Prólogo



Prólogo.



A mão já estava na maçaneta da porta quando suas entranhas congelaram ao ouvir a madeira do chão da sala ranger.

Assustado, abaixou a mão e sacou a varinha no mesmo segundo. Virou-se. Seu coração doía como ele nunca pensou doer e estava apertado.

Seu olhar cruzou com o de Ginny, descalça e com um pijama velho e rosa. O cabelo ruivo estava desgrenhado, caindo revolto sobre os ombros.

Harry engoliu em seco. Ficaram em silêncio durante algum tempo. Harry se sentiu aliviado ao ser Ginny ao invés de Ron ou Hermione.

Se fosse algum de seus melhores amigos, ele estaria em uma verdadeira encrenca.

Não que Ginny não fosse um problema. Mesmo a tratando como sempre – a irmã de seu melhor amigo -, Harry sentia seu corpo congelar e sua mente começar a vagar toda vez que ela sorria para ele. A covinha no canto de seu lábio, o jeito sincero e divertido da garota... Tudo nela o encantava por completo.

Então, ele presumiu, não poderia chamar de sorte Ginny tê-lo encontrado pronto para ir embora de suas vidas.

- Você está indo embora.

A observação óbvia de Ginny chamou Harry de volta para a realidade. Deparou-se com as íris castanhas da garota fixadas na mala em que ele levava.

Assentiu, por fim.

- Sim, estou.

- Você ia embora sem se despedir de ninguém?

Ele não soube definir se ela estava brava ou chateada com a atitude dele.

- Era necessário. – murmurou em um tom de desculpas. – Despedidas nunca são boas.

Ginny balançou a cabeça e caminhou na direção dele. Harry sentiu o sangue parar de correr. Ela se movimentou sem levantar um ruído, e seu corpo pequeno e delicado se mexia com graciosidade enquanto ia a seu encontro.

Quando ela estava bem próxima a ele, ela o encarou nos olhos.

- E você acha justo com Ron e Hermione? Ouvi-os o dia todo comentando com você sobre essa viagem.

Harry mordeu o lábio inferior e franziu o cenho. Abaixou o rosto, evitando o olhar da garota.

- Não é justo com eles. Mas também não acho justo deixa-los ir comigo. Você acha justo deixa-los morrer por minha causa, por causa de Voldemort?

- Não é você quem tem que decidir o que eles querem fazer com a vida deles, Harry.

- Eu não vou deixar mais que ninguém que eu amo morra por mim.

Ginny balançou a cabeça, desgostosa.

- Então você vai se afastar de todos para manter nossa segurança? Não importa que você morra, você estará feliz, mesmo sozinho, se estivermos todos bem?

Harry sentiu o delicioso perfume que ela exalava. Seu peito apertou ainda mais, e sua vontade era apenas segurar aquela garota em seus braços e jamais deixar que ela se fosse.

No entanto, estava indo embora. E Ginny jamais saberia que ele era apaixonado por ela.

Ah, se ela soubesse... Mas ele precisava, porque Voldemort estava atrás dele, e se Ginny estivesse com ele, as coisas seriam apenas mais propicias a se tornar uma desgraça das grandes.

- Já fiz outros sacrifícios para manter a segurança de vocês. – ele comentou em um sussurro. – E faria outros, se necessário.

Ginny suspirou chateada.

- Como você pode ser tão corajoso e tão covarde ao mesmo tempo?

Harry sorriu; um sorriso triste.

- Eu sou contraditório, acho. Escute, Ginny, há uma carta no criado mudo em que eu estava, que era dos gêmeos. Era... Uma despedida. E uma explicação. No estrato da cama há uma carta para Ron, Mione e você.

Ela pareceu surpresa que ele tivesse escrito para ela também. Ela era apenas Ginny, quem ele via como sua irmã, certo?

- Harry...

Ele colocou as mãos em seus ombros. Ela o fitou e ele sorriu.

- Sim?

- Tome cuidado... Tudo bem?

Ele percebeu aquelas lindas íris castanhas marejarem. Seu peito doeu ainda mais e ele fez um esforço inacreditável para se lembrar de que estava partindo justamente para mantê-la em segurança, como o resto de sua família. Aproximou-se dela um pouco, para abraçá-la, mas se conteve.

- Eu sempre me cuido, você sabe.

- Estou falando sério, Harry. – ele percebeu o esforço que ela fazia para não cair no choro. – Não quero ver nenhuma noticia ruim de você no jornal e... E eu não quero que você se machuque.

- Isso vai ser um pouco difícil. – ele comentou divertido, ainda não aquela situação não tivesse nada de divertido. – É de Tom Riddle que estamos falando, não é mesmo?

- Eu sei. – Ginny sussurrou, abaixando seu rosto. –Só que tenho medo.

- De que, Ginny? De que você tem medo?

Ela apenas balançou a cabeça, não revelando seu medo.

Harry se aproximou dela e beijou sua bochecha. Quando se afastou, sua expressão estava de completo insatisfeito. Aproximou-se mais uma vez, com seus lábios separados por milímetros.

Quando ela não se afastou, ele a abraçou e a beijou.

A sensação dos lábios vermelhos e delicados dela pressionados contra os seus, sua língua esfregando na sua foi plena. Harry a apertou contra si, desejando ferozmente que guardasse aquele momento por toda a sua vida, especialmente no caminho tortuoso que iria seguir.

Ele parou de beijá-la e se afastou apenas por um breve segundo, para que voltasse e a abraçasse mais uma vez. Encostou o queixo no topo de sua cabeça ruiva e fechou os olhos, aspirando seu cheiro.

- Me desculpe por isso.

- Eu não te desculpo por você estar indo embora. – ela sussurrou, acariciando seu braço. – Você sabe que eu ainda gosto de você, é por isso que me beijou. Para que eu ficasse desnorteada e que você fosse embora sem que eu armasse um escândalo.

Ela compreendeu errado. Mas, naquele momento, ele achou melhor assim. Sua menina era corajosa o suficiente para que o seguisse, caso soubesse que ele estava louco por ela.

Sorriu, beijando sua testa, para logo em seguida, roçar seus lábios nos do dela. Ginny limpou as lágrimas silenciosas com frustração.

- Talvez sim, talvez não. – ele sorriu. – Tranque a porta quando eu sair e só mostre as cartas aos seus pais amanhã cedo, quando todos acordarem.

Harry deu as costas a ela e abriu a porta. Ela segurou-se no batente quando ele se virou e piscou para ela.

- Obrigado por não me impedir, Gin.

Ela não respondeu. Apenas conteu um soluço em sua garganta.

- Adeus, Ginny.

Ele deu as costas mais uma vez e começou a caminhar. Cinco metros depois, virou-se para ela, acenou e aparatou.

Ginny suspirou, trancando a porta, como ele pedira. Escorregou até o chão e escondeu o rosto entre as mãos, chorando como uma criança.

Ela ainda podia sentir o sabor de seu beijo.

Aquilo era uma despedida.

Ela soluçou.

- Adeus, Harry.


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