O Irônico que muito come



Dirigiu-se a sala de estar para aguardar seu irmão e sua mãe terminarem o café da manhã, eles o acompanhariam até a estação. Estava sem fome. Seu coração palpitava rapidamente, sua ansiedade era absurda. Monstro estava limpando os quadros daquele cômodo, as pinturas reclamavam a todo o instante, mas o elfo fingia não escutar. Por mais que não gostasse dele, Sirius cumprimentou-o:

- Olá Monstro.

Ele virou-se, encarou o garoto com seus enormes olhos, antes de dizer:

- Filho de Senhora irá para Hogwarts?

- Mas é claro! – respondeu animado.

- É bom para Monstro e para o menino-bom... Vamos ficar sem vê-lo durante um ano inteiro! Monstro e Senhora vão viver apenas com filho bom! Nada de traidores, nada! Monstro, Senhora e filho bom!

- Bom pra vocês, então... – Sirius demonstrou total indiferença em sua resposta.

- É bom que não se importe com a opinião dos elfos, Sirius... – disse Régulos, estava com a gaiola de Hésti nas mãos, e a coruja estava ali, dormindo.

- Vamos! – disse a Senhora Black rispidamente – Monstro é bom que tenha terminado de limpar todos esses quadros até eu voltar!

Caminhariam até a estação de King’s Cross, pois ficava próxima. Não foi um trajeto nada agradável. As pessoas observavam-nos intrigados, tanto por conta das vestes, da gaiola e da mala, quanto porque a Senhora Black não parava de dizer o quanto os trouxas eram “imundos” e “nojentos”, e voz extremamente alta.

Ao chegarem ao destino, um homem sem querer esbarrou na Senhora Black, e ela mostrou-se ainda mais insuportável.

- M-me desculpe! – pediu o homem atrapalhado, e continuou andando.

- Ora! Só me faltava essa! Perdoar um trouxa! Toda a imundice de pessoas como esse homem, se é que podemos chamá-lo de homem, vai acabar matando a todos no mundo! Espero que matem uma grande quantidade de trouxas, acabe com essa história de...

Sirius afastou-se. Régulos tentou acalmar sua mãe, enquanto a atenção de diversas pessoas voltava-se a ela. Sirius viu o garoto do Beco Diagonal ali, com seus pais, eles incrivelmente atravessavam uma barreira que havia entre a barreira indicando a plataforma nove, e a barreira indicando a plataforma dez.

- Só podia ser invenção dos bruxos... – resmungou Sirius.

- Vamos logo! – apressou-se Régulos, que continuava a carregar a gaiola da coruja.

A Senhora Black atravessou a barreira primeiramente, logo foi a vez de Régulos, junto com a gaiola, e então, Sirius com sua mala. Se postou em frente a barreira, afastou-se um pouco para pegar impulso e começou a correr, correr, correr, correr, correr... Cada vez a barreira estava mais próxima, sólida, estava pronto para bater nela, fechou os olhos.

Quando abriu viu uma locomotiva vermelha a vapor. Um letreiro alto informava: “Expresso de Hogwarts, onze horas”. Havia muitas pessoas por ali, gatos de todas as cores trançavam por entre as pernas delas, corujas piavam umas para as outras, sobrepondo-se à balbúrdia e havia, além das vozes, o barulho das malas pesadas que eram arrastadas de lá para cá. Na locomotiva haviam muitos alunos debruçados nas janelas conversando com suas famílias, outros corriam de um lado a outro a procura de compartimentos e outros brigavam por lugares.

- Onde é que essa escola vai parar? Olhe a quantidade de sangues-ruins que há por aqui, e esses mestiços imundos... – ouvia-se a voz da Senhora Black, desagradável como sempre.

- Vejo que aqui é um lugar perfeito pra você, hein Sirius? – perguntou Régulos olhando de um lado a outro.

- Pois é, é como nos meus sonhos, mal posso esperar para sentar em um compartimento cheio de pessoas trouxas! – disse sarcástico. O irmão riu.

- Olha só como ousa falar conosco! – disse a Senhora Black, puxado as orelhas de Sirius com força – Não ouse manchar a tradição de nossa família.
E soltou-o com violência fazendo com que perdesse o equilíbrio e caísse no chão. Régulos logo se precipitou em ajudá-lo a se levantar. As pessoas olhavam, perplexas, a cena, muitos olhares se dirigiam da Senhora Black a Sirius, e de Sirius a Senhora Black.

- Que bruta! – ouviam-se sussurros.

- Com o próprio filho, que absurdo!

Sirius aceitou a ajuda do irmão, e sorriu. Ele retribuiu o sorriso e disse em voz baixa:

- Tente não piorar a sua situação... Sabe o que quero dizer...

- Não gosto dessa pressão, e não sei se quero entrar para a Sonserina. – respondeu indeciso.

- Estou lhe dizendo, Sirius, procure não piorar. – lançou um olhar sério.

- Relaxa, Régulos, sei o que faço.

- Vamos logo Régulos! Não é para ajudá-lo! – disse a Senhora Black rispidamente.

O “menino-mais-novo” a seguiu, e ambos foram em direção à barreira. Régulos virou a cabeça a ponto de lançar mais um olhar de preocupação a Sirius, que retribuiu o olhar com displicência.

- Relaxa... – sussurrou.

Pouco antes de atravessar a barreira, a Senhora Black virou e gritou:
- Não desonre a nossa família!

Ambos desapareceram de vista, ao atravessarem a barreira. As pessoas agora observavam perplexas a Sirius, que sorriu tranqüilo. A balbúrdia foi logo recomeçando, até voltar ao normal. O garoto pegou sua mala e a gaiola, e foi andando em direção ao trem. Inesperadamente uma voz, já conhecida, falou com ele:

- Oi, não sei se você lembrará, mas já no encontramos no Beco Diagonal, em frente à Madame Malkin...

- Sim, me lembro – disse Sirius, o garoto parecia muito mais simpático do que quando se encontraram pela primeira vez – James Potter, certo?

- Isso! E você é Sirius Black. Desculpe-me pelo que aconteceu... – disse e coçou a cabeça parecendo um pouco sem graça.

- Não tem problema, já te disse que também não gosto deles.

- Mas eu realmente fui preconceituoso a respeito de você, sabe? Talvez nem todos os Black sejam, ahm... – fez uma pequena pausa – Sabe? Se é que você me entende... – disse ainda mais sem graça.

- Entendo – disse Sirius e sorriu – Não se preocupe...

- Mas é difícil alguém não gostar de sua própria família, então não acreditei. Agora vejo o porque, sem querer ofender! - falou e novamente coçou a cabeça.

- Não ofendeu, não se preocupe. – repetiu.

- Vamos logo, daqui a pouco o trem da a partida.

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- As corujas ficam aqui, conosco, para que a viagem seja mais confortável para elas... – disse um homem a James e Sirius.

- Como posso confiar? – perguntou Sirius intrigado.

- Estou com diversas corujas aqui, quer dar uma olhada?

- Deixe-a logo ai, Sirius! – reclamou James.

- Vai ficar tudo bem Hésti, vão tratá-la bem! – Sirius disse para a coruja, e lançou um olhar desconfiado ao homem.

- Não seja bobo garoto... – e sorriu simpaticamente, enquanto recolhia a gaiola de outras pessoas.

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- Eu adoraria entrar na Sonserina! – ouviu-se uma voz, vinda de um vagão ao fundo.

- Sei que gostaria Severo, me repetiu isso diversas vezes durante as férias. – disse uma segunda voz divertida – Mas eu não sei de certo ainda, dizem que é de lá, da Sonserina, que saem os bruxos mais terríveis!

Os dois garotos entraram no vagão. Puderam ver os donos das vozes: a primeira voz vinha de um garoto, de olhos profundamente negros, uma pele alva, e cabelos também negros e oleosos, que lhe caiam sobre o rosto. A segunda voz vinha de uma garota, tinha olhos impressionantemente verdes-esmeralda, cabelos ruivos e um ar de meiguice.

- Sonserina? – debochou James. – Sem dúvida é a pior casa!

Sirius se sentiu incomodado com o assunto, portanto não falou nada.

- Não se intrometa! – disse o garoto de cabelos oleosos – Não me interessa o que você pensa ou deixa de pensar sobre a Sonserina, ou sobre qualquer outra casa!

- Eu sem dúvida vou para a Grifinória! – continuou James, ignorando o comentário do garoto – Como meu pai!

- Pobre Grifinória! Vai ser um desperdício ter uma pessoa como você naquela casa!

- Vamos, deixe-o pensar o que quiser, Sev. – disse a garota empurrando-o para fora.

Severo tentou esbarrar com força no ombro de James, mas este desviou. Sirius e James se entreolharam e soltaram fortes gargalhadas. A menina mirou-os repreendendo. Eles se quietaram, e esperaram ela estar longe para voltarem a rir. Deixaram as malas em um canto do compartimento.

- “Severo”, isso lá é nome? – disse James rindo.

E continuaram a falar sobre diversas besteiras, até que assim que o trem começou a andar alguém os interrompeu.

- Desculpe atrapalhar, mas será que eu poderia me sentar aqui com vocês? – perguntou uma garota, possuía grandes olhos azuis e cabelos castanhos escuros, que prendia em uma trança. – Eu não encontrei nenhum outro compartimento vago...

- Mas é claro! – disse James se levantando para ajudá-la com as malas.
- Eu sou Sirius Black, e ele é James Potter... – cumprimentou.

- Ah, eu me chamo Jane...

Um baque forte foi ouvido do lado de fora da cabine. Os três saíram para ver o que se passava. Dois garotos mais velhos, que pareciam cursar o quinto ano, estavam zombando de um garoto baixinho e gordinho, de olhos em um tom azul pacífico e cabelos claros, arrepiados, ao lado do garoto, havia uma sacola com diversos doces espalhados pelo chão, e outra dessas ainda estava firmemente presa em uma de suas mãos.

- Olha, o garoto é pequeno, mas come feito um animal! – disse um dos grandalhões arrancando a sacola da mão do menino mais novo, este por sua vez só os fitava com um olhar de desprezo, muito desprezo.

- Sabe... – disse o garoto por fim, mudando o olhar de desprezo para um de pura inocência – Eu sei que esses doces parecem horríveis e tudo o mais... – ironizou - Mas fui eu quem pagou por eles! – concluiu debochando.

O outro garoto, que não carregava a sacola, pegou pela gola da blusa do garoto, erguendo-o no ar. Sirius fechou os olhos, e quando os abriu o garoto estava caído no chão, com um roxo enorme em um dos olhos, o garoto pretendia dar-lhe outro soco, mas o mais novo desatou a falar algo:

- É, é, é... Disseram-me que bater faz bem! – disse irônico, e deu um riso debochado – Portanto prossigam. – concluiu corajoso.

- Ei, ei! Espera ai! O que querem com ele? Doces? Porque não pedem gentilmente? Ou comprem os seus! - disse um garoto se destacando das demais pessoas que observavam a situação. Era um garoto negro, com compridos e grossos cabelos pretos, seus olhos eram castanhos-escuros, ele emitia um ar de “luta pela liberdade”.

- Não se meta nisso, Lester! – disse um dos grandalhões.

- Ah, cala a boca! Sai daqui, vai!

- É! É! – disse o garoto que continuava esparramado no chão – Ouçam-no...

- Vocês não devem ter capacidade, né? – começou a dizer Sirius sem pensar muito bem no que estava falando, antes que os grandalhões resolvessem bater novamente em alguém – É realmente... – disse lançando um olhar a moça do carrinho que vendia doces para um grupo de alunos – É difícil andar um pouquinho e pedir um doce para a mulher! Sim, sim, uma tarefa muito complicada...

- Boa! – desatou a rir o tal de Lester.

O garoto de olhos intensos, que continuava no chão, ergueu a mão.
- A gordura... – disse num fio de voz – A g-gordura... Ela... – olhava para os grandalhões – Não impede, que vocês andem! – disse em um fôlego só. Estava debochando. Diversas pessoas soltaram gargalhadas. Um dos grandalhões ameaçou bater, mas dessa vez foi James quem interrompeu.

- É exatamente isso! O problema não esta em caminhar até a moça, meus caros! Esta em falar com a moça... Esses dois jovens – e apontou para os grandalhões – Tem vergonha, eu repito, vergonha de falar com a moça! E qual é a única explicação...?

- Estão apaixonados! – arriscou uma das diversas pessoas que observavam a cena.

- Exatamente! – concordou outro.

- Ó! – fez o garoto cujo sobrenome era Lester - E por isso... Eles vieram lhe pedir gentilmente para que você desse um pouco dos seus deliciosos doces a eles.

- Ora como vocês ousam! – exclamou um dos grandalhões.

- Algum problema garotos? – perguntou a moça dos doces, que se aproximara.

- Na-não Senhor-ra... – gaguejou um dos grandalhões.

- Viu só? Até gaguejou! Está completamente apaixonado! – gritou outra pessoa que assistia a cena.

- Problema algum – disse o garoto, ironicamente, que estava esparramado no chão – Os belos rapazes estavam pedindo alguns doces... Eu gentilmente ofereci a sacola inteira... – disse fazendo-se de coitado.

- Ó, pobrezinho! – disse a moça dos doces – Toma aqui alguns doces pra você querido! Tão jovem, mas tão gentil! E esse roxo na tua testa, o que é? – e beijou-lhe a face. – Pronto, pronto. E é bom que vocês dois saiam daqui! – disse a moça apontando para os grandalhões – Circulem, porque estão impedindo a passagem de algumas crianças...

Jane se precipitou a ajudar o garoto caído no chão. Sirius e James também se aproximaram. As outras crianças voltavam a seus respectivos compartimentos, e diziam a Peter coisas como “Mandou bem!”.

- Foi genial! – aproximou-se o rapaz negro rindo - Sou Stanley Lester, estou no terceiro ano, da grifinória. – disse estendendo a mão ao gordinho que aceitava a ajuda de Jane para se levantar.

- Sou Peter Pettigrew, sétimo ano... – Stanley riu.

- ‘Tá certo, não pode deixar esses moleques pensarem que são os reis da parada.

Sirius e James também cumprimentaram o garoto.

- E quem é essa graciosa dama? – perguntou galanteador.

- Me chamo Jane...

- Ei, Stanley chega mais! – alguém a interrompeu.

- Vou guardar esse nome... – disse o garoto indicando com um dedo a própria cabeça, e piscou pra ela. – Falou bicho! – disse aos outros três garotos.

Jane enrubesceu absurdamente, e sorriu gentilmente. Sirius e James chamaram Peter para sentar com eles. Durante um bom período de tempo, os quatro continuaram rindo, conversando e comendo os doces – de James, que havia comprado alguns, e de Peter -. Após a farra, ficaram um tempo sem se falar.

Sirius olhava os campos para fora da janela, agora eles estavam ficando mais silvestres, as plantações haviam desaparecido, agora havia matas, rios e morros. Jane lia seu livro, parecia estar completamente atenta a cada detalhe, e fazia algumas anotações no rodapé das páginas, James lia um livro sobre quadribol e Peter olhava para fora da janela, também. O trem fez uma curva brusca, todos se dispersaram:

- Que horas são? – perguntou Jane enquanto se ajeitava no acento – Já deve ter passado umas quatro horas desde que partimos...

- São três e meia – disse Peter sonolento – Que horas será que chegaremos lá? – perguntou e logo bocejou.

- Não sei – disse James sem retirar os olhos do livro de quadribol – Daqui umas duas horas e meia, três horas, por ai... Olhem só – disse apontando para o livro – Houve uma partida há pouco tempo que durou mais de duas semanas!

- Isso é pouco! – disse Peter se ajustando no banco – O recorde foi, acho, de três meses seguidos! Tem chocolate por ai? – perguntou observando os outros dois: Sirius e Jane.

- Sim, sim... Aqui – disse Jane e passou a barra de chocolate ao garoto.

- É esse o meu maior problema, o único se querem saber – disse Peter observando a barra de chocolate seriamente – Eu não consigo passar mais de duas horas sem comer absolutamente nada... – os outros garotos riram do comentário – Comer faz bem, sabe? É por isso que eu tenho essa barriga perfeita... – disse irônico passando a mão pela própria barriga.

- Mas não é tão grande assim – disse Sirius observando – De verdade...
Peter riu.

- Sei que não é! – outra vez falou ironicamente.

- Para de paranóia! – disse Jane – Não é grande não! Pode ficar sossegado, mas saiba que há um limite pra tudo...

Todos riram.

- Quanta futilidade! – exclamou James. Todos concordaram.

E voltaram a conversar, durante longas horas. Começava a escurecer. Uma menina, que possuía um distintivo de monitora preso em seu uniforme, abriu a porta do compartimento e disse:

- Olá, sou Maribel Gorblefh, monitora da Lufa-Lufa, estamos a apenas quinze minutos de Hogwarts, acho que seria bom colocarem suas vestes. Estão em que ano?

- Estamos todos no primeiro ano – disse James sorrindo galante para a garota.

- Muito bem, quando desembarcarmos Hagrid, o guarda-caças, irá guiá-los por uma trilha até o lago, obedeçam-no!

- Está bem – disseram todos em um coral quase perfeito.

E a garota se retirou do compartimento.

- Sabe, todas as garotas em Hogwarts forem como ela... – disse Sirius – Opa! – todos riram.

- Concordo com você, caro Sirius – disse James.

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