conseguira o enorme feito de acertar os pés do pequeno professor. Agora desperta, ela mesma limpou o professor e murmurava pedidos de desculpa. Primeiro porque sua boca incrivelmente seca não a permitia falar muito e segundo porque parecia que todos ali estavam prestes a testemunhar a explosão de sua cabeça.


Ela ouviu alguém rir. Não sabia se tinha sido um dos fantasmas ou Filch.


- Minha nossa! Eu não me lembro de ter tido uma ressaca assim quando ainda era vivo! E olha que eu tinha ressaca muito freqüentemente! Ah, que saudade de tomar um bom vinho...


- É, mas parece que essa daqui exagerou foi no firewhisky.


A loira olhou para o lado e viu Nick-quase-sem-cabeça flutuando perto da garrafa vazia. Quando é que ela tinha acabado com aquela garrafa? Em sua última lembrança ela ainda estava pela metade!


A onda de enjôo voltou novamente e Sarah gemeu deitando de volta na carteira ao mesmo tempo em que o diretor, Snape e McGonagall entraram na sala. O mal estar, a perspectiva de ser expulsa e a enorme vergonha fizeram com que a garota escondesse o rosto no braço. Só que, de repente, foi ficando cansada, se sentiu tonta e apagou.


 


Acordou já na ala hospitalar. A boca ainda estava terrivelmente seca, ela ainda estava se sentindo muito mal, ainda estava morta de vergonha e de medo. Dumbledore, McGonagall e Flitwick estavam em volta de sua cama. Severo não estava em nenhum lugar à vista e ela podia ouvir Madame Pomfrey andando pra lá e pra cá.


- Senhorita May, posso saber o que passou na sua cabeça pra fazer uma coisa dessas?


Sarah se encolheu. A vozinha do professor era muito fininha e o efeito dela em sua cabeça era mais ou menos o mesmo de uma agulha sendo enfiada muito bruscamente lá dentro.


-Esse foi o problema. – ela respondeu bem baixinho - Eu estava pensando em coisas demais.


-A senhorita sabe que contrabandear bebidas alcoólicas para dentro de Hogwarts é motivo para expulsão, não sabe? – disparou McGonagall


-Jura? Porque ninguém expulsou Slughorn ainda? Até onde eu sei, ele não só contrabandeou uma garrafa de hidromel como ainda a ofereceu a um aluno! Que pelo menos teve a felicidade de passar os dias de ressaca desacordado... Ai...


-Senhorita May!


Censurou uma chocada McGonagall. Dumbledore soltou uma risadinha.


-Bom, ela tem razão, Minerva. Não seria justo expulsarmos a garota. De qualquer forma, porque você e Filius não vão discutir qual a melhor detenção para a Sarah aqui?


Nenhum dos dois professores fez objeção ao diretor e saíram, deixando Sarah e o diretor sozinhos. Ele agora estava sério e Sarah se escondeu ligeiramente nos lençóis enquanto o professor sentava na beira da cama.


-Severo foi lhe fazer uma poção.  Eu queria te pedir desculpas, não foi minha intenção ouvir a conversa de vocês ontem.


-E eu queria que aquela conversa nunca tivesse existido. Não tem porque pedir desculpas.


-Sarah, eu queria conversar com você. Sobre Severo.


-Imaginei.


-E sobre Lilian.


Sarah se ajeitou na cama, fechando a cara.


-Não sei o que ela tinha de tão especial, aquela Lilian. Todo mundo fala nela como se ela fosse uma santa. Nunca vi ninguém apontar um defeito nela.


-De fato, ela não tinha muitos. Era uma moça gentil...


-Boa, via o melhor nas pessoas... blá, blá, blá! Pra mim ela não passava de uma vaca!


-Você nem mesmo a conheceu!


-E se conhecesse minha opinião não mudaria! Não é você que tem que dividir o homem que você ama com o fantasma dela!


Dumbledore suspirou.


-Sarah, Severo te ama.


-Claro que ele ama! O problema é que ele ama Lílian muito mais! E não venha me dizer que não! A promessa que ele te fez, lembra? De que ele te ajudaria a proteger o filho dela! De que ele daria a própria vida para proteger o Potter. O problema é que eu entrei no meio da equação! E agora? Como é que eu fico?


Sarah terminou seu pequeno discurso chorando. O velho a olhava penalizado.


-Você está errada, Sarah. Ele não ama a Lilian mais do que a você. Mas ele precisa disso. Ele precisa fazer isso em memória dela. Ele deve isso a ela. E então, só então, ele vai ser realmente feliz ao seu lado.


-E imagino que ele não vai poder fazer isso morto. Droga, Dumbledore! Nós dois sabemos que me amando ou não ele ainda acha que deveria estar morto pelo que fez! Nós dois sabemos que ele não vai se esforçar para ficar vivo! Ele não me ama o suficiente pra isso!


-Ele te ama o suficiente sim! Só não sabe disso. É aí que você entra, Sarah! Você tem que mantê-lo vivo e são. Eu não vou estar aqui para sempre. – a loira se levantou de súbito. – Sarah, eu já estou velho e fraco. Não vou viver para ver o fim dessa guerra. E o fim da guerra vai ser o mais difícil. É nessa hora que você tem que ser mais forte e estar pronta para ajudá-lo.


-Mas... Como...? Você está doente?


-Não se importe comigo. Prometa-me, Sarah, que você vai fazer de tudo por ele.


-Você sabe que eu vou fazer de tudo. Eu não preciso prometer...


-E pense em outra coisa. Ele quer ver o fim dessa guerra não só por Lilian, mas por você também. O que ele mais quer nessa vida é que você seja feliz em um mundo que valha a pena.


-Um mundo sem ele não vale a pena para mim.


-Mostre isso a ele então!


Dito isso o diretor saiu, sem dar tempo à Corvinal de dizer mais nada, deixando Sarah com tempo suficiente para pensar no que o professor havia dito.  Mais especificamente a tarde toda. A poção veio pouco depois pelas mãos de um aluno. Ela tinha que tomar aquela coisa horrível de hora em hora e ainda se sentia muito mal.


Imaginou que fosse receber a visita de Al e Domi, mas madame Pomfrey proibiu terminantemente qualquer visita naquele dia, como punição. Ela passou então o dia refletindo sobre as burrices que fizera, sofrendo de dor de cotovelo por causa de Lilian Evans e dormindo. 


Ela cochilava de meia em meia hora de forma que a noite foi bem agitada. Por volta das duas da madrugada decidiu que não conseguiria mais dormir. Estava com o corpo dolorido de ficar deitada e toda vez que cochilava tinha um sonho ruim.


Ficou acordada olhando para o teto esperando o sono chegar por alguns minutos. Embora pudesse dizer que tinham sido horas. Até que finalmente algo aconteceu. Viu alguém passar pelos biombos que fechavam sua cama. Por longos segundos não pode identificar quem era na penumbra do lugar, mas logo um cheiro conhecido, um perfume amadeirado, lhe chegou aos pulmões e ela soube de quem se tratava.


- Oi Severo.


Sua voz saiu rouca, muito embora já não sentisse sua boca tão seca.


-Você está acordada.


-É. Parece que sim.


Ele conjurou uma cadeira e sentou ao lado da cama, perto da mesinha de cabeceira que continha a poção que ela deveria tomar de hora em hora. Ficaram em silêncio por muito tempo. Severo não se moveu. Ficou sentado com as costas retas e as mãos apoiadas nos joelhos, olhando diretamente para frente. Até que a colher usada para tomar a poção começasse a rodar e fazer um barulhinho irritante, indicando que já eram três da madrugada.


Sarah fez menção de pega-la, mas Severo foi mais rápido, agarrando a colherzinha chata, que parou de zumbir na hora, encheu-a com a poção e entregou-a a Sarah. Tudo isso foi feito com movimentos muito rápidos e ligeiramente imprecisos. A loira pegou a colher tomou a poção fazendo uma careta e colocou a colher de volta à mesa.


Olhou para o marido que ainda a encarava sentado em sua cadeira, tenso.


-Já são três da manha, Severo. Você tem aulas amanhã cedo, deve...


-Como é que você pode fazer uma coisa dessas Sarah? Você bebeu um litro de firewhisky puro! Sozinha! Tem alguma idéia do nível de desidratação em que você estava? Eu tive que preparar uma poção mais forte, porque a que Pomfrey tinha aqui não ia te sustentar por muito tempo! Pior! O estado em que você estava quando entramos naquela sala! O lugar estava fedendo a álcool e... – ele respirou fundo – Posso saber por que você fez isso, sua maluca irresponsável?


Foi a vez de Sarah respirar fundo. Mesmo que sua cabeça ainda doesse, mesmo que ela ainda tivesse certo rancor a respeito da história da enfermaria, ela sabia que Severo tivera aquela explosão estranha porque estava preocupado. E sabia que tinha agido errado nas duas ocasiões. E que Dumbledore, só pra variar, estava certo: Ela tinha que ter paciência! Não adiantava agir como uma adolescente. Não era o momento para isso. Então ela respondeu, calma:


-Eu não queria voltar para o dormitório, estava com raiva e queria descontar em alguma coisa.


-E decidiu descontar em si mesma?


-É. Afogar a raiva me pareceu uma boa opção na hora. Eu não estava pensando direito.


-Que coisa estúpida!


Ele exclamou exasperado


-É. Eu sei. Desculpa.


Severo já tinha aberto a boca para retrucar o que quer que a loira fosse dizer, mas não esperava por aquilo. Olhou para ela. Sarah encarava as próprias pernas e parecia muito entretida em brincar com os lençóis. Tinha alguma coisa...


-Sarah, você está bem?


Ela o encarou, os olhos brilhando demais...


-Não, não está nada bem! Eu estou morrendo de vergonha de ter feito a burrice sem tamanho que fiz ontem e morrendo de remorso de agir como uma adolescente idiota, brigando com você enquanto deveria estar ao seu lado te apoiando, porque eu sei que as coisas não estão fáceis. Morrendo de ódio de mim mesma por ser tão egoísta e estúpida, por estar morrendo de ciúmes de Lilian Evans e do filho dela e por me pegar querendo ser tão perfeita quanto todo mundo diz que ela era!


Severo ficou parado absorvendo tudo o que ela dizia. Sarah agora não parecia capaz de falar uma palavra inteira de tanto chorar. Mas ele podia distinguir que ela tentava dizer sempre “desculpa”. Mesmo que a palavra ficasse cortada em várias partes por seus soluços. Por fim ele percebeu que tinha que fazer alguma coisa.


Sentou na cama, de frente para a esposa e a abraçou. Só aquele gesto fez com que os soluços diminuíssem. Depois de alguns minutos a segurando com força ele se separou um pouco e olhou para ela, segurando-lhe o rosto e limpando as lágrimas.


-Como você é tola, Sarah. Você fez besteira. Ótimo! Não vai morrer por isso. Você age como uma adolescente porque é uma adolescente. Apesar de que eu ia adorar se você passasse a agir com um pouco mais de maturidade, levando-se em consideração nossa atual conjuntura. E não queira ser como Lily. Se você se casou comigo, como disse, sabendo e aceitando tudo o que eu sou, saiba que a recíproca é verdadeira. Você é a Sarah, não a Lily e eu não confundo de forma alguma vocês duas. Eu te amo pelo que você é. Não tente mudar isso. E a propósito... Desculpas aceitas.


-Você ama mais ela, não ama? Eu sei que ama!


Sarah o encarava com os olhos marejados, o desespero claro em sua voz. Snape suspirou. Olhou para a parede logo atrás da cama, medindo suas próximas palavras.


-Não. Eu não colocaria as coisas dessa forma. São... Duas formas diferentes de amor. – Ele finalmente voltou a encará-la. – Vocês são tão completamente diferentes, as histórias são diferentes. Nem mesmo eu sou o mesmo que era na época. Eu amo a Lily. Não tenho porque esconder, mas é muito diferente do que eu sinto por você. Lily não passou de um amor platônico. Ela tinha somente amizade a me oferecer enquanto eu queria mais. E acho foi isso que destruiu tudo. Eu achava que... Eu fui tolo o suficiente...  – ele suspirou - Eu estava cego. Toda vez que olho para trás eu me lembro.


‘Lily tentou me salvar. Ela tentou me avisar, me mostrar o quão errado era o caminho que eu estava tomando. Mas eu não lhe dei atenção. Estava tão mais preocupado em chamar atenção dela, mantê-la longe do Potter, que nem percebi... Só quando já era tarde demais. E nós dois escolhemos caminhos diferentes. E o caminho que eu escolhi... Ela morreu por minha culpa. Ela era a pessoa que eu mais amava e eu consegui perde-la duas vezes.’


‘Saber que eu fui responsável por sua morte... Isso acaba comigo. Não há uma noite que eu não ponha a cabeça no travesseiro e não me lembre que a culpa é minha. E tudo o que eu faço desde então é tentar me redimir com ela, de alguma forma. Entenda Sarah, Lilian causou uma impressão muito forte em mim, foi tudo muito intenso. Ela foi meu primeiro amor, e a forma como ela morreu... Praticamente pelas minhas mãos... Tudo isso deixou uma marca. O que eu sinto por ela é muito mais como um grande vazio, um sentimento de perda e remorso. É um amor natimorto, triste, mas é o que me impulsiona a continuar lutando.’


Snape se distraíra em seu discurso e quando voltou a encarar Sarah, viu que ela segurava os lençóis com tanta força que a junta de seus dedos estavam brancas. Todo seu corpo tremia quase convulsivamente e ela mal conseguia suprimir seus soluços. Grossas lágrimas caíam de seu rosto e molhavam o lençol. ‘Droga’ ele pensou. Se perdera tanto em suas próprias lembranças que não se dera conta do quão difícil seria para a esposa ouvir tudo aquilo.


Suspirando pesadamente ele segurou o queixo da mulher e a obrigou a encará-lo. A expressão de dor que ela carregava fez com que seu peito se apertasse. Mas ele ainda não tinha terminado. Ela tinha que entender. Ela tinha que amadurecer. E ele sabia mais do que ninguém que esse não é um caminho fácil ou agradável. Então suprimiu a vontade de se desculpar pelo que dissera e abraçá-la até que ela dormisse e continuou o que tinha a dizer.


-Por isso é tão diferente do que eu sinto por você. Desde que... Bom, desde que nos tornamos mais próximos, você me fez sentir... Vivo. Você é tão viva! Eu nunca vi ninguém com tanta sede de viver como você. E isso para mim faz toda a diferença. Eu estava simplesmente existindo antes de você, Sarah. Eu via a vida acontecendo na minha frente e não tinha a menor vontade de fazer parte dela. Mas você me fez querer fazer parte também. Quando eu estou perto de você faço coisas que eu nunca tinha feito antes. Eu rio, sonho, eu consigo até ver um futuro feliz, às vezes eu até me pego fazendo projetos pro futuro. Tem idéia do que isso significa? Você me devolveu o que eu tinha perdido há muitos anos, a vontade de viver. Eu sou feliz com você Sarah, tão feliz quanto nunca fui.  Não é mais um amor não correspondido e platônico. É real! Está aqui! Se eu me lembro de algum momento muito feliz da minha vida antes, nada se compara a agora. É mais, muito mais do que eu poderia esperar, do que eu mereço. ’


‘Você me entende, Sarah? Não é questão de amar mais ou menos. Você está aqui, agora, comigo. É você que me faz sentir tão feliz e completo. E é isso o que importa. É só isso que importa. ’


Snape achou que o resto de sua declaração fosse amenizar o choro de Sarah, mas o remédio se provou veneno. Se possível, Sarah chorava ainda mais do que antes. Seu corpo tremia mais, os soluços eram mais altos, o lençol estava mais molhado pelas lágrimas do que antes. O professor estava começando a ficar realmente preocupado quando, sem o menor aviso, Sarah avançou contra ele e o agarrou pelo pescoço, dando-lhe um beijo apaixonado. Snape foi pego de surpresa e ainda demorou alguns segundos para entender o que estava acontecendo e, aliviado, retribuiu o beijo.


Depois de muito tempo os dois se separam ofegantes e Sarah encarou o marido. Seus olhos brilhavam e o único sinal de que ela estivera chorando eram seus olhos inchados e a marca do caminho que as lágrimas fizeram em seu rosto. Um largo sorriso se formara em seus lábios. Ela ainda mantinha as mãos bem presas atrás do pescoço dele, de forma que Snape não poderia se afastar. Não que ele quisesse, de qualquer forma.


-Essas foram as coisas mais bonitas que você já me disse, Severo. E só pra constar, você me faz a pessoa mais feliz desse mundo. Sem exagero.


Ele riu, divertido e apertou mais o abraço, puxando-a para mais perto. E ironizou:


-É claro.


Ele ainda levou um puxão de cabelo antes de conseguir alcançar os lábios da esposa novamente. O beijo dessa vez era mais calmo, lânguido. Simplesmente aproveitavam a presença um do outro. Sem perceber o que estava fazendo Severo foi aos poucos jogando seu peso para frente, empurrando Sarah de volta para a cama e ficando por cima dela. Logo ela se livrou do lençol que lhe cobria, puxando-o para um lado até que ele caísse no chão. Finalmente vendo-se livre da obstrução, suas pernas se entrelaçaram. Os beijos e carícias aos poucos foram se tornando mais necessitados. Não foi até Sarah gemer baixinho quando ele traçou com os lábios o caminho até o vale de seus seios que Severo percebeu a precariedade de sua situação. 


Se afastou um pouco, apenas o suficiente para dizer:


-Nós não deveríamos estar fazendo isso.


Sarah nem sequer se dignou a abrir os olhos para responder, apenas puxou com um pouco mais de força os cabelos de sua nuca:


-São três da manhã, Madame Pomfrey está dormindo e a Enfermaria está vazia.


-Draco...


-Foi transferido para o quarto.


-Sarah, eu realmente acho que...


A loira finalmente abriu os olhos e o puxou para cima com força, de forma que seus lábios estivessem a milímetros de distância.


-Cala a Boca, Severo.


Dito isso, ela o beijou novamente e Severo não ofereceu resistência nenhuma. Pelo menos até uma luz acender no fim do corredor e passos se aproximarem da cama.


 Num pulo Severo se levantou e com um aceno da varinha não era mais visto. Sarah pegou rapidamente o lençol no chão e se cobriu bem a tempo da enfermeira puxar a cortina para o lado. A loira fingia dormir um sono profundo. A enfermeira ficou alguns segundos vigiando o sono da moça e, constatando que estava tudo na mais perfeita ordem, voltou por onde viera, para verificar o sono de Draco Malfoy.


Assim que a luz no fim do corredor sumiu, Sarah lançou um feitiço imperturbável nas cortinas que protegiam sua cama e chamou Severo. Olhou de um lado para o outro, até que ouviu um barulho vindo... De baixo?


Quase não acreditou no que via. Severo vinha saindo de baixo da cama! Ele a encarou, um meio sorriso no rosto:


-Entendeu o que eu quis dizer?


Sarah agradeceu o fato de ter lançado um imperturbável nas cortinas, pois duvidava que fosse conseguir reprimir uma gargalhada alta. Severo finalmente se pôs de pé, mas não voltou a sentar na cama.


-É melhor eu ir, agora.


Sarah apenas assentiu. Trocaram um ultimo beijo, mas antes que Snape pudesse sair, uma questão surgiu na mente de Sarah.


-Dumbledore está morrendo, Severo?


O homem a encarou por longos segundos, ainda meio inclinado sobre ela. Finalmente suspirou e assentiu. A Corvinal suspirou, olhando para baixo, sentindo seu estômago afundar e uma leve dormência tomar conta de si.


-Não há como...


-Eu só pude confinar a maldição na mão dele, não há mais nada que eu possa fazer.


Sarah sentiu uma lágrima escorrer de seu olho. Respirou fundo para reprimir qualquer outra que viesse à tona. Severo limpou a lágrima e fez a esposa encará-lo.


-Não pense nisso por enquanto. Só durma, você ainda tem que se recuperar.


Sarah assentiu.


-Boa Noite.


-Boa Noite, Sarah.


 

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