Mundo dos Mortos



Harry ficou ali parado. No coração havia tantas emoções que ele não podia dizer qual era a mais forte. Tinha medo, mas não conseguia se mover. Precisava ficar ali. Precisava entender. Precisava ajudar...
As palavras, uma a uma, começaram a se dissolver. Hermione foi a última palavra que desapareceu. Quase instantaneamente depois disso, Snape apareceu com Minerva e Gina.
- O que aconteceu, Harry? – Snape perguntou quando viu a lividez de Harry. – Harry, fale logo, o que aconteceu! Gina está histérica não consegue falar nada.
- MORTA! ELA TINHA QUE ESTAR MORTA, MAS ELA VOLTOU PARA ME AMALDIÇOAR PORQUE EU O AMO! – gritava Gina, agarrando-se no colo de Macgonagal que não perdia muito tempo em querer consolar a garota. Estava curiosa. Minerva lembrava tanto Hermione. Quase desprovida de sentimentos quando se tratava de descobrir algo, investigar ou solucionar.
- Fale, Potter, fale logo! – repetiu a professora, olhando para todo o canto do banheiro, deparando-se com o espelho que não tinha, agora, nenhuma palavra.
- Hermione está no inferno! – Harry conseguiu dizer, após muitos minutos de espera. – Eu preciso ajudá-la. Eu preciso ir para onde ela está!
- Do que está falando, Harry? – Snape perguntou, achando que Harry poderia estar sobre algum trauma.
- Hermione mandou-me um aviso. Ela disse que está no inferno. Pediu minha ajuda! – disse Harry, controlando-se para não se desesperar. – Como? Como alguém tão doce, tão gentil, tão boa, tão interessada pela vida humana pode ter sido condenada ao inferno? Como?
Snape e Minerva se entreolharam, mas Harry percebeu.
- O que? O que vocês sabem? – perguntou Harry, rispidamente.
- Eu vou levar a senhorita Weasley para a cama, Severus. – disse Minerva, um pouco abalada. – Acho que você precisa ficar e falar com Harry.
- O QUE PRECISA ME FALAR! – disparou Harry quando Minerva sumiu com Gina na esquina.
- Harry! Nós temíamos que isso pudesse acontecer! – disse o professor, tentando ser amável. – Quando Voldemort usou Hermione como recipiente de sua alma fragmentada, acabou por fragmentar também a alma dela. Hermione não teve culpa! Mas não havia o que fazer. Você sabe que ela precisava morrer.... você sabia.
Um pavor tomou conta de Harry. Hermione no inferno. Meu Deus! Ela devia estar aterrorizada. Vivendo uma vida amaldiçoada, cercada pela maldade e destruição.
- Eu não posso deixá-la sozinha! – disse Harry, sentindo um aperto no coração. Ele sabia o que fazer. Sabia o que devia fazer. Era seu dever ficar do lado dela. Confortá-la. Viver amaldiçoado. Ele não se importava. Precisava. Não podia deixá-la lá... deixá-la sofrer... isso não! Nunca foi a nenhuma Igreja, mas sabia que a maioria delas condenava quem se suicidasse. Isso significaria que ele iria pro inferno? Era o que queria. Queria ir pro inferno. Veneno? Cair escadas abaixo? Não... melhor usar o antigo e velho modo de se matar alguém... O AVADA QUEDAVRA.
Enquanto Harry maquinava o melhor modo de morrer, Snape, grande legitimentador, percebeu o que ele faria.
- Não, Harry! Não faça isso! – disse ele, sério.
- EU NÃO POSSO DEIXÁ-LA LÁ! É MINHA CULPA ELA TER SIDO USADA COMO RECIPIENTE. MINHA CULPA! E EU A AMO... NÃO POSSO ABANDONÁ-LA AGORA... ELA MESMO... NUNCA ME ABANDONOU QUANDO MAIS PRECISEI DELA... COMO POSSO AGORA ME ESQUIVAR DISSO...?
- Eu sei... eu sei Harry. Mesmo nunca gostando de você ou dela eu sempre percebi o carinho que sentiam um pelo outro. Eu sei que precisa fazer isso, mas ao menos faça da maneira certa. Há uma maneira de resgatá-la...
O rosto de Harry se iluminou.
- Mínima, Harry, mínima.... Muito provavelmente você se perderá também, mas creio que não poderei impedir você de querer segui-la.
- Diga! Diga o que preciso fazer!
- Pois bem! É uma maldição! Você morrerá, Harry, mas terá a chance de voltar e de arrastar uma alma com você para o mundo dos vivos. Mas é muito arriscado. Você mesmo pode ficar perdido no mundo dos mortos e nunca mais retornar. – disse Snape, em tom de alerta. – Você terá vinte e quatro horas no mundo dos mortos. Isso equivale a uma hora no mundo dos vivos, entendeu?
- Sim, entendi! Mas como posso fazer isso? Quero fazer agora? – disse Harry, ansioso em tentar o resgate de Hermione.
- Não quer se despedir de seus amigos? Talvez você nunca mais os veja. Isso é muito triste, Harry. Quando você morre e vai para o paraíso, sabe que reverá as pessoas que ama... mas quando se vai para o inferno... você nem mesmo reconhece quem ama... e acaba odiando tudo o que vê e a si mesmo, mas do que qualquer outra coisa. Entende por que é tão perigoso? A própria Hermione poderá arrastá-lo para o fundo do inferno. A própria Hermione quererá destruí-lo para sempre.
- Mas eu não quero me despedir de meus amigos. – disse Harry, resoluto. – Eu os amo e eles me amam e sei que não me deixariam partir se soubessem o que quero fazer. Mas eu preciso ir.... preciso tentar... preciso de Hermione mas do que qualquer coisa.... a ausência dela me é insuportável...
- Está bem, então... – disse Snape. – Vinte e quatro horas, Harry, vinte e quatro horas, não mais, não menos. Quando você a achar, deverá segurá-la firme e dizer: “ASCENDIUS!”, entendeu?
- Sim, entendi, entendi! – disse Harry impaciente.
- Harry! Você precisa ser muito forte. Não vai ser fácil. Quando se sentir mal, pense em alguma coisa boa, na melhor memória boa que tiver, está bem? No inferno, muitos feitiços não funcionam, já que a energia é balanceada de outra forma. Os feitiços do mal funcionam, mas você não deve usufruir deles, pois ficará tentado pelo mal. Fique firme e ache-a logo. Prepare-se agora!
Harry fechou os olhos. Deus! Meu Deus! Nunca fui muito de pensar em você, mas se você existir, por favor, ajude-me a salvar minha amiga!
- INFERNIUS! – gritou Snape, apontando a varinha para ele.

DOR. A dor era insuportável. Ele se sentia rasgando.... espírito, corpo, carne, alma... tudo rasgando numa dor insuportável. Será isso a morte? Harry pensou, sem saber exatamente o que estava acontecendo. Tudo ficou negro então e o silêncio tomou conta de tudo. Hermione.
Aos poucos uma imagem foi se formando a sua frente. Chamas de fogo em algum ponto à frente. E agora, barulho. Muito barulho... muito alto! Pessoas gritando, pessoas gemendo, corpos se confundindo à lama negra que havia no chão. De repente, Harry pode ver tudo: estava no inferno!
Não era como imaginava. Não era quente e iluminado como previra. Era escuro, muito escuro e muito frio. Brrrr.... frio... muito frio. Os dedos estalavam. As dobras já ficavam rochas. Dor... a dor de se sentir congelando. Hermione.
Harry começou a caminhar. Era difícil. Estava na lama. Uma lama gelada, fétida... o cheiro podre de enxofre acometia suas narinas. Náusea. Força, Harry. Hermione. Alguém segurou seu pé. Uma mulher. Tinha o rosto transfigurado. Pelo nariz e olhos, os vermes transpassavam como se fosse sua morada eterna. Náusea. Vômito.
Harry tossiu. Chutou a mulher e continuou a caminhar. Ele começou a reconhecer algumas coisas. Sim. Um castelo. Era como o castelo de Hogwarts. Exatamente. Mas era negro. Suas paredes eram negras. E tinha algumas pessoas pulando das janelas.

- HERMIONE! – gritou, mas nenhum som saiu de sua voz.

- HERMIONE!

Agora sim. Agora sim, a voz saiu, ecoando por aquele lugar tenebroso.

- QUEM É VOCÊ?- Uma voz voltou como se fosse um eco.

- EU SOU HARRY POTTER E VIM BUSCAR HERMIONE GRANGER! – disse ele, estufando o peito. Não estava para brincadeira. E quem quisesse se meter em seu caminho iria se ver.

Continuou a caminhar. Precisava chegar até o castelo. Achava que poderia encontra-la lá. Se Hermione se visse naquele mundo, com certeza procuraria por alguma coisa que lhe fizesse sentido. Imaginava até onde ela poderia estar. Biblioteca. Era seu lugar preferido, não é?

Não vai ser difícil. Não vai ser. Eu vou encontrá-la. E vou arrastá-la comigo. Vai ficar tudo bem. Tudo bem, Hermione. Eu juro que vou te salvar.

--------------------------------------------------------

Harry não viu que atrás dele, observando-o por detrás de uma grande árvore que fazia as vezes do Salgueiro Lutador naquele mundo dos mortos, um homem estava. Não era um homem, mas um monstro. A face retorcida pelo ódio que o consumiu durante sua semi-vida.

- Harry Potter! – sibilou sua voz. – Finalmente terei minha vingança!


Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.