O Escolhido



“Não queria te ver assim
Quero a tua força como era antes.
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada.”
(Andrea Doria - Legião Urbana)





Uma onda incômoda de silêncio se abateu sobre todos naquele momento.

Harry olhava de maneira inquisidora para Eriu e Gina, como se as duas fossem culpadas de algum crime e ele fosse o juiz responsável por sua execução. Na verdade, toda essa postura rígida e séria, era um escudo que Harry usava para esconder o seu espanto. Até onde aquela profecia o levaria? Até onde aquilo era relevante e verdadeiro?

-E então? - Harry falou - Alguém pode me explicar o que está acontecendo?

-Calma, Harry... - Hermione pediu. - Estou certa de que elas saberão explicar, não é Gina?

Gina suspirou longamente e buscou apoio na presença da Grã-Sacerdotisa.

-É bom mesmo que ela se explique, já que saiu contando para todo mundo a profecia maravilhosa que aquela doida da Trelawney teve e que acabou com a minha família.

“Era isso o que eu temia. Agora ele está bravo comigo”, Gina pensou, enquanto via o rosto de Harry endurecer de amargura.

-E não adianta ficarem me olhando desse jeito, porque sabem que é verdade. - Harry disse, e o tom de sua voz aumentava gradativamente. - Eu não ganhei nada com essa história de Escolhido, só sai no prejuízo. Pessoas morreram por causa disso. Meus pais, Sírius, Dumbledore...

Eriu não pôde deixar de notar, o quanto o rapaz era amargurado. “Tanta dor e tanto sofrimento. E ele é tão jovem ainda”

-Nós sabemos de tudo isso, cara - Rony falou, pousando a mão no ombro do amigo. -E não é só você que fica mal com isso. Eu te considero como um irmão, até mais do que isso, e não gosto de ver você assim.

-Eu também não, Harry - Hermione concordou e disse amavelmente. - Eu também considero você como o irmão que nunca tive. Não adianta ficar nervoso, isso só vai piorar as coisas.

Após as palavras inesperadas dos seus melhores amigos, Harry tinha a impressão de que uma goles estava entalada em sua garganta. Em poucos segundos, uma enxurrada de diferentes emoções passou por seu rosto. Tantos sentimentos confusos, tantas mágoas dolorosamente alojadas em seu peito. “Hermione está certa. Ficar nervoso não vai me levar a lugar algum!”

Eriu ficou tocada com a cena que se seguiu. Harry puxou os dois amigos para um abraço, afundando o rosto no cabelo volumoso de Hermione.

Quando ergueu o rosto, Harry sentiu que o nó em sua garganta estava prestes a se desmanchar em lágrimas. Mas o jovem grifinório era orgulhoso o suficiente para não deixar que os outros o vissem chorando. Levantou-se rapidamente e saiu a passos largos dali, indo em direção à margem oposta do Lago.

Gina, Rony e Hermione fizeram menção de levantar e ir atrás de Harry, mas foram contidos por um gesto suave da Grã-Sacerdotisa.

-Podem deixar, eu mesma conversarei com ele. - E vendo a expressão surpresa dos outros, acrescentou. - Fiquem tranqüilos, o Harry ficará bem.

Após isso, Eriu se levantou e deixou os três jovens sentados sobre a sombra da Aveleira. Com passos largos, foi seguindo Harry à distância.

Eriu se perguntou, onde o jovem estaria indo. Mas, alguns minutos depois, viu que ele ia para o extremo oposto da margem do lago, sentando-se sobre o tronco seco de uma árvore. Ele remexia, mecanicamente, algumas ramagens que se desprendiam do chão. A Grã-Sacerdotisa aproximou-se serenamente e, sem se importar com o olhar de surpresa do jovem, ajoelhou-se em frente a ele.

Erguendo o rosto, Harry varreu para longe com a palma da mão algumas lágrimas que lhe teimavam em embaçar sua visão. No rosto, carregava uma expressão indecifrável. Nem mesmo Eriu, com sua experiência de anos em observar o comportamento humano, conseguiu perceber o que se passava no interior de Harry.

-Que belo Escolhido estou me saindo. - Ele sorriu amargamente, sem encarar Eriu. - Saio correndo, para chorar escondido. Você acredita mesmo nessa história toda? Sobre eu ser realmente o escolhido?

-Você acredita que seja? - Eriu rebateu.

Harry ponderou por uns momentos, até finalmente responder num murmúrio. - Não quero acreditar que seja. - E mais uma lágrima desceu sobre seu rosto. A Grã-Sacerdotisa retirou os óculos dele e secou carinhosamente o seu rosto.

-E por que não?

Harry soltou um longo suspiro. - Não gosto de pensar nisso. Meus pais morreram por causa dessa profecia. Não acho justo que eu seja o escolhido, às custas das mortes deles.

-Entendo... Mas segundo o que Gina me disse, Voldemort acredita nessa profecia.

-Realmente e é por isso que me sinto na obrigação de destruí-lo. Por tudo o que ele arrancou de mim, por todo o sofrimento que foi e é capaz de trazer...

-Harry, eu quero que você preste bem atenção em algo que vou lhe dizer. - Eriu procurou penetrar profundamente nos olhos dele. - Não lute pelas razões erradas. Não lute simplesmente para vingar a morte de seus pais. Eu sei que não os conheci, mas creio que eles não ficariam felizes se você pensasse deste modo.

-Eu sei disso, Eriu... Mas é que às vezes é tão complicado, tão difícil...

-Sim, mas a vida sempre nos impõe sacrifícios e nos testa para saber se somos realmente capazes. Cada um à sua maneira, tem de enfrentar o seu próprio ordálio. Uns o fazem de maneira mais simples, outros nem tanto. A vida não nos impõe mais do que somos capazes de suportar.

-Então, isso quer dizer...

Eriu sorriu, vendo que aos poucos o olhar de Harry voltava a ficar mais confiante. E diante disso completou: -Isso quer dizer Harry, que eu acredito e confio em você! Agora, no que estiver ao meu alcance, estarei disposta a ajudá-lo, nem que seja para ter uma boa conversa.

-Não sei de que maneira você poderá me ajudar, mas se você não se importar em conversar com um moleque magricela, ficarei feliz!

-Então, porque você não me conta mais sobre Voldemort e aquelas coisas onde ele escondeu sua alma?

-Os Horcrux? - Harry indagou, erguendo uma sobrancelha. “Até isso a Gina contou?”. Mas não se importou mais com isso. Agora, ele conseguiu ver com clareza, que o fato de Eriu saber sobre isso não parecia errado. Mesmo conhecendo-a a pouco tempo, sabia que ela era de confiança.

-Acho que era esse o nome. - A Sacerdotisa pareceu pensativa. - Que coisa mais doentia... Isso chega a ser uma blasfêmia contra a natureza!

-Certo... - Harry se empertigou e ajeitou os óculos que já estavam quase na ponta de seu nariz. -Vou tentar contar tudo o que sei...

E Harry começou a relatar tudo o que sabia sobre os Horcrux. Começou contando os métodos nada convencionais com que Lord Voldemort lidava com trouxas e os “sangues-ruins” e a sua doutrina a respeito da pureza de raça. Eriu deixou que Harry falasse a vontade, ponderando todas as informações que o jovem lhe contava. Apenas uma vez ou outra, ela fazia algum tipo de comentário a respeito de algo, como por exemplo, quando Harry mencionou algumas semelhanças existentes entre ele próprio e Tom Riddle.

-...Realmente, as semelhanças são grandes. - Eriu franziu ligeiramente a testa. - Órfãos, criados por trouxas, com poderes diferentes... Muito curioso!

-Dumbledore também achava isso.

-Quem é Dumbledore? - Eriu perguntou e viu que o olhar de Harry voltava a ficar sombrio outra vez. - Você já o mencionou algumas vezes, mas não sei de quem se trata.

-Dumbledore foi um grande mestre e amigo, sabe... Sempre acreditou em mim e fez de tudo para que eu não desanimasse e não desistisse. Ele reconhecia que eu tinha algumas semelhanças com Voldemort, mas disse que eu tinha algo que Voldemort nunca teria e que este era um poder que poderia acabar com ele.

-E o que seria isso?

-Amor! Dumbledore disse que eu sou capaz de amar, coisa que o cara de cobra não é... - Harry suspirou e soltou uma risadinha irônica - Não sei como isso me ajudará a destruir Voldemort. Só se eu apontar a minha varinha para ele e vários corações vermelhos o atacarem...

Eriu sorriu com a piada um tanto sem graça de Harry, mas naquela sentença dele havia algo de verdadeiro.

-Mas você sabe que o seu antigo mestre tinha razão, não sabe, meu querido? - E dessa vez Eriu não sorriu. Estava séria e tinha um tom de voz solene. - O fato de você ser capaz de se preocupar com os outros e abrir mão de sua felicidade por causa de algo que possa prejudicar aqueles que você ama, o torna diferente de Voldemort, que é um ser tão mesquinho e egoísta.

Harry fez um gesto de concordância com a cabeça, mas ainda tinha algo o incomodando e Eriu percebeu isso claramente, mas antes mesmo de perguntar, ele falou:

-Não sei como destruir Voldemort. Na verdade sei teoricamente, mas não sei como destruir os Horcrux ou onde achá-los. Não tenho a menor noção de por onde começar. Os Horcrux são artefatos carregados de magia negra e, quando Dumbledore destruiu um deles, ficou com uma das mãos com uma aparência estranha, como se estivesse morta. A destruição do Horcrux debilitou muito a saúde dele...

“Estará ele pronto para empunhar uma Arma Sagrada? Estará ele pronto para cumprir sua missão?”

E uma idéia começou a se formar na cabeça de Eriu ao ouvir aquele desabafo de Harry. E agora, as palavras proferidas num momento de transe começavam a fazer sentido.

“De fato, a Deusa não nos abandonou”



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A conversa com Harry naquela manhã não tinha sido muito fácil. O rapaz havia passado por duras penas e sido privado de muitas coisas em sua vida. Eriu não pôde deixar de sentir pena dele, sabendo que ele ainda teria de enfrentar muitas outras coisas. E foi por isso que se comprometeu a ajudá-lo no que estivesse ao seu alcance.

Chegando em sua casa, sentou-se em sua cadeira em frente à lareira, descalçou os sapatos e recostou a cabeça no espaldar da cadeira, visivelmente abatida.

Uma jovem Sacerdotisa que estava em seu serviço, aproximou-se timidamente e trazendo uma bacia com água perfumada, banhou os pés de sua Senhora.

-Obrigado, filha, mas deixe isso para depois. - Ela disse para a jovem. - Preciso que você reúna os Conselheiros de Avalon. Diga que preciso conversar com eles.

A jovem olhou com espanto para Eriu, achando aquilo completamente fora do normal. Normalmente, Eriu só reunia o Conselho quando estavam próximos de algum Sabbat e em datas já pré-definidas, mas nunca assim, de maneira tão urgente. O que pode ter acontecido para que o Conselho fosse solicitado de maneira tão inesperada?

Isso a jovem não soube, mas guardando sua curiosidade somente para si, fez uma reverência para sua Senhora e saiu silenciosamente.


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Do seu quarto solitário na Casa das Moças, Morrigan notou a estranha movimentação das Sacerdotisas mais velhas.

A jovem Sacerdotisa que ficara encarregada de avisar sobre o Conselho, passava no corredor onde ficava o quarto de Morrigan, no exato momento em que esta saia para saber o que estava acontecendo.

-Sianne? - Morrigan chamou. - Por que essa movimentação toda?

A jovem olhou atentamente para Morrigan, perguntando-se como ela, que era a irmã da Senhora de Avalon, ainda não estava sabendo do Conselho solicitado às pressas.

-A Senhora Eriu quer uma Assembléia com o Conselho no final da tarde.

-Uma Assembléia? - Morrigan parecia surpresa - Mas Eriu já se reuniu com o Conselho recentemente para decidir quais as providências a serem tomadas para o próximo Sabbat.

-Você não sabia, Morrigan? - Sianne perguntou.

-Não, não sabia e se a Senhora Eriu não me informou antes, dever ser por uma boa razão - Morrigan cortou bruscamente. Não gostava do jeito curioso e intrometido de algumas jovens que conhecia. A moça percebeu que havia sido demasiado ansiosa e se calou. Dando uma desculpa qualquer, se afastou, deixando a outra sozinha e cheia de dúvidas.

Morrigan voltou para o seu quarto e trancou a porta.

“Então, essa será a oportunidade perfeita”, pensou, abrindo o baú que ficava aos pés de sua cama. Depois que Eriu a tinha deixado sozinha naquela manhã, Morrigan não conseguia deixar de pensar no sonho que tivera. Sabia que nunca teria paz, enquanto não encontrasse aquele homem.

Retirou uma bolsa de dentro do baú e algumas peças de roupa. Depositou tudo sobre a cama e se dirigiu para um pequeno armário que ficava num dos cantos do quarto. Abrindo a porta do armário, revirou a primeira prateleira, até encontrar o que buscava: uma caixa fina e comprida. Além disso, retirou também um pedaço de pergaminho e uma pena.

Dobrou cuidadosamente as roupas que estavam sobre a cama e as guardou na bolsa, que com um simples encantamento, foi capaz de comportar tudo com folga. Pousou com cuidado a caixinha sobre a cama e um sorriso saudoso brotou em seu rosto. Abrindo-a, revelou uma varinha. A sua varinha. Vinte e nove centímetros, mogno, com o pêlo de um do unicórnio fêmea particularmente arredio. Raramente Morrigan a usava, já que, para as pequenas magias era capaz de realizá-las apenas com o poder da mente e as tarefas diárias eram feitas manualmente, para que nunca se esquecessem de como a Magia vinda da Deusa era importante.

Após arrumar suas poucas coisas, apanhou pena e pergaminho e se pôs a escrever. Durante horas escreveu e escreveu, nunca se satisfazendo com o que estava escrito. Aquela seria a carta mais difícil que escreveria em sua vida, mas era necessária e ela assim faria.

Quando julgou que já tinha tudo pronto, aguardou pacientemente o anoitecer para fazer o que tinha planejado durante todo o dia...


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Anoitecia e os Conselheiros de Avalon já estavam reunidos num grande salão que ficava no Edifício dos Sacerdotes. Era um aposento amplo, de pedras cinzas e teto alto. Nas paredes, algumas lamparinas à óleo davam luz ao ambiente, fazendo com que este parecesse infinitamente solene.

O burburinho aumentava, enquanto os Sacerdotes e Sacerdotisas convocados aguardavam a chegada de Eriu. Ninguém disfarçava o espanto e a surpresa pela razão pela qual estavam ali.

Finalmente, Eriu chegou. Todos se levantaram num gesto de respeito e a Grã-Sacerdotisa ergueu as mãos e proferiu uma benção, pedindo que a Deusa iluminasse a todos para que pudessem encontrar uma luz para uma questão recém-surgida.

Ninguém compreendeu muito bem que questão seria aquela, mas antes que pudessem formular algum pensamento, a Grã-Sacerdotisa fez um gesto imperativo, fazendo com que todos voltassem a se sentar. As cadeiras estavam dispostas em um único círculo, mas Eriu permanecia de pé, encarando todos os que estavam presentes. Encontrou o olhar sereno de Dagda, que lhe enviou um sorriso confiante, a incentivando a falar.

-Bem, em primeiro lugar, devo pedir desculpas a todos. - A voz de Eriu era segura e firme e, mesmo sem elevar o tom de voz, conseguiu fazer com que todos a entendessem e prestassem atenção ao que dizia. - Sei que perturbei a rotina de todos, mas o fato é que não poderia tomar uma decisão séria sem que antes eu os consultasse.

Eriu fez uma pausa e aproveitou para analisar a reação de todos. O único que parecia saber do que a Sacerdotisa falava era Dagda, mas o Sacerdote era um caso à parte, já que Eriu sempre confiara a ele parte de suas preocupações.

-Todos sabemos, que durante muitos séculos, Avalon se tornou um lugar à parte, paralelo ao mundo lá fora. Tudo isso por causa da incompreensão dos outros e para nos protegermos do mal que nos ameaçava.

-Sim todos nós sabemos isso, Eriu, mas você poderia ser mais específica e direta? - Uma mulher de rosto cheio e cabelos loiros, falou, enquanto buscava apoio nos outros que estavam próximos a ela.

-Tenha calma, Brigit, que já estou chegando lá. - Eriu suspirou, tentando não perder a paciência. - Juramos nunca mais interferimos no curso das coisas do mundo, mas, há pouco tempo tive uma Visão... - Agora Eriu conseguiu fazer com que todos ficassem mais atentos às suas palavras. - Todos viram e alguns de vocês chegaram a conhecer as pessoas que minha irmã Morrigan trouxe à Avalon. Tudo isso foi previsto por mim, pouco tempo antes que eles chegassem. A princípio, não compreendi o que a chegada daquelas pessoas significava, mas, aos poucos, vi que não havia sido por acaso. Havia uma razão maior do que isso. - E tocou o punhal que estava atado a sua cintura e soltou um breve suspiro - Suponho que tenha sido a vontade da Deusa. O caso é que a sombra do mal cresce no mundo lá fora e mais uma vez, a Deusa deseja que sejamos solícitos com eles.

-Você quer dizer, que nós devemos ajudar os outros a resolver os problemas que eles próprios procuraram? - Uma mulher de rosto encovado se manifestou e lançou um olhar tão cortante à Eriu, que por um breve segundo, deixou a Sacerdotisa consternada.

-Andrasta, é algo muito mais sério do que simples desentendimentos criados entre eles. - Eriu falou, olhando diretamente à mulher de rosto encovado. - Existe uma profecia que diz que um jovem terá o poder de derrubar o bruxo que tem causado esse terror...

E Eriu contou tudo o que ouvira a respeito de Voldemort e os Horcrux com tanta facilidade, que era como se ela própria tivesse vivido aquilo tudo.

Quando terminou, todos a olhavam com expressões assombradas, diante da gravidade da situação, exceto Andrasta, que mantinha uma expressão rígida no rosto magro.

-Creio que uma Arma Mágica seria capaz de ajudar a destruir esses artefatos malignos e foi por isso que os chamei aqui, para saber se todos apóiam a minha decisão. Pensei em entregar uma das Insígnias de Avalon para o jovem, para o Escolhido.

Silêncio. Era palpável o estado de surpresa de todos ali. Até a própria Eriu, ficou espantada com o peso que suas palavras tiveram. Parecia que só agora ela se dava conta da gravidade da situação. Esperava que todos confiassem no seu bom senso e acreditassem que ela agia de acordo com a Visão que a Deusa lhe enviara.

-E por que nós deveríamos fazer isso? - Andrasta indagou, ao que recebeu alguns murmúrios de concordância. - Não temos nada a ver com isso e entregar uma de nossas insígnias é algo muito sério! Você sabe muito bem o que aconteceu da última vez em que fizemos isso.

Falando isso, Andrasta se referia à famosa espada Excalibur entregue nas mãos do Rei Arthur para que ele expulsasse os saxões que assolavam o país e ao Graal, que quase se perdeu por meio dos Cristãos e que foi retirado desse mundo pelas mãos da própria Cerridwen.

-Eu sei muito bem o que aconteceu da última vez. - Eriu disse e agora já estava começando a perder um pouco da sua calma característica. Quando abriu a boca novamente para retrucar, foi contida por um gesto de Dagda, que agora estava muito sério.

-Meus caros, todos nós conhecemos a história de Avalon e sabemos como as palavras de Eriu são sérias. Mas ela teve a preocupação de nos consultar, sendo que essa decisão cabe somente a ela. - Ele falava olhando para todos e sua presença causava respeito. - Mas também não podemos nos esquecer dos votos que fazemos quando aceitamos o chamado da Grande Mãe. De que vale nos dedicarmos tanto se isso não for usado em proveito de algo maior?

-E esse algo maior é entregar uma arma poderosa nas mãos de um adolescente? Como podes ter certeza de que ele a usará para destruir esse tal de Voldemort? E se ele apenas tem a pretensão de possuir essa arma e se aliar a ele? - Uma voz indagou e, no momento, Dagda não soube dizer quem havia sido.

-Harry não seria capaz de se aliar a alguém que assassinou os seus pais e que o deixou órfão. - Eriu disse. - Se soubessem o quanto o rapaz sofre com isso...

-Sim, e, além disso, Voldemort não é um bruxo comum. - Dagda sentenciou - A maioria de vocês passou a vida toda aqui, em segurança, e não imagina como era horrível viver lá fora sem saber se chegaria em casa bem e a salvo e se encontraria os seus em segurança. Eu vivi essa época e sei como essas pessoas se sentem.

Parecia que, finalmente, todos, ou pelo menos a maioria, compreendia um pouco da extensão do que estava em jogo. Eriu viu algumas cabeças fazendo sinais positivos e outras que ainda estavam indecisas, mas que não possuíam mais aquela expressão acusadora. Apenas uma pessoa ainda não estava de todo convencida:

-Eu apoio a entrega da Insígnia desde que - E Andrasta frisou bem as últimas palavras. - o jovem se mostre capaz e merecedor de empunhá-la. Ele precisa ser testado!

Eriu e Dagda se entreolharam surpresos, mas foi um dos Anciãos quem respondeu: - Andrasta, você enlouqueceu?! - O homem idoso, lançou um olhar tão penetrante à mulher, que era capaz de perceber todos os seus pensamentos. - Todos nós sabemos que o Antigo Desafio não é mais feito. Há séculos a caçada ao Gamo foi suspensa já que este não mais existe!

Uma outra mulher, de voz baixa, disse timidamente. - Mas podemos fazer um outro desafio. Algo que teste a capacidade do jovem. Assim ficaremos mais tranqüilos para entregar a Arma Sagrada!

E dessa vez, todos pareciam estar de acordo. Até mesmo Andrasta, que sempre tinha uma opinião formada a respeito de tudo, pareceu aderir à sugestão da mulher. Vendo que a decisão já havia sido tomada, Eriu proferiu, com uma voz tão solene, que ser humano nenhum poderia lhe oferecer resistência:

-Que assim seja. O rapaz será testado!


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Estranhamente, naquela noite de lua Cheia, o céu não estava claro como tinha ocorrido nos últimos dias. Nuvens nebulosas encobriam a lua e as estrelas, fazendo com que os passos de Morrigan se tornassem mais lentos e incertos. Mas como boa conhecedora dos caminhos e trilhas de Avalon, ela não teve grandes dificuldades em chegar ao estábulo. Chegando lá, encontrou Angus, seu pégaso, e escolheu uma cela. O animal era um pouco arredio e só permitia que Morrigan o montasse.

Segurando as rédeas do animal, Morrigan se encaminhou para a margem do lago, tomando as devidas precauções para que ninguém a visse e para que o animal não produzisse ruídos e denunciasse a sua saída.

Quando chegou em frente ao lago, os barqueiros à olharam de maneira neutra, pouco se importando com o que a Sacerdotisa estava prestes a fazer. Para eles, uma mulher de Avalon sempre estava certa e suas decisões eram sempre acertadas. Antes de embarcar, sentiu uma leve deslocação de ar produzida por asas próximas ao seu ouvido e, quando se virou, deparou-se com um pequeno corvo negro. Morrigan estendeu o braço e o pássaro se alojou ali, lhe dando algumas bicadas carinhosas.

-Ah, caro amiguinho, você sabe bem o que está acontecendo, não sabe? - A Sacerdotisa disse isso, aproximando o rosto do pequeno pássaro. Sua voz saiu embargada, como se estivesse prestes a chorar - Não deixe que Eriu se entristeça. Promete que cuidará bem dela?

O corvo crocitou algumas vezes, como estivesse se comunicando com a jovem e lhe dissesse “Sim, eu o farei”. Morrigan sorriu fracamente e liberou o pássaro de seu braço.

Voltou-se para a barca, onde os remadores já estavam posicionados e onde o pégaso já estava devidamente alojado. A barca começou a deslizar lentamente para o interior do lago e as brumas que os envolviam deixavam o ar ainda mais carregado e melancólico. O ar frio e rarefeito fez com que a Sacerdotisa trouxesse o manto para mais próximo de seu corpo e cobrisse a cabeça com o capaz.

Pequenas fumaças brancas denunciavam que o pobre animal ao seu lado também sofria com o súbito frio, mas Angus era orgulhoso e em nenhum momento reclamou.

Quando a barca estava no meio do lago, Morrigan teve um momento de hesitação ao lançar um último olhar ao lugar que estava deixando para trás, seu lar, o único lugar que conhecera em toda a sua vida.

“Lar... Lar é o lugar onde o nosso coração está e, neste momento, meu coração está preso a um homem de rosto desconhecido e que só me apareceu em sonhos...”

E visando o seu objetivo, ela deixou as dúvidas para trás, juntamente com Avalon. Com uma determinação obsessiva, ela deixou a Magia da Deusa a guiar e conduzir, e proferindo a grande palavra de poder, dissipou as brumas e alcançou o mundo exterior.

Foi com profunda surpresa que percebeu que ali, uma garoa fina se desprendia do céu. Ali, a lua também estava oculta por grandes nuvens escuras, mas parecia que o ar era diferente de se respirar, como se fosse menos puro.

Os remadores ajudaram Morrigan a sair da barca e a tirar o belo animal branco de lá de dentro. Angus resfolegou satisfeito ao perceber que o estranho frio havia cessado e agitou sua crina, numa atitude orgulhosa.

Com certo pesar, Morrigan viu os barqueiros sumirem no meio do lago e retornarem à Avalon. Por que ela tinha a estranha sensação de que aquela seria a última vez que veria aquelas coisas: a barca, o lago, sua tão querida terra? Mas, novamente, as imagens vistas em seu sonho voltaram á sua mente. Soltou um longo suspiro e voltou-se para Angus, que parecia compreender todos os sentimentos de sua dona.

-É, meu querido Angus, agora somos só nós dois!

E subindo no lombo do pégaso, sentiu as asas dele se abrindo e eles ganhando o céu daquela noite escura.


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Sobre o capítulo: Em primeiro lugar, devo desculpas devido à demora em postar esse capítulo. Esse é o que eu chamo de “capítulo de ligação” já que não aconteceram coisas realmente concretas, mas servem de base para indicar o que está por vir. E foi particularmente difícil de escrever. Estive com um bloqueio tão grande, que só nesta semana consegui escrever. Realmente me desculpem.
Agora, vêem os agradecimentos individuais:


Cleide Silva: Prometo que quando estiver com um tempinho, passarei por sua fic, ok? Grata pela opinião

Géia: Bem, nunca li nada de Nora Roberts, me deixou curiosa. E eu recomendo que vc leia as Brumas de Avalon, já que o filme, na minha opinião, ficou muito ruim.

JuLiAnA_PoTTeR_@: você leu a fic de novo? O_O caraca, hein, tu é corajosa...rs...Bem, agradeço mais uma vez o teu comentário, viu...

Evaldo Gonçalves Silva: Sabe, depois de vc ter comentado, foi que eu fui perceber que tinha um pouco de “teoria do caos” em certa passagem e foi totalmente sem intenção... Grata mesmo pelos dois comentários, tá? (ainda não consegui entrar no seu blog)

Raquel Geller: Ok, então a tua fic, para mim, é 10 vezes favorita, sem contar que o seu Harry me deixa com palpitações...rs...

Belzinha: Para uma fã de legião tão fanática como eu, vai os meus sinceros agradecimentos. “Idílica”? Por Merlin, nunca imaginei escrever algo assim. Grata mesmo!

Bernardo: Sim, eles vão sair da Ilha, mas boa parte da fic vai se passar em Avalon. Ah, e só pra constar: Atualiza Quadribol, pleeeeeeease!

Anderson potter: Er...não foi tão rápido, mas aqui está!

LadyStardust: Sabe, eu tbm fiquei com um pouco de dó do Sevie (ui, que intimidade) E o coquetel de poções surgiu totalmente do nada, mas achei a cara dele, né? Entaum e valeu pela força por causa deste meu “bloqueio psicológico”..ehehhe

Sônia Sag: Oh, grande Sacerdotisa do Templo das autoras poderosas (viajei legal, hein) esse último comentário me deixou nas nuvens. Estava com medo de deixar os sonserinos muito caricatos e fico feliz em ver que consegui deixar eles um pouco parecidos com o que a JK escreveu...ah: atualiza!

Sally Owens: hehe, eu tbm achei que behind blue eyes combinou bastante com esse capítulo. Foi escrita para o Sevie..rs... E tenho de agradecer por seus comentários fofos, querida. Vc ñ sabe como são importantes para mim...

Carolzinha_*: uhhhhh... eu tbm tenho uma atração quase mórbida por vilões principalmente o Tom Riddle ( o de 16 anos, pq o cara de cobra é mto feio..rs) E os ataques de ciúmes do Ron são ótimos de escrever. Acho que ele é o garoto mais parecido com os garotos que conheço..rs..

Senhorita Granger: Sério que vc ficou com pena do Draco? Eu não tenho nem um pouquinho (na verdade nunca gostei dele) e a cena do Voldie foi um tanto dificil de escrever, por isso fiquei “estudando” ele durante um tempinho. Agora, Remus e Tonks vão demorar um pouco para aparecer...tenha calma

Paulo: Mesmo sem ter comentado a fic, agradeço as conversas e as dicas dadas pelo MSN... são de grande ajuda para mim!

natalie potter: Bem, o cemitério onde os pais do Harry estão eu não vi em nenhum lugar e nem a JK mencionou. Eu apenas deduzi que eles tivessem sido enterrados em algum lugar.. E com relação à reencarnação, isso só ocorre no caso da Morrigan e do Snape

Lisa Black:Hmmm...proposta interessante *sorriso maroto* eu aceito, tá, e já que o Rony não foi mencionado, ele fica comigo *carinha de anjo* heheh...Teus comentários são ótimos, garota, me fazem dar um sorrisão a cada linha...



E agradeço em geral a todos que lêem, comentam e votam na fic. Fazem esta humilde autora ficar nas nuvens de alegria...
Grande beijo e até o próximo capítulo!

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