Insensatez



Capítulo 6 - Insensatez


 


Sarah saiu em disparada da cozinha, praticamente atropelando alguns dos elfos domésticos que tiveram que se espremer na parede, ou uns aos outros, para sair de seu caminho. Ao deixar do Saguão de Entrada e virar em um corredor que a levaria até as masmorras conjurou alguns pergaminhos em branco.


Não podia acreditar no que ele fizera. Em como ele passara dos limites daquela vez.


Tudo bem, uma coisa era colocar um aluno em detenção por ter infringido as normas da escola e todos sabiam que as detenções de Severo Snape eram as piores. Mas outra era ter o poder de colocar em detenção não o aluno rebelde, mas o homem que agarrou sua esposa! E não importava o quanto Snape fosse mau em suas detenções, ele sempre dava uma colher de chá para os de sua casa. E Eastwood estava trabalhando como um escravo! Mas aquilo não ia ficar assim. Ela tinha certeza que Dumbledore interferiria...


Os pergaminhos em branco caíram espalhando-se pelo chão, quando ela bateu de frente em alguém. Andava de cabeça baixa e não notou que alguém vinha virando o corredor na direção contrária. Abaixou-se prontamente para apanhá-los, mas a pessoa em quem esbarrara os reuniu usando um feitiço.


Julgando ser algum aluno esnobe, ela ergueu os olhos, pronta para fazer uma malcriação qualquer, apenas para dar de cara com uma vasta barba prateada. Ergueu-se de súbito. Ao lado do diretor, porém, estava Prof Minerva, e a loira não pôde dizer nada do que estava entalado em sua garganta.


Dumbledore olhou os pergaminhos, e encarou a corvinal significativamente.


-          Receio que esse trabalho seja seu, Srta. May.


-          Sim, diretor. É meu.


-          Entregando um trabalho em pleno domingo?


Indagou a vice-diretora. Dumbledore concordou, encarando a loira fundo nos olhos, como se pudesse ler através de sua alma, como ela sabia que ele podia.


-          Minerva está certa. Não creio que professor Snape vá aceita-lo fora do prazo. Talvez fosse melhor entrega-lo...


-          Ele vai aceitar professor.


A garota o cortou. A boca de McGonagall foi ao chão. A expressão do velho se tornou um tanto mais dura.


-          Tudo bem, então. Boa sorte.


E lhe entregou os pergaminhos. Ao recebê-los Sarah percebeu algo escrito logo na primeira página, mas esperou virar para as escadas espiraladas que levavam as masmorras para ler.


“Paciência”


Era a única palavra escrita na letra inclinada do diretor. Mas agora já era tarde. Ela já perdera a pouca que lhe restava.


 


Finalmente parou à frente da porta do escritório. Bateu. Nada. Bateu novamente, com mais força. “Quem é?” Ouviu a voz mal humorada do homem gritar lá de dentro. Ele sabia muito bem quem era. Quem mais bateria na porta da sala do professor Snape em pleno domingo?


-          Eu trouxe o trabalho que o senhor pediu, professor. É Sarah May, da Corvinal.


A loira respondeu ao ver alguns sonserinos passando pelo corredor. Se segurava para não arrombar a porta naquele mesmo instante.


-          Vá embora.


A voz gritou em resposta.


Os sonserinos que passavam riram alto, mas não desviaram de seu caminho. A maior diversão de um sonserino era ver seu diretor judiar de outros alunos, mas eles conheciam bem demais Severo Snape para se atreverem a ficar para ver o desfecho.


 Sarah respirou fundo antes de insistir, sem desviar o olhar das costas dos alunos que viravam o corredor.


-          Mas professor, o senhor me pediu para trazê-lo hoje sem falta!


-          Eu disse...


Snape não pôde completar a frase, pois o barulho dos alunos já tinha desaparecido e não restava ninguém no corredor a não ser a loira da Corvinal.


Ela praticamente arrombou a porta do escritório e entrou, jogando os pergaminhos em um canto e lançando na porta um feitiço qualquer, que quase não foi capaz de abafar seu grito do corredor lá fora:


-          ELFO DOMÉSTICO? ELFO DOMÉSTICO?  Foi isso que eu vi hoje na cozinha? Um sonserino trabalhando como escravo?


Uma sobrancelha do professor se ergueu minimamente, revelando para Sarah, que já se habituara a interpretar a expressão de aparente apatia de Snape, sua surpresa ao saber que a esposa descobrira a detenção do garoto.


-          A cozinha é uma área restrita aos alunos.


Sarah balançou a cabeça, impaciente.


-          Eu exijo uma resposta, Severo! Escravidão já é uma prática ruim o suficiente para elfos, imagine para bruxos! Isso é ilegal!


Snape apenas apoiou os cotovelos na mesa e uniu os dedos. Sua voz nem sequer se alterou, mas Sarah podia perceber pelas linhas duras de seu maxilar que ele estava a ponto de explodir.


-          E quem você pensa que é para me questionar?  Eu sou professor em Hogwarts e diretor da Sonserina. Eu sei qual o melhor castigo para os meus alunos.


-          OK, senhor eu-sou-o-fodão-de-Hogwarts! Você faz o que entender dos seus alunos, enquanto os tratar como alunos! E nós dois sabemos muito bem que esse não é o caso! Eu vou falar com Alvo! Tenho certeza que ele vai me dar razão! O que você está fazendo é ridículo!


Ele finalmente saiu do sério. Levantou bruscamente, uma expressão quase doentia em seu rosto.


-          Ah, sim! Certo, certo. Entendi. AGORA ESTÁ DEFENDENDO AQUELE DESGRAÇADO!


Snape deu um soco na mesa, fazendo tudo o que estava encima dela tremer. Um frasco de tinta, que estava perigosamente próximo da borda se espatifou no chão, mas o casal não lhe deu a menor atenção.


-          Por Merlin, Severo, seja racional!


Sarah estava exasperada.


Ao mesmo tempo em que sentia raiva, tinha uma necessidade crescente de se explicar. Sabia que não tivera culpa, mas isso não impedia que a sensação lhe corroesse por dentro. Suspirou tentando engolir um nó que se formava em sua garganta.


-          Eu não tive escolha, tá legal? Eu tentei me afastar, eu juro! Eu não sei se você notou, mas o cara é um armário! Eu não tinha como me livrar, o que eu poderia fazer?  


Ele ergueu uma sobrancelha.


-          Suponho que a sua varinha seja apenas um adereço de decoração, então?


Ela revirou os olhos.


-          Você acha que é fácil assim? A primeira coisa que ele fez foi me imobilizar, Severo! Eu não tinha como me defender! Ele me pegou de surpresa...


-          Se você estivesse menos bêbada, tenho certeza que não seria uma surpresa.


Ela o encarou incrédula.


-          Severo, aquilo era uma festa! Você acha que eu ia tomar o quê? Suco de abóbora?


-          Que tal não freqüentar esse tipo de festa? Já está passando da hora de você tomar juízo. Você é casada, não...


Sarah sentiu o sangue ferver. Não podia acreditar no que estava ouvindo.


-          E NINGUÉM SABE DISSO! Não é como se eu tivesse escolha, de qualquer forma! Mantenha as aparências, Sarah! Não é isso o que o senhor professor sempre diz? Pois é exatamente isso o que eu estou fazendo!


Snape contornou a mesa e andou até a esposa, fazendo com que ela tivesse que erguer a cabeça para poder encará-lo.


-          Ah, então é isso! Gostou de ser agarrada, não é? Aposto como quer repetir a experiência!


Mesmo denunciando sua raiva, a voz do professor era suave e cheia de sarcasmo. Ele se aproximou devagar. Os seus olhos negros brilhavam tão perigosamente, que Sarah não evitou afastar o tronco.


-          O que...?


-          Mas fazer isso na frente de uma horda de elfos domésticos deve ser muito desconfortável! Imagino que queira mais privacidade.


Ele a segurou com força pelo braço, evitando que ela se afastasse mais. Aproximou-se mais ainda, fazendo a Sarah tremer. A voz dele ainda era suave quando sussurrou perto de seu ouvido. Nunca antes aquele gesto parecera à mulher tão pouco sexy e tão aterrorizante.


-          Se preferir, posso mandar Eastwood limpar o banheiro feminino, o que acha? Não deve ser tão confortável quanto a sua cama, mas você sabe que infelizmente homens não podem entrar no dormitório feminino.


Chocada, Sarah deu um passo para trás, mas Severo ainda a segurava com força pelo braço. Machucava. Algum ponto remoto de sua mente lhe dizia que ganharia um roxo, mas ela não lhe deu muita atenção. Involuntariamente colocou uma mão por cima da dele, tentando, em vão, retirá-la de lá. Sentiu um bolo lhe subir na garganta. Os olhos se encheram de lágrimas, que embaçaram sua visão.


-          Como ousa...?


Ele apertou mais a mão ao redor do braço já dolorido, e a puxou para mais perto. Ela nunca tivera tanto medo de Severo. Nunca estivera tão perto de sua faceta de Comensal da Morte como agora. Sentia a voz fraquejar, tremia de medo, se encolhia. Estava aterrorizada.


 Nunca tinha visto o marido gritar como gritou então, chacoalhando-a em sua ira:


-          E VOCÊ SUPÕE O QUÊ? QUE EU FIQUE AQUI SENTADO ENQUANTO MINHA MULHER SAI POR AÍ CAINDO NA FARRA E AGINDO COMO UMA PERFEITA PUTA?


Dizendo isso Snape a soltou bruscamente, fazendo com que ela tivesse que dar vários passos para trás para recobrar o equilíbrio. Assim que se afastou o suficiente, sentiu um pouco do medo ser substituído por uma centelha de coragem.


Snape ainda não tinha acabado, mas foi bruscamente interrompido por um alto estalo.


Em questão de segundos, o professor se viu parado, atônito no meio de seu escritório, vendo a porta voltar lentamente à sua posição anterior. A mão pousada em uma bochecha onde começava a se formar um vergão vermelho e imaginando para onde fora Sarah e se, dessa vez, ele fora longe demais.


Um incômodo nó no estômago indicava que sim.


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N/A: Eu confesso: fiquei tão feliz em saber que tem alguém lendo essa fic que tive que postar mais um capítulo!


Ok, eu sei que é um capítulo bem pequeno, mas vejam pelo lado bom (dona Aline) pelo menos os dois estão juntos! Tá, não exatamente juntos, mas pelo menos interagindo né? Já é alguma coisa! xD


Não deixem de comentar, viu?? ^^'

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