Abismo do Tempo



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Duas Realidades

Episódio IX - Abismo do Tempo


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Em aula, Snape parecia distante do que se passava na classe. Sua mente estava
nos acontecimentos dos últimos dois dias. Tentava analisar suas reações e
sentimentos, que sabia estar sendo contraditórios, mas também sabia o porque.
Tinha receios em admitir, mesmo que para si apenas, que suas atividades nas
trevas estavam começando a incomodá-lo, não via mais satisfação ou propósito no
que fazia e, agora, com o aparecimento da estranha garota... justamente o tipo
de pessoa que as trevas queriam livrar o mundo mágico. Snape sabia que estava
dividido e teria que parar pra pensar seriamente nisso e tomar uma decisão
definitiva! E Hermione era a sua maior preocupação, ela se tornou um mistério e,
se de fato era alguma armadilha preparada para ele, queria ver qual era essa
armadilha... ela própria era um caso mal contado, talvez tivesse que
pressioná-la a falar ou, em último caso, usar veritaserum, a proibida poção da
verdade.





Seus pensamentos foram grosseiramente interrompidos com um minúsculo bolinho de
pergaminho, que lhe acertou a face esquerda. Olhando por cima do ombro, viu John
Michaelsen com aquele típico sorrisinho jubiloso, que estava sentado numa classe
acima. Com apenas um suspiro entediado, voltou-se para frente.





_Ah, você, Michaelsen? O que quer?





_Saber onde anda o velho Severus Snape, pois, com certeza, não é aqui...





John desaparatou e aparatou na carteira desocupada ao lado de Severus,
aproveitando uma distração do professor abaixo no tablado. As aulas teóricas
eram ministradas em sala idênticas a anfiteatros.





_Por onde a adorável Srta Hermione Granger tem levado o nosso caríssimo Severus
Snape, heim? - Troçava Michaelsen, sorrindo. _Já havia reparado que você estava
meio estranho nos últimos tempos, mas o aparecimento da antiga amiga de escola,
realmente tem tirado você de órbita, Severus...





Snape apenas olhou indagador para Michaelsen, afinal, o que ele dizia era
verdade... Como havia coisa demais a ser explicada e o ‘assunto Hermione’ ia
além da presença dela em sua vida, preferiu manter-se calado. Se quem cala
consente, por outro lado quem se cala se defende mais...





_Eh... Hermione, uma menina muito especial, não é mesmo? Conheço você há três
anos e é primeira vez que o vejo tão absorto em pensamentos, como se não
soubesse o que fazer...





_John, se você não tem nada de útil para me dizer, mantenha-se calado, por
favor! Não gosto dessa sua mania de ficar me observando, não sabia que
despertava esse tipo de interesse em você... - Snape falava tedioso, sem voltar
seu olhar para o amigo.





_Uuuh! O que é isso? Ego ferido?





_Não, tolerância quase zero, paciência no fim... se é a Srta Granger que tanto
te interessa, gostará de saber que ela está aqui na faculdade. Agora volte pro
seu lugar e não me encha mais o saco!







Beco Diagonal - 22 de agosto de 2001





Pelas ruelas do Beco Diagonal, ouvia-se alguns burburinhos. Bruxos e bruxas
comentavam a notícia que saíra no jornal ‘O Profeta Diário’ aquela manhã.
Noticiava que uma jovem bruxa havia sido atacada na manhã anterior, em uma das
lojas do centro comercial da Londres bruxa. Pelas novas leis adotadas pelo
Ministério da Magia, era terminantemente proibida a imprensa divulgar nomes sem
o devido consentimento por escrito dos envolvidos, o que deixava os repórteres
bruxos fulos da vida, mas que a maioria da comunidade bruxa concordava
impassivelmente. A medida foi tomada pelo Ministério já há alguns anos, depois
de muitas complicações e aborrecimentos causados por fatos enganosos, injúrias,
calúnias e difamações por parte da imprensa. Portanto, a vítima do ataque estava
incógnita, sob a alegação clichê de ‘para não comprometer as investigações’ e,
para tranqüilidade do Sr Blossom, sua pequena lojinha de antiquários também não
foi mencionada no artigo de capa do Profeta Diário.





O Sr Cherry Blossom - pura e simplesmente como ele gostava de dizer - é um
senhor franzino, com o rosto muito marcado pela idade, calvo, com seus poucos
cabelos totalmente brancos. Gostava de se vestir como os trouxas da pós-guerra:
calça, camisa, colete, suspensórios, gravata borboleta. Usava um óculos para
leitura de aros grossos e escuros. Andava meio curvado para frente, por causa da
idade avançada, mas sempre tinha um sorriso no rosto. Um senhor muito humilde e
muito alegre, de fala mansa e baixa. Também era uma pessoa muito versátil. De
tempos em tempos, gostava a se dedicar a uma atividade. Neste momento,
dedicava-se a sua recém inaugurada lojinha de antiquários.





_E já começamos muito bem... - referia-se ao ocorrido do dia anterior, quando a
bela menina fora agredida pelo rapaz tolo.





Estava ajeitando as mobílias e outros objetos de sua loja, tirando o pó,
arrumando de forma adequada para não atrapalhar os visitantes, mesmo porque o
ataque de ontem deixou metade da loja de pernas para o ar. Sr Blosson espanava a
poeira invisível de uma bela cadeira forrada em veludo vermelho, ornamentada com
folhas de ouro. O barulho do movimento o Beco era abafado pelos tique-taques de
dezenas de relógios antigos expostos na parede. Os relógios eram os grandes
xodós do velho Sr Blossom que, apesar de ali estarem expostos, não eram vendidos
a nenhum preço. O velho virava-se para a parede dos relógios, como se algo
anormal ali chamasse a sua atenção, aproximando-se dos objetos e olhando-os
muito atentamente.





Eram relógios de todos os tipos e formas, mas todos muito antigos. Alguns
pareciam com antigos relógios trouxas, outros eram diversos artefatos para a
medição do tempo, como as ampulhetas. Havia um grande, que parecia o grande
astro de todos ali, que ficavam no centro da parede, rodeado por outros diversos
relógios. Apesar da ornamentação rica, com figuras de pequenos animais e seres
místicos entalhados na madeira escura, parecia um relógio trouxa comum. Além de
marcar as horas, também marcava a data exata, com dia, mês e ano. Não era o
único relógio que trazia um datador, mas era o que mais chamava a atenção.





Sr Blossom aproximou-se tanto do relógio, que quase bateu o nariz no vidro
abobadado no mesmo. Ajeitando seu óculos de leitura sobre o nariz, franzia os
olhos para melhor enxergar. A hora era exata e coincidia com todos os outros
relógios... eram 9:27h da manhã e a data... 21 de novembro de 1980! Blossom
sobressaltou-se com a data, quase derrubando os outros artefatos que estavam
expostos na cômoda abaixo. Aquilo não poderia estar acontecendo! Seus
maravilhosos relógios jamais erravam seja as horas ou a data, jamais atrazavam,
jamais adiantavam! Mostravam o tempo exato da Terra, dependendo apenas em que
espaço estava. E ali era Londres, Inglaterra. Seu horário era 9:27h e sua data
era 22 de agosto de 2001... o que acontecia de errado, afinal? Procurou pelos
outros relógios com datadores, havia mais uns dez com essa característica. Olhou
atentamente um a um, e o coração acelerava a cada um que consultava e descobria
a mesma data: 21 de novembro de 1980. Blossom empalideceu e foi andando para
trás até deixar-se cair pesadamente sobre a poltrona de veludo vermelho. Retirou
do bolso um lenço e começou a secar o suor que se formava em sua testa e
têmpora. Olhou novamente para a parede de relógios, quase incrédulo. Isso não
podia estar acontecendo!





_Sou mesmo um velho imprudente! Nem mesmo o tempo consegue ensinar algo a uma
cabeça dura como a minha! Por que fui vaidoso a ponto de expor meus preciosos
marcadores de tempo na loja?! Que imprudência a minha, meu senhor Jehovah!





Blossom retirava os óculos e limpava as lentes com o lenço, meditando a respeito
do que acabava de tomar ciência. Repôs os óculos e voltou-se novamente para a
parede de relógios. Tudo realmente parecia normal, exceto pela data que os
relógios marcavam. Eram objetos fabulosos que estavam ainda acima da magia. Nada
e ninguém, nem o mais poderoso bruxo, poderia alterar a marcação das horas ou
datas... mas algo de muito grave aconteceu...





_Provavelmente, foi por causa do ocorrido ontem... a bela menina recebeu um
feitiço forte... ela estava entre meus preciosos auxiliares...





O senhor mantinha a mãos sobre o queixo, fitando o nada no chão, distante em
pensamentos, analisando os fatos ocorridos há quase 24 horas. Voltou seu olhar
para o grande relógio do centro, com ar grave, apertando as sobrancelhas.





_Meu Deus, meu senhor Jehovah! A menina caiu num abismo do tempo! Preciso ir até
o hospital para ver o que posso fazer por ela... pobre criança!



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Fim do Capítulo IX - continua...

By Snake Eye's - 2004

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OBS: O personagem John Michaelsen é de autoria de Sarah Snape - www.sarahsnape.cjb.net


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