Jantar A Três



==================================================================================

Duas Realidades

Episódio VI – Jantar A Três


==================================================================================



Os dois caminhavam lado-a-lado, em silêncio. Hermione apreciava a paisagem ao
redor, com ruas bonitas, cheias de árvores e belas construções. As calçadas eram
feitas de pedras lascadas, formando desenhos circulares. Era muito bonito ali,
como não poderia deixar de ser em se tratando de França. Olhou para o céu. Viu
bando de aves que deviam já estar migrando para lugares mais quentes, uma vez
que o inverno se aproximava. O céu ainda azul mesclava-se com nuvens
multicoloridas, em tons de cinza, vermelho e amarelo, devido aos últimos raios
de sol daquele dia. Soprava uma brisa fresca que trazia um leve odor de folhas
secas. As ruas eram pouco movimentadas, o que era ótimo, pois detestava barulho
e multidão. Lembrou-se que nesta mesma época seus pais estariam fazendo uma
longa viagem pela Europa, assim como sua mãe lhe contara, pois planejavam a
gravidez para breve e queriam aproveitar o tempinho de liberdade que não teriam
mais por um bom tempo depois que o bebê nascesse. Deixou escapar uma risadinha
divertida ao imaginar que talvez ela tivesse sido ‘feita’ ali, neste país, “que
foi durante essa viagem, com certeza!”.







Snape olhou-a curioso em saber o por que da risadinha. Sentiu seu coração
descompassar ao ver o rosto daquela moça iluminado pela luz do fim de tarde, que
lhe parecia que a noite anterior tivesse ocorrido há século, devido a vivacidade
e alegria que ali se expressava. Seus olhos estavam muito brilhantes e eram de
uma cor linda, como ele jamais havia visto - “Coisa da trouxas, com certeza!”
Desdenhou em pensamentos. Ao menos, serviu para voltar a si.



_A senhorita gostaria de compartilhar comigo o motivo da alegria? – Falou num
tom macio, mas com uma gota de sarcasmo.



Hermione mirou-o, saindo de seus pensamentos. Um brilho malicioso passou por
seus olhos. Sentiu uma súbita coragem para brincar um pouco com o menino e, de
certa forma, isso era necessário, para quebrar o clima que havia ser formado
aquela hora na sala do rapaz. Precisava ganhar sua amizade.







_Estava me lembrando de algo que minha mãe me contou...



_Oh, sim... então não deva ser algo para se comentar com um estranho.



“Estranho? Estranho só se for a situação, meu caro futuro professor Severus
Snape”



_Não é nada demais e você não é um estranho, Severus Snape.



Aquela frase surtiu efeito no jovem Snape, o que ela falara e com o tom que
falara realmente mexeram consigo e, pior, ele havia gostado! Hermione vibrou
intimamente, conseguira alguma coisa, agora é só continuar... só esperava não
decretar sua própria morte com essas brincadeirinhas, afinal, mesmo em seu
tempo, Snape era um cara imprevisível e letal!







_Estava me lembrando de que minha mãe contou sobre a viagem de três meses que
fez com meu pai antes de eu nascer. Eles haviam decidido ter um bebê e antes
disso fizeram um tipo de despedida a doce liberdade antes de me terem... –
Hermione jogou um olhar de lado para ver se Snape estava lhe prestando atenção.
Realmente estava, mas sua expressão era indefinível. Deu de ombros e continuou
sua boçal conversinha.



_... e estava imaginando... eles estiveram aqui mais ou menos nessa mesma época
e, como faço aniversário em setembro... estava pensando se foi aqui na França
que eu fui concebida...



_Eu estava certo... não era um assunto para ser comentado com um estranho! – um
Snape envergonhado tentou desconversar.







_Bobagem, Severus... “Oh, Merlin! ‘Severus’?! Eu estou indo longe demais!” _Já
lhe disse que você não é um estranho...



_Está se sentindo muito a vontade, não é ‘Srta. Granger’? – o comentário mordaz
que enfatizava o ‘Srta Granger’, demonstrou que o jovem Snape não gostara nem um
pouco da súbita intimidade daquela garota. Pelo menos ele teria que mostrar a
ela isso. Ele começou a desconfiar de que ela não era nada tola como havia
julgado, muito pelo contrário, parecia que ela estava o testando!







_E, sabe, é comum repetirmos os mesmos atos de nossos pais, às vezes cometendo
os mesmo erros... será que isso poderá acontecer comigo também?



_Acontecer exatamente o quê, Srta. Granger?



_Ficar grávida! – disse num só impulso, contendo-se para não cair na risada com
a expressão do rapaz. _Ora, afinal, estou na França, e foi mais ou menos nessa
época que... bem, acho que seria muito legal fazer aniversário junto com meu
filho!







Snape engasgou-se com o próprio ar. Se essa garota atrevida estava de
brincadeira com ele para saber qual seu derradeiro caráter, deve ter-se
deliciado com sua reação. “Droga! Seu burro idiota!”



Mas a atenção dos dois logo foi desviada para uma voz alegre que chamava por
Severus. Tratava-se de John Michaelsen, um rapaz loiro, muito bonito, colega de
faculdade de Snape.



“Oh, não! Era tudo mais o que precisava!” – Snape olhava furioso para a direção
da voz, com uma das mãos tampando fortemente sua boca, para conter a súbita
tosse.







_Meu grande amigo Severus! Te procurei a universidade inteira hoje, mas não te
encontrei! O que houve? Pelo que sei, você prefere a morte à perder uma aula
sequer!



_John... como vai? – Falou secamente, torcendo para que o colega não demorasse
com sua conversinha fiada. _Não pude ir hoje, tive um contratempo...







Hermione sentiu-se extasiada. Severus Snape provavelmente faltou às aulas para
ficar cuidando dela! Ela, sendo quem é, sabe o quanto uma aula é valiosa e que
há muitos poucos motivos louváveis para justificar a cabulação. Ela lhe dirigia
um olhar que era um misto de alegria, agradecimento e - por que não? - carinho.







_Oh, sim! E vejo o quão belo foi seu contratempo! – John dirigia-se garboso a
Hermione, já tomando-lhe as mãos.



_ John Michaelsen, senhorita! Um amigo de faculdade do nosso grande Severus
aqui! Estou encantado em conhecê-la...



_Hermione! Hermione Granger, Sr. Michaelsen.



_Pode me chamar só de John, querida Hermione! Belíssimo nome! "Sonhos de uma
noite de verão" de Shakespeare... não é isso?



_É, é isso mesmo! Vejo que o senhor conhece...



_Literatura trouxa. Isso mesmo! Mesmo no mundo trouxa há diversas coisas
interessantes, embora eu duvide muito que Shakespeare tenha sido um trouxa, mas,
enfim...







Snape resolve interromper aquela conversa tão animada. De certo modo, o jeito
com que John estava se derretendo para com a Srta Granger estava o incomodando.



_Posso saber o por que de que tanto me procurava hoje na Universidade, Sr.
Michaelsen?



John riu. Snape achou-se um perfeito idiota por deixar transparecer a ponta de
ciúmes que estava sentindo. Aliás, seria capaz de lançar em si mesmo uma
cruciatus por ter se permitido sentir algo em relação àquela situação presente!



_Ora, ora, meu caro Severus... sempre soube que havia um humano debaixo de toda
essa frieza e compostura...



Se fosse possível lançar uma avada kedavra apenas com o olhar, a esta hora John
Michaelsen estaria caído sem vida ao chão, devido como Snape o olhava. Para
aliviar a tensão, Hermione resolveu interferir, mesmo porque era uma ótima
oportunidade para conhecer mais sobre o jovem Snape, para ter armas para usar
contra o que tivesse por vir. Afinal, quanto tempo permaneceria naquela época e,
pior, em companhia de Snape?! Dumbledore era a sua maior solução, mas no momento
não teria como ir até Hogwarts...







_John... Severus e eu estávamos indo jantar. Não gostaria de nos acompanhar?
Seria muito prazeroso continuar a nossa conversa enquanto jantamos.



_Hermione! – Snape a repreendeu no mesmo instante em que se arrependera disso.
Havia chamado a garota pelo nome! Droga! Estava perdendo o controle da situação.



Hermione não pode impedir de se admirar com isso. Ele realmente se importava!



_Uau! Estou realmente encantado, Hermione! Vamos, Severus! Conheço um
restaurante ótimo! E hoje será por minha conta!







*







Hermione estava muito surpresa com tudo que via. John havia levado eles para a
parte bruxa de Lyon, e era muito diferente do Beco Diagonal ou mesmo de
Hogsmeade. Tudo era glamuroso e parecia com aqueles cartazes publicitários da
década de 20 e 30, com mulheres vestidas melindrosamente e homens com os típicos
bigodinhos em curva e boinas. Havia músicos tocando nas ruas, que eram muito
limpas e tudo era muito bem decorado. As calçadas traziam desenhos feitos em
cacos de pedras, as lojas eram muito coloridas, mas de forma harmoniosa. Muitos
arcos em metal fundido adornavam as calçadas e os postes dos lampiões. Ela
própria poderia jurar que retrocedeu ainda mais no tempo, nuns sessenta anos
pelo menos! Ao centro, onde todas as ruazinhas se encontravam, havia um largo
com uma réplica em menor escala da Torre Eiffel, repleta de pequenas luzes que
dançavam em torno da torre. Estava tão maravilhada com tudo o que via, que nem
escutava uma palavra sequer do que os dois rapazes conversavam. Estivera algumas
vezes na França de viagem, com os pais, mas jamais esteve em qualquer parte
bruxa deste país. Além da Escola de Magia e Bruxaria Beauxbatons, Hermione
jamais imaginou que houvesse cidades mágicas como havia na Gran Bretanha. Aliás,
por um motivo qualquer que desconhece, jamais sequer demonstrou qualquer
interesse em descobrir isso.







Ela ia um pouco adiante dos dois rapazes, olhando maravilhada para tudo. John ia
com sua conversa fiada que irritava Severus, apoiado no ombro do mesmo. John
Michaelsen era até um bom amigo, bruxo puro sangue de família tradicional, e era
um dos caras mais inteligentes da universidade, com quem era possível passar
algumas horas com uma conversa inteligível que não entediava... mas, o lado
frívolo do rapaz irritava Snape, principalmente quando o assunto era mulher.
Ele, Severus Snape, o comensal da morte que mais tinha a confiança e respeito do
Lord das Trevas, certamente tinha coisas muitíssimo mais importantes para pensar
e fazer do que se preocupar com mulheres. Para ele bastava saciar a parte
orgânica, não era preciso perder tempo com relações fúteis.







_Como eu havia dito, meu caro Severus, eu sempre soube que havia um ser humano
debaixo dessa sua crosta de gelo... mas, o que mais me surpreende é saber que
você tem um excelente bom gosto! Hermione é simplesmente linda!



_Está falando bobagens como sempre, John! Hermione é apenas uma velha conhecida
da época de Hogwarts... – dito isso, Snape deu-se conta de que... se a garota
era uma bruxa inglesa, era muito provável que realmente estivessem estudado na
mesma época em Hogwarts, pois ela devia ter a mesma idade que ele ou, ao menos,
quase a mesma idade... mas, então como ele não se lembraria de alguém como ela?
Era notória a sua beleza e algo assim não dá para esquecer...







_Velha conhecida de Hogwarts? É claro, não duvido nem um pouco... mas o que
estou falando é do momento atual, Severus... e, a propósito, o casaco que ela
usa é seu, não é?



Snape mais uma vez fuzilou com o olhar John, que se desvencilhava do colega e ia
para junto de Hermione, chamando-lhe a atenção.



_Hermione, querida, chegamos ao tal restaurante.



A moça não respondeu nada, mas dirigia um sorriso sincero e feliz. Estava
adorando tudo aquilo. Estava radiante e Snape sentiu seu coração disparar ao ver
o semblante daquela menina, que ficava ainda mais linda com aquele ar feliz.





*





Entraram no pequeno restaurante. Havia poucas mesas, mas, por isso mesmo, muito
aconchegante. Todas as mesas eram redondas e comportavam apenas três cadeiras,
no máximo. Pelo visto, isso também influenciou John na escolha do local. O
ambiente era mergulhado numa tênue luz, iluminado por velas, que deixava uma
atmosfera um tanto romântica, algo tipicamente francês... como era esperado, a
decoração do local era esmerosamente decorada, com quadros e flores, nada muito
exagerado, deveras singelo. As mesas e cadeiras eram em armação de ferro fundido
trabalhado e vime trançado. As toalhas eram em linho branco com belos bordados
nas barras. Realmente, um lugarzinho muito gostoso de se estar.





Como um perfeito cavalheiro, John puxou uma cadeira para Hermione sentar-se, que
agradeceu apenas com um sorriso. A essa altura, toda a preocupação havia
desaparecido. A noite anterior parecia jamais ter existido. Tudo era novo e
atraente. Até mesmo a companhia de Snape parecia ser a melhor do mundo... apesar
de sua expressão demonstrar exatamente o contrário de tudo que ela sentia no
momento. Ela sentia-se segura de si, sabia que nada de ruim aconteceria naquelas
horas... ao menos, era o que esperava. Já que estava presa num tempo que não
pertencia a si, o mínimo que poderia fazer até encontrar um meio de retornar ao
seu próprio tempo era tirar o melhor proveito da situação, vivê-la da melhor
forma possível. Era uma experiência que poucos – ou mesmo ninguém – havia
vivido. De certa forma e, mesmo sem qualquer motivo para isso, sentia-se
felizarda por isso.







Dirigiu seu olhar feliz e um largo sorriso ao jovem Snape, que o fez desmanchar
de imediato a carranca que trazia estampada no rosto. O olhar dela sobre ele
durou frações de segundo, mas para ele o tempo parecia parar por aquele
momento... isso não era nada bom, mas seu espírito sonserino lhe dizia para
perseguir nesse rumo para ver até onde isso daria. Talvez fosse um sabor
diferente cuidar da presa antes do abate...





_Le carte, senhorita. – John passava o cardápio para as mãos de Hermione.
_Escolha o que quiser, querida.



_Oh, sim, obrigada. Qualquer prato para mim está bom, desde que não sejam
aquelas coisas esquisitas típicas da culinária francesa.



_Ah, então somos três! Meu caro Severus aqui quase morreu no dia em que fomos
experimentar escargot, haha!



_E você quase morreu com as ostras! – Snape dirigia seu tom mordaz ao amigo, mas
sua expressão era divertida, deve ter sido mesmo um episódio inusitado! _Esses
bichos são excelentes em poções, não em pratos!



_A propósito, Hermione... – Snape tentava se acostumar a chamá-la pelo primeiro
nome, pelo menos enquanto estivessem com John. _Lembre-se de pedir para si algo
que tenha proteínas e carboidratos.



_Vejo que cuida muito bem da nossa querida Hermione, Severus... será que eu
poderia saber o por que da recomendação?



Severus, neste momento, gostaria de lançar em si mesmo uma cruciatus até
desfalecer! Mais uma vez dera-se uma mancada diante de Michaelsen! Já previa
semanas de perturbação por parte do amigo por causa deste dia infeliz. Pior
ainda é todo esse esmero com essa maldita sangue-ruim! Ela merece um fim
glorioso por fazê-lo passar por toda essa humilhação!



Antes que Snape respondesse à pergunta de John, Hermione tomou a frente,
principalmente por ter enxergado um fio do mesmo ódio que viu nos olhos do jovem
Snape horas antes em sua casa. Não podia deixar-se abalar por essas coisinhas e
precisava criar um laço afetivo com o rapaz, custasse o que fosse! Levando por
base o Snape de seu próprio tempo, temia que esse jovem Snape, provavelmente um
comensal ativo, pudesse vir a matá-la pelo mínimo deslize de sua parte ou apenas
por vontade sem motivos do próprio!



_Estou há mais de 24 horas sem me alimentar... – dizia Hermione, voltada para os
dois rapazes, mantendo um falso sorriso tranqüilo para disfarçar seu súbito
temor. _Cheguei ontem à França e a viagem foi bastante conturbada para mim... –
não conseguiu evitar transparecer sua tristeza ao se lembrar da noite passada.
Balançou levemente a cabeça para espantar aqueles pensamentos e voltou-se
novamente para os rapazes, com um sorriso, desta vez sincero. _Mas estou muito
bem agora, realmente recuperada! Tudo graças à Severus que cuidou muito bem de
mim com suas poções!



_Aaah! Então vocês estão juntos desde ontem, certo? Sinceramente, jamais esperei
isso de você, Severus! Você é realmente humano e dos bons! Por isso faltou às
aulas: esteve cuidando de Hermione a noite toda, não é mesmo? – Michaelsen
dirigia-se sorridente à Snape e havia admiração em sua voz. Era um fato muito
novo o que estava presenciando, principalmente, por desconfiar que seu amigo
taciturno fosse um daqueles estúpidos que se aliaram às trevas. Por fim,
sentia-se aliviado por suas suspeitas serem infundadas, uma vez que a bela amiga
de Severus era uma mestiça e de quem ele parecia gostar muito.



Sua risada alegre foi interrompida pela atitude brusca de Severus, que lhe
apontava a farinha para o peito e tinha um sorriso perverso nos lábios. Apesar
do sorriso, Hermione temeu que não fosse apenas uma brincadeira, uma vez ter
visto novamente aquele brilho de ódio em seus olhos.



_O que prefere, Michaelsen? Crucius ou vamos direto pra kedavra?



Um homem alto e magro vestindo um avental branco e gravata borboleta preta, com
cabelo lambido por gel e bigodinho em curva, aproximou-se da mesa dos três,
interrompendo a aparente brincadeira entre colegas com sua foz grave:

_Os senhores gostariam de fazer o pedido agora, jovens?



Os três olharam surpresos para o garçom. Estavam todos tão entretidos na
‘brincadeira’ que não perceberam a chegada do homem. John e Severus o olharam
muito ruborizados. Severus guardou rapidamente sua varinha e Michaelsen se
endireitou na cadeira, com o cardápio na mão, fazendo cara séria para fazer o
pedido.



O pedido não tardou a vir, então puseram-se a comer. Enquanto Snape e Michaelsen
trocavam idéias, Hermione mantinha-se em silencio, envolta de seus pensamentos.
Sua preocupação de outrora retornou e ela mal sentia o sabor da refeição,
comendo-a apenas de forma lenta e mecânica. Indagava-se se realmente o passado
era inalterável, se tudo isso foi realmente vivido por Snape, em seus mínimos
detalhes. O pedaço de carne que engoliu parecia uma pedra arranhando sua
garganta no momento que cogitou se conseguiria ou não retornar para seu próprio
tempo. Sentiu-se ainda mais infeliz ao perceber que fora arremessada no tempo
justo na mesma época do auge da primeira guerra entre luz e treva... como se já
não fosse o suficiente ter que sobreviver a isso em seu próprio tempo.



_Hermione, querida, tudo bem? Está tão quietinha... não está se sentindo mal
novamente, está? – Michaelsen chamara-a de volta a realidade, de forma muito
doce, o que fez Hermione corar levemente. Ela não se lembrava de algum rapaz
tê-la tratado tão carinhosamente dessa forma alguma vez... “Pena que não
pertençamos ao mesmo tempo...” Subitamente, lembrou-se de John Michaelsen de sua
própria época, que vira apenas uma única vez e estava em companhia de Snape...
lembrara-se de que ele era um pesquisador de renome e havia editado vários
livros. Sorriu largamente para o rapaz, mais por constatar que ele era uma
excelente influência para o jovem Snape do que para mostrar-se bem.



_Estou muito bem, John! Agradeço a preocupação, mas não é necessária.



_Nem era preciso dizer... só esse belo sorriso já mostra muito. – Michaelsen
dirigia-lhe um sorriso de admiração, enquanto virava-se para Snape, mantendo o
mesmo sorriso no rosto.



_Severus havia me falado que vocês são velhos amigos de Hogwarts. Mas é uma
lástima que jamais, antes de hoje, ele tenha falado qualquer coisa sobre a
senhorita...



Hermione e Severus se entreolharam por segundos; ele mantinha um olhar mau com
que tentava lhe dizer para sustentar a história. Ela estava levemente assustada,
pois o que fosse dizer ali poderia entregar muitas coisas e ela simplesmente, em
hipótese alguma, poderia dizer que veio de 21 anos à frente, o resultado seria
catastrófico. O negócio no momento era sustentar a idéia de Snape, para saciar a
curiosidade de Michaelsen, depois ela veria como iria se sair com o próprio
Snape, pois apostava sua vida de que ele iria questioná-la sobre isso.



_Er... bem, não chegamos a ser amigos, isso nem seria possível... afinal, sendo
eu uma grifinória e Severus um sonserino, logo inimigos mortais... – Ela
terminara a frase olhando diretamente para Snape, que demonstrava estar surpreso
com a informação. Se isso é mesmo verdade, se ela realmente estudou em Hogwarts
e, pela sua idade, com certeza na mesma época que ele, por que diabos ele não
lembrava absolutamente nada sobre ela?!



_Inimigos mortais? – Estranhou Michaelsen. _Oh, sim, Severus me falou dessa
bobagem de rivalidade entre casas. Sem querer ser infame com o trocadilho, mas é
mesmo uma atitude medieval!



_Certamente. – Hermione alegrou-se o suficiente para dar uma aumentada na
história, uma vez que poderia usar exatamente essa ‘rivalidade entre casas’ para
enrolar Snape, que com certeza iria fazer-lhe um inquérito sobre seu passado
letivo. _Obviamente que não éramos inimigos mortais, mas, tampouco, poderíamos
deixar transparecer nossa afinidade perante nossos colegas, que realmente eram
inimigos declarados, ainda mais se tratando de James Potter, Sirius Black e
Lucius Malfoy, que odiavam-se mutuamente!



Agora Snape estava mesmo surpreso e muito curioso para ouvir o que mais ela
tinha a dizer sobre a suposta amizade deles em Hogwarts. Cruzou os braços sobre
a mesa e dispensava-lhe toda a atenção. Hermione se divertiu com a expressão de
Snape, o que a faria continuar a conversa se fosse necessário. O inquérito dele
podia vir a qualquer hora agora que ela já sabia qual a historinha que iria lhe
contar!



_Afinidade? Só isso mesmo? E uma amizade unida apenas por afinidades consegue
sobreviver a mortais rivalidades? Pra mim isso é amor proibido, o que o tornaria
ainda mais forte! – Michaelsen falava com um brilho malicioso nos olhos, olhando
diretamente para Severus, esperando pela explosão do amigo. Ele simplesmente
adorava medir o nível da crosta de gelo de Snape.



_NÃO! – Snape e Hermione exclamaram juntos, um pouco alto demais, o que atraiu
para a mesa um olhar fulminante do Chef da casa, que fez com que ambos
encolhessem na cadeira, reduzindo sua exasperação.



_Uma coleguinha de outra casa com quem se troca informações acerca das aulas é
uma coisa, mas esperar que eu tivesse um romance com uma grifinória sangue-ruim
é ridículo! – Snape falava baixo, mas seu típico tom mordaz e olhar cruciante
faziam presença. Hermione sentiu seu sangue ferver de ódio, o que foi percebido
por Snape, que continuava olhá-la em tom desafiador... mas ela precisava se
controlar, não era hora nem lugar para uma briguinha infantil sobre algo que ela
já estava mais que curtida de ouvi sobre si... ‘sangue-ruim’...



_Ficou doido Severus?! Por que ofender Hermione?! – Michaelsen estava indignado.
Hermione apenas tocou-lhe no braço, dizendo silenciosamente que estava tudo bem.



_Você ainda usa esse argumento, Snape? – Dizia uma bravia Hermione. _Não estamos
mais em Hogwarts; John não é de Hogwarts e menos ainda um sonserino. Não é
necessário usar esse argumento com ele. – dirigia-se a John, tentando manter uma
expressão o mais amistosa possível. _Infelizmente, precisávamos manter as
aparências, se não quiséssemos detonar uma guerra com a nossa amizade. E Snape
sempre me fora muito mais útil do que qualquer outro colega da Grifinória.
Graças a ele fui a melhor aluna de poções... depois dele, claro. “O que de todo
não é nenhuma mentira, não é meu caro futuro professor Snape?”.



_Para mim chega, o meu limite diário de socialização se esgotou. Além do mais, a
comida está fria e perdi o apetite. Arrevois, mon amis, je me va pour la menage
! – Snape levanta-se mal-humorado e fatigado de toda aquela conversa, largando
alguns galeões sobre a mesa. Hermione e Michaelsen limitam-se a olhá-lo de uma
forma um tanto indignada. John volta-se para a moça:



_Mil perdões, Hermione. Acho que provoquei demais nosso amigo Severus. Eu sempre
faço isso e achei que a sua presença poderia inibir o mal-humor dele. Mas, até
que ele suportou bem, até demais ao nível de Severus Snape!



_Bom, então devemos nos apressar para alcançá-lo. Além do mais, estou hospedada
na casa dele e não gostaria de passar a noite num banquinho de praça.



_Oh, jamais permitiria isso! Aliás, meu apartamento é maior e mais aconchegante
que o dele, se quiser, pode se hospedar lá. Garanto-lhe que serei um perfeito
cavalheiro!



Hermione já estava de pé e alcançava uma mão na direção de Michaelsen,
convidando-o a sair.

_Ficaria realmente encantada. Agradeço-lhe muito, mas deixarei para uma próxima
visita à França. Então, vamos?





*





Em poucos passos, Hermione e John alcançaram a figura de Snape ao longe, que não
estava andando a passos largos como é seu costume. John deu um sorriso malicioso
e sacou sua varinha em direção ao amigo:



_Impedim....



_ Expelliarmus! – Snape virou-se numa velocidade incrível, como se já houvesse
antecedido a brincadeira de Michaelsen, cuja varinha voou até as mãos do rapaz
que mantinha um sorriso glorioso no rosto. Portando as duas varinhas e uma
postura altiva, Snape aproximou-se do par, ainda mantendo o largo sorriso no
rosto. Hermione não sabia se ficava mais impressionada com a rápida reação de
Snape ou com seu sorriso que lhe dava uma expressão muito diferente, algo entre
saudável e feliz.



_Nunca, John, nunca conseguirá me lançar um feitiço! Eu precisaria reencarnar
como trouxa para você conseguir me lançar um simples impedimenta, meu caro!



_Tá, eu sei disso! Meu negócio são ervas medicinais... agora, por favor, me
devolva minha amiguinha que preciso dela para mexer as poções.





O trio caminhou junto até certo ponto, onde Michaelsen rumou para outra direção.
Apesar do mal-estar que havia se formado no restaurante, o duelo de brincadeira
entre Snape e John deu nova vivacidade à conversa dos três. Snape estava
incrivelmente não mau-humorado como de costume.





_Srta Granger, creio que tenhamos algumas coisas a mais para conversarmos,
realmente e, detesto admitir, mas fiquei intrigado com nossa conversa no
restaurante. Gostaria muito de saber mais sobre a nossa suposta amizade em
Hogwarts.



Hermione sentiu um frio correr a espinha, devido mais ao tom decisivo na voz de
Snape do que com a história que iria contar. Olhou de esgueira para o rapaz que
mantinha seus olhos fixos no caminho. Aliviou-se ao perceber que ele ainda
mantinha o mesmo ar amistoso de minutos atrás.

_Claro que sim, Severus... mas só quando chegarmos em casa e depois do meu
banho, por favor!



_Como queira, senhorita...





*



Ao chegar em casa, Snape foi direto ao quarto, enquanto Hermione retirava
calmamente o casaco de lã negra do rapaz. Olhava em torno daquele ambiente
mergulhado na penumbra, com uma pouca luz que adentrava pela janela.
Inevitavelmente, lembrou-se do ocorrido de horas antes e daquele olhar medonho
de ódio que Snape lhe dirigiu. Precisava evitar o máximo possível a repetição
daquela cena, precisava descobrir o que se passava no interior do jovem Snape e
necessitava vitalmente de uma biblioteca bruxa... pensava em pedir para que
Snape a levasse até a universidade, com certeza lá deveria ter uma biblioteca
ainda mais respeitável do que a de Hogwarts. Seus pensamentos foram
interrompidos pela aparição do rapaz, que acendia uma fraca luz do teto, mas
suficiente para iluminar o ambiente; havia um embrulho em suas mãos.



_Fique com isso, senhorita. Está totalmente limpo e sem uso. Creio que a
senhorita não vá querer ficar nessas vestes depois do banho.



Mesmo surpresa, Hermione pegou e desembrulhou as roupas. Era um conjunto de
calça larga e camiseta de mangas longas, de lã fina e muito macia, num adorável
tom pastel de azul. Hermione sorriu, era um conjunto muito bonitinho, mas
parecia ser feminino demais... por que Snape teria algo do tipo? Não tem nada a
ver com ele!



Snape pareceu ler os pensamentos da garota, pois respondeu-lhe de imediato,
apenas pelo olhar curioso da menina.

_Que bom que tenha gostado, senhorita. Pode ficar com ele. Lhe asseguro que é
totalmente novo. Ganhei isso de uma garota da faculdade, que dizia que eu ‘usava
preto demais e que adoraria me ver em outras cores’, vê se pode? Ela só devia
estar de brincadeira comigo!



_Er... não está enfeitiçado, não é? Algum feitiço para te amarrar ou coisa
assim?



_Ora, não seja ridícula. É claro que não está enfeitiçado! Jamais traria algo
enfeitiçado para dentro de casa! Eu testei antes, não se preocupe. E, por favor,
vá logo para o seu banho e pára de enrolar, que eu não me esqueci da nossa
conversa sobre Hogwarts.



_Não estou enrolando, seu chato! – Hermione foi na direção do banheiro, mas
antes fez questão de deixar uma careta feia para Snape, que limitou-se a
levantar uma das sobrancelhas.

 


 




==================================================================================

Fim do Capítulo VI - continua...

By Snake Eye's - 2004

==================================================================================




N/A: Desculpe por terminar mais um capítulo sem ação e só com falação. Creio que
acabei de cair numa cilada e estou um pouco enrolado para sair dessa situação.
Prometo que o falatório terminará no próximo capítulo, senão, nem eu agüento! Na
verdade, esses dois últimos episódios e mais o próximo a seguir, são o mesmo
capítulo, mas como ficaram muito extensos, dividi em capítulos para ficar menos
entediante. Sorry! É falta de experiência mesmo! Essa é a terceira fic que
escrevo, embora eu ainda esteja empacado com a 1ª!! Vê se pode um absurdo como
esse?! Pelo jeito, essa 3ª fic aqui sairá antes da primeira que comecei a fazer
duas semanas antes dessa e... bem, só peço desculpas por minha imaturidade e
inexperiência ;,(



OBS: O personagem John Michaelsen é de autoria de Sarah Snape –
www.sarahsnape.cjb.net



<:~~~~~~Snake Eye’s~~~~~~:>


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.