Encarando a Situação

Encarando a Situação



Por mais estranho, difícil e que lhe causasse medo, era preciso criar um laço de
afeição com o jovem Snape, mesmo porque, de certa forma, sua vida dependia
disso! Não poderia se apegar na teoria de que se as coisas no futuro eram de uma
forma, quer dizer que no passado tudo deu certo. Não era porque o Snape de vinte
e um anos à frente havia, num único momento em sua vida, tratado-a de forma mais
humana, quer dizer que o Snape de hoje poupo-lhe a vida e tudo deu certo.
Naquele momento, o seu presente era aquele e esse passado não existia para si...
mas, agora que esse passado em particular tornou-se o seu presente, não quer
dizer que nada de ruim e mais errado ainda poderia lhe acontecer, mesmo porque
ela não conhecia o futuro, o dia seguinte de seu próprio tempo. Aquele dia em
que foi atacada por um comensal dentro do antiquário do Beco Diagonal, bem
poderia ser seu último dia de vida. Apesar de agora, neste momento, ela ainda
estar viva, não significa muita coisa, pois ela simplesmente não existe em
1980...







_Isso sempre dá dor de cabeça! É muito louco colocar passado, presente e futuro
em seus lugares, ainda mais quando estes se misturam... argh!



Hermione esfregou a cabeça com as duas mãos, como se quisesse desmanchar aqueles
pensamentos que estavam latejando em sua mente.







_Não é hora para isso! Agora preciso tentar alguma amizade com o jovem Snape
antes que ele resolva me matar, até eu conseguir encontrar um meio de voltar pra
2001! Necessito desesperadamente de uma imensa biblioteca bruxa! – Terminou numa
voz chorosa e murmurada.







Prendeu a respiração e deu dois toques leves na porta antes de abri-la, apenas
para deixar o jovem Snape preparado “Acho que não seria uma boa aparecer de
repente na presença de Snape em nenhuma circunstância...”.



Ao abrir a porta, Snape já dirigia-lhe a atenção. Estava sentado próximo a
janela, com um livro em suas mãos. Hermione sentiu-se congelar por dentro com o
olhar que a recepcionou, lembrando-lhe imediatamente de um ocorrido longínquo,
em que também presenciou esse mesmo olhar letal: quando o Prof. Snape descobriu
que Sirius Black havia escapado de Hogwarts, em seu terceiro ano. Naquele
momento, quando ela estava oculta pela capa de invisibilidade de Harry, jurava
que aquele olhar poderia matar qualquer pessoa que o visse!



Tremeu intimamente. Tinha certeza de que não conseguiu disfarçar o choque, mas
tentou conter-se. “Coragem, Hermione! Você sempre fez jus a Grifinória! Não vai
ser justo agora que irá fraquejar! É só um olhar típico de Snape... oh, Merlin!
Se ele me odiar como odiava o Sirius, não terei muitas chances!”







Severus sentiu-se desconcertado com a expressão de medo que viu no rosto da
menina. Ele que muitas vezes se divertia com o medo que causava as suas vítimas
quando saia em ataques com os outros comensais, sentiu um amargo na garganta e
uma tristeza cortante no peito com aquele olhar desamparado. Ele não queria que
ela lhe temesse, não queria que ela sofresse qualquer mal... mas por que?! Até
descobrir a resposta certa e tomar a decisão de eliminá-la de vez, precisava ver
até onde isso iria. Afinal, era a primeira vez que tinha um contato tão direto
com uma legítima sangue-ruim... é, decerto, o que ele nutria por ela era uma
imensa curiosidade...







_Como se sente, Srta Granger? – falou num tom áspero, como era praxe do próprio
Snape de seu tempo. Ele precisava, naquele momento, desfazer aquela atmosfera
pesada que se formou com a presença dela.



_Bem, pra falar a verdade, eu não sei, estou confusa... – Hermione evitava
olhá-lo, então dirigia seu olhar ao piso corrido de madeira. _Quero dizer,
fisicamente estou ótima, não sinto qualquer dor... muito obrigada! Muito
obrigada mesmo! Se não fosse por você... – terminou a frase olhando diretamente
para Severus, mas não pode conter as lágrimas que se formaram, por mais que
lutasse contra a vontade de cair em pranto profundo. Aquele olhar de ódio que a
recepcionou a feriu, por mais que não quisesse admitir!







“Droga! Por que ela tinha que me dizer isso! Não posso deixar minhas convicções
caírem por terra! Ela é e sempre será uma sangue-ruim, a escória que devemos
eliminar! Maldição!”



_Eu fiz uma escolha, Srta. Granger... se a senhorita é o x da questão dessa
escolha, isso não tem a mínima importância. Não me agradeça por isso...



Severus levantava-se da cadeira e ia lentamente em direção à Hermione, que
tentava a todo o custo não deixar transparecer o quanto aquelas palavras amargas
ditas tão letalmente a machucaram, precisava quebrar aquele clima de alguma
forma! “Onde foi parar toda a gentileza dele do início? Por acaso excedeu o
limite diário?! Por Merlin! Tudo isso só porque desdenhei da preocupação de
Harry e Rony... se eu tivesse levado a sério o que Snape falou, que ironia...”







_Sou mesmo uma cabeça-oca... murmurou o que devia ter ficado apenas como
pensamento, o que fez o jovem Snape parar no meio do caminho, intrigado:



_Por que a senhorita seria uma cabeça-oca, Srta. Granger?

“Ai, droga! Ele ouviu! Preciso disfarçar!” Hermione deu um sorriso forçado para
poder responder qualquer coisa, mesmo correndo o sério risco de parecer idiota –
“Droga! É minha vida que tá em jogo! Dane-se!”



_É claro que o senhor teria feito a mesma coisa por qualquer outro que
precisasse de ajuda, tenho certeza disso! Não quis ofendê-lo... mas, mesmo que
isso lhe seja algo muito comum, creia que para mim o senhor fez uma grande
diferença! “Ah! Péssimo, Hermione!”







Snape deu uma risadinha, a garota estava mesmo nervosa, sem saber o que fazer.
“Garota tola! Isso será divertido! Então vamos dar corda para ela se enforcar”.
Foi em direção ao quarto num só pé, passando rápido por Hermione sem ao menos
olhá-la. Ela estremeceu novamente por dentro e caminhou até a pequena mesa da
sala, onde apoiou-se para ganhar fôlego. Estava tudo tomando um péssimo rumo, a
situação estava fora de seu controle e, por deus, como ela odiava aquilo! Se
isso era um castigo por ela ter feito pouco caso da preocupação de seus amigos –
e, ironicamente de Snape do seu próprio tempo – estava sendo um castigo cruel
demais! Por mais metida e intragável que era, assim como muitos achavam, tinha
certeza que não merecia tamanha pena.



“_Por que isso tudo está acontecendo? Será que não é apenas alguma maldição,
alguém brincando com a minha mente?!”







Snape voltou até a sala. Havia vestido com um blazer negro e alcançava um casaco
de lã também negro para Hermione, que se assustou com o aparecimento repentino,
seus olhos estavam marejados e, embora tivesse sido notado pelo rapaz, este
preferiu ignorar... “Não vamos começar com melodramas novamente, Severus!”







_Vista isso Srta Granger. A França é um país muito mais quente que a Inglaterra,
mas as noites têm sido um pouco frias. Creio que a senhorita não suporte tanto
assim o frio, não é mesmo?



Hermione arregalou os olhos! Ela havia se esquecido completamente de perguntar
onde estavam exatamente! Por isso que não conseguia reconhecer a paisagem vista
da janela!



_O que?! França?! Estamos na França?!







Desta vez Severus ficou realmente sem jeito. Também havia esquecido
completamente de informar à garota onde estavam.



_Oh! É mesmo! Desculpe-me, Srta Granger! Havia esquecido de lhe dizer isso.



_Mas... mas por que estamos aqui?



_Bem, estou morando por aqui enquanto concluo meu curso superior na Universidade
de Lyon... é por isso que a trouxe para cá, além de ser mais seguro...



_Seguro? – Hermione estava confusa. Com certeza esse jovem Snape não é um cara
muito estável... ou não admite seus próprios sentimentos, o que seria bem
típico!



_Isso não importa agora! Vamos, ainda está cedo, mas podemos ir jantar... creio
que esteja com fome, embora minhas poções a tenham sustentado até agora, mas a
senhorita precisa de carboidratos e proteínas.







_Você está me convidando para jantar... fora?! – Hermione estava incrédula. A
menos que ele esteja tramando algo, ele realmente não é um cara estável.



Snape ficou um pouco ruborizado e olhou para o outro canto da sala, tentando
disfarçar o quanto ficou encabulado.



_Eh... bom, eu sempre como fora, sabe... apesar de exímio em poções, culinária
não é o meu forte...



“Ah, claro, sem contar que provavelmente sua modéstia é a melhor do mundo!”
Hermione riu de seu próprio pensamento e vestia o casaco que Snape a emprestara.
O rapaz já a esperava com a porta da rua entreaberta.







Hermione usava um longo vestido turquesa com minúsculas estampas de flores,
muito bonito e em tecido leve para ser usado no verão. O contraste com aquele
casaco de lã negro era enorme, isso sem contar que o casaco ficou imenso em si,
cobrindo-lhe as mãos e o comprimento indo até quase seus joelhos; os ombros do
casaco ficaram no meio de seus braços. Ficou olhando com certa admiração. A lã
exalava um leve e gostoso perfume de ervas. Um arrepio passou pelo seu corpo ao
se dar conta de que esse casaco era de Snape e que ele deveria sempre usá-lo. O
arrepio se intensificou ao notar o quanto ele poderia ser grande, de ombros
largos, coisa que ela jamais botou reparo, seja nesse jovem Snape e menos ainda
no Snape de seu próprio tempo. Encarou-o instintivamente para constatar tal
fato, mas deu de cara com o olhar divertido do rapaz sobre si, o que a fez
corar.



_É, realmente, não combina nem um pouco com você ou essas vestes trouxas. Mas
não se preocupe com isso. A senhorita não precisa de artifícios para se mostrar
bonita... – Severus devia ter mordido a própria língua depois de proferir tais
palavras, pois virou-se rapidamente na direção do corredor do prédio, com uma
carranca péssima.



Mesmo estando com as faces em fogo de tão rubra, Hermione conseguiu achar graça
da situação.

 



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Fim do Capítulo V - continua...

By Snake Eye's - 2004

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N/A: a idéia do jovem Snape cursar nível superior na França pela Universidade de
Lyon foi tirada da fanfic “Depois da Tempestade, a bonança” (www.sarahsnape.cjb.net) 
da minha mentora Sarah Snape. O mesmo acontece com o personagem John Michaelsen
que é de autoria também de Sarah Snape para a mesma fanfic. Se esta nota
permanecer aqui – junto com as idéias emprestadas – é porque a Sarinha deixou!
^___^



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