A história do outro lado

A história do outro lado



-Viu só querida? A boneca estava nas coisas da mamãe. Ela disse que arrumou seu quarto ontem, e pegou a boneca e trouxe para cá. Você deve ir pedir desculpa ao seu irmão.
-Certo pai.
Assim Sabrina saiu. Era comum ela culpar seu irmão por coisas que sumiam, afinal de contas ele não era nenhum santo. Mas ela sabia reconhecer quando errava. Seus longos cabelos ruivos eram de sua mãe, mas seus olhos verdes e sua fisionomia eram de seu pai. Herdara o gênio forte de Gina, e a curiosidade do pai por coisas proibidas. Ela tinha a mesma altura de seu irmão, mas sabia que ele ia passar dela. Eles não eram gêmeos idênticos, pelo menos ela podia se gabar que nascera cinco minutos antes que ele.
Bateu três vezes na porta do quarto de seu irmão. Este não a atendeu. Talvez estivesse dormindo. Era só o que ele, Andril e tio Rony sabiam fazer. Ela bufou de raiva, uma mania que pegara da sua tia Mione. Desceu as escadas até o segundo andar da casa. Foi para seu quarto.
O seu quarto estava passando por uma série de transformações, assim como ela. Ela já não era criança, mas ainda não havia se tornado adolescente. No quarto um roupeiro de marfim, uma cama de casal, que ainda há dois dias era de solteiro. Tinha uma escrivaninha que ela usava para escrever no seu diário, a janela tinha vista para algumas montanhas. Num canto uma vassoura de quadribol, um esporte que ela praticava muito com o pai e o irmão, e também com sua mãe. Havia prateleiras cheias de livros dados por Hermione, alguns ela tinha comprado que falavam sobre quadribol e outros sobre planta : O Herbarium Completo.
Deitou na cama. E começou a pensar em seu pai. Ao contrario de seu irmão ela sabia de muita coisa sobre o passado dele. Seu pai nunca conversava com sua mãe sobre o passado, mas uma vez ela ouviu uma conversa longa. Para escutar tudo ela usou os ouvidos extensíveis que tinha comprado em uma das lojas de seus tios gêmeos.
Seu pai gritava com sua mãe.
-Eu não vou usar essa fama para achar ela!
-Mas pense também no Deivid.
-Você acha que eu não me culpo pela morte do filho dos meus melhores amigos? É isso?
-Não! Fleur ainda tem esperanças de que a irmã dela esteja viva...
-Então diga a ela para cair na real! Passaram-se quase treze anos. Ela não contou? Tempo suficiente para considerar uma pessoa morta. Você não foi uma auror. Isso não é certidão de óbito já? Hein?
Seu pai parecia brabo. Mas Sabrina podia ver nos olhos de seu pai que tudo aquilo doía muito nele.
-Está bem Harry. Você que sabe. O fato de você ter derrotado Voldemort não te levou a quase nada na sua opinião, né? Eu vou me retirar.
Sua mãe saiu da cozinha, e subiu para o quarto. Sabrina estava escondida na dispensa entre a cozinha e a sala. Seu pai não saiu dali.
-Eu salvei a vida de todos, e não quis me vangloriar. Achei que a fama seria um aminho muito fácil. E agora eu só tenho esse recurso? Não! Eu vou dar um jeito por mim mesmo de encontrar Gabrielle. Talvez Deivid...
Então ela viu pela fresta, que lágrimas saíram da face de seu pai. Ele tirou os óculos redondos e os enxugou, assim se levantou e saiu da cozinha.
Aquela conversa fora há um mês mais ou menos. E Sabrina pesquisou tudo que podia sobre o nome Gabrielle. Descobriu que era a irmã mais nova de sua tia Fleur, que tinha uma filha linda, de apenas cinco anos, com o mesmo nome, em homenagem à irmã, supostamente, falecida.
Seu pai tinha sido o responsável pelo caso. A garota sumira, reaparecera algumas vezes, e na última aparição Deivid, seu primo, morrera, ou melhor, desaparecera.
Sabrina acabou pegando no sono de tanto pensar. Sonhou que dava a mão para um garoto muito bonito, de cabelos ondulados, castanhos, ele sorria para ela com muita ternura. Mas logo ia embora, sem ao menos se despedir.
Ele estava com doze anos. Deivid, este era seu nome. Ele morava com Gabrielle, uma tia que resolvera cuidar dele, depois que seus pais haviam morrido. Sua tia era muito misteriosa, nunca falava do passado, e quase não deixou ele ir para Hogwarts, quando a escola o chamou para estudar lá. Ele agora estava no segundo ano da escola, sentado na mesa da grifinória vendo um bando de apavorados sendo selecionados pelo velho chapéu seletor. Ano passado era ele naquela aflição. Resolveu se divertir olhando aquilo com seus colegas. Tinha uma garota ruiva, parecia séria, tentando não demonstrar o medo que estava sentindo. Por algum motivo ele queria que ela ficasse na Grifinória.
-Sabrina Potter está na .... Grifinória!!!
Todos da mesa bateram palmas a mais nova integrante, só que foi estranho que as demais casas também estavam batendo palmas para ela, que se sentava na ponta da mesa da Grifinória.
-O que aconteceu? – perguntou ao amigo Paulo. – Por quê todos bateram palmas pra ela.
-Tá vendo o garoto que está agora no chapéu?
-Sim. Mas...
-Ele provavelmente também vem para nossa casa.
-Mas eu queria...
-Tiago Potter está na... Grifinória!!!
Novamente todas as casas bateram palmas.
-Por quê isso?
-Eu ia te explicar, mas você não deixou. – Paulo era alto e magro demais perto de Deivid. – Os dois são gêmeos.
-Mas eles nem se parecem...
-Eu sei. São gêmeos não idênticos. Mas eles tem uma fisionomia extremamente parecida. Bem... Mas isso não vem ao caso. Sabe de quem eles são filhos?
-Não faço idéia. Do ministro da magia?
-Não! Você nunca leu livros de história da magia? Você já deve ter visto ano passado isso. Harry Potter, te lembra alguma coisa?
-O cara que matou Voldemort?
-Esse mesmo! Bingo!
-Não me diz que são filhos dele?
-São sim.
Deivid arregalou os olhos.
-Não posso acreditar!
-Mas acredite! É por isso que todos bateram palmas, menos alguns da Sonserina, mas isso é normal.- Paulo fez cara de pouco caso. – Todos gostaram de saber que eles entraram na mesma casa onde Harry Potter esteve, e fez seus primeiros feitos heróicos.
-Mas eu não vejo nada demais. Claro que são filhos de um homem que foi um herói. Seria tão legal conhecê-lo. Imagina ser filho, ou parente dele? Nossa. Que sorte seria! Mas isso não quer dizer que os filhos ao fazer algo extraordinário.
-Nós entramos no time esse ano, certo?
-Sim.
-E foi só porque não tinha substituto para os artilheiros. Nos acharam os melhores dos poucos que fizeram o teste. O nosso time tá precisando de um apanhador, não é?
-É. Nosso primeiro jogo é daqui duas semanas, e não temos apanhador.
-Você quer apostar quanto que o menino Tiago ganha esse cargo?
-Por quê?
-O avô dele, e o pai dele, fizeram história no quadribol para a casa da Grifinória. Harry Potter entrou no time no primeiro dia de aula do primeiro ano aqui, quando apenas tinha onze anos.
-Brinca?
-É sério. Hoje mesmo vão chamá-lo para o teste. O Capitão Sérgio que disse.
-Se não for tão bom, pelo menos não ficamos desfalcados nos jogos.
Assim os dois pararam de conversar porque McGonagall, uma mulher bem velha, a diretora da escola, começara a falar. Logo depois foi servido o tradicional banquete.


Ela se balançava de um lado para o outro. Seus olhos eram inexpressivos. A única pessoa com quem ela sentia um pouco de alegria era Deivid. Mas agora ele voltara para a escola. Fora um juramento que ela fizera. Para que não matassem o bebê, ela teria que ficar com ele, criá-lo. Depois de doze anos, ela ainda não descobrira o porquê. Ela, uma vez, até tentou entregar Deivid, quando este completava um ano de idade. Foi quando sua irmã Fleur sofreu um aborto supostamente espontâneo. O homem que estava por trás de tudo àquilo era poderoso. Ela mal lembrava de seu rosto. Mas se o cara fora capaz de impedir um nascimento, era capaz de muito mais. Ela teve medo pela vida de sua irmã, e também do menino por quem ela começava a sentir carinho.
O tempo passou rápido ao lado dele. Quando chegou a carta da escola, ela temeu que fosse descoberta, e o homem matasse todos. Mas através de uma carta, ele permitira Deivid estudar em Hogwarts. Não ficara nada contente com a indicação dele a casa da Grifinória. Mas há um ano não dava mais notícias. Por um lado um alívio, por outro: medo. O que ele poderia fazer com as pessoas por quem ela ainda conseguia sentir algum amor? Ela sabia que sua irmã, há cinco anos atrás tivera uma menina, e dera o nome de Gabrielle em homenagem a tia falecida. E como isso? Ela estava viva, mas nem mesmo Harry conseguira provar? Harry Potter tinha sido sua última chance. Agora ela estava mais sozinha que nunca. Se pelo menos Deivid fosse feliz.

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-Nem sabe Sabrina...
-O que foi Tiago?
-Me convidaram pra fazer o teste de apanhador do time da Grifinória. Isso não é um máximo?
Ela não acreditou no que ouviu. Por quê convidariam seu irmão que estava apenas no primeiro ano na escola, assim como ela? E por quê, então, não convidaram ela também?
-Que legal – disse ela com pouco caso. Os dois estavam tomando café antes de irem para a aula de feitiço.
-Que legal nesse tom de voz? Isso é sensacional! Depois do papai serei o cara mais novo a entrar...
-Como assim? Você já tem certeza que vai passar no teste? – ela interrompeu seu irmão. Começou a rir dele. – Eu sou melhor que você no quadribol, ganhava até do papai em casa. Eu vou fazer este teste também! Tá decidido!
Tiago abriu a boca pasmo com que ouviu.
-Você tá maluca? Os caras são o dobro do tamanho de você.
-Pelo o que eu ouvi falar os artilheiros são dos segundo ano. Devem ter meu tamanho.
-Negativo. São altos como os do quarto ano.
-Não interessa. Eu vou fazer o teste.
-Não vão aceitar uma menina do primeiro ano como apanhadora!
-Nossa mãe substituiu papai como apanhadora e venceu o campeonato por causa disso. E...
-E foi assim que eles se beijaram pela primeira vez, na comemoração da vitória... já sei dessa história de cor e salteado!
-Então? Quem é melhor?
Tiago a olhou com olhar duvidoso.
-Que vença o melhor querido irmão! Vou para aula, não quero chegar atrasada. Tchauuuu!
Tiago ficou pensando se sua irmã realmente teria chances no teste. Ela era boa jogando em casa, mas aquilo era muito mais real. Ela não ia agüentar a pressão. O teste seria no sábado. Ele não via a hora de fazê-lo.

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