Velório de Margareth

-Ah, Mione..Vamos! Nem há nada de tão mal neste artigo...
-Não? – respondeu a morena com ironia – E o que você me diz disso? – ela então, começou a ler a noticia em voz alta, com certa afetação:

“ Depois de anos de amizade, que agora se prova colorida, nossa reportagem finalmente flagrou o mais novo casal do mundo mágico: Harry Potter e Hermione Granger. Parece que o ‘menino que sobreviveu’ finalmente superou a morte de sua antiga namorada, Gina Weasley, e resolveu aproveitar a vida ao lado de uma bela morena. Pelos fatos já ocorridos, parece que nosso eterno herói tem gosto por namorar amigas, vale ressaltar que Granger é amiga de infância de Harry, assim como a sua antiga namorada,Gina. Na última quinta-feira (26), o casal foi flagrado em um animado jantar na companhia de um casal de amigos, no badalado restaurante La’Rose. O clima na mesa era de notória felicidade, o que nos leva a crer que o romance dos pombinhos vai muito bem, obrigada. O que não era pra menos, afinal, edições antigas do profeta mostraram um possível envolvimento entre os dois, ainda na adolescência. Os motivos de tornar o affair público apenas agora é o que causa dúvida a muitos, mas, ainda assim, desejamos nossos votos de felicidade e muita paixão aos enamorados!”

-O que as pessoas vão pensar da gente, Harry? Eles ainda colocaram trechos daquela baboseira que a Rita escreveu sobre nós quando éramos adolescentes. Quer dizer, eu nem me incomodo, não tanto assim, que todos saibam de nosso relacionamento.. Mas envolveram a Gina nisso tudo, do jeito como eles falam até parece que estávamos juntos enquanto você ainda estava com ela, o que é uma mentira sem fim!!
-Eu sei, meu amor. Eu também pensei nisso... Mas não devemos nada a ninguém. Se devêssemos, seria apenas à memória de Gina, que tenho certeza, está abençoando nossa união lá de cima.
-Mas...- Hermione ainda não parecia convencida.
-Tenho uma idéia – interrompeu Luna – que tal se agendássemos uma entrevista? Vocês escolhem a revista, pode até ser a de papai, e então, vocês dão a versão de vocês da história, a versão correta.
-Me parece uma ótima idéia – disse Harry sorrindo, e aproximando-se de Hermione, que estava sentada em uma poltrona de cara amarrada. O rapaz ficou ao lado dela, massageou levemente seus ombros e beijou-lhe o alto da cabeça – Vamos, Mione...Tire essa expressão de raiva do rosto! Temos tanto o que aproveitar hoje!
-O pior é que não temos, amor. Tenho que ir pro St.Mungus agora mesmo. Com essa confusão toda, acabei me esquecendo da hora.
-Vejo você mais tarde,então?
-Passe lá, logo mais a noite. De lá vamos a algum lugar.
Ela levantou-se e despediu-se de Harry com um longo beijo, além de se despedir de Luna. Depois, rumou para o hospital.
Ao chegar lá, assustou-se com o clima estranhamente tenso do local. As enfermeiras, alguns curandeiros, e a maior parte dos funcionários do local pareciam estarrecidos, tristes, abatidos.
Hermione ficou preocupada. O que havia acontecido? Pensou em perguntar a alguém o que ocorria, mas ficou sem jeito. Lembrou-se então de Agatha, para a amiga podia perguntar sem temer alguma reação desagradável, e foi o mais rapidamente possível para a sala que dividia com ela. Agatha, com certeza, saberia o que estava acontecendo ali.
-Agatha? – chamou Hermione, assim que entrou na sala.
-Ah, oi,Mione. – disse, tristemente.
- O que está acontecendo aqui hoje? Todo mundo parece tão triste...
-Você não soube?
-Não sei o que eu deveria saber.
- Uma funcionária do hospital morreu na noite passada. Assassinada.
-Não acredito – ela levou as mãos a boca – Quem era?
-Margareth Segabizanni. Lembra-se dela?
-Mas é claro! Não posso acreditar...Ontem mesmo, pela manhã, conversei com ela. Meu Merlin! Ela era tão simpática, sempre sorridente. Já sabem de como a coisa toda aconteceu?
-Oh, não. Estão fazendo a perícia ainda, para descobrir o que foi. Mas já sabemos que não foi nenhuma Maldição Imperdoável. Ela tinha alguma seqüela, que não foi divulgada ainda, o que anula essa possibilidade.
-Nenhum suspeito?
-Parece que não.
-Nem sei o que pensar... A vida é mesmo injusta.
-É. – disse a amiga, tristemente – Mas vamos tentar voltar ao trabalho, que a vida continua.
-Nunca sei se agradeço ou se fico mais triste por ela continuar. Mas sim, voltemos ao trabalho. Antes, no entanto, preciso saber do enterro, velório, essas coisas...Quando será?
-Hoje, às sete da noite. Você vai, não é?
-Mas é claro. Harry passará aqui e peço a ele para me acompanhar.
A amiga esboçou um sorriso.
-Fico tão feliz que vocês tenham se acertado. Vocês foram feitos um pro outro, não há dúvidas.
-É verdade, nunca fui tão feliz em toda a minha vida.
A morena então se sentou em sua confortável cadeira e pôs-se a trabalhar. Ou melhor, a tentar trabalhar. Porque sempre que fazia alguma coisa, lembrava-se de Margareth, e do pouco contato que tivera com ela. Moça simpática, trabalhadora, gentil. Com certeza desejava ter tido uma aproximação maior. Mas não deu tempo.Infelizmente.
Já era quase sete horas quando Harry chegou ao hospital. Ele também estranhou aquele clima tenso, triste.
-Boa noite, amor – ele cumprimentou a namorada com um selinho, assim que entrou em sua sala – Olá, Agatha.
-Oi, Harry – respondeu ela.
-Amor, eu sinto muito, mas nosso jantar vai ter que ser cancelado. Uma funcionária aqui do hospital foi assassinada, e o velório vai ser daqui a alguns minutos. Você se incomoda de ir comigo?
-Mas é claro que não querida. Como foi que aconteceu? Ela era sua amiga?
-Não, não amiga intima. Mas eu simpatizava com ela. E ninguém sabe ainda direito como foi, não saiu o resultado da autopsia.
-Entendo.
-Vamos, então?
O rapaz apertava forte a delicada mão de Hermione. Ele sabia que a namorada precisava de sua força, seu apoio. Era hora de retribuir toda a força que ela havia lhe dado quando Gina partira.
No velório, eles passaram todo o tempo abraçados. Algumas vezes, Hermione chorava baixinho. Já no enterro, que aconteceu logo depois, Hermione já estava calma e refeita, e passou a observar melhor as pessoas ali presentes.
A grande maioria eram funcionários do hospital.Havia muita gente da família também. Todos muito abatidos. No meio das pessoas, Hermione reconheceu alguns conhecidos, dentre eles, Edgar.Ele parecia muito calmo, sereno, e não demonstrava sinais de estar abatido com a perda. Hermione imaginou que ele não a conhecesse, mas logo achou difícil, já que Margareth tinha contato com todos ali no hospital. Mas logo ela concluiu que ele, assim como algumas pessoas, não conseguiam demonstrar seus verdadeiros sentimentos em relação a perdas.
Ela, então, olhou pra Harry. Sempre que pensava em perdas de pessoas queridas lembrava-se do garoto. Já havia passado pelo mundo alguém mais marcado por estas? Mas ele era corajoso, forte. Por mais perdas eu sofresse, mesmo que demorasse bastante, ele conseguia se refazer, continuar sua vida, e procurar a felicidade.
Felicidade. Ah, se ela soubesse o quão bom era sentir isso, teria se unido o mais rápido possível ao rapaz. Desde que começara seu romance com ele, sentia-se a mulher mais feliz do mundo. Clichê? Talvez. Mas era simplesmente assim que ela se sentia.
Harry estava sempre a protegendo, assim como nesta triste e fria noite. Ele a abraçava forte, como se seu abraço fosse um aviso de “Não se preocupe, estou aqui.Você logo se sentirá melhor”. E como aquele abraço a confortava... Se ele não estivesse ali, ao seu lado, ela não suportaria toda aquela triste situação.