I Gotta Feeling



Capítulo 2 - I Gotta Feeling


 


Olhou-se no espelho. Ficou satisfeita com o que viu. As mechas longas e loiras estavam presas em um rabo-de-cavalo alto. A maquiagem destacava os olhos acinzentados e a pele alva. Usava um jeans escuro, um largo cinto vermelho, uma camisa de manga 3/4 branca e uma sandália de salto. Bonita, mas não provocante. Sorriu triste para seu reflexo. Queria que Severo pudesse vê-la.


Sacudiu esses pensamentos para longe tão logo percebeu que Domi saia do banheiro. Ela entrou no quarto arrumando as excessivamente lisas madeixas castanhas. Ela usava um corte Chanel modernizado e, com uma escova, ajustava a curva forma nas pontas. Vestia uma camisa justa, com desenhos psicodélicos e coloridos, uma calça muito parecida com a da amiga, botas de bico fino e salto agulha. Sua maquiagem era mais forte e um batom avermelhado acentuava seus os lábios cheios. Mesmo assim era curioso como ela ainda parecia uma espécie de boneca saída de 1920. Sarah a olhou de cima a baixo:


-          Vestida para matar, hum?


-          Hoje eu vou conquistar Peter. Juro! E você? – encarou a colega de alto a baixo - Não deveria estar usando um hábito?


 Sarah riu alto, escondendo a irritação de ver o assunto ser trazido à tona duas vezes no mesmo dia.


-          Vocês não vão largar do meu pé, vão?


-          Não até você nos contar quem é o seu precioso negócio.


A loira se adiantou para a amiga e a puxou pelo braço, ignorando completamente o comentário indesejado. Sua expressão de divertimento se transfigurando em uma de desgosto.


-          Vamos logo! Joga essa porcaria de escova em algum canto porque já estamos atrasadas. É bem capaz de Al ter ido sem a gente!


Domi se encolheu um pouco com a violência na voz e na mão da amiga, mas se deixou ser levada escada abaixo. As duas desceram correndo e encontraram Alastair sentado em uma das poltronas, emburrado.


Assim que viu as garotas levantou num salto e começou a gritar, agitando os braços.


-          Graças a Merlin vocês chegaram! Achei que tivessem se afogado no chuveiro, quase subi essas malditas escadas atrás de vocês! Já estamos atrasados, sabiam?  Olha que se eu chegar lá e a Alicia já estiver com alguém eu nunca perdôo vocês!


As garotas apenas se entreolharam, divertidas com o possessivo desespero do amigo em relação à grifinória. Ele vinha investindo na garota à meses, mas alguma coisa sempre dava errado quando chegava a hora de realmente convidá-la para sair. Geralmente ela sempre acabava se despedindo dele com um beijo na bochecha e saindo com outro cara.


Depois de tantas tentativas frustradas ele decidira que aquela seria a noite de finalmente conquistar a morena. Sarah e Domi, por sua vez, se divertiam imensamente com o fato de que o amigo ainda não percebera que Alicia estava simplesmente jogando com ele.


Para a felicidade do loiro, Alicia ainda não estava lá quando chegaram, mas a festa já estava no auge. Os copos de firewhisky, hidromel e cerveja amanteigada rolavam soltos pelas mãos, bocas e balcões.


Domi mal entrou na sala e já estava escaneando o lugar a procura de Peter Doyle. Não demorou mais de dois minutos para achá-lo em um canto e menos ainda para abandonar os dois amigos e seguir em sua direção, ajeitando os cabelos e a roupa.


Al e Sarah, rindo, sentaram em um balcão improvisado e se serviram de firewhisky.  Não era uma bebida da melhor qualidade, mas, levando-se em consideração que era um grande carregamento contrabandeado para dentro dos muros de Hogwarts, era uma verdadeira iguaria.


O loiro olhou na direção da ruiva, que agora conversava numa animação um tanto quanto exagerada, com Doyle.


-          Será que ela consegue?


Sarah seguiu o olhar do amigo, desaprovando a forma como a amiga fazia papel de fácil. Suspirou pensando que ela não tinha nada a ver com aquilo e que os dois estavam em um jogo de gato e rato desde o início das aulas, o que estava começando a incomodar.


-          Tomara, né? Eu não agüento mais ter que ouvi-la suspirando. É irritante!


-          Ai o Peter é lindo! Você viu aquele cabelo maravilhoso? Merlin o que é aquele abdômen!


Alastair concordou com Sarah, imitando a amiga em um falsete de estourar os tímpanos. A imitação fez Sarah gargalhar alto na mesma hora em que um garoto enorme, bonito até, passou por eles, soltando uma cantada baixa que Sarah sequer fez questão de ouvir.


A conversa com Al durou ainda um copo inteiro de firewhisky, durante o qual ele desviava o olhar para a porta de entrada a cada quinze segundos. Finalmente uma morena adentrou a festa, fazendo Alastair, que ainda vigiava a porta dar um pulo da cadeira.


-       Ela chegou! Alicia chegou!


Ao ver que o loiro fazia questão de atravessar a sala atrás da moça, Sarah o segurou.


-          Calma aí, tigrão! Espere que ela venha até nós!


Al a encarou incrédulo, como se ela tivesse acabado de sugerir que ele se vestisse como Dumbledore e começasse a dançar mambo encima do balcão. Ele apontou fracamente em direção à porta.


-          Mas até lá...


-          Mas até lá nada, seu desesperado!


Sarah riu alto. O amigo era sempre assim: quando caia de amores por alguém, tinha certeza de que toda e qualquer pessoa representava perigo. O que, no caso de Alicia, não era de todo uma mentira. Sarah pode contar, com certeza, umas cinco cabeças se voltando na direção da moça. Uma delas visivelmente feminina.


Sarah, particularmente, nunca teve muitas amizades na Grifinória. Geralmente se dava muito bem com os jogadores de quadribol da casa, com exceção de Potter, que, justiça fosse feita, sempre fora bem mais novo do que o resto da turma.


Os seus preferidos eram Fred e Jorge. Ela inclusive já ficara com um deles em uma festa. Nunca descobriu com qual dos dois e tinha a ligeira impressão de que ficara, na verdade, com ambos. Ainda se lembrava do quanto se divertira nos poucos minutos em que passara na loja deles, no Beco Diagonal. Fez uma nota mental de que deveria voltar lá mais vezes.


Alicia e sua turma também faziam parte da sua curta lista. Ela era de seu ano e se conheceram logo na primeira viagem no Expresso de Hogwarts. Não eram necessariamente melhores amigas. Talvez “boas companheiras de farra” fosse a melhor definição para a amizade que mantiveram durante os anos de Hogwarts. 


Sarah fez sinal para a porta e assim que Alicia a viu, atravessou a pista em sua direção. Ela tinha a pele morena e os cabelos negros e um pouco ondulados, tão grandes quanto os da loira. Os olhos eram amarelados. Usava uma calça camuflada, uma regata branca, uma sandália de salto. Assim que ela se aproximou, já com um copo de firewhisky na mão, Alastair se levantou galanteador:


-          Bela como sempre, Alicia! Aqui, tome o meu lugar.


A grifinória riu, aceitando a oferta do garoto e sentando-se bem ao lado da loira. O garoto ficou em pé, de frente para as duas, sem conseguir desgrudar os olhos da bela morena. A grifinória, percebendo o olhar de Alastair, alargou o sorriso, cruzou as pernas, tocou-lhe o braço e o encarou direto nos olhos, fazendo com que o garoto praticamente suspirasse em deleite, antes de se virar para a amiga.


-          Obrigada, Al! Você também está ótimo! Olá Sarah, como vai? Fiquei sabendo do seu episódio hoje com o Snape. Dizem que foi hilário. Não sabia que ele era casado. Vou reparar depois.


-           Realmente, foi muito engraçado. Você tinha que ter visto a cara dele, Ally!


Alastair comentou rindo um pouco mais alto do que o necessário. As duas encararam o garoto por alguns segundos, antes de Sarah continuar.


-          Eu também não sabia que ele era casado! Achei muito esquisito, não pude me controlar! De qualquer forma, a piada me custou uma detenção. Mas quer saber? Valeu à pena.


Os três riram. Percebendo o fim do assunto, Sarah bebeu um gole de seu firewhisky e se voltou para a grifinória.


-          E então, Ally, alguma novidade?


A morena engoliu rápido o gole de bebida que tinha acabado de por na boca e sentou mais ereta na cadeira, olhando alternadamente de Sarah para Alastair para medir suas reações.


-          Sim, a Cátia já saiu do hospital! Vai passar alguns dias com os pais e volta.


Al e Sarah se entreolharam, sorrindo. A garota deu um pulo da cadeira e se virou totalmente para a amiga, apoiando o copo no balcão.


-          Isso é ótimo! Ela ficou tanto tempo fora! Sinto saudades dela!


-          Todos nós sentimos.


Al respondeu, mas de repente seu sorriso foi se desfazendo e ele tomou um ar sério.


-      Foi horrível o que aconteceu com ela... Quem será que mandou aquele colar?


Ele encarou as duas garotas, que se entreolharam, também ficando repentinamente sérias. Um calafrio percorreu-os antes de Sarah responder.


-          Não tenho a menor idéia. Ninguém tem.


Alicia se empertigou, descruzou as pernas e chegou o tronco mais perto dos dois amigos, assumindo um ar conspiratório. Involuntariamente os dois loiros também se aproximaram.


-          Ouvi dizer que o Potter jura de pés juntos que foi o Draco Malfoy. Mas eu não sei. Parece que ele tirou essa acusação da manga! Também, ele não varia nunca? Parece que tudo é culpa do Malfoy ultimamente! Acho que o Potter anda é meio obcecado com Malfoy!


Alicia tomou um ar de desdém, voltando a se recostar no balcão e a cruzar as pernas. Alastair manteve um ar pensativo, encarando os pés por alguns instantes antes de perguntar:


-          Vocês acham que isso tem a ver com... Você-Sabe-Quem?


-          Se o Potter tiver razão e tiver a ver com o Malfoy...


-          Talvez. O pai dele foi preso como Comensal, não foi? Faz sentido.


Sarah finalizou olhando gravemente para os amigos.


Alastair abriu a boca para falar alguma coisa, mas o garoto moreno e grande que cantara Sarah mais cedo, já meio bêbado, apoiou-se em seu ombro e o puxou para longe. O loiro ainda tentou protestar, mas foi arrastado. As garotas apenas seguiram a movimentação com os olhos.


-          Você acha que vale a pena?


Alicia perguntou, desviando o olhar para a amiga. Sarah riu.


-          Acho que sim. Já ouvi dizer que ele beija bem. E além do mais, você já vem deixando o coitado em banho-maria à séculos. Ele só falta lamber o chão que você pisa! E olha que não é todo dia que uma garota tem um pedaço de mau caminho como o Al a seus pés. Pare de ser tão cruel com o coitado! Eu já estou vendo o dia que ele vai enfartar quando você chegar perto!


Alicia riu com vontade.


-          Bom, mas eu não posso me fazer de fácil, não é? Qual a graça de ficar com um garoto se ele primeiro não lamber os seus pés? Desse jeito eu não consigo que ele faça tudo o que eu quero!


Foi a vez de Sarah rir alto com o comentário da grifinória. Depois de alguns instantes, porém, Alicia ficou séria e se aproximou da colega,sussurrando.


-      Mas você tem certeza que o Al não é...?


Sarah se empertigou na cadeira, encarando incrédula a morena. Sua voz num tom de censura


-          Só porque ele anda conosco? Claro que não, Ally! Que coisa mais estúpida!


A morena se afastou com as mão para cima, alarmada com a reação da corvinal.


-          OK, desculpa, foi só pra me precaver.


-          Sei...


A loira respondeu irônica. Teria dito mais alguma coisa, não fosse o fato de que Alastair voltava. As duas então se ocuparam com seus copos afim de disfarçar a conversa que vinham tendo.


Al, por sua vez, nem notou o movimento sincronizado e o repentino silêncio das duas. Chegou perto de Sarah e apontou discretamente para o garoto que o puxara.


-          Olha Sarah, toma cuidado com o sonserino ali. Ele quer ficar com você de qualquer jeito. Eu tentei explicar que você não está disponível, mas ele nem me deu bola e acho não vai desistir.


Sarah prestou atenção no que Alastair falava apenas vagamente, pois procurava na multidão alguma desculpa para se afastar dos dois amigos. Logo se destacou, na pista de dança, uma garota usando uma blusa cor de rosa muito chamativa. Sarah sorriu triunfante e se levantou, pegando seu copo no balcão.


-          Tudo bem, Al, não se preocupe. Agora, se me derem licença, eu vou ali falar com a Daisy. Até mais!


Os dois finalmente ficaram sozinhos e não se preocuparam muito em ver a loira indo embora.


Algumas horas e alguns copos de firewhisky depois, a festa estava no seu auge. Sarah e algumas amigas dançavam animadas, e meio bêbadas, na pista. Alastair e Alicia se beijavam em um canto, enquanto Dominique e Peter Doyle se beijavam em outro. Tudo ia perfeitamente bem quando Daisy e as outras decidiram ir ao banheiro. Sarah se separou das garotas, preferindo ir ao bar tomar alguma coisa.


Estava cobrindo metade da pista em direção ao bar, tentando manter uma linha mais ou menos reta entre os convidados, quando, de repente, alguém a agarrou por trás e a virou. O moreno sobre o qual Alastair a alertara a segurava fortemente contra si. Amaldiçoou-se internamente. Tinha esquecido completamente dele! Tentou alcançar a varinha, mas o garoto segurava seus pulsos com excessiva força. Estava completamente bêbado agora. Sua voz estava pastosa e um hálito forte de álcool invadiu as narinas de Sarah, que não pode evitar virar a cara.


-          Me dá um beijo lindinha, só um beijinho!


Sarah se debatia para sair de perto do sonserino, mas ele era muito maior e muito mais forte. Ela começou a sentir um frio na barriga, começou a entrar em pânico.


-          Me solta, garoto! O que você pensa que esta fazendo?


Ele riu, como se ela tivesse acabado de contar a piada mais engraçada do mundo.


-          Ué, só estou tentando roubar um beijo da garota mais linda dessa festinha sem graça. Vamos, me dá um beijinho doçura!


Ele tentou beijá-la, mas ela virou o rosto. Olhou em volta. Estavam todos muito bêbados e concentrados na música alta para prestar atenção no que estava acontecendo bem ali. Ela assistiu impotente enquanto o sonserino segurava seus pulsos com apenas uma mão e, segurando fortemente seu rosto, obrigou-a a encará-lo.


Ela se debateu com mais força, mas de pouco adiantou. Ele a agarrou pela nuca, de forma que Sarah não podia afastar o rosto e a beijou em cheio nos lábios. Em pânico ela se debateu com mais força ainda. Ela não sabia explicar como, mas ele conseguiu prender suas mãos entre os dois, de forma que ela espalmou as mãos nos ombros largos dele para que se afastasse. Era o mesmo que tentar mover uma das paredes do castelo.


Em contrapartida, agora com a mão livre, ele a puxou pela cintura, juntando seus corpos com força e restringindo mais ainda os poucos movimentos que Sarah ainda tinha. Ao mesmo tempo que sua língua tentava forçar passagem pelos lábios cerrados da loira.


Mas, de repente, sem o menor aviso ele a soltou. ‘Soltar’ era uma palavra delicada, ele praticamente a empurrou para longe. Ela não se preocupou em analisar o porquê da súbita desistência. Assim que ganhou equilíbrio se afastou ainda mais uns dois passos do sonserino e apontou a varinha para o peito dele. O rosto vermelho de vergonha e cólera, ofegando como se tivesse acabado de correr uma maratona. Gritou.


-          Seu maluco idiota! O que pensa que está fazendo? Fique longe de mim!


Foi só então que percebeu que ele olhava aterrorizado por cima de seu ombro. Na verdade, ela veio a constatar instantes depois, toda a festa olhava para a mesma direção. A música parou e alguns casais se separaram como se uma onda de choque passasse por entre eles. Todos pareciam mortificados demais para ousar falar ou se mover além do estritamente necessário.


Com o coração batendo a mil, Sarah se virou para a porta. Sentiu como se todo seu sangue se esvaísse de seu corpo e seu estômago revirou. Sentiu-se enjoada. Logo à sua frente, na porta, estava Severo, olhando-a com uma expressão de ódio.

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