Você me amará amanhã?



Capítulo 11 – Você me amará amanhã?


 


-- No Passado --


 


Seria mais fácil se eles usassem magia, se eles se utilizassem de suas varinhas; mas não seria tão espontâneo se eles houvessem se lembrado delas. De modo que, agora, Harry e Hermione estavam no andar de baixo de casa, tentando fazer o menor barulho possível para não acordar seus bebês. Porque era sempre uma pequena guerra fazê-los dormir.


 


Sorrindo baixinho, eles se abraçaram. As mãos dela ao redor de seu pescoço e as dele, na cintura dela.


 


Eles se moviam muito lentamente, dançavam quase como se apenas movessem os quadris. Cada qual com um fone de ouvido do novo Mp3 player de Hermione.


 


Harry se curvou para capturar os lábios da esposa suavemente, os olhos dela se fechavam no momento em que ele a tocou na boca.


 


---


 


 


-- Em algum lugar no futuro --


 


-Está escondendo algo de mim?


 


Hermione só não esperava que Harry dissesse “sim” como ele fizera.


 


Ela quis esbofeteá-lo, xingá-lo. Quis feri-lo e gritar. Mas nenhum som, ela não conseguia proferir nenhum som enquanto o observava ressentida.


 


Eu não quero ser racional.


 


-Só, por favor, saia da minha frente.


 


----


 


----- (SQN) -----


 


 


[Flashback]


 


Harry a fitou intrigado, mas a morena continuou. – Então eu aceitei a missão, estarei partindo amanhã bem cedo e, com sorte, volto em algumas semanas – ela o encarou por um instante e acrescentou, ao reparar no ar incrédulo dele: - Certamente antes das crianças retornaram a Hogwarts.


 


Harry por sua vez, tentara não brigar. Ele estava de fato chateado, mas Hermione estrava estranha todo esse tempo e ainda não conseguira descobrir a razão. E, pra falar a verdade, ele estava para além do frustrado. E se ela não chegasse há tempo?


 


Bem, teria de alterar seus planos. Merlim! Que bagunça.


Ele deveria saber que não era o melhor para contornar adequadamente situações inesperadas. Principalmente, porque normalmente ele mais agia impulsivamente, com a cara e a coragem. E apenas isso.


 


Agora, agir assim não era o suficiente e Harry nunca se sentiu mais despreparado. Paciência. Teria que dar o seu melhor. Fazer o melhor que podia sem ajuda de Hermione.


 


[Fim do Flashback]


 


Harry quis ter oferecido um sorriso sincero para Gina, ou um aviso para Draco. Mas ele estava centrado demais para pensar em qualquer coisa que não fosse Hermione e sua viagem “ruindo-os-seus-planos” inesperada. Sua cabeça nublada com a execução do plano B. Ou pra ser sincero: a criação de um plano B.


 


Então, ele não se importou de ser afastado d’A toca por um telefone urgente do ministério.


 


Era desagradável e irritante vê-lo se afastar apenas para atender seu telefonema urgente. Se Hermione quisesse, ela poderia ter quebrado aquele maldito aparelho. Mas ela não queria provocar Harry mais do que fizera, ou causar uma cena (mais uma) na casa dos Weasleys.


 


Então, Hermione sorriu seu sorriso feliz mais falso e cumprimentou calorosamente Gina por seu relacionamento estranho – ao menos sua amiga parecia feliz.


 


--


 


O resultado foi que, ao voltar para casa, ninguém parecia remotamente satisfeito. As crianças ainda observavam seus pais com ares estranhados, para dizer no mínimo. Ao se despedirem da mãe, nenhum deles que sequer fingir estar bem.


 


Chloe sabia exatamente o que sua mãe estava fazendo e queria fechar os braços ao redor dela e falar repetidamente “não”, até que a mulher mais velha a escutasse. Tony não parecia melhor, lançando olhares implorantes à Chloe. Marcus, ao momento, fingia que tudo aquilo não parecia uma crise familiar. Cathy fazia beicinho, não querendo esconder sua decepção.


 


-x-o-x-


 


Hermione suspirou fitando a barraca mágica sem emoção, Seu novo ‘lar’ por duas semanas. Que maravilha.


Seus subordinados já havia se retirado cada qual para seu respectivo “quarto”. Com uma dor de cabeça colossal, ela finalmente entrou no local.


 


Seu quarto era muito agradável, dadas a situação atual. Todo em tons pastéis, espaçoso, havia até mesmo um pequeno banheiro. Infelizmente, também possuía uma enorme cama no centro, o que a fez se sentir ainda mais enjoada.


Uma enorme cama para apenas uma pessoa, que deprimente. Ela odiava camas enormes quando estava viajando só, sempre lhe trazia o sentimento de que algo estava faltando. Depois de tanto tempo casada, era apenas errado dormir em uma cama grande sem compartilhar. Faziam-na lembrar-se de como Harry costumava abraçá-la no meio da noite. Alcançá-la inconscientemente em seu sono, mesmo quando brigados. Dos beijos breves em seu ombro. Da voz rouca dele ao pé do ouvido. Dos beijos em absoluto silêncio. Dos incontáveis toques.


 


Nesse momento, jogando seu malão sobre a cama, para descompactá-lo, a sensação parecia a consumir a fogo brando. Cuidadosamente retirando as roupas e alguns artefatos da mala, Hermione teve um momento de ansiedade procurando um de seus itens mais importante, até recordar-se: quando estava arrumando suas roupas, ela deliberadamente deixou seu diário em casa; havia segurado seu pingente em uma das mãos, desejando ter vontade o suficiente para deixa-lo também. Mas nunca o tirara desde que Harry lhe presenteara, não conseguia fazê-lo naquele momento.  


 


Sentou-se na cama observando sua mala, incapaz de se mover. Mesmo que precisa tomar logo uma poção anti-cefaleia, pois ao momento sua cabeça dava indícios de que explodiria ao menor sinal.


 


A mulher se moveu apenas quando sob suas roupas, seu pingente esquentou e tornou-se vermelho vibrante. Finalmente ela se deu conta das lágrimas marcando sua face.


 


Chocada, a bruxa tentou secar o rosto. Mas era impossível, aparentemente, chorava silenciosamente por incontáveis minutos. Hermione chorava com tanta força que sentia como se sua garganta estivesse queimando. E, por mais que tentasse sufocar os soluços, lá estavam eles, afogando-a em um mar de... dor? Não, era uma tristeza que lhe partia o coração. E era como se nada pudesse colá-lo de volta. Oh Merlim, porque as coisas simplesmente não podiam ser mais simples?


 


Tornou a olhar seu pingente, agora queimando entre seus dedos. A cor não se extinguia, como se Harry estivesse chamando seu nome incontáveis vezes. Talvez ainda não tivesse se dado conta que deixara o diário em casa?


 


A morena se encolheu na cama, ficando de lado, tentando respirar entre os soluços intermináveis e enxergar através das lágrimas.


 


-x-o-x-


 


As duas semanas terminaram. Foram horríveis. O caso fora irritante, os suspeitos eram todos culpados em algum nível. Ela não conseguia esquecer as faces desapontadas de seus filhos. Sentia falta deles. E sem seu diário não tinha um meio adequado de comunicação, ou seguro. Não saber como todos estão a estava matando.


 


Apenas dois dias depois, Harry simplesmente havia parado de chama-la e sua imaginação – incrivelmente fértil – não parava de assaltá-la com imagens de Harry e desconhecidas ilustres em abraços comprometedores, sussurros indecentes e beijos sedentos. O que a transformava na pessoa mais irascível na face da terra. Lançando ordens a torto e direito, sendo uma vadia sem coração, fazendo todos trabalharem exaustivamente e pisarem em ovos ao seu redor.


 


A morena estava irritada consigo mesma por cometer um erro tão primário e ter se afastado, deixando o caminho livre para Harry e quem quer que ele estivesse... Hermione sequer conseguia complementar essa frase.


 


Por mais que precisasse de um tempo para pensar sozinha, até mesmo para chorar tanto quanto seus olhos e garganta aguentasse, ainda fora uma ideia estúpida ter se afastado nesse momento.


 


Duas semanas não pareciam suficientes para ela elaborar um plano de ação que não envolvesse violência física. Mas estava trabalhando nisso. Sentia loucamente falta de seus filhos. E, mesmo odiando-se por isso, de Harry também. De sua voz. De suas palavras... Deus, porque deixara seu diário?! Maldição.


 


Mas estava finalmente voltando para casa.


 


Digamos que todos seus companheiros estão gratos que a missão tenha acabado. E que tenham sido bem sucedidos. Do contrário, eles teriam medo de encarar Hermione para sempre.


O olhar maligno que a mulher lançou ao principal suspeito (e real culpado) por ferir trouxas, assim como suas ameaças – que ninguém mais tinha certeza se eram mesmo vazias... – assustaram tanto o cara que ele implorara para que os aurores que a acompanham não saíssem do local, não o deixassem sozinho com aquela “desequilibrada”. Bem... depois das semanas infernais, ninguém poderia culpa-lo.


 


-x-o-x-


Desde que aparentemente não havia ninguém em casa, a primeira coisa que Hermione fez ao chegar fora ir atrás de seu diário. Este que, surpreendemente, possuía dezenas de passagens com a caligrafia de Harry. Datadas e assinadas (como se ela não reconhecesse a letra do marido). Então, ele não havia dito seu nome de propósito? Para que ela não soubesse que passara todo esse tempo escrevendo descaradamente no diário que pertencia a ela?


A morena passou alguns minutos do seu tempo folheando as páginas a sua frente.


 


“Hermione” (...) “Hermione” (...) “Mione?” (...) “Onde você está?” (...) “Hermione?”.


 


Continuava por quase toda uma folha. Ela se lembrava desse dia, por quase toda a noite seu pingente permanecera brilhante, enquanto ela estava encolhida na sua gigantesca cama substituta chorando incontáveis lágrimas. Seu primeiro dia fora.


 


E os comentários continuavam:


 


“Você não levou seu diário? O que isso...? eu--”.


 


“Hoje senti muito sua falta, é uma pena que não tenha levado seu diário consigo, poderíamos agora mesmo debater sobre seu novo caso. Talvez eu pudesse ajudar. Bem, boa noite, querida...”.


 


“Eu realmente não consigo entendê-la, Hermione”.


 


“Os meninos sentem sua falta também. Mas estão todos bem. Nós estamos jogando todas as noites ‘snap explosivo’. Por favor, me salve”.


 


“Você sabia que Chloe tem um ‘amigo especial’? É claro que você sabia... Meu Deus, Hermione. Que diabos?”.


 


“Joana passou a tarde aqui. Que boa menina é a namorada de Marcus! É uma pena que não posso dizer a mesma coisa de Josh, amigo especial de sua filha, PORQUE EU NUNCA O VI MAIS GORDO”.


 


“Okay. Eu até posso ouvi-la em minha cabeça, sobre como estou fazendo uma tempestade em um copo d’água. Nossa garotinha tem um... amigo especial. O que diabos isso significa?! É o mesmo que amizade colorida?! OH MEU MERLIM. OH MEU MERLIM”.


 


Hermione mal pode conter o riso. É claro que Harry ia surtar, exatamente por conta disso não contara ao marido que a filha estava saindo com alguém. Chloe insistia que não era nada sério. Mas é claro que Hermione sabia melhor e nunca comprara o “não é nada demais, mamãe. Eu só estou me divertindo um pouco”.


 


Chloe sempre fora a garotinha do papai. E Harry curtia a ilusão de que ela seria inocente para sempre. Nunca interessada em garotos, garotos reais, só os dos livros. Pois, como a menina dizia, eles sempre eram perfeitos e quase sem defeitos...


Harry achava que sua bebê nunca encontraria o rapaz ideal porque a moreninha tinha estandartes tão altos que nenhum garoto repugnante alcançaria. Jamais. Pobre Harry...


 


“Tony e Marcus me deram um relatório completo do sujeito. SONSERINA?!”.


 


“Sem problema. Eu... eu vou lidar com isso”.


 


“Oh meu Deus! Eu já o odeio, você sabe?! E estou desapontado com você, querida. POR MERLIM, deveria ter me contado. Não é como se fosse lançar uma maldição no rapaz.”


 


Hermione tinha suas dúvidas...


 


“Você sabe o que é pior? Chloe insiste que não é nada demais. Minha garotinha sequer percebe, amor. É óbvio que o que quer que acha que tem com esse rapaz, seus sentimentos são profundos. Ela está em negação. Eu não quero que se machuque... Deus, queria que estivesse aqui; ao menos saberia lidar melhor com isso. O que eu faço, querida?”.


 


“Ninguém cometeu homicídio aqui, mesmo depois do suspeito jogo de cartas dessa noite, então, sim as crianças estão bem”.


 


“Sinto sua falta”.


 


“Espero que tudo esteja correndo bem. Não se machuque. Espero também que não se esqueça de comer, Deus sabe que esquece do tempo quando está trabalhando. Volte para casa bem, desejo que tenha boas noites de sono. Fique com Deus, querida. Eu amo você”.


 


“Como você está? Que pergunta idiota, quando não pode me responder...”.


 


“Está chovendo a cântaros aqui. Cathy correu para dormir comigo, os trovões ainda a assustam. Chloe chegou algum tempo depois. Os meninos estão bancando os fortes, suponho”.


 


Hermione sorriu com tristeza. Era meio que uma tradição familiar passar o mal tempo todos juntos na cama de casal deles.


 


[Flashback]


  


A chuva era torrencial e os raios e trovões cortavam o céu todo tempo. Cathy deveria ter três anos... e estava muito assustada quando abrira com magia a porta do quarto de seus pais.


 


Harry e Hermione àquele momento estavam abraçados e conversando baixinho, mesmo sem necessidade, desde que trovões eram realmente ensurdecedores. Talvez uma atitude inerente aos pais experientes, sabendo que qualquer barulho chamaria a atenção de sua prole e seria utilizado como desculpa para invasões do quarto. Mas muito mais provavelmente apenas uma desculpa para falar ao ouvido e encontrar pontos sensíveis no pescoço do (a) companheiro (a).


 


-Mom? Papai? Eu posso ficar aqui?


 


Os morenos se entreolharam rapidamente, antes de Hermione estender os braços. Aliviada, Cathy correu para a borda da cama para ser pega pela mãe. A moreninha rastejou para o meio da cama, entre seus pais, e pegou a mão de Hermione entre as suas.


 


Harry sorriu resignado para a esposa, inclinando para frente, sobre Cathy e apertando um beijo doce nos lábios de Hermione. Que sussurrou “boa noite” para o marido e beijou a bochecha da filha, antes de deitar.


 


Não havia se passado quinze minutos quando a porta rangeu mais uma vez.


 


-Mom?  - Chloe sussurrou da porta, estreito entre seus braços bu-bu, o ursinho.


 


-Venha querida – Harry disse. A menina não precisou ser chamada duas vezes, tomando o lado de Hermione, ela passou engatinhando por sua mãe e irmã, para se deitar ao lado do pai, abraçando-o, deixando bu-bu esquecido aos seus pés no progresso.


 


-Odeio tempestades – Chloe murmurou e estremeceu.


 


-Nós não temos medo – os gêmeos disseram em uníssono, como se fosse uma deixa. Aparentemente os garotinhos tinham sorrateiramente se arrastado para o quarto e agora estavam ao pé da cama.


 


-Bem, mesmo assim, acho que mamãe precisa de seus bravos guardiões, o que me dizem? – Hermione perguntou suavemente. E acrescentou:


-Eu também não gosto de tempestades...


 


Os gêmeos se entreolharam. – Eu penso que tudo bem.


 


-Se é para protegê-la, Mom.


 


-Claro que é.


 


[Fim do Flashback]


 


Harry escrevera para ela todos os dias nas duas semanas que estivera fora.


Algumas vezes apenas: “lhe desejo um bom dia, amor”, “saudades”, “fique bem”, “Deus te abençoe”. “Por favor, não se machuque”. “Oh querida, cheguei a pensar que este dia nunca iria terminar”. “Os meninos mandam beijos”.


 


A última frase era: “Bem vinda de volta”.


 


-x-o-x-


Suspirando, Hermione deixou finalmente o diário de lado e se organizou para tomar banho. Assim que terminou, colocou sua atenção em desfazer as malas. Pelo menos até seu pingente esquentar sobre sua pele.


 


“Hermione, diga sim pra mim”.


 


Era o que acabara de ser escrito no diário. Ela franziu o cenho. O que, em nome de Merlim, aquilo significava?


 


Ela ignorou o novo chamado da sua corrente. Agora estavam constantes. Mas ela continuou a jogar as roupas por sobre a cama, talvez as queimasse. Provavelmente doaria tudo pra caridade. – retirando as roupas da mala e colocando-as dispostas sobre a cama.


 


Mais uma chamada. Tornou a olhar o diário, as palavras continuavam lá.


 


Hermione, diga sim pra mim”.


 


O que aquela frase significava?


 


---


 


Ela não se assustou ao ouvir o leve ranger da porta, sabia exatamente quem era. Estivera o esperando por um tempo. Mas ainda assim, Hermione brevemente estreitou os olhos para a visão de Harry. O que ele estava fazendo em casa àquela hora? Não era suposto estar cuidando das crianças? Ou pelo menos de Cathy?


 


O que lera mesmo no diário? Os meninos foram jogar quadribol com os amigos. Chloe fora “sair com as amigas” – Harry deixara claro sua desconfiança, acreditando que a menina apenas estava em mais um encontro às escondidas com o “sujeito John”, como o marido o chamava. E Cathy, iria passar a tarde na casa de uma amiguinha. Oh. Era isso.


 


Então... Eles tinham a casa apenas para eles por um bom tempo. Ótimo. Não queria seus filhos vendo o que estava por vir.


 


Harry a fitou com interesse, encostado à porta. – Arrumando o guarda-roupa?


 


Bem, no momento, ela queria ter força o suficiente para erguer seu armário e atirá-lo na cabeça de seu marido. Coincidentemente, este se chamava Harry Potter.


 


O moreno prosseguiu:


- Então a senhora Potter chegou da viajem. Sã e salva.


 


A mulher estremeceu, o tom de sua voz... Por Deus, como sentira falta daquela voz! Fechou os olhos e cerrou os punhos com raiva da sua vulnerabilidade.


 


Hermione queria se voltar ao encontro da voz e se agarrar ao homem a quem ela pertencia com toda sua força. Queria ter as pernas e braços envolvendo-o. Desejava fitá-lo nos olhos e deixar transparecer toda saudade e dor que sentira ao se ausentar. Estaria disposta até a mostrar o medo que sentia - este que a fazia odiá-lo uma parte do dia. –, ela queria prendê-lo a si e fulminar qualquer coisa que a afastava dele. Em principal a sua insegurança e essa sua magoa de, ao menos, imaginar que estaria o compartindo com outra.


 


Percebeu que Harry esperava uma resposta sua e conteve um soluço, sorrindo de si mesma, cheia de amargura, apesar de ter transparecido apenas uma risada cansada. – Sim, há pouco mais de uma hora, só o tempo de tomar um banho, e vir organizar essas coisas.


 


-Não está com fome?


 


Ela só negou com a cabeça, ainda sem encará-lo, com a desculpa de estar a organizar suas roupas sobre a cama.


 


-Meu amor, você comeu alguma coisa no-?


 


Ela suspirou. – Precisamos conversar – disse, interrompendo-o e a si mesma, parando sua tarefa.


 


Decidira que simplesmente não podia ficar um minuto sequer com dúvidas, sabia que apesar de tudo, Harry nunca seria capaz de mentir para ela.


Aquela conversa seria definitiva.


 


E foi exatamente neste momento que perdeu a coerência. Os ensaios de como chegar àquela conversa esquecidos em qualquer parte de sua mente. – Acha certo o que está fazendo comigo?


 


Harry a encarou completamente confuso. – Do que está falando?


 


Quis esbofeteá-lo. - Está escondendo algo de mim?


 


Harry moveu a cabeça para o lado. E então assentiu devagar:


-Sim.


 


-Só, por favor, saia da minha frente.


 


Harry a encarou como se fosse louca. – É claro, sua majestade. Deseja mais alguma coisa?! – Antes que Hermione retrucasse algo mordaz, o homem continuou:


- Qual é o problema dessa vez, Hermione? Não pode ser eu, não é? Você não me vê há duas semanas malditas! Eu simplesmente... não consigo te entender. E isso me irrita. Por favor, só... me diga.


 


-O que está escondendo de mim?


 


Harry se aproximou, parecendo realmente chateado. – Não posso... – os olhos dela o fulminaram e o moreno, espirou:


-Você não confia em mim?


 


-Agora mesmo e mesmo por um tempo: não.


 


Harry parecia ter sido esbofeteado de repente. O choque e dor em seus olhos a fizeram recuar. Levou um minuto para que o moreno se recuperasse, mas quando ele o fez, Harry simplesmente saiu do quarto.


 


Dez minutos depois, ele voltou carregando uma pequena caixa. – Poderia vir comigo? – Estendeu a mão. Franzindo o cenho, Hermione o fitou. – Por favor? – o tom dele era implorante. E a mulher se viu assentindo de maneira relutante.


 


---


 


Ele a levou até o quarto das lembranças, gesticulando para que ela entrasse. Harry parecia, de alguma forma, ansioso. - Ainda não está exatamente... – suspirou. – Então quer saber o que tenho escondido de você. Okay.


 


Respirando fundo, Harry a encarou. – Queria que tudo estivesse certo, mas aparentemente não sou um bom planejador. Então, dito isso...


 


Ele pegou uma penseira e depois sua varinha, retirando um fio prateado do lado de sua cabeça e depositando-o na pensei. Hermione achou que iria vomitar. Ele queria lhe mostrar?


 


-Vá em frente.


[Na Penseira]


 


Foi um alivio reparar que não estava presa em algum encontro clandestino dele. Mas não entendia. Aquela era a lembrança dele do dia em que o pedira em casamento. Por que ele lhe mostraria isso? Não é como se não estivesse lá. Ou como se não soubesse de cor todas as suas facetas antes de, finalmente, aceitá-la.


 


Hermione ofegou um instante depois, como se algo a tivesse atingido. Quando o olhar dele encontrou o dela, a morena disse, como se só então houvesse se dado conta da imensidão do sentimento, como se acabasse de se dar conta, como se aquilo a desconsertasse e ao mesmo tempo fosse tão certo, que ficava ainda mais óbvio e, por conta disto, repetitivo, enquanto seus lábios pronunciavam: – Eu amo muito você.


 


Ele sorriu pelo jeito como ela havia dito: como se estivesse a repreendê-lo. – Eu sei.


 


A morena revirou os olhos marejados e sorriu de volta. – O que eu estava tentando dizer – meneou a cabeça negativamente. - O que quero dizer é:


-Harry James Potter, aceita se casar comigo? – ela indagou, lhe mostrando a aliança que tinha em mãos.


 


O olhar de choque de Harry era espetacular. E Hermione sorriu apesar de si mesma. Então o pensamento de um Harry vinte anos mais moço entrou em cena.


 


Enquanto o rapaz ainda parecia fora do ar, seus pensamentos eram muito claros: “Oh não! Não. Não”.


 


Que diabos?


 


[Fim do momento]


 


-Era isso que queria me mostrar? Que nunca quis se casar comigo?


 


Harry a fitou como se a morena houvesse dito a coisa mais engraçada que poderia ter ouvido. – Não exatamente. Você pode segurar isto para mim, por um instante? Obrigado. Agora, eu quero te mostrar outra memória, se não se importar...


 


Dessa vez, Harry estava com ela. Melhor dito: a puxara com ele.


 


[Penseira]


 


-Isso aconteceu algumas semanas antes do seu pedido.


 


Harry estava a meio caminho da saída de uma joalheira, quando uma atendente linda, de tirar o folego, o interceptou. – Sr. Potter? Eu espero que tudo tenha ficado de seu agrado – ela sorriu de forma iluminada, fazendo com que seu rosto brilhasse.


 


Hermione a odiou. Ela esperava que Harry não lhe dissesse que estava saindo com essa mulher. Ela o mataria.


 


-Muito obrigado. Era tudo que eu esperava – comentou levantando a sacola que tinha nas mãos. Parecendo contente consigo mesmo, realmente orgulhoso, Harry se despediu da atendente com um acesso de cabeça e foi embora.


 


Hermione franziu o cenho, observando Harry mais novo retirar uma caixa da sacola e jogar a sacola no lixo, antes de guardar em seu sobretudo a pequena caixa que era terrivelmente similar a que tinha em mãos.


 


[Fim do momento]


 


Ela sufocou. - Você tem isso por... vinte anos?


 


-Por favor, abra a caixa, Hermione.


 


Ela o fez. Havia um par de alianças dentro.


A mulher o fitou.


 


-Veja você, antes que me pedisse em casamento, eu tinha meus próprios planos... É claro, deveria ter sabido que você, Hermione, sempre está um passo a frente e pegou de sua mão a caixinha e a depositou, ainda aperta, cuidadosamente na prateleira dos diários.


 


-Harry...


 


-Hush – solicitou, dando mais um passo a frente. – Guardei essas alianças esperando uma ocasião especial que, em verdade, nunca se apresentava. Não a ocasião, pelo menos. E mesmo que eu realmente desejasse lhe mostrar... só não parecia o tempo certo. Mas eu tive uma ideia – acrescentou com um sorriso sem graça. – Eu pensei que, em nosso aniversário de vinte anos... bem, pensei que pudéssemos renovar nossos votos.


 


Hermione foi incapaz de conter as lágrimas de alivio enquanto as palavras de Harry e seu significado foram se alojando em sua mente entorpecida pelo ciúme. Ele queria lhe fazer uma surpresa, pedir sua mão “tradicionalmente”, como não tivera a oportunidade da primeira vez. Deus do céu.


 


A mulher se jogou sobre Harry, enlaçando seu pescoço e murmurando “desculpe-me” repetidas vezes. - Eu sinto tanto, Harry. Estava sendo tão irracional e você apenas... Oh céus. Tão lindo... Eu só...


 


-Hermione, nena... O que foi?


 


Rindo entre lágrimas, Hermione se afastou para encará-lo. – Nada. Não foi nada. Você estava dizendo...?


 


Harry deslizou os dedos sob os olhos da esposa. – Eu sou tão apaixonado por você, Mione – Hermione riu feliz beijando-lhe o rosto e queixo, segurando ambos os lados de seu pescoço com as mãos. – E mesmo sabendo que você está presa a mim – ele fechou seus braços ao redor da cintura dela, possessivo. – Para sempre.


 


-Uhum – assentiu mordendo o lábio inferior.


 


-Quero fazer isso. Quero renovar nossos votos. Com nossos filhos como testemunhas. Nossos amigos e colegas de trabalho. Que inferno, até mesmo Draco... E uma nova lua de mel; tenho certeza que conseguiremos tirar férias – ele estava divagando, mas Hermione não se importou.


 


-Sim. Tudo isto parece maravilhoso – ela murmurou, suas mãos efetivamente trabalhando em lhe desabotoar a camisa.


 


-Talvez algumas semanas na Itália? Acho que Gina mencionou conhecer um homem que aluga casas para veraneio...


 


-O que quiser, querido – Hermione afirmou, satisfeita com seu avanço em desnudar Harry Potter.


 


-Hermione... - Ela retirou a vista da fivela do cinto do marido para encontrar seus olhos. – Você me aceitaria de novo? Como seu esposo.


 


A morena sorriu, umedecendo os lábios. – Como eu poderia recusá-lo?


 


-Bem, eu não sei – retrucou. – Tem agido estranho por um longo tempo. Já não sabia o que fazer para que se abrisse para mim. Como se não bastasse, você disse que não confiava em mim.


 


-Sobre isto – Hermione começou, deslizando as mãos sobre o torso de Harry. – Eu explicarei tudo mais tarde. Agora, preciso lhe mostrar o quanto senti saudades – Na ponta dos pés, a avançou para encontrar os lábios dele com os seus.


 


No segundo seguinte, Harry a estava erguendo e empurrando-a contra a parede, um pouco bruscamente. – Desculpe – sussurrou entre seus lábios.


 


-Não pare.


 


 N/a: Feliz Natal (um pouquinho adiantado)!


 

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