Sorri



Capítulo 5 - Sorri


 


Aquela era uma das vantagens de ser uma Corvinal: Professor Flitwick era muito condescendente em suas detenções. Seu grupo (D da Corvinal) foi designado para limpar e organizar os vestiários do campo de quadribol.


O grupo era constituído de 12 corvinais do mesmo ano, de forma que o castigo mais parecia uma reunião entre amigos do que uma detenção propriamente dita. Mesmo que Madame Hooch estivesse lá para supervisioná-los.


Nos primeiros minutos a professora bem que tentou impor alguma ordem, mas não teve sucesso. Hooch só assustava os alunos no primeiro ano. Então só restou a ela conversar sobre quadribol com os dois batedores da casa. Enquanto isso, Sarah e Alister tiravam o pó dos velhos escaninhos de madeira:


-          Os jogadores deviam nos agradecer, sabia? Quantos objetos nós já achamos mesmo?


Al, feliz como a loira não via há semanas, apontou para uma pilha de luvas, meias, uma cueca (que Sarah achou e fez Al tirar lá de dentro), patuás e outras baboseiras.


-          Sinceramente Al, deve ter coisa aqui da época em que Wood entrou pro time da Grifinória! Duvido que alguém queira esse monte de entulho de volta.


O loiro se voltou para amiga de braços cruzados. Uma expressão ligeiramente ofendida tomou seu rosto.


-          E daí? Mesmo assim! Nós estamos arrumando um espaço que é deles! As roupas deles não vão ficar mais sujas de poeira e eles também vão ter mais comodidade para fazerem ‘outras coisinhas’ quando não estiverem jogando.


Sarah riu alto, o que lhe rendeu um olhar reprovador de Madame Hooch.


-          Perdão, Madame.


Ela se voltou para a conversa, as bochechas rosadas de vergonha.


-          Se for assim então, Al, toda a comunidade sexualmente ativa da escola vai ter que nos agradecer! Fala sério, todo mundo já veio fazer atividades extra curriculares nos vestiários!


O garoto riu.


-          É verdade. Eu mesmo tenho boas lembranças desse lugar...


Sarah arregalou os olhos e descruzou os braços, recuando um passo.


-          Pelo amor de Deus, Alastair! Poupe-me dos detalhes sórdidos!


-          Srta. May!


Hooch gritou do outro lado, encarando chocada a loira por sua falta de decoro.  


-          Desculpa professora! Desculpa! Não vou fazer de novo...


Sarah se voltou, encolhida e vermelha, enquanto seus colegas de detenção riam. Al tinha um sorrisinho irônico estampado na cara.


-          Isso, fala mais alto, Sarah! Acho que o salão comunal da Sonserina não conseguiu te ouvir!


Ela olhou para ele mal humorada. Cruzou os braços novamente, fazendo o loiro se lembrar de sua irmãzinha quando dava birra.


-          Vamos mudar de assunto, Al!


Foi a vez dele cruzar os braços e colocar uma expressão séria na cara. Encarou a amiga nos olhos, sem nem mesmo piscar.


-          Tudo bem então. O que foi que aconteceu ontem pra você ficar tão chateada? A Domi me disse que você passou a noite com o dossel fechado e um feitiço silenciador.


Ela encarou o amigo com os olhos arregalados, impressionada com a brutalidade com a qual o assunto viera à tona. Bom, mas era de se esperar que Dominique tivesse percebido que alguma coisa estava errada. Elas dividiam um dormitório há sete anos, e o dossel fechado sempre fora um claro sinal de que alguma coisa havia acontecido e que não seria discutido a noite.


E ela até entendia que Domi tivesse contado para Al. Eles eram melhores amigos e ela devia estar preocupada. Mas também, Al podia ser um pouco mais delicado ao trazer isso à tona! Alguém precisava urgentemente ensinar um pouco de tato para o garoto.


Ainda aturdida pela brusquidão da pergunta, Sarah conseguiu formar uma meia-verdade que satisfaria a curiosidade dos amigos.


-          Bom, não sei se você ou a Ally notaram, mas lembra daquele sonserino?


Alastair descruzou os braços na mesma hora e arregalou os olhos, entendendo o que acontecera.


-          Ele te agarrou?


Sarah apenas afirmou com a cabeça. Os olhos azuis do garoto se estreitaram de raiva.


-          Bastardo infeliz!


Ela achou melhor falar alguma coisa para aplacar a raiva do amigo.


-          Bom, ele não conseguiu fazer muita coisa além de me beijar. Foi exatamente quando o Snape chegou, sabe? Mas foi o ruim o suficiente. Eu fiquei pensando...


Al balançou a cabeça furiosamente, não deixando que ela terminasse a frase.


-          Sarah, não foi sua culpa!


A loira desviou o olhar.


-          É eu sei, mas...


-          Você tem medo que o Snape conte pra alguém?


Ela se sobressaltou.


-          Não! Não... Porque teria?


O loiro a encarou erguendo uma sobrancelha.


-          Você sabe. Seus assuntos. Vai que isso corre na escola...


Foi a vez de ela balançar a cabeça vigorosamente de um lado para o outro.


-          Não tem nada a ver, Al. Já disse que meus assuntos não têm nada a ver com...


Ele revirou os olhos.


-          Claro, claro... Que seja! Mas é bom você ser bem boazinha com o Snape, se não quiser que todos saibam do que aconteceu. Ele é bem do tipo que poderia “deixar escapar” uma coisa dessas.


-          Eu não acho que ele...


-          Ah, ele faria sim! Foi ele que espalhou que o professor Lupin era um lobisomem lembra? Porque ele não espalharia que você estava se atracando com um protegido dele?


-          Eu não estava me atracando com ninguém Alastair! E mesmo que tivesse, eu não seria a única! Duvido que ele ia gastar tempo e saliva começando um boato a meu respeito.


-          Sarah... É de conhecimento geral que ele te detesta! Você vive no pé dele, falando mal dele, começando boatos sobre ele... Porque ele não poderia dar o troco?


A garota encarou o chão. É... Porque ele não daria o troco? Balançou a cabeça para afastar esses pensamentos.


-          Tá bom.


-          “Tá bom” o quê?


-          Eu vou ser boazinha com o Snape! Pelo menos por algum tempo. Até ele esquecer esse incidente. Satisfeito?


-          Bastante!


Al deu um sorrisinho vitorioso e se voltou para o próximo escaninho a ser vasculhado. Sarah também voltou a se concentrar em tirar o pó do fundo de um escaninho, quando, sem mais nem menos, Al começou uma crise de riso. A loira o encarou, sem entender.


-          O que foi?


O loiro encarou a amiga com lágrimas saindo dos olhos de tanto rir.


-          Descul... Desculpa! Mas eu tive... Eu tive que imaginar.


Ela ergueu uma sobrancelha, ainda não vendo sentido nenhum no que o amigo dizia.


-          Imaginar o quê criatura?


-          Você “sendo boazinha” com o professor Snape!


Sarah demorou muitos segundos para entender o duplo sentido na frase do colega. Assim que a ficha caiu, ela arregalou os olhos em puro horror. Ficou vermelha como um tomate.


Al já estava imaginando essas coisas? Disso pra ele perceber o que estava acontecendo era um passo! Tudo bem, aquilo não era hora para entrar em pânico. Ela tinha que entrar no jogo, só isso!


-          Por Merlin Alastair! Que coisa mais nojenta! Eca!


-          É, eu sei, me desculpe...


Ele a encarou sério por alguns segundos, antes de cair novamente na gargalhada.


-          Mas que foi engraçado foi!


-          Há, há, há. Dormiu com o Bozo, foi? Engraçadinho!


-          Senhor Larkins! Isso é uma detenção, não um parque de diversões! Por favor, comporte-se de acordo!


O garoto parou de rir no mesmo instante, embora com visível dificuldade. Os dois colegas voltaram, então, a seus afazeres. Al ainda com uma sombra de divertimento e Sarah séria e mal-humorada.


-       Cara, isso ia ser muito bizarro. Você e o Snape, quero dizer.


Sarah o encarou.


-     Não. Ia ser repugnante. Agora fique quieto. Antes que a gente ganhe outra detenção.




***


 


Quando foram liberados da detenção já passava da hora do jantar e ele não estava à mesa com os outros professores. Ouviu alguém comentar que o homem deixara o salão dez minutos após a comida ser servida.


“Hum... tomara que ele morra de fome!” Alastair exclamou, enquanto Dominique ainda criticava a enorme injustiça de ter ficado em um grupo diferente do dos amigos limpando o banheiro da Murta e tendo que ouvir a fantasma rir de suas roupas encharcadas. “Juro que se ela já não estivesse morta eu a mataria!”


 


                Domingo finalmente chegou e Sarah ainda não tivera a oportunidade de falar com Severo. Acordou relativamente cedo, mas o cansaço do trabalho do dia anterior a impediu de se levantar. Quando deu por si, apenas ela e Domi restavam no dormitório. A morena se levantou e a outra a imitou, espreguiçando e sentindo os braços e costas doloridos.


-          Droga! Já passam das dez!


Domi exclamou mal-humorada, ao colocar o velho relógio de pulso. Sarah soltou um muxoxo. Há essa hora o café já tinha sido recolhido, mas o enorme vazio em seu estômago dava o alerta de que ela não agüentaria até o meio-dia, quando serviriam o almoço.


-          Ah não! Eu estou faminta!


Sarah atravessou o quarto até a penteadeira, enquanto uma desanimada Dominique voltava a sentar na cama, depois de se trocar. A morena encarou o reflexo da amiga.


-          Eu daria tudo para saber onde fica a cozinha... Os gêmeos me acostumaram mal.


-          Duas. Sete anos de Hogwarts nas costas e nós sequer sabemos onde fica a cozinha. Isso é vergonhoso!


As duas ficaram em silêncio por alguns segundos, absortas na fome que sentiam. Sarah ainda penteando o cabelo distraidamente e Domi brincando com o cadarço dos tênis. De repente a morena ergueu a cabeça, seus olhos brilhando.


-          Espera! Sei de alguém que sabe!


Sarah jogou a escova de cabelo de volta a gaveta e se virou na cadeira encarando a amiga de frente, sorrindo.


-          Quem?


 


A garota estava embaixo de uma árvore nos jardins, lendo uma revista. Parecia muito concentrada na leitura, ao mesmo tempo em que permanecia com aquela expressão incomodamente etérea que a acompanhava a maior parte do tempo. Sarah encarou a amiga ao seu lado.


-      Domi, você tem certeza que ela sabe onde fica a cozinha? Ela me parece tão... Distraída.


-          Absoluta. Já vi Jorge comentando que um dia eles toparam com ela na cozinha, tentando roubar cebolas para fazer um amuleto. Não que ela necessariamente precisasse roubar nem nada, mas os elfos pareciam insistir em trazer as cebolas assadas com manteiga ou algo do tipo. Eu nunca vi elfos domésticos antes... Devem ser esquisitos...


-          Não, nem tanto. Quer dizer, eles são feiosos, mas adoram servir a gente. É um pouco engraçado, pra falar a verdade.


-          É. Eles são como escravos, não são? É o que a Hermione Granger diz, pelo menos.


-          É... Eles são. Eu acho... Nunca tinha pensado nisso antes.


As duas amigas se aproximaram da loira, que pareceu nem notá-las. Domi pigarreou.


-          Lovegood?


A garota ergueu os enormes olhos muito azuis. Parecia estar olhando para algum ponto às costas delas. Sarah não pode deixar de espiar para trás só para se certificar de que não havia mesmo ninguém ali.


Domi se adiantou até a colega mais nova.


-      Oi, eu sou Dominique...


-          Edwin. Você e outras garotas estavam zombando dos meus brincos semana passada.


Domi parou com a boca meio aberta e encarou a loira sem saber o que dizer. Completamente desconcertada, Sarah tentou melhorar a situação:


-          Oi, Luna, eu sou Sarah May. Nós queríamos uma informação. Será que poderia nos ajudar?


A garota desviou aquele estranho olhar para ela. Seus olhos eram grandes e muito azuis. Eram muito bonitos, na verdade. Inspiravam uma inocência que Sarah nunca tinha visto a não ser em crianças bem pequenas. Devia ser uma garota feliz, aquela Di-Lua.


-          Vocês não estão planejando nenhuma brincadeira, estão?


-          Por que estaríamos?


 Domi pareceu ofendida. Sarah apenas ergueu uma mão para calar a amiga e se voltou para a mais nova, tentando parecer o mais simpática possível.


-          Não Luna. Não estamos. Só queremos sua ajuda.


A quintanista abriu um sorriso e se levantou, limpando a poeira das vestes.


-          Tudo bem, então!


 


Minutos depois as três se encontravam exatamente em frente a uma natureza morta. Luna olhou para os lados antes de fazer cócegas em uma pêra. Sarah e Domi se entreolharam, acreditando que pedir ajuda a Di-Lua Lovegood não fora uma boa idéia, afinal. Mas de repente, uma porta se materializou e elas deram de cara com o enorme espaço quente e lotado, que era a cozinha de Hogwarts.


Vários elfos que mal alcançavam a cintura das garotas andavam de um lado a outro, já concentrados na preparação do almoço. A cena não durou muito mais do que segundos, até que as criaturinhas as notassem e viessem correndo:


-          O que as senhoritas desejam?


Perguntou um dos elfos que se aglomeravam entre suas pernas.


-          Café.


Domi respondeu prontamente, impressionada com as criaturas.


Em poucos segundos as três estavam sentadas em uma mesa, rodeadas dos mais deliciosos pães, bolos, geléias, sucos e quitandas que os elfos poderiam produzir. Dominique e Sarah se esbaldavam e Luna se servira apenas de um copo de suco de abóbora.


-          Meu Deus, esse lugar é um paraíso!


Sarah comentou com uma torrada a meio caminho da boca.


-          Eu concordo. – Disse Domi, olhando para as jarras de suco – Pena que não tenha de pêssego.


-          Suco de pêssego? A Senhorita deseja suco de pêssego?


Perguntou um elfo, que as observava de perto.


-          Hã... Vocês têm?


Indagou a ruiva um pouco desconfortável com o excesso de atenção.


-          Sim, sim! Sr Eastwood, um suco para as senhoritas, por f...


Outro elfo veio e deu uma cotovelada forte no primeiro, impedindo que ele terminasse sua fala. Abaixou-se e falou perto do ouvido, no que deveria ser um sussurro, mas que foi alto o suficiente para as três alunas ouvirem:


-          Você ouviu Prof. Snape! Como... Nós.


Ao ouvir a menção ao marido, Sarah se virou para as duas criaturas e levou um choque ao acompanhar os seus olhares. A um canto, se via alguém bem maior que as criaturinhas. Na verdade, com pelo menos três vezes o tamanho de um elfo. Um bruxo. Estwood.


-          Ah... Então essa foi a detenção dele. – comentou Luna – Cruel.


-          Ele bem que... Sarah?! Onde você...


-          Dor-de-barriga.


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N/A: Um comentário a respeito da música desse capítulo:


A que eu coloquei no título é Sorri, do Djavan. Na verdade uma versão da música Smile, do Charlie Chaplin, que eu adoro. Pessoalmente eu detesto a versão em português, porque muda completamente o sentido da letra original, mas, veja a ironia, ao contrário da letra em inglês, essa serviu muito bem para esse capítulo. =P


Na verdade eu fiquei muito em dúvida entre essa e The Great Pretender, mas como a maioria dos caps até agora estão com músicas em inglês eu achei justo colocar uma em português, então... Que sirvam as duas!


Bom, no mais, se tem alguém aí lendo, eu aceito sugestões de músicas heim? E, bom... comente! Faça uma pobre autora (que só vai dormir cinco horas essa noite) feliz xD


Beijos!!


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