A prisioneira da Torre



O som da campainha do telefone celular ecoou pelo apartamento luxuoso de Elizabeth Burns. Acordando sobressaltada, Lizzie bocejou e olhou no mostrador digital do rádio relógio: meia-noite e dez. “Algum furo!”, pensou ela, tateando pelo celular na mesa-de-cabeceira.
- Burns! – disse ela, entre bocejos.
Era Manny, seu assistente. Ele começou a falar rapidamente como se o mundo estivesse acabando, mas isso era normal de Manny.E também normal para ela.
Lizzie era uma repórter renomada do tablóide mais famoso da Inglaterra e ganhadora de dois Pulitzers. Ela era especializada em reportagens-catastrofes e como haviam muitas ultimamente, virara um negócio muito lucrativo. Vulcões, Terrorismo, Tsunamis, Furações e todo o tipo de desastre natural e não-natural. Naquela noite, porém, o desastre que estava acontecendo era estranho até mesmo para ela que franziu o cenho e apurou os ouvidos quando Manny completou o monólogo.
- Como é, Manny? – perguntou ela para ver se havia entendido direito – Mortos-vivos invadiram o mundo inteiro? Dragões foram vistos em Londres, Paris e Nova York montados por Gigantes? Duentes?
Lizzie sentou, tentando ordenar os pensamentos, enquanto escutava Manny repetir seu discurso.
Quando ela finalmente desligou o celular, levou a mão à boca. Era o fim do mundo...
Lizzie olhou novamente para o relógio: já tinha passado cinco minutos, ela tinha no máximo 40 minutos para fazer a maior reportagem de sua vida.
Quarenta e cinco minutos depois, “O Londrino”, o tablóide mais famoso da Inglaterra, tinha na capa uma foto de um dragão vermelho gigante e um morto andando com o título: “É O FIM...”.
Seria ridicularizado se não fosse sua melhor repórter quem o assinava. No cantinho da capa estava escrito: “Lizzie Burns relata os acontecimentos de uma noite surreal, precedendo o fim do mundo...”


Harry tomou um banho rápido e desceu para o gabinete do Ministro onde Hagrid, Lupin, Tonks, Snape, Gina, Rony e Luna o esperavam.
- E então, Ministro? – perguntou ele, sentando-se numa das cadeiras. – Onde Hermione foi colocada?
- Ela está numa das torres! Está segura. Não podemos perder tempo com ela agora, e não podemos dispensar nenhum dos nossos já poucos aurores para levá-la para Azkaban. Agora, Harry, eu quero saber de você... o que nós podemos fazer para controlar essa situação?
- Eu... eu realmente não sei! Acho que temos que avisar a população! E com população eu digo... avisar a todos mesmo. Os trouxas precisam ficar em casa e se protegerem como puderem...
- Ah... Potter... – disse Snape a contragosto. – Isso não é legal. As nossas relações com os trouxas sempre foram difíceis. Eu não quero gerar pânico!
- Ministro, se a situação que ocorreu nessa redondeza aconteceu em todos os lugares, então os trouxas já estão sabendo do que aconteceu... e já estão em pânico.
- Eu sei... mas se nos revelarmos agora... não haverá volta. Se os trouxas souberem da presença dos bruxos... não haverá mais volta para nós. Tudo vai mudar...
- Tudo já mudou! – disse Harry, aborrecido. – De certa forma, Hermione tinha razão dizendo que tudo iria mudar...
- É verdade... ela disse isso! – disse Malfoy que entrava na sala para sentar-se ao lado de Harry. – Hermione disse que o que ela estava fazendo iria mudar tudo o que conhecíamos...
Snape ficou calado. Era óbvio para Harry que, mesmo apesar de tudo, Snape ainda dava mais créditos a Malfoy. Depois de alguns segundos pensando, ele falou:
- Está bem! Eu vou até o Primeiro Ministro dos Trouxas explicar a situação e se ele decidir revelar a verdade, então tudo bem! Ficará a cargo dele. De qualquer forma, vou passar a ele, as medidas de segurança necessárias.... quanto tempo Hermione disse que temos mesmo?
- Bem... agora... menos de 21 horas. – disse Harry, olhando o relógio.
- Certo. Eu já dei ordens para os alunos irem para suas casas. Alguns já partiram, mas, os que moram muito longe, ficarão aqui, pois não dará tempo para procurar abrigo. – informou Snape.
- Eu posso falar para o Growpe ficar de guarda na frente do castelo quando a hora chegar... – disse Hagrid, de bom coração. – Esses nanicos mortos-vivos não são páreo para Growpe e eu...
- Eu vou precisar mesmo, Hagrid. – disse Snape. – Mas não quero que fiquem fora do Castelo e sim dentro, caso os mortos-vivos consigam entrar. Além disso, pessoal, eu recebi uma outra carta. Eu mandei uma carta como você disse, Harry, para os comensais, dizendo que não estava com a custódia de Hermione. Eles não foram nada gentis e disseram que atacariam! Eu não sei quando... mas creio que... bem... creio que devem nos atacar hoje. Talvez não... não sei como será a reação deles diante dos mortos-vivos, já que você disse que ninguém os pode controlar, por enquanto, nem mesmo Hermione que os ressuscitou.
- Devemos nos preocupar com isso, sim, Ministro – respondeu Harry, sentindo ainda mais abalado. – Eu não quero pensar nisso, mas, talvez tudo o que aconteceu ainda possa ser um plano dos comensais em mancomunação com Hermione. E também, devemos considerar que talvez Voldemort esteja mesmo vivo, de acordo com o depoimento dela.

Snape meneou a cabeça concordando e depois levantou-se.
- Bem... espero que tomem conta do castelo enquanto estiver fora. Prometo que serei breve com o ministro dos trouxas. Potter, eu não preciso dizer que no ano passado você liderou uma guerra com sucesso. Está na hora de você organizar seu exercito agora... temos pouquíssimo tempo.

Harry entendeu. Naquela manhã, ele treinaria os estudantes as estratégias de uma batalha inadiável, não somente contra Dementadores, Gigantes, Comensais, Anões, Minotauros e outras raças vivas, como também MORTOS-VIVOS... e principalmente contra o líder por trás disso tudo, seja ele Voldemort... seja ele Hermione...


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Ela não conseguiu dormir. Ficou ali a noite inteira esperando pela nascer do dia e quando os primeiros raios de sol surgiram no horizonte para muito além da vista, como que uma enorme bola de fogo cuspida da linda lagoa, Hermione sorriu. “Eu consegui!”, pensou ela, enquanto brincava com a correntinha que tinha no pescoço, demorando-se na minúscula pedrinha vermelha. “Vida e Morte, Morte e Vida...”
Ela nunca havia estado ali antes em Hogwarts, pois a torre era proibida para os alunos. Era uma das mais altas do castelo e por isso, a vista era encantadora.Debruçar-se sobre o parapeito de pedra daquele buraco que fazia as vezes da janela e olhar para o mundo que se abria a sua frente era melhor do que olhar para dentro. Aquele catre fétido e as correntes no pulso a faziam lembrar de sua condição. “De novo... eu sou uma prisioneira”, pensou ela, e tristemente concluiu: “Não por muito tempo. Está quase na hora... quase na hora... só mais um pouco”.


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O almoço foi num clima de suspense. Ninguém comia direito, ninguém sequer falava. Harry havia treinado sua estratégia de batalha durante a manhã inteira e tomado providência para fechar toda e qualquer entrada do castelo, mas sabia que pouco adiantaria essas precauções. Eles não poderiam ficar no castelo para sempre, além do mais, era sua responsabilidade defender o mundo do mal que estava para assolá-lo, mas mesmo tendo a melhor das intenções, as esperanças eram poucas. Se mortos-vivos não fossem o bastante para devorá-los vivos, ainda tinha os comensais e tropa para matá-los impiedosamente. “Ah... se ao menos eu tivesse Hermione...”.
Enquanto pensava, Gina, que estava ao seu lado, chamou a sua atenção para Snape que estava chegando, esvoaçando aquela capa negra como se fosse um urubu.
Snape deu uma boa olhadela para Harry, mas seguiu caminho e subiu a bancada dos professores.
- Alunos e Alunas... amigos de Hogwarts... membros do Ministério. Eu tenho uma notícia muito importante para dar a todos. Uma notícia que chocará a todos nós, apesar dos últimos acontecimentos, já traumatizantes. OS TROUXAS DESCOBRIRAM ALGUNS FATOS QUE NÃO GOSTARIA QUE DESCOBRISSEM E O MINISTRO DELES ESTÁ IRREDUTÍVEL. ELE VAI REVELAR TODA A VERDADE. VAI CONTAR A TODA A POPULAÇÃO SOBRE NOSSA EXISTÊNCIA.
- Como se isso importasse! – disse Rony, impaciente para os amigos enquanto Snape continuava a falar. – Se vamos todos morrer hoje, porque deveríamos nos importar com isso?
- Rony! – ralhou Gina, com uma tristeza no olhar.
Harry refletiu um pouco sobre aquilo. Realmente para ele, não parecia ter muita importância, mas tinha alguma coisa que não se encaixava... alguma coisa que Hermione havia falado: “Tudo iria mudar...”.
Então resolveu acabar seu almoço antes dos outros. Queria recomeçar o trabalho de organização e estratégia, mas tinha avisado a todos para descansarem um pouco depois do almoço... para que desfrutasse um pouco... Harry saberia que aqueles poderiam ser seus últimos momentos.
Quando se levantou da mesa, Gina segurou sua mão e perguntou aonde ele ia, mas ele desconversou. Não queria que ela soubesse que ele iria procurar Hermione.
Subindo degrau por degrau daquela torre antiga Harry pensava no que poderia dizer e como encontraria Hermione. Ele sabia que se havia uma coisa que a perturbava era mantê-la como prisioneira. Infelizmente, ela não havia dado outra escolha.
- Hermione? – Harry perguntou, ao abrir a porta da vigia da torre, onde Hermione apreciava a bela paisagem. Ela não se virou para ela, nem mesmo piscou, ficou ali, a olhar o horizonte com aqueles olhos perspicazes. Quais seriam os planos dela?
- Lembra daquela vez que voamos com o Bicuço? – disse ela, pensativa e sonhadora - Sobrevoamos todas as torres. Naquela ocasião, não prestei muita atenção nesta. Eu sempre tive muito medo de altura... engraçada a vida, não é?
- Hermione... eu vim avisar que os trouxas vão saber de nós. O Primeiro Ministro vai revelar a verdade ao povo. Parece que os outros governantes dos outros países vão fazer o mesmo.
- O mundo não seria lindo se as pessoas olhassem mais para a natureza ao invés de lutar contra ela? – disse ela, como se Harry não havia dito nada.
- HERMIONE, QUER PARAR! Eu sei muito bem que você tem o dedo nesta jogada! – disse Harry, aproximando-se dela e encostando-se no parapeito da janela ao lado de Mione.
- Eu mandei uma carta para todos os líderes do mundo. Fiz isso enquanto você dormia... quando eu te dei aquela lasanha recheada com poção sonífera. – disse Hermione simplesmente, sem olhar para ele ainda.
- HERMIONE... EU NÃO SEI O QUE VOC...?
- Harry! – disse Hermione, colocando a mão sobre a boca dele. – Eu escutei quando você me disse coisas que eu não merecia ouvir. Agora você vai me escutar... – começou ela, calmamente. – Quando eu disse que tudo mudaria... tudo vai mudar MESMO. Todas as raças terão que conviver entre si, sem distinção, sem mentiras, sem ilusões, sem escravidão de alguns para privilégio de outros. Você mesmo sofreu com isso, Harry. Sofreu preconceitos durante a sua vida inteira por parte de seus tios por ser um bruxo. Eles só te trataram bem no último verão porque você ficou rico!
- Eu sei disso! – disse Harry, agarrando o pulso de Hermione por sobre a grossa algema e tirando a mão dela de sua boca. – Mas você está destruindo o mundo e tudo o que conhecemos com essa sua obsessão louca. E agora eu nem sei mais quem é você. Se você é um monstro... ou se você é uma doente que precisa de ajuda.
- Nem uma coisa... nem outra! – disse Hermione, voltando a olhar para fora. – Se veio para me dizer isso, Harry. Vá embora!
- O que queria que eu te dissesse? – Harry perguntou.
- Quer mesmo saber?... – disse Hermione virando-se para ele, enquanto seus lábios tremiam e os olhos marejavam. - Eu queria que você passasse essa porta... que você me tomasse em seus braços... e me dissesse coisas lindas... me dissesse que me ama... que não pode viver sem mim... e que compreende tudo o que eu fiz...
Hermione parecia sem fôlego quando acabou de fazer isso.
- Mas eu não sei se perdoaria você mesmo assim... – completou ela, enxugando uma lágrima teimosa.
- Não quer que eu acredite nisso, não é? – perguntou Harry, com um sorriso sínico.
- Acredite no que quiser, agora, Harry... é tarde demais mesmo...
Harry virou-se aborrecido, mas antes que saísse, Hermione o chamou:
- Harry!
- O que é? – perguntou ele, impacientemente.
Hermione suspirou fundo mas quando pensou em falar, sua voz desapareceu numa tristeza sem fim.
Harry balançou a cabeça, sem entender coisa com coisa. Hermione estava louca... era a conclusão a que ele havia chegado.
Quando Harry saiu, Hermione voltou a olhar para fora. Lá longe um ponto preto apareceu no céu límpido e azul. Era um dragão... ela tinha certeza.
Havia uma última coisa que ela precisava fazer. Sem fazer isso, a poção não teria seu efeito pleno, mas ela precisava esperar pelo momento certo. O momento preciso para garantir a vitória de Harry. “Não falta muito agora!”, Hermione pensou, vendo o dragão dar a volta e sumir por trás de uma montanha.
Novamente ela brincou com a correntinha no pescoço. Estava nervosa. Precisava ter calma agora... Não queria ter discutido com Harry mais uma vez... queria ter podido dizer que o amava...e que o perdoava... talvez não tivesse outra oportunidade. “São as regras do jogo”.
- EU AMO VOCÊ, HARRY... EU TE AMO TANTO QUE MINHA ALMA DÓI QUANDO PENSO QUE NUNCA MAIS NOS VEREMOS...
E dizendo isso, Hermione encolheu-se na janela, sem tirar os olhos do horizonte. As lágrimas eram abundantes agora. “Preciso ser forte... falta pouco”. Era difícil... aquela dor em sua alma era insuportável.












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