Uma ceia de Natal



- Não! – disse Harry, em uma mistura de êxtase com assombração.

- Prof-professor... – disse Rony, tão surpreso quanto qualquer outro no recinto – O senhor? Mas...

- Shhhh – disse Dumbledore, colocando a mão sobre a boca do garoto – Todas as explicações virão na hora certa, sr. Weasley. Agora, Minerva – disse, virando-se para a professora – Precisamos fechar novamente a escola.

- Alvo... – disse a professora, ainda reunindo forças para falar – Mas... como...?

Dumbledore olhou para a professora, no que esta entendeu e logo foi em direção aos portões, para selá-los com feitiços. Todos estavam abismados, apenas apreciando a visão magnífica que tiveram há pouco.

- Ah! – disse o professor, conjurando um par de óculos – Não tão bons quanto os anteriores, mas extremamente eficientes!

Harry olhava embasbacado, mas não era só ele. Ninguém ao seu redor conseguia juntar palavras para dizer uma só frase a respeito do que acabaram de presenciar. Hagrid tomou a dianteira e, aproximando-se de Dumbledore com lágrimas nos olhos, ajudou-o a se levantar.

- Obrigado, Hagrid – disse o professor, com sua luz branca diminuindo a cada segundo – Ah, já não era em tempo! Hogwarts!

Ele olhava Hogwarts com um brilho no olhar como se estivesse ali pela primeira vez.

- Olá, Pirraça! – disse, acenando para o fantasma, que vinha adiante.

- Oh, que surpresa, professor Dumbledore! – disse o fantasma, um tanto quanto decepcionado – Eu esperava vê-lo, hm, de outra maneira!

- Entendo... Mas ainda assim terá minha presença! E Hagrid – disse, aproximando-se do gigante, sua cabeça na altura de seus cotovelos, com um olhar muito cúmplice – Você não deveria estar tão surpreso.

Hagrid não conseguia conter as lágrimas.

- Eu não... eu não podia acreditar... – virou-se para Harry e os outros, enxugando as lágrimas com as costas da mão – Um grande homem, o Dumbledore!

Todos riram. Dumbledore foi em direção a Harry, agachando-se à sua frente.

- Temos muito o que conversar, Harry. – sussurrou – Mas agora – disse, levantando-se bruscamente e elevando a voz – Acredito que um descanso seja o mais adequado a todos. Papoula, o menino ainda precisa descansar na enfermaria; uma poção do sono deve resolver. Amanhã, creio que Molly ficará bastante feliz em nos receber para uma ceia de Natal.

Todos olharam um para os outros, alegres. Harry não podia acreditar. Não estava entendendo o que estava acontecendo, mas estava tão absorto com a presença de Dumbledore que não queria acreditar que fosse apenas um sonho... não poderia ser...

- Mas professor... – disse Hermione, tão contente quanto Harry, mas ainda assim preocupada – Não seria melhor ficarmos por aqui? Quer dizer... Aqui é mais seguro, ou não? – disse, com certa incredulidade na voz.

- Srta. Granger... Eu senti falta de suas perguntas – a garota corou – Mas a casa dos Weasley é tão segura quanto Hogwarts, posso lhe garantir. Eu mesmo selei proteção antes de, hm – pigarreou – No entanto, creio que seja menos óbvio do que aqui, se é que me entendem. Agora, vão descansar. Partiremos logo cedo.

- Professor, mas o Snape...

- Hoje não, Harry – respondeu Dumbledore, em um tom que Harry respeitou.

O dia seguinte demorou para chegar. Mesmo recebendo ordens de Dumbledore para que todos tomassem uma poção do sono, Harry demorou a dormir. A presença de Dumbledore novamente em sua vida era algo que realmente não poderia imaginar. Como aconteceu? Como era possível... Hermione tinha lhe dito que é impossível algum bruxo, por mais poderoso que fosse, voltar da morte... Ou teria sido o próprio Dumbledore que lhe dissera? Não se recordava... Tentava ligar os fatos mas nenhum deles fazia qualquer sentido...

A sra. Weasley ficara tão assombrada com a visão de Alvo Dumbledore que quase desmaiou ao vê-lo entrar por sua porta, com um feliz Arthur segurando o braço do diretor, com um sorriso de orelha a orelha. Gina estava na sala com Fred e Jorge e todos eles arrebataram os visitantes de perguntas.

- Calma, calma – disse Dumbledore tirando o casaco e entregando a uma ansiosa Molly – Obrigada. Todos saberão na hora do jantar.

O dia correra bem. Ninguém insistiu com Dumbledore para contar o que estava acontecendo, pois ele tinha dito firmemente que esclareceria tudo no jantar. Harry, Rony, Hermione, Gina e os gêmeos estavam no jardim, esperando ansiosamente o dia passar e discutindo todas as hipóteses possíveis a respeito do acontecimento. Vez ou outra olhavam para o lado, quando Bichento mordia outro duende.

Finalmente chegara a hora do jantar e, providencialmente, uma enorme mesa fora montada nos jardins, iluminada por luz de velas que flutuavam ao seu redor. Molly preparara diversos tipos diferentes de pratos. Era um Natal feliz, finalmente. Depois da promoção de Arthur no Ministério e do sucesso de Fred e Jorge com sua loja de logros, a vida dos Weasley melhorara visivelmente. Fred, que usava um casaco de veludo cor de vinho, brincava com os talheres em um divertido feitiço para que dançassem, enquanto Jorge cutucava Luna, que parecia estar adorando a brincadeira. Parou apenas quando Fred o olhou esquisito. Harry poderia jurar que notara algo diferente ali. Percebendo o olhar de Harry, Fred rapidamente se recompôs e disse:

- Então, professor, vai nos contar o que aconteceu ou mamãe terá que colocar um pouco de Veritaserum no seu suco de abóbora?

- Fred! – gritou Molly, zangada.

- Deixe, deixe ele, Molly – disse Dumbledore, colocando o pão sobre o prato – Bom, acredito que todos devam estar ansiosos para saber o que aconteceu!

- Bota ansiedade nisso – cochichou Neville para Harry, mas o professor lhe deu uma rápida olhada, por ter aparentemente escutado.

- Bem, há tempos eu lhes disse que confiaria a Hagrid minha vida – disse, colocando a mão no braço do amigo, que mastigava feliz como um cão que não comia há dias – E foi o que fiz, mas ele parece não ter confiado muito – Hagrid fez menção de quase chorar, mas Dumbledore apertou-lhe o braço de forma carinhosa – No entanto – continuou – Como todos sabem, há certos bruxos que têm o habilidoso dom de se transformar em um animal específico.

- Não! – disse Rony, boquiaberto – O senhor é um animago?

- Posso dizer que sim – disse Dumbledore, arrancando sussurros empolgados por toda a mesa – Mas creio que poucos tivessem conhecimento disso, visto que jamais usei este dom displiscentemente. Hagrid era uma das poucas pessoas que sabiam. E também não seria muito comum ver uma fênix voando por aí. São animais fascinantes, porém raros.

- Uma fênix! – disse Hermione, empolgada como se tivesse descoberto um tesouro – É claro!

- Sim. Uma fênix. Achei que me veriam no dia em que fui enterrado, mas me enganei.

Harry teve uma vaga lembrança da visão de uma fênix branca voando junto à fumaça. Tentou não sorrir, o que foi impossível. Abaixou a cabeça e percebeu que Dumbledore entendeu o que acontecera.

- O que acontece – disse, tirando os olhos de Harry – É que eu renasci. Como uma fênix faz, quando chega a sua hora. Não é um dom que possa ser utilizado sempre, pois isto me conferia a eternidade, algo que sinceramente não almejo, e fico contente por isso. Um bruxo que se transforme em uma fênix pode utilizar o mesmo dom do animal para renascer, mas somente uma vez.

- Isso quer dizer que agora o senhor é mortal? – perguntou o jovem Longbottom, tentando entender. Dumbledore sorriu.

- Eu nunca fui imortal, Neville. E agora menos ainda. Eu aproveitei esta oportunidade pois fazia parte de um plano para manter a vida de Severo Snape, além do menino Malfoy. E, mesmo não temendo a morte, acredito que aquela ainda não era a minha hora.

- Snape, mas... – disse Harry, porém todos tinham milhões de perguntas, assim como ele. Dumbledore aguardou calmamente até que o alvoroço parasse.

- Entendo que tenham muitas perguntas, e eu espero poder respondê-las completamente. Poderia me passar o pudim? Ah, bela escolha, Arthur!

O professor pegou o pedaço de pudim de amoras oferecido gentilmente por um ansioso senhor Weasley. Todos olhavam Dumbledore atentamente, enquanto este colocava um enorme pedaço do doce na boca. Harry teve a impressão de que o professor estava se divertindo com a situação.

- Hum, delicioso! – disse, lambendo os lábios – Molly, meus parabéns, como sempre, pela comida. Mas, ah!

O professor percebeu que todos começavam a ficar inquietos nas cadeiras, esperando suas palavras.

- Eu creio que o professor Snape já tenha lhe procurado, Harry.

Ele fez que sim com a cabeça.

- E você não acreditou nele?

- Não – ele respondeu.

- Talvez um dia vocês saibam qual a verdadeira razão pela qual sempre tanto confiei no Severo – disse, olhando para todos – Mas creio que ele seja a pessoa mais indicada para falar sobre isso. Usarei da boa educação para falar somente a meu respeito hoje.

Harry estava cada vez mais impaciente.

- Mas, professor... O senhor pode nos explicar o que está acontecendo? O senhor... morreu, certo? Snape o matou! Quero dizer, eu vi, e todo o mundo sabe! Por que ele fez aquilo, afinal?

- Toda a história que o professor Snape já lhes deve ter contado é verdadeira – ele disse, olhando com especial atenção à Hermione, por saber que era a única que acreditava no ex-professor de Poções – Tudo o que posso dizer é que ele continua mantendo seu papel de espião.

- Ele sabia que o senhor retornaria? – perguntou Neville.

- Sim, ele sabia. Imagino que deva aparecer quando tiver oportunidade. Agora! – disse, levantando-se – Precisamos dar um jeito nessa mesa! Não é justo abusarmos da hospitalidade de nossa querida Molly!

Todos levantaram e começaram a arrumar as coisas, mesmo contrariados, ansiando ouvir mais. Muito foi esclarecido, porém Harry ainda não acreditava definitivamente. Precisava conversar com Dumbledore. Quando estava em seu suposto enterro, se arrependera de não ter conversado mais com o professor. Não queria jogar outra oportunidade fora; uma oportunidade que lhe viera de forma tão inesperada e maravilhosa. Ele tinha uma segunda chance com Dumbledore, e sabia disso. Agora o professor estava ali, renovado. Sua mão voltara ao normal e, apesar de manter a mesma aparência anterior, notavam-se alguns fios cor de palha em seus cabelos e uma expressão mais suave no rosto. Deve ter feito algum feitiço para voltar à sua aparência normal, pensou. Viu todos entrarem, levando os últimos objetos, quando chegou perto de Dumbledore e o chamou.

- Ãhn, professor?

Dumbledore parou e olhou para Harry, que estava a poucos metros atrás.

- Sim? – respondeu, como se não soubesse o que ouviria.

- Eu me arrependi de não ter conversado mais com o senhor – disse, se aproximando – Não gostaria de perder isso novamente.

Dumbledore sorriu.

- É claro. Venha, vamos conversar.

Os dois se afastaram da casa sem serem vistos e sentaram em dois balanços conjurados por Dumbledore. Harry estava tão feliz por ter seu professor ali novamente que procurava apreciar cada momento, cada ato, ao seu lado. Divertiram-se durante alguns segundos balançando no ar – Harry tivera a impressão que Dumbledore se divertia mais do que ele – e então voltaram a conversar em um tom um pouco mais sério.

- Sabe, Harry, você já se perguntou porque os Weasley moram em uma casa tão humilde, mesmo eles sendo uma das famílias puro-sangue mais importantes?

- Claro que já, senhor.

- E você nunca se perguntou porque eles sofrem represálias de gente como os Malfoy, recebendo insultos absurdos como “traidores do sangue”?

- Sim, senhor, mas achei que todos que andassem com trouxas fossem chamados assim...

- Não, Harry. Você já foi chamado assim?

- Não, mas...

- Não, porque é sutilmente diferente. Você sabe porque Gina foi a garota escolhida para receber o diário de Tom Riddle?

- Ãhn...

Harry percebera que seu cérebro não conseguia acompanhar o pensamento de Dumbledore.

- Lúcio Malfoy poderia ter confiado o diário a qualquer outra garota, Harry, mas ele escolheu a Gina. – Dumbledore desviou o olhar de Harry um instante, olhando para os duendes correndo pelo jardim. O silêncio já estava o angustiando quando Dumbledore continuou – Sei que a ama de verdade, Harry, e esse é apenas outro motivo para não colocá-la em perigo.

- Mas... professor, não estou conseguindo entender...

- Harry, Gina é a sétima filha da família Weasley, a primeira garota em muitas gerações. A família de Molly traça uma linha de bruxos talentosos e corajosos há até mil anos atrás. Ela inclusive teve parentes que deram suas vidas em nome da Ordem da Fênix, no passado.

- A Ordem irá voltar, professor?

- Sim, Harry, é bastante provável – disse – No entanto, o que vou lhe dizer agora é sensivelmente mais importante. Muito mais do que imagina, para entender essa história.

- O quê?

- Os Weasley, Harry, são os herdeiros legítimos de Godric Gryffindor – disse Dumbledore, enquanto Harry o olhava abismado.

- Sério?!

- Sim.

- Mas... então... por quê...?

- Eles são pobres? – disse Dumbledore, e Harry viu-se envergonhado.

- Sim.

- Bem, eles renunciaram a muita coisa. Toda a herança de Godric foi doada a Hogwarts por parentes algumas gerações antes de Molly, provavelmente como uma forma de honrar a herança de um de seus fundadores. Parte dessa herança foi em ouro, mas também em alguns itens de precioso valor à escola.

- A espada?

- Sim, a espada é um deles. O chapéu seletor também.

- O chapéu seletor pertenceu a Godric Gryffindor?

- Sim.

- Nossa!

Harry não sabia o que dizer. Eram surpresas demais para poucos dias.

- Os Weasley são considerados traidores do próprio sangue por serem herdeiros de Godric Gryffindor. Apesar de muitos, hoje em dia, não ligarem para essa besteira de linhagem, você já teve a oportunidade de perceber como há bruxos que ainda pensam que o caráter de alguém está relacionado à sua descendência. Apesar de, na época, todos os fundadores discordarem de Salazar Slytherin quando ele quis mudar o sistema do ensino em Hogwarts, apenas Godric o enfrentou. Eram grande amigos, então a briga foi bastante pior.

- E daí vem a eterna richa entre Grifinória e Sonserina? – brincou Harry, mas o professor continuava sério.

- Sim. Até hoje.

Uma dúvida veio então à cabeça de Harry:

- Mas, professor, os Weasley sabem dessa descendência? Quero dizer... Rony nunca me disse nada e...

- Ah sim, sabem – disse Dumbledore, mas Harry percebeu que havia muitos outros pensamentos na cabeça do diretor – Porém, acredito que Arthur e Molly tenham preferido não contar aos garotos por enquanto. Pelo menos não enquanto Voldemort ainda estiver por aí. Uma carga a menos para suportarem, se me entende.

- Entendo.

- Isso significa que você não deve contar isso ao seu amigo Ronald, está bem?

- Não contarei.

- Sei que é difícil, mas é uma vontade de Molly e Arthur, e devemos respeitá-los – Harry concordou – E quanto à Gina...

- O que que tem?

- Não estou bastante certo quando ao que irei falar, apesar de ter quase certeza. Mas Gina é a sétima filha, e você deve saber qual a importância do número sete...

O estômago de Harry embrulhou ao lembrar do comentário de Tom Riddle a respeito do número, na conversa com Slughorn a respeito dos horcruxes.

- Sei sim, professor.

- Voldemort tem conhecimento da descendência dos Weasley. Gina, particularmente, por ser a sétima filha, possui um significado simbólico maior do que qualquer outro de seus irmãos. Isso ficou provado quando ele a possuiu através do diário. Eu gostaria de lhe pedir, Harry, que se ama realmente essa garota, e acredito que sim, que me prometa...

Dumbledore apertou o ombro de Harry, já aflito com o que saberia que iria ouvir.

- Prometa-me que não dará a Voldemort mais uma razão para querer matá-la, Harry. Saber que se amam será um motivo maior ainda para querer prejudicá-lo, através dela. E sabe-se lá o que Voldemort pode fazer. Por isso, seja forte, Harry!




Do outro lado do jardim, sobre uma carroça, estavam Ron e Hermione conversando sobre o que Dumbledore lhes falara, ainda não acreditando em tudo o que estava acontecendo. As bochechas de Hermione estavam rosadas. Apesar de estarem deitados apenas sobre palhas, a situação estava bastante confortável. Os dois estavam sentados há bastante tempo olhando para o céu, profundamente azul e limpo.

- Será que ainda veremos essas estrelas novamente? – perguntou Hermione a Ron, depois de alguns momentos de silêncio – Depois que tudo isso acabar?

- Espero que sim. São poucos os momentos felizes que temos na vida, mesmo quando o mundo inteiro parece estar explodindo. – disse Rony, olhando na mesma direção que a garota – E eu não quero perder nenhum deles.

Hermione levantou um pouco e se sentou. Rony acompanhou o gesto da garota, sentando ao seu lado.

- Não é incrível como tudo é simplesmente tão mágico? – disse Hermione, olhando agora para Harry e Dumbledore, entrando na casa – Sabe, não temos a menor idéia do que pode acontecer amanhã. Quero dizer, vamos atrás de... – ela receou em dizer o nome – Voldemort, mas veja... Snape inocente, Dumbledore voltou... Sabe?

- Sei sim. – disse Ron, virando a cabeça para olhar para Hermione, que agora tinha um olhar sonhador semelhante ao que costumava ver em Luna. Ele observava cada contorno de seu rosto sob a luz da lua e das estrelas. Ela era linda. A leve brisa que passava balançava seus cabelos. O frio não importava – nunca se sentiu tão confortável em um lugar. Não havia muita neve, de modo que mesmo a palha da carroça não estava tão úmida. A garota abaixou a cabeça e sem querer olhou para o lado, surpresa ao ver Rony fitando-a...

- O que foi? – perguntou, sorrindo.

- Nada – disse – Eu...

Mas não eram necessárias palavras. Seus olhos pareciam espelhos da alma um do outro – viam a si mesmos crianças, inocentes, tendo tanto ainda a viver. A ansiedade tomava-lhe os corações, enquanto seus rostos se aproximavam. De fundo, apenas o som das corujas caçando no quintal. Ron fechara os olhos, sua respiração presa por alguns instantes. Hermione aproximava-se quando viu um vulto passar adiante.

- Não! – disse, e Rony abriu os olhos, tentando entender o que estava acontecendo. Teve a nítida sensação de que fizera papel de bobo.

- O que foi? – perguntou, assustado. Seu coração batia rápido.

- Eu... vi alguém. Vamos entrar, venha!

Hermione desceu da carroça e puxou Ron, que continuava sem entender.

- Mas, quem? Quem você viu? – perguntou, enquanto corriam para a casa.

- Um vulto negro, Rony, acho que era um Comensal!

- O que, de novo? Ah não...

Os dois entraram na casa e encontraram um divertido Dumbledore entretendo a todos.

- Então o leprechaun se abaixou e...

- Professor! – disse Hermione, interrompendo a piada - Rápido, há Comensais lá fora! O senhor tem que ir embora, eles não podem saber que está aqui!

As feições de Dumbledore se alteraram repentinamente. Abriu a porta e viu, a menos de cem metros de distância, o vulto de vários Comensais da Morte se aproximando. Não pôde enxergar, mas havia dezenas deles. A Toca estava cercada. Ele fechou os olhos e, engolindo seco, bateu a porta atrás dele, voltando-se aos demais.

- Escutem o seguinte – disse, visivelmente sério – Vocês devem partir imediatamente para a sede da Ordem da Fênix.

- Eu vou lutar com o senhor! – gritou Harry, seguido pelo apoio dos outros, mas logo Dumbledore os silenciou.

- Eu não lutarei com os Comensais. Pelo menos, não hoje. Por favor, partam imediatamente. Aparatem o mais rápido possível.

- Mas...

- Harry, confie em mim.

Um por um, todos foram aparatando com um estalo, enquanto Harry ainda olhava para o professor, que agora saía da casa, fechando a porta atrás dele. Podia ouvir as vozes dos Comensais se aproximando. Devo ir embora?, pensou.

Todos já tinham aparatado e sobrava apenas ele, Dumbledore e os Comensais na casa dos Weasley. Não podia perder seu professor, não outra vez...

Foi até a porta, pronto para lutar, e viu Dumbledore de costas para a casa, os braços abertos, uma luz alva intensa saindo de seu corpo e cobrindo tudo ao seu redor. Não viu mais os Comensais, pouco lhe importava. Uma grande fênix branca sobrevoava a Toca como uma ave que protege seu ninho. Instintivamente, ele projetou seu patrono, um veado que agora cavalgava com seu brilho prateado por todo o jardim dos Weasley. Harry achou que não fosse fazer grande efeito perto da fênix de Dumbledore, mas os dois animais interagiam de forma absolutamente fantástica, como se estivessem bailando nas nuvens. Apertou os olhos e viu os Comensais, um a um, desapatararem para o lugar de onde vieram. Depois de poucos instantes, a luz foi diminuindo, seu patrono fora embora... Dumbledore parou ao seu lado observando sua fênix voar para o infinito. Harry contemplou a intensa força mágica daquele momento e sorriu, agradecendo internamente por poder lutar ao lado do maior bruxo do mundo.

- Digo o mesmo, Harry - respondeu Dumbledore, e Harry não conseguiu saber se o professor havia dito em voz alta, ou se trocaram poucas palavras apenas em pensamento.

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