O Tempo Não Pode Parar

O Tempo Não Pode Parar



Hermione já estava em casa. Morava num pequeno e aconchegante apartamento, que
ficava próximo a faculdade. Quanto menos tempo perdesse em sua locomoção para o
local, melhor! Queria usar as 24 horas normais de um dia, sem ter que esticá-lo,
literalmente, como fizera por duas vezes na sua época de Hogwarts: na primeira
vez, enquanto estava no terceiro ano; na segunda, quando estava no sétimo. Usar
um vira-tempo é muito útil, mas o desgaste físico e mental é ainda maior do que
se corresse naturalmente contra o tempo como qualquer outra pessoa fazia. Até
mesmo os trouxas conseguiam fazê-lo!







Havia despido seu blazer e estava descalça, sentindo grande alívio por sair de
dentro daqueles sapatos finos de salto alto. Teria que deixar a vaidade de lado
e começar a optar pelo conforto do trio sagrado tênis-jeans-camiseta. Estava
preparando a comida de Bichento, que estava impaciente e faminto, roçando-lhe as
pernas, quando a companhia do apartamento tocou.







_Quem será a essa hora? - Olhava em direção à porta, acompanhada do olhar do
gato, e voltando-se a ele: _Deve ser a vizinha novamente querendo que eu a ajude
a abotoar o vestido!

Saiu da cozinha para atender a porta, seguida por Bichento, enquanto ia
divagando com seu gato.



_Nós mulheres somos mesmo complicadas, né Bichento? Moramos sozinhas e compramos
roupas com abotoamento nas costas! Vaidade é mesmo algo irracional!

Divertia-se com suas próprias palavras, sendo ela própria experiente no assunto
"Bom, pelo menos eu tenho uma varinha mágica!". Ao abrir a porta, seu sorriso
desapareceu num susto.



_Sr. Snape! O que faz aqui?! - Falou num sobressalto, ao ver aquele homem alto
trajando negro da cabeça aos pés, parado diante de sua porta.



_Detesto ter que admitir que eu estou errado e detesto ainda mais ter que
concordar com Potter, mas... como a senhorita abre a porta sem ao menos
verificar quem está chamando e, ainda por cima, sem ao menos portar sua varinha,
Srta. Granger? - Snape falava baixo, porém estava bravio. Seus olhos negros
pareciam querer fuzilar a moça.



_Oras... entre, por favor! Não moro sozinha neste prédio! - Convidou secamente
uma Hermione aborrecida com o que acabava de acontecer.







Snape entrou em dois passos. Hermione fechava a porta sem olhá-lo, estava
aborrecida pela visita inesperada e ainda mais de quem era.




Hermione o encarava, recostada à porta, sua voz era seca e entediada.



_Aconteceu alguma coisa, Sr. Snape? Por que veio até aqui?



_Ainda não respondeu minha pergunta, Srta. Granger. Fui ingênuo em crer que a
senhorita tinha frieza e ponderação, mas vejo que é mesmo uma cabeça-oca como
seus amigos a chamam!



_Pensei que fosse a vizinha que mora ao lado, isso é muito comum. Mas o senhor
não veio até aqui para testar a minha segurança, não é? Ou será que veio aqui
apenas para me ofender? Meus amigos podem chamar-me de cabeça-oca o quanto
quiserem, mas não lhe dou esse direito, Sr Snape! Não sou mais sua aluna e aqui
é minha casa!



_Continua sem responder minha pergunta, senhorita! E se eu fosse um comensal que
planeja raptá-la?



_Mas o senhor é um comensal, ao menos um falso! - Hermione já demonstrava um
profundo aborrecimento por aquela intromissão de Snape em sua casa. O que ele
estava pensando afinal? Quem ele pensa que era para estar ali, em sua casa, sem
ter sido convidado, passando-lhe um sermão?! _A menos que o senhor esteja se
revelando um traidor da Ordem e seja o senhor a me raptar para atrair Harry! -
Hermione o encarava enquanto seus olhos quase se fechavam com sua expressão
raivosa.



"Até que raptá-la não seria uma má idéia, Srta. Granger..." - Snape pensava
consigo mesmo, deixando transparecer um leve sorriso no rosto. Hermione sentiu
sua espinha gelar com aquela expressão que se formou no rosto de seu antigo
professor.



_Apenas vim lhe dizer que sei o quanto sabe precaver-se e como defender-se caso
seja necessário, Srta. Granger... - a voz de Snape era baixa e macia, mas
expressava algo que parecia ser ternura? Hermione não conseguiu disfarçar a
expressão de surpresa enquanto olhava praquele homem parado no meio de sua sala.




_... e confio na senhorita tanto quanto Alvo confia. Mesmo assim quero que tenha
muito cuidado por onde andará e tenha muita cautela com o que for fazer nos
próximos dias...



_Por que está me dizendo isso? - Hermione gaguejou para falar, sua expressão era
de surpresa e apreensão. _Há mais alguma coisa que o senhor não contou na
reunião?



Snape apenas a fitava, porém sua expressão estava como sempre, inalterada. Se
Hermione não estivesse tão preocupada com a surpresa, veria que seus olhos
exclamavam um grande carinho para com ela. Por fim, resolveu falar, no seu tom
mais macio e grave de voz:



_Há... há sim. Mas não posso lhe falar agora. Apenas quero que você não confie
em aparências, não confie em tudo que ver. Eu irei protegê-la, Hermione. Estarei
ao seu lado todo o tempo. - dito isso, Snape desaparatou, sem dar qualquer
chance de pergunta à Hermione, que estava atônita.



_Bichento! Acho que acabei de ter um delírio! Acho que Rony está certo: meu
cérebro está derretendo!



O gato olhava para sua mãe e voltava a roçar-lhe a perna, lembrando-lhe que
ainda estava muito faminto.







*







Logo cedo, Hermione despertou ao som do rádio-relógio. Tocava uma de suas
músicas favoritas, "She's Like The Wind"*, do ator trouxa Patrick Swaize. Era um
flashback da longínqua década de 80, mas, mesmo assim, adorava. Achava as
músicas antigas muito melhores do que essas que eram feitas nos dias atuais.
Olhou a hora. O relógio marcava 7:02h. Tinha tantas coisas a serem feitas logo
de manhã que nem se deu ao luxo de ficar remoendo aquele estranho acontecimento
da noite anterior. Espreguiçou-se, levantou e foi direto pro chuveiro.



Já eram quase nove horas quando chegou ao Caldeirão Furado, onde pegaria o
atalho para o Beco Diagonal. Estava com o pergaminho que continha a lista de
livros e materiais que usaria este ano na faculdade de transfiguração. Eram mais
materiais pedidos do que na época de Hogwarts, e ainda tinha que ir buscar a
lista de materiais da faculdade trouxa, ainda este dia.



Caminhou diretamente pra livraria Floreio & Borrões, estava muito ansiosa para
ver os livros e sedenta por novidades também. Há muito tempo estava esperando
pelo lançamento de um romance bruxo, que havia chegado à livraria nesta semana.
Era uma pena não ter tido tempo de ir à noite de autógrafos, estava na reunião
da Ordem, neste momento. "Espero que tenham separado uma edição autografada para
mim" - pensava, esperançosa e feliz.



Comprara seus livros. Estava radiante com sua edição autografada do romance que
tanto aguardara o lançamento. Ia pelas ruelas, admirando as capas dos livros.
Ainda tinha que comprar os outros materiais que eram pedidos na lista. Como tudo
tinha se resolvido o mais rápido do que havia previsto, iria dar-se ao luxo de
passear um pouco pelo Beco e ver as novidades do mundo bruxo.



Ao passar por uma ruazinha ainda menor que ficava paralela a rua principal, algo
parecia ter-lhe chamado a atenção. Era uma grande placa ricamente trabalhada em
madeira e ferro fundido, que pendia-se acima da entrada de uma lojinha. Não se
lembrava de ter visto tal loja, devia ser nova ali. E foi em sua direção,
atraída, principalmente, pela placa de adornos feitos esmerosamente, uma
verdadeira obra-prima "Parece ser algo muito antigo". Ao aproximar-se pode ler
que tratava-se de uma antiquário. Ficou maravilhada! Esse tipo de coisa sempre a
encantou, mesmo os antiquários trouxas. "Todas as coisas antigas são mais belas!
Eram feitas com amor, não é como hoje...". Parou em frente a vitrine e seu
sorriso era largo. Muitos artefatos antigos para estudo estavam ali expostos:
uma escrivaninha acompanhada de uma belíssima cadeira estofada, ambas um
conjunto feito em madeira mágica, ricamente adornados em entalhes e metais, que
ela julgava ser ouro. Ao seu redor, penas, tinteiros, pastas para pergaminhos,
porta-penas... todos muito bem trabalhados manualmente, cada um sendo pequenas
obras de arte. Seus olhos brilhavam de felicidade e resolveu dar uma entradinha
na loja.



A loja parecia desprovida de qualquer forma humana, não havia ninguém ali, nem
atendente. Era melhor, pois ela poderia ficar admirando tudo que havia ali
dentro sem um vendedor chato a importunando com perguntas bobas, como todos esse
vendedores, sejam bruxos ou trouxas, faziam, achando-se gentis e servidores, o
que eram apenas aborrecentes na verdade. Dentro, inúmeras peças antigas se
apinhavam em todos os cantos. Na verdade, a loja era tão cheia de produtos
antigos que só restavam pequenos espaços para a locomoção. As paredes estavam
preenchidas com todos os tipos de quadros e adornos. O teto estava coberto por
todos os tipos de lustres, cada um mais ricamente decorado que o outro, com
cristais e diversos tipos de pedras preciosas. Num outro canto da loja, havia os
mais diversos tipos de relógios bruxos, cobrindo inteiramente toda a parede.
Abaixo, uma grande mobília sustentava diversos outros tipos: ampulhetas,
relógios-de-sol, relógios-d'água. Hermione lembrou-se do tempo que sempre tenta
esticar o máximo possível, e sentiu-se atraída por essa parede de relógios.



Estava admirando cada um dos artefatos usados para medir o tempo, cada qual mais
interessante que o outro. Questionava-se se aquelas ampulhetas eram para marcar
o tempo ou se eram vira-tempos... "que bobagem, é claro que são apenas
marcadores de tempo! Vira-tempos são artigos muito restritos e controlados pelo
ministério, não ficariam expostos numa lojinha para quem quisesse ver..."
Hermione estava tão distraída que não percebeu a entrada de uma pessoa na loja,
tão sorrateira, com longas vestes negras e cabeça coberta por um capuz, que mais
parecia um vulto, uma alma penada.



_Hermoine Granger?




O vulto a chamava secamente. Hermione virou-se num salto, decerto era algum
conhecido que a vira entrar na loja. Seu sangue gelou ao focalizar a figura
sinistra que empunhava a varinha em sua direção. Neste mesmo momento, do
interior da loja, saía um senhor franzino, calvo e de pequenos óculos de
leitura, carregando alguns objetos de antiquário.



Foi tudo muito rápido. O homem encapuzado lançou sobre Hermione uma maldição
estuporante. Enquanto ela era arremessada contra a parede de relógios e antes de
desfalecer completamente, ainda pode perceber coisas estranhas como o senhor da
loja erguendo a mão nua em direção ao comensal, lançando-lhe longe, derrubando
muito objetos no caminho; parece ter ouvido todos os relógios badalarem ao mesmo
tempo, enquanto sentia a imagem dos mesmos rodarem a sua volta, tudo muito
confuso, o barulho ensurdecedor dos relógios ia diminuindo, até não ouvir mais
nada e só enxergar as trevas.



N/A: É neste finalzinho deste capítulo que a trama pega emprestado a base do tal
capítulo de Silent Möbius. Um resumão bem rapidinho pra vc saber qual é: uma das
protagonistas da série, Nani (acho _,), é atraída para dentro de um antiquário,
onde ela compra um antigo moedor de café manual - ela é dona de uma cefeteria.
Nessa, Nani é atacada por um dos inimigos, seres extra-dimensionais chamados
Lucifer Halk (acho tb _,,) e, por qualquer motivo, ambos são arremessados 30
anos no passado, indo parar no final da década de 90 - a série se passa pela
década de 2020. Completamente perdida e sem noção alguma do que fazer naquele
passado estranho, Nani conhece um rapaz, com quem acaba ficando por uns
tempos...

Bom, depois eu conto mais, senão estraga o resto da minha fic, afinal, ela é
baseada nesse episodio {;-P}



* - Usei essa música numa songfic sobre o shipper SS/HG, escrita anteriormente a
esta fic aqui. Então, quis fazer uma pequena referência...

 


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Fim do Capítulo II - continua

By Snake Eye's - 2004

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