Garota estranha



O ano letivo iniciou-se sem maiores transtornos. Não que isso fosse uma vantagem, é claro. Draco, que em geral achava a escola bastante entediante, já tinha saudades dos anos anteriores. Ainda não tinha se metido em nenhuma confusão, não tinha azarado nenhum calouro nem achado nenhuma garota interessante. “Isso porque você já ficou com todas”, martelou a voz em sua cabeça. Draco não deu ouvidos. Em resumo, os dias corriam sob uma profunda monotonia. À noite, quando não podiam sair do dormitório, Hermione permanecia atrás dos livros, cada vez maiores e mais velhos. Draco tinha a impressão de que ela iria contrair um problema sério de respiração se continuasse tanto tempo imergida em toda aquela poeira. Não que ele se importasse. Ernesto ficava sentado na cadeira mais afastada da sala fazendo os deveres ou simplesmente em silêncio. Isso quando Draco reparava nele, porque na maior parte do tempo nem prestava atenção se Ernesto estava no dormitório.
Luna era a mais interessante de se observar. Estava sempre ocupada com atividades estranhas e poções suspeitas, sendo que Draco perdera as contas de quantas vezes ela quase causou uma explosão séria. A cama dela era rodeada de uma infinidade de objetos indefinidos que Draco tinha até medo de pensar para que serviam. Algumas vezes, porém, ela ficava sentada em frente à lareira contemplando as chamas. Nessas horas, Draco se dedicava aos seus deveres, que não ocupavam mais que algumas horas, e então emergia na inércia. Ele cogitara algumas vezes a possibilidade de deixar todas as lições para a última hora, só para ter alguma emoção. Chegou um ponto em que o garoto desanimava à medida que a noite se aproximava.
Em uma manhã nublada, Draco estava na aula de poções perdido em pensamentos quando Snape pediu aos alunos que se sentassem em duplas. Crable, que deveria estar presente, aparentemente dormira mais tempo do que o devido. As carteiras se juntaram muito mais rápido do que a preguiça de Draco permitiu que ele agisse, e o garoto procurou ver quem havia sobrado. Viu Luna sentada em um canto. “Não se eu puder evitar”, pensou ele. Procurou mais e viu uma garota vindo em sua direção. Ela era baixa, de cabelos negros e ondulados caindo pelos ombros e olhos claros. “Layla”. Seu estômago deu uma fisgada. Ela tinha que estar na sala hoje? Não podia vê-la. Não ainda. Sem pensar, levantou-se e foi em direção a Luna:
- Posso me sentar com você?
- Ah, claro – disse a garota despreocupadamente.
Ele se sentou e olhou sorrateiramente para o lado. Layla continuava vindo. Ele pensou em se levantar novamente, mas era tarde demais. Ela havia chegado até eles.
- Olá, Draquinho.
Ele fingiu que não ouviu.
- Aaahh, não me ignore assim querido. Você me magoa... – sua voz estava afetada, numa tentativa de meiguice – Será que ainda está com tanta raiva de mim?
Não, imagine! Afinal, ela só havia destruído a vida dele! Por que alguém guardaria rancor de uma coisa assim? Layla estava passando a mão pelos cabelos dele. Draco sentiu um calor, mas permaneceu indiferente. Não ia, de forma alguma, dar o braço a torcer.
- Por favor, Draquinho, fale comigo. Não quero que as coisas fiquem assim entre nós... quero ser sua amiga!
Amiga??? Depois de tudo??? Ela agora acariciava a nuca do garoto. Draco não pode controlar o arrepio que percorreu sua espinha. Layla sorriu.
- Esse é o Draco que eu conheço.
Droga! Draco odiava demonstrar fraquezas. Sem que ele pudesse controlar, a voz de sua agradável tia emergiu em sua mente. “Draco, Draco. Te falta sangue frio, meu querido. Lucio sempre teve sangue frio”. Sangue frio. Instintivamente, Draco tirou a mão de Layla de seu pescoço. Olhou finalmente nos olhos da garota.
- Layla, eu esperava que você tivesse notado, mas acho que me enganei, então terei de ser franco. Eu não quero mais você. Não quero falar com você e não quero ver você, portanto, pare de correr atrás de mim porque está começando a me incomodar de verdade. – Draco proferiu a última frase propositalmente alto, e grande parte da sala, incluindo Snape, virou-se para os dois.
- Se a senhorita quiser uma sala para si, eu posso providenciar, srta. Tompson – disse Snape.
Draco sorriu. “O bom e velho Snape”. Ser o predileto do professor tem realmente muitas vantagens. Layla havia corado.
- N... não será necessário professor... eu vou me sentar.
Com um olhar rancoroso para Draco, ela se foi.
- Você ainda gosta dela.
A voz pegou Draco de surpresa e, ao se virar, deu de cara com Luna. Já havia esquecido que ela estava lá. Draco ia responder, mas percebeu que não havia sido uma pergunta, e sim uma afirmação.
- Eu... não é da sua conta!
Luna parecia não ter ouvido.
- Vocês namoraram não foi? Eu lembro, no baile de inverno. Irritou um bocado a Pansy não foi? Era de se esperar, ela gostava tanto de você. Mas vocês não ficaram muito tempo juntos... É, eu me lembro...
Draco estava aturdido. Ela se lembra?? Como pode se lembrar de algo que não lhe diz o menor respeito?? Definitivamente não estava acostumado a ter sua vida exposta assim. “Ainda mais por essa maluca”
Mas antes que ele pensasse em qualquer coisa para responder, Snape começou a falar:
- Muito bem, agora observem bem essa poção. É um elixir utilizado para curar pessoas que tenham tido contato com bétulas roxas. Alguém sabe o que provocam as bétulas roxas?
Uma mão se ergueu ao lado de Draco.
- Sim?
- As bétulas roxas provocam bolhas na parte em que tocam e que, aos poucos, se espalham pelo resto do corpo. Elas causam ardência e coceira, mas se forem esfregadas, estouram e expelem um líquido que pode deixar marcas.
- Hum, vejo que a senhorita andou estudando, para variar. Tome cuidado com esses textos decorados, ou poderá virar uma Granger da vida, muito embora nós saibamos que você não teria tanta capacidade. Agora vejamos: esse elixir, se aplicado sobre tais bolhas, as faz secarem e não provoca manchas. Mas muita atenção, pois o mínimo erro na mistura dos ingredientes pode, desde manchar sua pele, até fazer com que cresçam minúsculos tentáculos na região atingida. Portanto, procurem ser menos imbecis desta vez, apesar do esforço que eu sei que isso vai lhes causar.
Draco e Luna começaram a misturar os ingredientes. A garota misturava-os com uma incrível habilidade, parando pouquíssimas vezes para conferir os ingredientes na lousa.
- Não sabia que você era assim tão boa em poções...
- Eu não sou. Acontece que algumas pessoas se divertem colocando bétulas nos meus livros, ou nas minhas vestes. Por isso sei tão bem o efeito que elas provocam. – falou Luna casualmente - De fato, já fiquei coberta de bolhas tantas vezes que se tornou extremamente cansativo ir toda hora à enfermaria. Então eu aprendi a fazer essa poção, e sempre trago um pouco comigo para eventuais emergências. Tem sido realmente útil.
Draco não pode deixar de sorrir. Luna coberta de bolhas parecia extremamente engraçado.
- Não acho que você deveria correr tanto atrás da Layla...
Draco ergueu as sobrancelhas. Ela estava passando dos limites. Ele não corria atrás de ninguém... Bom, talvez corresse, mas não lhe agradava nada que ficassem jogando isso em sua cara.
- Eu não corro atrás dela. ELA corre atrás de mim... não viu como ela veio implorar minha atenção?
Luna, como sempre, pareceu não ouvir o que ele dizia
- Sabe, aquela garota é meio esquisita.
Draco deu uma risadinha sarcástica. Luna chamando alguém de esquisita? A garota continuava seu monólogo.
- ...as garotas te acham bonito, e você é popular, entende...
Opa. Como assim? Seria isso uma cantada? Aparentemente não. Luna nem parecia reparar que havia alguém a seu lado. De qualquer modo, Draco sempre gostou de elogios. Além do fato de que ser um Malfoy lhe garantia um extremo prestígio entre os Sonserinos, a popularidade de Draco também era decorrente de sua beleza. Tinha 17 anos agora, e o quadribol o fizera ganhar corpo. Aliado ao cabelo liso caindo na testa e os olhos de um profundo azul, tornara-se um ótimo partido. Ele, naturalmente, sabia disso, mas sempre gostava de ouvir de novo. Por isso tinha mantido a amizade de Pansy por tanto tempo. “Até que essa garota é um pouco sensata” pensou ele. Forçou-se a prestar atenção na conversa.
-... e esse é o mal da maioria das pessoas, como meu pai sempre diz...
Draco deu seu melhor sorriso e perguntou:
- Quer dizer então que você me acha bonito?
- Não disse isso...
- Ora, não negue...
Luna fixou nele seus olhos eternamente surpresos
- Está me cantando?
Draco se desconcertou. Mas que espécie de reação era aquela? É claro que ele não estava cantando Luna. Nem em sonho!!! Ele estava apenas... hum... exercitando seu poder de sedução. Poder que, aliás, estava quase enferrujado por falta de uso. Claro, porque desde que se iniciara o ano, suas opções de flerte se resumiam a Luna e Hermione, e ele não estava nem de longe satisfeito com nenhuma as duas. E agora, sua mínima tentativa de voltar a forma, ou seja, jogar charme para o máximo possível de garotas e ver quais podia conquistar, falhara miseravelmente. E por quê? Porque aquela maldita garota não conseguia nem ao menos ser paquerada normalmente. Mau humorado, ele concentrou sua atenção na aula. Odiava a escola.

*Ministério da Saúde adverte: Comentar fan fic alheia NÃO faz cair o dedo. *

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.