Pra ficar!



Capítulo 6 – Pra ficar


 


“Saudades dela


Saudades daquela rua


Saudades daquelas noites de lua na janela”


 


 


A saudade foi a primeira contribuição brasileira que se firmou no vocabulário dos novos amigos de João Pedro. A palavra inexistente no inglês ganhou conotações bem reais para os jovens de Torquay naquela semana. Harry sentia saudade de poder estar com a sorridente e extrovertida Brooke Davis quando bem entendesse. Por sua vez, Hermione sentia falta dos gracejos e das discussões intermináveis com o melhor amigo, Ronald Weasley.


 


No lado oposto da nostalgia, Brooke vislumbrava a mãe sustentando o passaporte e afirmando que passaria as próximas semanas nos Estados Unidos para resolver a questão pendente de seu próximo filme. O pai pouco se importou com a ausência declarada da esposa, após informar que ela deveria voltar para alguma data importante no senado britânico em que ele não poderia aparecer sozinho. Nenhum dos dois sequer perguntou se a filha se importava com a solidão, o que sim. Importava para a jovem de 17 anos que acabava de terminar seu relacionamento mais profundo e partir seu coração pela enésima vez.


 


Ron continuou focado em guardar suas economias para a faculdade de direito, equilibrar o emprego de garçom, as sessões como ajudante temporário na oficina de restauração a pedido de Dean e os treinos de futebol, que poderiam lhe render uma bolsa de estudos. Rony não dirigiu mais a palavra a melhor amiga, pelo menos não com declarações românticas limitou-se a trocar conversas sobre questões escolares. Não estava preparado para estar tão vulnerável novamente. Não era surpresa nenhuma que Rony Weasley não sabia lidar direto com a rejeição, ele era o mais novo de seis filhos homens e todos já encaminhados na vida adulta. Restavam apenas Ron e Gina para terminar o ciclo dos ruivos na escola secundaria de Torquay.


 


Ao contrario do irmão, Gina atravessava um excelente momento em sua vida amorosa. A menina parecia exorcizar a cada dia o fantasma da paixonite infantil pelo melhor amigo de seu irmão. Desde a primeira vez em que Harry pisou na casa dos Weasley, a única menina da família se interessou pelo menino magricela e com incríveis olhos verdes. Quase uma década depois, a menina apostava em seu relacionamento com Sam e estava quase convencida que poderia amar o colega de classe e equipe esportiva. O problema é que Harry continuava a bater na porta de sua casa a cada nova manhã.


 


Sam estava se acostumando em acordar de bom humor. A certeza em encontrar Gina lhe trazia um sorriso invejável a cada vez que se encaminhava para a escola. O início do ano letivo nunca tinha lhe reservado tantas surpresas boas. Faltava apenas melhorar seu desempenho na equipe de atletismo, mas, contava com isso para breve. A ajuda de Gina estava sendo imprescindível em diversos setores de sua vida.


 


Dawn sentia-se roubada e isolada nas ultimas semanas. A rotina acelerada de Dean trabalhando incessante e estudando a noite, o estagio da irmã, o namoro e treinamentos de Sam e o acumulo de trabalho de sua mãe estavam lhe privando de horas preciosas ao lado das pessoas que mais amava no mundo. Sentia que sua família de repente descobria maneiras diferentes de afasta-la de suas rotinas. Contudo, o ciúme de Gina permanentemente próxima Sam era o que mais estava afetando a menina. Ela estava acostumada com o ritmo mais acelerado de todos em sua família, mas, sempre pudera contar com o irmão de criação. Sempre foram ela e Sam contra o mundo.


 


Draco estava perdendo a compostura com as insinuações diárias e a falta de discernimento em relação a sua colega Pansy Parkinson, a eventual affair do loiro. Depois do envolvimento da festa, a garota não parava de pedir satisfação ao rapaz e se realmente estavam juntos. Por mais sossegado que estivesse atualmente, Draco dispensava mais alguém para lhe tomar satisfações e controlar seus passos. Luna também se mostrava mais irreverente e menos propensa a cometer loucuras, contudo, recebera menos atenção do que esperava de João Pedro. Apesar de estar sempre próxima do brasileiro, Luna nunca mais esteve a sós e nada mais aconteceu.


 


Saudades da lua, do gosto do beijo dela


Saudades daquela boca sorrindo na janela


Que o meu amor inventou


 


Para quem conhecia na pele e no vocabulário o poderio da palavra “saudade”, o sentimento martelava profundamente há quase três meses. No trimestre, João Pedro teve a ligação com a família drasticamente reduzida. As ligações do pai eram raras e os contatos com a mãe diminuíram desde que abandonou o Centro de Treinamento do Celtics e deixou de contar com Internet a sua disposição. A mãe atravessa vao fim de uma gravidez de alto risco e o pai tentava se virar em dois empregos para cobrir as despesas médicas da mulher. Mesmo que não representasse um peso para a economia domestica, o brasileiro se sentia impotente e inútil mesmo do outro lado do oceano. Além disso, a falta da pátria, do mar do Rio de Janeiro, do clima de seu país mexiam consideravelmente com o jovem. Lupin percebia o distanciamento do afilhado ultimamente e, apesar, das amizades feitas e a aparente adaptação ao novo ambiente, JP não passava de um estranho em Torquay.


 


Cedrico Diggory sabia que seu time não progrediria no campeonato escolar se continuasse fraco e vulnerável no meio-campo. Compreendia que a saída era promover a estréia do brasileiro entre os titulares e torcer para aflorar seu entrosamento com o restante da equipe. Via uma nítida mudança comportamental em seu principal atacante, Draco. O estudante rebelde voltava ao time coberto de restrições e sob a eterna vigília do treinador, mas, até o momento não apresentara nenhum problema além do descontrole na derrota. O contentamento foi encontrar os primos excessivamente cedo nos treinos. Acompanhando os amigos da equipe de atletismo Sam e Gina, os dois emendavam qualquer corrida ou apostavam em quem acertava mais vezes o ângulo do gol. A pratica agradou ao treinador, que percebeu ter achado seus mais prováveis cobradores de falta.


 


Hermione estava desesperada. Depois da bem comentada primeira edição da “A Tocha” em sua gestão como editora-chefe, a jovem não conseguia encontrar nenhuma matéria de capa e muito menos um assunto para a área esportiva, que havia sobrado novamente sob sua responsabilidade. Não poderia mais se limitar a retratar o futebol e necessitava de algo impactante rapidamente.


 


A situação de Harry estava preocupante e sem sucesso para descobrir o que fazer de seu futuro, os pais haviam solicitado um encontro do rapaz com o conselheiro escolar. Por mais que o jovem negasse, tinha desistido de encontrar sozinho uma saída para escolha mais difícil de seus 17 anos de vida.


 


_ Então Harry, seus pais me contaram que vocês estão com certa dificuldade em encontrar um curso universitário que lhe agrade. Atualmente, qual a disciplina que você tem mais facilidade ou que mais goste?


_ Bom, eu não sou péssimo em nenhuma matéria, mas, prefiro muito mais a educação física. – sorri o jovem – Ou os treinos da equipe de futebol...


_ Você se imagina jogando futebol profissionalmente? – questiona serenamente o conselheiro.


_ Não, no máximo eu posso continuar jogando na liga universitária. Mas, não sou bom o suficiente para atuar em times profissionais.


_ Só que a idéia de permanecer no esporte em seu futuro já lhe passou pela cabeça? – ele confirma – Há diversas maneiras de seguir na área esportiva. Desde arbitro, fisioterapeuta ou mesmo como professor de educação física. – Harry se mostra pensativo – Tente pensar mais seriamente no assunto e se imagine de outras formas ligado ao esporte ou a atividade física sem necessariamente estar atuando nela. Procure conversar com pessoas que, na sua visão, possam representar esta possibilidade... Talvez o treinador Diggory ou outros professores esportivos do colégio... Existem inúmeras possibilidades no setor esportivo e procure alguma que lvocê se imagine atuando nos próximos anos e se sinta confortável. Obviamente que a maioria dos jovens prefere atividades extracurralares ao invés das matérias mais teóricas e, aparentemente, entediantes e os esportes acabam se tornando a principal opção. Contudo, em determinados casos, o passatempo pode se tornar uma profissão. Basta você ter certeza que este é o seu desejo.


 


Harry se retira bastante animado em conseguir enxergar alguma lacuna aberta em seu futuro perto dos esportes. Estranhamente, Hermione acompanhava o treinamento do time de futebol da arquibancada na tentativa de achar algum assunto importante e, quem sabe, esbarrar com certo ruivo.


 


_ Chegando cedo para o treino de amanhã? – brinca a garota com o atraso do melhor amigo.


_ Estava conversando com o conselheiro escolar e o que é que você faz aqui? – se surpreende.


_ Vendo se acontecesse alguma coisa nessa escola. Mas, está bem difícil. E você o que andou aprontando para que ser obrigado a ouvir alguns conselhos?


_ Nada. Meus pais que pediram, porque eu to com muita dificuldade para escolher uma faculdade. Não é todo mundo que tem a brilhante idéia de seguir os passos profissionais dos pais, né. – brinca Harry _ Pelo menos a conversa me deu algumas idéias.


_ Ah! Eu sempre falei que o conselheiro escolar era de grande ajuda, mas, você e o Ronald sempre fizeram pouco caso. No que você ta pensando, agora? – questiona curiosa.


_ Esportes. – a amiga sorri – Não to achando que eu possa ter uma carreira como jogador, só que a idéia de continuar como treinador ou preparador físico me pareceu boa. É muito complicado decidir aos 17 anos o que você vai fazer pelo resto da vida... – comenta.


_ Você é um gênio, sabia? – o rapaz mostra confusão – Acabei de encontrar a matéria de capa para a edição deste mês da “A Tocha”. – comemora.


 


Harry gargalha da empolgação de Hermione por poucos instantes. Cedrico nota a chegada de seu capitão e lhe chama imediatamente para o treino.


_ Harry, você vem ou eu devo procurar um novo capitão? – brinca o treinador.


 


Hermione se direciona para a sala que servia como redação para o jornal escolar a fim de planejar cuidadosamente sua matéria principal e comenta com os “repórteres” presentes a intenção. Aceita por unanimidade.


 


Harry sempre foi um jogador exemplar, compenetrado em suas atividades e um líder natural. Entretanto, com certa surpresa o treinador Diggory notou o particular interesse de seu capitão em suas ordens, gestos e comandos. Por sua vez, o jovem dedicou mais atenção ao treinador para verificar se em um futuro gostaria de exercer cargo semelhante. A possibilidade de permanecer na área esportiva havia animado consideravelmente o filho de Tiago e Lílian Potter.


 


O coletivo determinava a parte final do treino naquela tarde e a oportunidade para que os atletas batalhassem por suas vagas no time titular. Cedrico permanecia focado em modificar o estilo de jogo do brasileiro antes de lhe retirar da reserva e algo que, recentemente, estava lhe dando muito gosto era observar a interação da dupla de primos João Pedro e Draco. Os dois atuavam extremamente bem juntos, basicamente, se conheciam e entendiam melhor dentro dos gramados do que fora e para o líder da equipe a sintonia não passou despercebida após nova derrota do time titular para os reservas. Disposto a conversar e dar continuidade a descoberta pela escolha de sua futura profissão, Harry persiste no campo para auxiliar e trocar algumas palavras com o treinador Diggory.


 


_ Professor, como é essa passagem de jogador para treinador? – questiona o atleta.


_ Como assim, Harry? – rebate Cedrico.


_ Bem, eu estou com uma tremenda dúvida para escolher uma faculdade. É... Que... Eu sei que não sou bom o suficiente para tentar seguir carreira no futebol, mas, pensei que talvez possa continuar no esporte de outra maneira... Talvez como preparador físico, treinador, professor de educação física... Não sei ao certo... E sei que o professor passou por isso recentemente. Então, a minha curiosidade é se atuar como jogador antes pode ser importante para treinar um time. – explica a situação.


_ Ah! Harry, você é talentoso em sua posição e nem todos os jogadores podem se tornar craques no futebol. A Argentina possuía uma equipe fortíssima no ataque nesta Copa do Mundo, porém, muito fraca no setor defensivo. Sempre serão necessários jogadores de contensão para equilibrar um time. Eu não acharia surpresa, você conseguir uma colocação na Liga Universitária de Futebol. Mas, se você pensa em seguir, além disso, existem centenas de possibilidades. A mudança de jogador para treinador é bastante simples. Você deixa de ser comandado para comandar, só que também deixa de interferir diretamente no resultado da partida. É muito estranho estar do lado de fora, no início, você se sente meio impotente. A situação é diferente e tem sua dose de pressão, responsabilidade e realização. Tudo isso ainda é muito novo para mim, você compreende? – tenta se explicar _ Não sei se pude lhe ajudar em alguma coisa, mas, isso... Dialogar e esclarecer dúvidas dos atletas estão incluídos no papel de técnico. Como liderar e incentivar a equipe estão relacionados com seu papel de capitão.


_ É, acho que entendi. Falando em esclarecimentos, professor... O João Pedro não veio para a escola com o objetivo de ser usado no time de futebol? Não quero contestar o seu trabalho técnico... Mas, nesta semana, os coletivos foram quase todos vencidos pelos reservas. Nós estamos com o mesmo problema do jogo de estréia: pouca movimentação no meio-campo. As bolas dificilmente chegam aos atacantes.


_ O seu pensamento tático está certíssimo, mas, as suas informações estão erradas. O João Pedro Black não veio como reforço para o colégio, ele veio porque não estava sendo aproveitado no Celtics e logo seria descartado. Ele é um ótimo jogador com um grande defeito. É muito abusado. O João Pedro tem raciocínio rápido, só que confia demais na sua habilidade individual para decidir e eu não quero ficar dependente de um jogador na temporada. Eu já disse isso tudo a ele, agora, espero que o próprio atleta perceba isso. Eu não posso, simplesmente, mudar a sua forma de jogar. – Harry demonstra preocupação _ Mas, deixe a formação tática da equipe comigo e se preocupe apenas com o seu futuro! – o garoto concorda _ Harry, qualquer coisa... Me procure, certo? Vocês são a minha prioridade neste momento. – confessa o treinador.


 


O atleta auxilia o treinador a carregar os últimos aparatos espalhados pelo gramado e se direciona para o vestiário, encontrando a maioria dos jogadores. Aproveitando a oportunidade reforça o convite proposto por seu pai que o filho de Sirius e Remo Lupin aparecessem na residência dos Potter naquela noite. Tiago se sentia em falta com o melhor amigo por não ter dado mais atenção e suporte a João Pedro nas primeiras semanas em Torquay. Ciente da complicada situação financeira do amigo de infância, Tiago explica aos convidados durante o jantar a dificuldade em lidar com o novo projeto publicitário e o tempo livre.


 


Tentando fortalecer a amizade entre seu filho e o jovem brasileiro, Tiago insiste para que João Pedro pernoitasse em sua morada com a desculpa da transmissão de alguns jogos da Libertadores na televisão por assinatura. Entusiasmado pela chance de conferir algumas partidas de equipes brasileiras e entrar em contato com sua mãe através da Internet, o garoto aceita a idéia. Com a descoberta que a comunicação com os pais estava debilitada pela ausência de um computador na casa do padrinho, Tiago planeja presentear o filho de Sirius com o eletrônico citado. Mesmo apoiando a decisão do marido, Lílian atenta para o detalhe de que Harry e João Pedro não eram fadados a reviver a camaradagem sem limites de seus pais. Os adolescentes aparentavam se entrosam e ter diversos interesses em comum, contudo, os dois já tinham os cargos de melhores amigos preenchidos particularmente bem. 


 


Na manhã seguinte, é visível o acanhamento do visitante pela oferta de adquirir o antigo notebook de Tiago, trocado, de acordo com o dono da casa, pela necessidade de uma maquina mais poderosa devido a seus diversos programas e projetos profissionais. O embaraço do brasileiro só diminui, quando Harry muda o foco da conversa para as atividades escolares e o curso em comum de mecânica e afirmando que como Ron estava animado com o trabalho temporário na Oficina de Restauração.


 


_ O bom de trabalhar na oficina é que em um horário bem alternativo que não se choca com as aulas e os treinos. A gente ta aprendendo muitas coisas. – anima-se o brasileiro _ O Rony vai para o colégio com a gente? – questiona.


_ Acho que não. Desde que ele e a Mione... Bom... Brigaram... Ele e a Gina estão indo mais com um dos irmãos deles... A gente passa na casa da Hermione daqui a pouco, ta bom?


_ Ah... Eu estava na festa, quando rolou a confusão entre eles... Eu achava que os dois já estavam juntos. – confessa o brasileiro.


_ Todo mundo achava isso. Eu também imaginei que fosse questão de tempo e oportunidade para rolar, mas, a Hermione fala que só vê ele como amigo. – JP deixa escapar sorriso – É, eu também notei a aproximação de vocês.


_ Eu não entendo a sua amiga, sério. A Hermione parece me dar liberdade em determinadas situações e me ignorar depois. Naquela festa, ela nem olhou direto para a minha cara. – revela JP.


_ Por isso você investiu na Luna? – se diverte.


_ Não, a Luna não é meu premio de consolação. Desde a primeira vez que eu conversei com ela rolou uma cumplicidade bem bacana. Bateu uma identificação que acabou aumentando com o convívio. Eu só não sei como agir daqui por diante, sabe? Não quero estragar por causa de alguns beijos.


_ É exatamente que acontece com a Mione em relação ao Ron. – ressalta Potter.


_ Eu to disponível se ela quiser... – brinca, Harry revira os olhos _ E você e a Brooke não tem volta mesmo? – pergunta.


_ Não, eu to gostando de estar de volta a liberdade. – confessa risonho. _ Foi muito bom enquanto durou, só que a gente é muito diferente. No começo até deu para conciliar, mas, agora, não tem mais como. A Brooke é hiperativa, agitada, prefere a multidão. Eu já sou mais sossegado, quieto no meu canto e prefiro bem mais ficar em casa com os amigos, sabe? – explica-se.


_ Eu sei que a conversa é extremamente imperdível, mas os bonitões precisam se apressar para não chegar tarde no colégio. – repreende Lílian desconsertando os adolescentes.


 


Os garotos correm para terminar de se arrumar antes da partida para a escola. Tiago aproveita para repetir o convite para um almoço no fim de semana, aceito prontamente pelo jovem filho de Sirius Black. Em cima da hora, Harry buzina na frente da casa da família Granger.


 


_ Harry, você ta atrasado e... – se surpreende pela presença do brasileiro – Bom dia, João Pedro.


_ Já vou adiantando que a culpa é desse ai que acabou se atrasando... – a menina não entende – O JP dormiu essa noite lá em casa.


_ Então, você achou um substituto para o seu melhor amigo? – debocha a garota.


_ Fica a vontade para a tomar a mesma decisão! – rebate o brasileiro gargalhando.


 


Hermione não ficou constrangida em rir da provocação do mais novo habitante de Torquay. Esta era a maior diferença entre as investidas do brasileiro e o interesse romântico do ruivo. A amizade de infância com Ron forçava consideravelmente a carga de drama para a possível relação amorosa dos dois, o contrario das insinuações de João Pedro. Quando o brasileiro lhe jogava alguma indireta, a atmosfera permanecia leve e irresistivelmente convidativa. Afinal de contas, Brooke havia definido muito bem o brasileiro antes de sua chegada na cidade: o afilhado de Remo Lupin era um gato.


 


No rápido trajeto até o Colégio Secundário de Torquay, João Pedro pode comprovar que a melhor amiga de Harry Potter não era imune a ele e por mais que existisse o pseudo compromisso com Luna, o garoto estava disposto a se aproximar mais a redatora-chefe do jornal escolar.


 


_ Então Jota, eu ainda não tive a oportunidade de saber a sua opinião sobre a matéria do jornal. – observa Hermione.


_ Ah, achei muito boa, de verdade. Eu não fazia idéia que seria a matéria de capa do “A Tocha”, mas, gostei muito. Você leva jeito para o jornalismo. – ela sorri.


_ Falando nisso, você conseguiu alguma coisa para a sua manchete deste mês? – questiona o capitão.


O dialogo transcorre com Hermione como personagem principal até a chegada na escola e a dispersão de João Pedro para junto de seus colegas de classe.


 


Por onde anda aquela linda pessoa?


Deve estar bem, amando alguém


Feliz, sorrindo a toa


 


O ruivo observou atentamente a descida dos três conhecidos do carro dirigido por Potter e notou ainda mais nitidamente o sorriso escancarado de Hermione em função de alguma piada solta pelo brasileiro. A dupla de melhores amigos se aproxima de Ron sem lembrar da irrevogável ordem de restrição que ele havia imposto. Hermione arrisca um “bom dia” mesclando em um meio sorriso, que se completa ao escutar a saudação de volta por parte do ruivo. Rony percebeu que se afastando estava perdendo pontos com a melhor amiga e impossibilitando qualquer avanço em sua possibilidade de romance. Não retornaria a amizade tradicional com a morena, contudo, não continuaria a ignorando.


 


A editora do jornal percebe a sutil mudança no humor do ruivo. O sorriso mais contido e as falas menos significativas, realmente, ele dera a entender que voltaria a sua atmosfera, entretanto, não estaria tão participativo em seu cotidiano e aquilo a machucava. Desde que aconteceu o primeiro beijo, ela se sentia insegura e consideravelmente abalada toda vez que o antigo melhor amigo se aproximava. Hermione sabia que Ron mexia com suas emoções e o segundo beijo foi a comprovação de que poderia rolar algo a mais do que a intensa amizade. Mas, por medo de não perder totalmente o acesso ao ruivo em caso de fracasso na relação romântico, ela preferiu se acovardar e com a certeza das restrições impostas pelo próprio rapaz ao novo relacionamento, uma ponta de dúvida surgia no íntimo da jovem questionando se deveria rever sua escolha.


 


_ Me ligando às 7 da manhã para pedir carona para o colégio. Sinceramente, você está ficando pegajosa, Brooke! – Draco brinca descendo do carro na entrada da casa da família Davis.


_ Já você continua arrogante, Malfoy. – ele sorri da provocação – Meus queridos pais não estão e meu carro fez a gentileza de não ligar nesta manhã. Acredite, você era a minha única opção, Draco. – Brooke rebate.


_ Olha, na carona eu até posso te ajudar... Mas, para mexer no seu carro eu sou capaz de piorar a situação! – confessa _ Agora, quem entende de mecânica é o Sam.


 


A atenção de Brooke se desloca para o tímido jovem que mal lhe direcionara a voz nestes meses de aula. A moça se lembrava nitidamente dele na noite em que se cruzaram pela primeira vez no UPGRAD, ainda na companhia de Harry. Já ouvira o nome algumas vezes e se não estava fazendo alguma confusão, ele deveria ser o novo namorado da irmã mais nova de Ronald.


 


_ Bom, eu poderia dar uma olhada sem problema nenhum. Mas, tenho prova de física agora na primeira hora. A gente pode combinar para depois da escola pode ser? – propõe o caçula Winchester – Hoje, eu não tenho treino e se for algo mais complicado posso levar o carro direto para a oficina. – acerto concluído.


_ Já que está tudo arranjado, vamos indo, porque se atrasar corro o risco de alguém querer me esfolar vivo. – debocha o condutor referindo-se a Dawn.


_ Ainda bem que você já está consciente disto, Draco. Esta prova vai valer quase metade da nota bimestral. Então, você ta certo, chegar tarde pode comprometer a sua integridade física. – soa divertida a filha de Joyce Summers.


_ Essa tua irmã tem um gênio difícil, hein Sam. Deve ser durosuportar 24 horas por dia! – brinca recebendo um olhar mortífero da jovem.


_ Eu já to acostumado! – ri o caçula da família – Ou você, realmente, acha que eu e o Dean mandamos alguma coisa lá em casa? – confessa gargalhando.


 


Brooke ainda emenda qualquer observação sobre seus caroneiros e tenta se entrosar na conversa mesmo sendo pouco intima dos irmãos. A presença de Draco nunca foi novidade em sua rotina. Com os pais amigos, o único filho de Lucio conheceu Brooke antes mesmo da idade escolar.


 


As horas transcorrem na Escola Secundária de Torquay e os adolescentes comemoram ou antecipam a bomba vinda das primeiras provas do semestre. Hermione se preocupa exclusivamente com a matéria principal do jornal, deixando por ora a distância inoportuna com seu melhor amigo ruivo em espera. Resolveria a questão quando realmente tivesse noção do que fazer ou como proceder diante dos sentimentos seus e alheios. Mais sossegado com a aparente trégua silenciosa decretada entre os dois confidentes, Harry tinha prioridade em tentar decidir seu futuro como capitão e como profissional em um curto espaço de tempo e o terceiro membro do “Trio Maravilha” pensava seriamente em abandonar o cargo de garçom depois de 3 anos no restaurante para trabalhar apenas na Oficina de Restauração a pedido de Dean. O salário seria maior e a carga horária não representaria empecilho para ser conciliada com os programas no final de semana.


 


Dois fatos raros agradaram consideravelmente a caçula de Molly e Arthur Weasley. Na entrada para a sala 214 do 2º ano, Sam sorri e pela primeira vez no relacionamento de quase 2 meses, a abraça em frente aos colegas e no almoço, o irmão lhe comunica que iriam embora de carona com Harry e Hermione, o que significava que a paz havia sido restaurada entre a dupla. Mais uma vez, Luna exigia mais atenção do que o normal de seu possível affair sem ser necessariamente atendida. João Pedro não estava propenso a se relacionar seriamente com alguém depois dos avanços daquela vinda para o colégio.


 


Buffy tentava minimizar as faltas sucessivas do namorado há quase três semanas na faculdade e não enfrentar nova briga no namoro já estremecido. A universitária compreendia que Dean era o amor de sua vida e achava extraordinária a habilidade dele em superar os incontáveis dias sendo menosprezado em função dos estudos e da busca desenfreada por um estágio. Contudo, ela tentava zelar pelo futuro do homem que um dia pretendia chamar de seu marido. O mais velho da dupla Winchester era subjugado pela única garota que chamou de sua em seus 23 anos de vida. Apesar da devoção a Buffy, era complicado administrar um relacionamento sendo colocado constantemente em segundo plano. Pela namorada, Dean se dispôs a terminar o colegial, arrebentar-se de tanto trabalhar há mais de três anos para pagar e acompanhar a faculdade de engenharia mecânica e ainda lidar com a pressão de influenciar de maneira positiva o irmão caçula.


 


O sinal dispara na escola da pequena Torquay e estranhamente, a garota que esperava ansiosamente pela aparição de Sam Winchester não era sua atual namorada.


 


_ Então, pronto para colocar a mão na massa? – brinca Brooke.


_ A professora me disse isso agora a pouco e o resultado não foi muito bom. Você quer arriscar mesmo assim? – descontrai timidamente o caçula dos Winchester _ Bem, o problema era de química e eu não entendo nada sobre isso. Agora, sobre mecânica a situação muda bastante – confessa sorrindo.


_ Vocês, homens, parecem ter fixação em carros. – retruca.


_ No meu caso, é coisa de família, sabe? Meu pai era mecânico e ensinou praticamente tudo para o meu irmão, que além de aprender, herdou o gosto pela mecânica e acabou me influenciando. Então, nós somos meio obcecados por carros, motores, velocidade.


_ Deve ser bacana isso, não é? – ele encara confuso _ Passar algo de geração em geração. Deve ser muito bom esse interesse em comum. – o rapaz sorri despertando a sua atenção – Por isso, você trabalha com o seu irmão?


_ É, foi a melhor forma que eu encontrei para ser útil e ajudar financeiramente em casa. Eu me sentia mal em deixar tudo por conta da minha madrinha. – revela sem qualquer embaraço.


_ Madrinha? O que significa que você e a Dawn são irmãos... – teme em completar a sentença.


_ Irmãos em todos os sentidos, menos no sanguíneo. – faça tranquilamente.


_ Ah! Você e o seu irmão foram adotados... – fala mais para si.


_ Fomos, mas não da maneira mais convencional. Mas, sim, a Joyce optou por cuidar de nós dois por livre e espontânea boa vontade. – abre um largo sorriso.


_ Nossa... – surpreende-se – Deve ser ótima a sensação! – ele estranha a colocação _ A sensação de ser acolhido por alguém, simplesmente, por sua vontade e não por obrigação. Isso deve ser incrível.


_ É, eu acho que todas as famílias tem as suas particulares. Ser filha de atriz e político não é muito comum. – revida o questionário pessoal.


_ E bastante solitário. – sussurra a espécie de desabafo _ Mas, se você não conseguir resolver sozinho o problema no meu carro, eu vou ter que ficar caminhando por muito tempo? – preocupa-se, enquanto o rapaz gargalha.


 


Depois de uma hora analisando e mexendo no motor sem muito sucesso. Apesar de ter descoberto o estrago não poderia consertar o veículo sem os aparatos necessários. Frustrado, o rapaz chama a garota, que já havia sumido dentro da imensa casa. Ressabiado pelo estado comprometido e coberto de graxa, Sam decide entrar na residência do senador Willian Davis e, imediatamente, se impressiona pelo requinte e luxo do lugar. Repentinamente, a moradora aparece e percebe a admiração do visitante. Sorrateiramente, a dona da dona se encanta com o jeito deslocado do jovem e quebra o transe chamando a atenção para a situação de seu carro:


 


_ Acho que você não tem uma boa notícia para mim, senão eu já teria ouvido o motor funcionando.


_ É... Humm... Mas, a notícia não é tão ruim... Se você quiser que eu continue, vou ter mesmo que levar para a oficina, só que por pouco tempo. Em dois dias, o problema estará resolvido. Mas, eu vou entender perfeitamente se você preferir chamar outro profissional para cuidar disto. – apressasse em comunicar.


_ Não! Fica a vontade para fazer o que você achar melhor. Você está me fazendo um favor enorme. Falando nisto, te devo quanto por esta hora? – fala constrangida.    


_ Não, nada! Imagina, não fiz praticamente nada no seu carro... – desconversa encabulado _ Eu só vou ligar para o Dean vir buscar o carro e já vou, ta bom? – se encaminha para a saída da casa.


 


A sensação de vergonha também atinge a jovem e em menos de 10 minutos, ela agradece mentalmente a partida do rapaz. Involuntariamente, ela havia criado uma imensa saia justa para alguém que apenas tentou lhe ajudar. A simplicidade de Sam era visível pela sua forma de agir e seu comportamento. Desacostumada a gestos solidários de homens sem segundas intenções, Brooke reflete pela sorte de Gina em contar com alguém tão atencioso, a burrice de Hermione em se recusar a assumir os sentimentos latentes pelo melhor amigo e a tenra alegria que se debateu sobre sua própria vida nos meses em que pode contar com o apoio e a proteção do antigo namorado. Harry foi o primeiro namorado oficial e verdadeiro da colunista de moda do jornal escolar, no entanto, antes de render-se aos carinhos do capitão do time de futebol, houve alguém que fascinou Brooke por motivos totalmente opostos.


 


Aos 15 anos, a reputação de Brooke Davis não acumulava a descrição "recatada” e sua lista de conquistas guardava mais nomes do que sua memória poderia comportar. Com tantos fatores contrários não era surpresa que sua primeira experiência sexual não ocorresse com um típico príncipe e não fosse caracterizada por romantismo ou sentimentalismo exagerado. A realidade reservou para a jovem em sua primeira noite o ambiente fosse o de um tedioso jantar de negócios e interminável discussão sobre a política e a economia nacional. Aborrecida por alguma razão e ignorada por seus pais como sempre, Brooke encontrou alguma graça naquela noite ouvindo as queixas de um jovem arrogante e de castigo em plena sexta-feira a noite. Draco Malfoy havia aprontado mais uma de suas lendárias idiotices e fora apanhado chegando em casa aparentemente alterado e dirigindo sem carteira e permissão familiar o carro preferido de seu pai. Indignados pela ausência em uma festa, os jovens roubaram garrafas de whisky do bar de Willian Davis e terminaram, sabe se lá como, transando em seu quarto. Muito menos alterado pelo álcool, Draco esteve lúcido o suficiente para se prevenir de qualquer efeito colateral indesejado e sair do local devidamente vestido logo depois do ato.


 


No dia seguinte, Brooke acordou com ressaca, sozinha e com a sensação de ter cometido a maior estupidez de sua curta e desregrada vida. Entretanto, a simples mensagem de texto de Malfoy lhe explicando que sairá sem acordá-la para poupar um dialogo extremamente embaraçoso para ambos e não levantar suspeitas fizeram a concepção de erro ser reduzida drasticamente. O sorriso debochado na segunda-feira e o simples cumprimento renderam a garota à certeza de que não se entregará para um grande amor, no entanto, não tivera sua primeira noite com um qualquer. A normalidade da amizade anormal que travava com Draco era o tudo o que poderia e desejava esperar dele.


 


“Me desculpe por sair sem te acordar. Seria estranho demais, mesmo para nós dois. Eu agradeceria ao meu pai por este castigo, se pudesse fazer isso sem levantar suspeitas. Mas, o importante é que você saiba disto. Draco”.


 Eram as exatas palavras do SMS que recebera de Draco há mais de 2 anos e que fazia questão de preservar armazenado em seu celular. Desta forma, pela primeira vez depois de seis meses o dia de Brooke Davis foi encerrado sem que seu o pensamento estivesse em Harry Potter.


 


 


Saudades dela


Daquela conversa boa


Que o meu amor me chamou


Pra ficar, só pra ficar!


(Dazaranha – Pra Ficar)


 


 


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Mais um capitulo postado! Espero novos comentarios e sugestões para melhorar esta versao da juventude do trio em um universo sem magia. Mas, hoje, gostaria de uma ajuda especial de cada um dos leitores em duas questões. Primeiro, o que voces estao achando do enredo sobre o personagem brasileiro? Está bom ou muito clichê? Bem, fico apreensiva de estar dando muito destaque a ele e esquecendo dos personagens originais. Fiquem a vontade para opinar. Outra coisa seria sobre o titulo da fanfic. Inicialmente seria Velha Infancia e agora optei por We'll Be Alright, ou seja, Vamos Ficar Bem. QUal dos dois tem mais haver com a historia? Espero pela ajuda nestas questões e... Até breve!


 

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