CAPÍTULO 22



CAPÍTULO 22


 


- Aonde vamos? - perguntou Gina.


- Até lá acima, para contemplar a vista. - respondeu Harry assinalando os escarpados degraus que conduziam até o parapeito, uma longa plataforma de pedra que unia as doze torres, o que permitia aos guardas patrulhar todo o perímetro do castelo.


Tratando de passar por cima da presença dos guardas, postados em intervalos regulares, Gina contemplou o vale iluminado pela lua, enquanto a brisa lhe agitava o cabelo sobre os ombros.


- A vista é muito linda daqui de cima. - comentou, e depois de um instante de silêncio, voltou-se para Harry, e acrescentou: - Claymore é muito bonita. Parece invulnerável. Não consigo imaginar como conseguiu dar procuração dele. Estes muros são tão altos, e a pedra tão lisa. Como conseguiram escalá-los?


- Não os escalamos, - respondeu ele com expressão de regozijo - mas sim cavamos túneis por baixo, sustentados por vigas. Depois, incendiamos os túneis, e ao derrubar as vigas, o mesmo ocorreu com o muro.


Gina abriu a boca, surpreendida, e então lembrou algo.


- Ouvi dizer que utilizaram o mesmo método com o castelo de Glenkenny. Parece algo extremamente perigoso.


- E é.


- Então, por que o fizeram?


- Porque não podemos voar. - respondeu Harry, e lhe afastou uma mecha de cabelo da face - Que é a única outra forma de acessar o pátio de treinamentos.


- Isso significa que qualquer um poderia entrar aqui da mesma forma. - comentou ela, pensativa.


- Poderiam tentar, - disse ele com um sorriso - mas seria uma estupidez. Justo aí diante, a poucos metros dos muros, fiz construir uma série de túneis, que se derrubariam sobre os invasores para o caso de tentassem fazer o que eu fiz. Ao reconstruir este lugar - acrescentou ao mesmo tempo em que a tomava pela cintura e a atraía para ele - tentei redesenhá-lo de forma que nem sequer eu mesmo pudesse penetrar nele do exterior. Faz oito anos, as pedras destes muros não eram tão lisas como agora. - Assinalou as torres que se levantavam dos muros, a intervalos regulares. - E essas torres não eram redondas, como agora, e sim quadradas.


- Por quê? - perguntou Gina intrigada.


Deu-lhe um quente beijo na frente, e respondeu:


- Porque as torres redondas não contam com fissuras que os homens podem utilizar para escalar. Quadradas, como as de Weasley, são especialmente fáceis de escalar, como bem sabe...


Gina abriu a boca para lhe dirigir uma severa reprimenda por trazer o tema de volta, mas só conseguiu que ele a beijasse nos lábios e prosseguisse.


- Se o inimigo não pode escalar os muros, nem cavar um túnel debaixo deles, a única coisa que resta fazer é tentar colocar fogo. E essa é precisamente a razão pela qual substituímos a cobertura de palha por telhas.


Harry beijou novamente Gina nos lábios, e esta com a respiração entrecortada, sussurrou:


- É muito meticuloso.


- Tenho a firme intenção de conservar o que é meu. - disse ele com um sorriso.


Aquelas palavras lembraram a Gina que ela não tinha podido conservar coisas que deveriam pertencer a seus filhos.


- O que te ocorre? - perguntou Harry ao sentir que a expressão de Gina se tornava sombria.


Ela encolheu os ombros e respondeu:


- Pensava que é natural que deseje ter filhos e...


- Desejo seus filhos. - disse ele tomando seu rosto entre as mãos.


Ela esperou, rezando para que lhe dissesse: «Eu te amo.» Ao não fazer, tentou se convencer de que o que havia dito dava a entender.


- Eu tinha muitas coisas... jóias e outras lembranças. - continuou Gina pensativa. - Coisas que pertenceram a mim mãe e que, por direito, deveriam ter pertencido a nossos filhos. Duvido muito que meu pai me entregue isso agora. Como deve saber se tiver lido o contrato matrimonial, não me deu nenhum dote.


- Agora não pode dizer que não tenha dote. - replicou ele asperamente.


Confusa, Gina se deu conta repentinamente de que tinha chegado ao matrimônio levando apenas ela, e voltando o olhar para o vale, disse:


- Não tenho nada. Vim a você com menos posses que o mais humilde dos servos, sem contar sequer com uma ovelha como dote.


- Não há necessidade de ovelhas. - disse ele em tom áspero. - Sua única posse é a mais linda propriedade de toda a Inglaterra, chamada Grande Oak pelos carvalhos gigantescos que protegem suas portas. - Observou seu olhar de assombro e acrescentou com um sorriso: - Henrique lhe entregou como presente de noivado. Será sua casa de campo.


- Que... amável... de sua parte. - disse Gina, a quem achava extremamente difícil falar assim do rei inglês.


- Me arrebatou por isso. - disse Harry olhando-a pela extremidade do olho.


- OH. - exclamou Gina perplexa. - Por quê?


- Foi o castigo que me impôs pelas ações que realizei com uma certa jovem escocesa capturada em uma abadia.


- Não estou tão certa de que nos encontrássemos nos terrenos da abadia.


- Conforme afirmou a abadessa, estavam.


- Sério? - perguntou ela.


Mas Harry não a escutava. De repente, ficou olhando fixamente para o vale, com o corpo tenso e alerta.


- Aconteceu algo? - perguntou Gina, que olhou preocupada na direção em que ele olhava incapaz de detectar nada anormal.


- Acredito que nossa agradável estadia está a ponto de se ver interrompida. - respondeu ele friamente, enquanto observava fixamente um ponto de luz quase invisível mais à frente do povoado. - Temos convidados. - Outros seis diminutos pontos de luz surgiram à vista, na distância. Depois, uma dúzia mais. E finalmente mais do dobro dessa quantidade. - Deve ser pelo menos cem, provavelmente mais. E estão a cavalo.


- Convidados...? - perguntou Gina.


Mas sua voz se viu abafada quando um dos guardas, situado à direita, levantou repentinamente a trombeta e a fez soar. Outros vinte e cinco guardas, localizados no parapeito, voltaram-se em sua direção, e um momento mais tarde, depois de confirmar o que tinha visto, levantaram seus próprios clarins e, de repente, a pacífica noite se viu rasgada por seu tenebroso som. Pouco segundos depois, o pátio de treinamentos se encheu de homens armados, alguns deles ainda se vestindo. Gina se voltou para o Harry e perguntou, preocupada:


- O que ocorre? São inimigos?


- Eu diria que se trata de um contingente procedente de Weasley.


Sir Godfrey e Sir Stefan subiram precipitadamente pelos degraus que conduziam ao parapeito, prendendo as espadas longas ao cinto, e Gina começou a tremer diante da idéia de que se produzisse um derramamento de sangue.


Harry começou a dar ordens a seus capitães e depois, dirigindo-se a Ginevra, que olhava alarmada em direção às luzes, disse com suavidade:


- Ginevra...


Ela o olhou com expressão de temor, e Harry se deu conta imediatamente de que tinha que afastá-la dali, para que não presenciasse os preparativos da iminente batalha.


Centenas de tochas começaram a acender-se no pátio de treinamentos e sobre os muros do castelo, e toda a cena aparecia já iluminada com uma fantasmagórica luz amarelada quando Harry tomou a sua esposa do braço e a conduziu para o salão.


Uma vez no dormitório, Harry fechou a porta e se voltou para Gina, que o olhou com expressão angustiada.


- Não deveria estar aí fora... com seus homens?


- Não. Meus homens já passaram centenas de vezes por isso. - Pôs as mãos sobre os rígidos ombros de Gina e lhe disse com voz firme e tranqüila: - Ginevra, me escute. Meus homens têm ordens de não atacar a menos que eu dê a ordem pessoalmente.


Ela estremeceu, como se só tivesse escutado a palavra «atacar», e Harry a sacudiu ligeiramente.


- Me escute. - ordenou-lhe com voz de comando. - Tenho homens postados nos bosques perto do caminho. Dentro de alguns minutos saberei com exatidão de quantos homens se compõe o contingente que se aproxima. Não acredito que se trate de um verdadeiro exército, a menos que seu pai seja muito mais estúpido do que acredito. Além disso, não teve tempo para chamar seus ardorosos escoceses, nem de formar um exército totalmente equipado. Acredito que só se trate de um grupo do clã Weasley, que certamente estão incluídos Lordes Hastings, Dugal e seu pai. Tendo em conta que estará furioso porque te tirei do castelo, é natural que esteja furioso. Por outro lado, salvará um pouco o orgulho se conseguir entrar em Claymore, embora para isso necessite de uma bandeira de trégua e vir acompanhado de um inglês da corte da Câmara da Estrela.


- E se tratar de um grupo pacífico, - perguntou ela angustiada - o que fará?


- Baixarei a ponte levadiça e os convidarei a entrar - respondeu ele.


Gina afundou os dedos nos musculosos braços de Harry e disse em tom de súplica:


- Não lhe faça nenhum mal... por favor...


- Ginevra... - disse ele sem poder dissimular a tensão do momento.


Mas o abraçou com força e gritou, fora de si:


- Não lhe faça nenhum mal! Deu-me sua palavra! Farei qualquer coisa que me peça... algo... Mas não lhe faça nenhum dano.


Exasperado, Harry a afastou e tomou o queixo.


- Ginevra, a única coisa que ficará ferido esta noite será meu orgulho. Chateia-me mais do que imagina baixar a ponte levadiça e deixar que seu pai entre em meu castelo.


- Não se preocupou com seu orgulho quando abandonou weasley me levando com você. - disse Gina quase histérica. - Como acha que se sentiu por isso? É seu orgulho tão grande que não pode deixá-lo para o lado embora seja só por algumas horas, por uma única vez?


- Não.


Aquela única palavra expressa com tão serena convicção, tirou finalmente Gina do pânico que experimentava. Depois de soltar um prolongado suspiro para se recuperar, apoiou a frente contra o peito de Harry e assentiu com um gesto.


- Sei que não causará nenhum dano a minha família. Deu-me sua palavra.


- Sim. - disse ele em tom tranqüilizador. Tomou-a entre seus braços, deu-lhe um beijo rápido, voltou-se para a porta e se deteve ali, com a mão no queixo. - Fique aqui, a menos que envie alguém para te buscar. Enviei a sua procura o frade para que dê testemunho de que estamos verdadeiramente casados, mas imagino que os emissários de nossos reis quererão te ver para assegurar-se de que te encontra bem e não sofreu dano algum.


- Muito bem. - assentiu ela, e acrescentou rapidamente: - Meu pai estará com um humor terrível, mas Carlinhos é suave e poucas vezes perde a cabeça. Eu gostaria de vê-lo antes que partam... falar com ele e enviar uma mensagem a Luna. Permitirá que suba para me ver?


- Se me parecer prudente, farei. - respondeu ele.


 


Iradas vozes masculinas se elevaram ensurdecedoras, do salão, e chegaram até o dormitório, onde Gina passeava dê um lado para outro, à espera, aguçando o ouvido, e rezando. À voz de seu pai, coléricas, uniram-se as vozes não menos furiosas de seus meio-irmãos, assim como as de Lorde Hastings e Lorde Dugal. A voz de Harry, dura e autoritária, levantou-se sobre as demais, e logo se produziu um silêncio... um estranho e prolongado silêncio que não pressagiava nada bom.


Sabendo que podia observar o que ocorria se saísse do dormitório e fosse para a galeria, Gina se dirigiu para a porta e, antes de abri-la, vacilou. Harry tinha lhe dado sua palavra de que não causaria mal a nenhum membro de sua família, e a única coisa que tinha lhe pedido em troca era que permanecesse na habitação. Parecia um engano não honrar ao seu desejo.


Afastou a mão e se afastou da porta. Depois, vacilou de novo. Pensou que podia honrar seu desejo e, além disso, escutar melhor se abrisse um pouco a porta, sem sair da habitação. Fez girar com cautela e abriu a porta alguns centímetros.


- Frei Gregory verificou que o casal está casado. - dizia Lorde Hastings, o emissário inglês da corte do rei Henrique. - Tudo parece indicar que Claymore cumpriu com o acordo ao pé da letra, embora provavelmente não o fizesse por meios normais, enquanto você, Lorde Weasley, ao haver confabulado para esconder a sua filha e afastá-la a de seu legítimo marido, não cumpriu o acordo, tanto em espírito como de fato.


O emissário escocês murmurou umas palavras conciliadoras, mas o pai de Ginevra exclamou:


- Porco inglês! Minha filha foi quem escolheu entrar em um convento. Suplicou-me que a enviasse para longe. Estava disposta a se casar, mas era seu santo direito escolher a Deus como seu senhor, se assim o preferisse. Nenhum rei pode lhe negar o direito de se entregar a uma vida de reclusão e devoção a Deus, e você sabe muito bem! Tragam-na aqui imediatamente e ela mesma lhe dirá que essa foi sua escolha.


As palavras de seu pai rasgaram o coração de Gina como uma espada afiada. Estava claro que tinha tentado trancá-la em um convento pelo resto de seus dias, e sem lhe dizer sequer o que se propunha fazer; tinha estado disposto a sacrificar a vida de sua própria filha para se vingar de seu inimigo. O ódio por um estranho era mais forte que o amor por ela.


- Deixem que desça! Ela mesma lhe confirmará que digo a verdade! - falou o conde de Weasley. - Exijo que desça agora mesmo! O bárbaro se opõe porque sabe que sua esposa o detesta, e que ela confirmará o que digo.


A profunda voz de Harry soou com tão serena convicção que Gina sentiu que a ternura se mesclava em seu peito com a dor diante da traição de seu pai.


- Ginevra me contou a verdade, e a verdade é que ela jamais colaborou em sua intriga. Se restar algum sentimento por ela, não a obrigará a descer para lhe dizer no rosto que é um embusteiro.


- Ele é o embusteiro! - gritou Malcolm. - Ginevra demonstrará!


- Lamento que seja necessário causar a infelicidade de sua esposa, - interveio Lorde Hastings - mas tanto Lorde Dugal como eu estamos de acordo em que à única forma de chegar ao fundo deste assunto consiste em escutar o que ela tenha a dizer. Não, sua graça, - acrescentou imediatamente - tendo em conta as circunstâncias, parece-me melhor que seja Lorde Dugal e eu quem vá procurar à dama para escoltá-la até aqui... e impedir que qualquer uma das duas partes exerça coação sobre ela. Peço-vos que indiquem Lorde Dugal e a mim, qual é seu quarto...


Gina fechou a porta e sentiu que algo a rasgava por dentro.


O ambiente no salão era tenso e hostil quando entrou acompanhada de suas duas escoltas. Os homens armados de Weasley, Claymore e os do rei Henrique e o rei Jacob se encontravam alinhados ao longo das paredes. Perto da lareira, estavam o pai de Ginevra e seus meio-irmãos, assim como Harry; todos voltaram o olhar para ela.


- Sua graça... - começou a dizer Lorde Hastings, dirigindo-se a Ginevra.


Mas o conde de Weasley o interrompeu com impaciência.


- Minha querida filha, - exclamou - diga a estes idiotas que era seu desejo fugir para o convento, em vez de ter que suportar toda uma vida em companhia deste... bastardo. Diga que você mesma me pediu, suplicou-me que te permitisse fazer, que sabia...


- Eu não sabia de nada. - interrompeu-o Gina, incapaz de suportar por mais tempo aquela comédia. -Nada!


Harry se adiantou para ela e Gina viu em seus olhos uma expressão serena. Mas seu pai não tinha terminado.


- Se detenha! - rugiu dirigindo-se ao duque, e avançou para Ginevra, com uma mescla de fúria e incredulidade no rosto. - O que quer dizer com isso de que não sabia de nada? Na noite em que te disse que tinha de se casar com esta besta, pediu-me que te permitisse retornar à abadia de Belkirk...


Gina empalideceu diante daquela súplica já esquecida, expressa em um momento de terror, e desprezada por seu pai como impossível. Agora, suas próprias palavras cruzaram rapidamente por sua mente: «Retornarei à abadia, ou irei morar com tia Elinor ou em qualquer outro lugar que me diga».


- Sim, eu disse. – falou e olhou fixamente para Harry, cujo rosto se transformou em uma gélida máscara.


- Vejam! Isso demonstra! - exclamou seu pai.


Gina sentiu que Lorde Hastings a tomava pelo braço, mas deu um puxão para liberar-se.


- Não, me escutem, peço-lhes. - gritou, com o olhar fixo nos olhos carregados de violência de Harry. - Me escute. - pediu-lhe. - Disse a meu pai, é certo, mas esqueci porque... - voltou repentinamente à cabeça para seu pai - Porque você não quis me escutar. Mas jamais estive de acordo em me casar primeiro e depois fugir para um convento. Diga. - gritou. - Diga que nunca soube de nada disso.


- Ginevra. - disse seu pai, olhando-a com amargura e desprezo. - Estava de acordo quando pediu que a enviasse a Belkirk. A única coisa que fiz foi escolher uma abadia mais segura e distante. Nunca abriguei a menor duvida de que antes teria que cumprir com a ordem de nosso rei de se casar com este porco. Isto eu também sabia. Por isso a princípio me neguei a aceitar sua súplica.


Gina desviou o olhar da expressão acusadora de seu pai até o rosto de granito de Harry, e experimentou uma sensação de pânico e derrota que ultrapassou qualquer outro sentimento. Voltou-se, recolheu a saia e se dirigiu lentamente ao estrado, como em um pesadelo.


Atrás dela, Lorde Hastings pigarreou e, ao falar, dirigiu-se tanto ao pai de Gina como para Harry.


- Ao que parece tudo foi um grave mal-entendido entre as partes. Se for tão amável de nos proporcionar alojamento por esta noite, Claymore partiremos pela manhã.


As botas ressonaram sobre o chão de pedra à medida que todos foram saindo do salão. Gina já se encontrava no alto da escada quando alguns gritos e o grito de seu pai fez com que lhe gelasse o sangue nas veias.


- Bastardo! O matou! Pagará com sua vida!


O som tumultuado dos batimentos do coração de Gina abafou todo o resto. Voltou-se e desceu correndo pela escada. Ao precipitar-se além da mesa, viu vários homens inclinados sobre algo, perto da porta, e Harry, seu pai e Malcolm contidos a ponta de espada.


E então, os homens que se achavam perto da porta se levantaram lentamente e se afastaram...


Carlinhos estava caído no chão, em meio de um atoleiro de sangue. O punho de uma adaga se sobressaía de seu peito. Gina soltou um grito de espanto e correu para o corpo que jazia no chão.


- Carlinhos! - jogou-se a seu lado, sussurrou seu nome, mediu cegamente em busca do pulso, que não encontrou, e acariciou seus braços e seu rosto. Com voz entrecortada, pediu-lhe que não estivesse morto. - Carlinhos, por favor, não... Carlinhos!


Então viu que o punho da adaga mostrava a figura esculpida de um lobo.


- Detenham esse bastardo! - gritou seu pai atrás dela, e tratou de se jogar sobre Harry, mas o homem do rei o impediu.


- A adaga de seu filho está no chão. - observou Lorde Hastings com voz penetrante. - De forma, que não há nenhuma detenção a fazer. Soltem Claymore. - ordenou a seus homens.


Harry se aproximou de Gina.


- Eu...


Mas ela girou, e quando se voltou novamente para ele, empunhava a adaga do Carlinhos.


Nesta ocasião, Harry não subestimou sua habilidade nem sua intenção. Olhou-a fixamente, para detectar a tempo o momento em que ela decidisse lançar-se.


- Baixe essa adaga. - disse com voz serena.


Ela a levantou ainda mais, apontada para seu coração.


- Matou meu irmão. - resmungou.


A adaga cortou o ar, e Harry segurou Gina pelo braço, o retorceu e a arma que caiu ao chão, mas então teve que empregar toda sua força para contê-la.


Enlouquecida de dor, Gina se lançou de novo contra ele e lhe golpeou o peito com os punhos quando ele a tomou entre seus braços.


- Demônio! - gritou Gina histérica, enquanto alguns homens levavam o cadáver de seu irmão. - É um demônio!


- Me escute! - ordenou-lhe Harry, segurando-a pelos braços. Os olhos que ela levantou para o olhar soltavam faíscas de ódio e estavam cheios de lágrimas que não podia derramar. - Disse-lhe que podia ficar para trás se desejasse falar com você. - Soltou-a e acrescentou: - Ao lhe dar as costas para acompanhá-lo para acima, ele já estava desembainhado sua adaga.


Ginevra o esbofeteou com todas suas forças.


- Embusteiro! - respondeu-lhe com a respiração entrecortada. - Desejava se vingar porque acreditava que eu tinha conspirado com meu pai! Senti pela expressão de seu rosto. Desejava se vingar e matou à primeira pessoa que encontrou em seu caminho!


- Digo que ele primeiro desembaiou sua adaga! - exclamou Harry.


Mas em vez de tranqüilizá-la, isso só fez encolerizá-la ainda mais, e por uma boa razão.


- Eu também levantei uma adaga contra você, - gritou furiosa - mas pegou como se tratasse do brinquedo de um menino. Carlinhos tinha a metade de seu corpo, mas não o afastou para o lado, mas sim o matou.


- Ginevra...


- É um animal! - sussurrou, olhando-o com ódio.


Preso ao remorso, e sem poder evitar se sentir culpado, Harry tentou mais uma vez mais convencê-la.


- Dou-lhe minha palavra...


- Sua palavra! - exclamou em tom depreciativo. - A última vez que me deu sua palavra me assegurou que não causaria nenhum dano a minha família. - Voltou a esbofeteá-lo, com tanta força que fez girar a cabeça.


Harry a soltou, e quando a porta da habitação de Gina se fechou de repente, ele se aproximou do fogo. Apoiou uma das botas sobre um tronco, introduziu os polegares na parte posterior do cinturão e olhou fixamente as chamas, enquanto em seu cérebro começavam a martelar as dúvidas a respeito das verdadeiras intenções do irmão de Gina.


Tinha acontecido tudo tão rapidamente. arlinhos estava perto, atrás dele, que se achava a poucos passos da porta, observando a saída de seus indesejáveis convidados. Pela extremidade do olho, Harry detectou uma adaga que deslizava para fora de sua bainha, e sua reação foi instintiva. Se tivesse tido tempo para pensar, ou se Carlinhos não tivesse estado tão condenadamente perto dele, teria reagido menos instintivamente e com maior precaução.


Agora, entretanto, ao pensar nisso lembrou perfeitamente que tomou o jovem pelo braço e o convidou a ficar para ver Gina, e que nesse momento não lhe pareceu nada agressivo.


Harry levou a mão ao rosto e esfregou a ponta do nariz. Fechou os olhos, mas não pôde se separar de sua mente a terrível verdade: ou tinha se enganado ao julgar que Carlinhos não constituía nenhuma ameaça, ou acabava de matar um homem que havia desembainhado sua adaga como medida de precaução, no caso de Harry o atacasse.


As dúvidas de Harry irromperam em seu cérebro para se converterem em um insuportável sentimento de culpa. Julgava desde os treze anos os homens e os perigos que representavam para ele, e nunca se equivocou. Essa noite, por outro lado, tinha considerado Carlinhos um jovem inofensivo.


 


 


 


 


 


gilmara: Eles são mesmo demais. Beijos e um Feliz Natal.

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