A Rainha Fada



Evaldo Gonçalves Silva - Realmente tinha gente que começou a odiar a Morrigan, mas eu não ligo para isso, sabe. Ela foi uma das personagens que eu mais gostei de criar. Bem, a maioria da história vai se passar em Avalon. Fico feliz em ver que tenha acompanhado a fic. Grata pelo comentário. Grande beijo
LadyStardust- Mew, saber que vc gostou do meu último cap. me deixou hiper feliz. Afinal, vc é a especialista em NT/RL ;D. Pode deixar que o lance da legilimência vai ser mantido em segredo, tá? Grande beijo, fofa, e até o próximo review.
BaBi Evans - Eu também acho que a Tonks foi a melhor ninfa e fico feliz em saber que vc gostou da cena.
Grata pelo review e até o próximo capítulo, tá? bjinhos...
natalie potter - Bem, a história vai se passar em sua grande maioria em Avalon, mas vai ter outros momentos fora de lá. Sobre o rumo da história não posso falar muita coisa, pois eu tenho o péssimo hábito de alterar o roteiro da fic. Fiquei feliz com o seu comentário e espero ter respondido todas as suas dúvidas com o meu e-mail. Grande beijo e até o próximo cap.
Sônia Sag- O seu comentário emocional de deixou hiper-feliz. Já disse que o meu ego anda pior que o do Percy, né? desse jeito vou ficar pior que Mclaggen..rs... E eu tinha que colocar o Sirius na parada, afinal, ele tenho certeza que ele aprovaria a união dos dois..;D...beeeeejinhos e grata pelo apoio.
BERNARDO CARDOSO SILVA- Quando é que vc vai me contar aqueles babados que vc prometeu??? tô super curiosa, sabe... e fiquei muito feliz com os seus elogios, tá? não esquece dos babados (sim, eu vou te encher até saber o que é)...bjos
+Paulinho+- Eeee, seu viciado em Harry/Gina.... tenha calma que as coisas vão acontecer, viu? como sempre adoro os seus comentários e as nossas conversas no msn, tá? bjinhos.
Sally Owens-Garota, o seu comentário me deixou super emocionada, sabia? Eu, sendo sua inspiração a escrever? por merlin, me deixou nas nuvens... e o seus e-mail foram muito fofos, adorei! agora vc tem uma fã... grata pela atenção e até o próximo capítulo...ps: atualiza a tua fic!!!!!!!!
Bobo Zip -Eu sei que a fic não tá tendo ação, mas por enquanto vai ser assim mesmo. mais pra frente vai ter duelos, rituais e mais outras coisas, mas não vou atropelas as coisas. vc ainda vai ter paciência de ler minha fic??? *carinha pidona*....bjos...
Carolzinha_* -Eu realmente queria que o último cap. fosse mágico, sabe...e a presença do Sírius foi pra completar esse momento. fico muito feliz com os seus elogios e agradeço de coração.... bjossss
Senhorita Granger- Eu sei que vc ama esse casal tanto quanto eu. aliás, qdo a senhorita vai atualizar suas fics, hein? fico tão frustrada qdo entro lá e não tem nada...:s...brincadeirinha, adoro os seus reviews e agradeço eles de coração...grande beijo



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“Nós dois temos os mesmos defeitos
Sabemos tudo a nosso respeito
Somos suspeitos de um crime perfeito,
Mas crimes perfeitos não deixam suspeitos...”
(Pra ser sincero – Engenheiros do Hawaii)



O calor daqueles dias parecia penetrar com violência a pele branca de Morrigan. Naquela noite abafada, ela se remexeu insone em busca de uma posição agradável para dormir, mas parecia que sua pele ardia com o contato dos lençóis brancos de sua cama.

Da janela do quarto, pôde ver a Lua Cheia nascer, percorrer o céu com o seu brilho majestoso e voltar a se esconder, ofuscada pela luz do Sol que despontava por detrás das árvores.

Caminhou inquieta em seu quarto, sentindo o sangue em suas veias circular como se fosse um vulcão em erupção. Seria o efeito da Lua sobre ela? A Sacerdotisa bem sabia que a Lua Cheia afetava o brio das pessoas, mas não daquela maneira selvagem que ela sentia.

Banhou o rosto, sentindo a água límpida e refrescante percorrer o seu rosto e pescoço “Um alívio momentâneo”, ela pensou, enquanto abria a janela do seu quarto na Casa das Moças. Olhou o céu que começava a clarear e decidiu caminhar um pouco.

Quando criança, Morrigan gostava de caminhar por uma trilha abandonada, que levava a um riacho tranqüilo e de águas mansas. Decidiu visitar o recanto de sua infância, aproveitando para organizar os pensamentos.

Mas ela bem sabia que sua inquietude não vinha do calor e nem do tempo abafado. No seu interior, sentimentos e sensações até então desconhecidos, começaram a florescer.

Ela tinha dito à Gina no dia anterior, que começariam suas lições naquela manhã, mas ainda era demasiado cedo, então ela poderia fazer a sua caminhada com tranqüilidade.

Trocou a camisola branca, mas ao invés de vestir as roupas sacerdotais, optou por um vestido leve e de cor clara.

No seu caminho, encontrou algumas Sacerdotisas, que estranharam vê-la sem as roupas escuras (Ela sempre se vestia com cores escuras, mesmo quando não usava as vestes sacerdotais), mas ela pouco ligou e, para falar a verdade, nem havia se dado conta dos olhares curiosos das outras mulheres.

Aos poucos, foi se afastando das construções e se embrenhando na mata, deixando que o contato com a natureza a acalmasse um pouco.

“Nunca fui vista como mulher” pensou, enquanto caminhava, “Sempre fui vista como apenas mais uma Sacerdotisa de Avalon, nada mais, além disso”.

E parece que ela teve consciência desses pensamentos, após a chegada de Lupin em Avalon. “Como desejo receber um olhar apaixonado, como o que a garota recebe de Remus”.

Pelo homem em si, Morrigan nada sentia, apenas uma ternura e admiração pelo jeito calmo e inteligente dele; mas não podia negar que invejava Nymphadora pelo amor incondicional que ela recebia. Pois era visível que era amor o que existia entre os dois.

Gostaria de ter sido bela e admirada como Eriu, sua irmã mais velha, mas sabia que a Deusa dava aquilo que cada um merecia e ela sabia que nem tudo na vida era beleza.

De repente, Morrigan se deu conta que estava num lugar de Avalon que ela desconhecia. Realmente muito estranho, já que desde muito nova ela explorava a Ilha e conhecia cada trilha, cada detalhe do lugar.

Ela ainda estava no bosque, mas parecia que as árvores sussurravam entre si, enquanto ela caminhava e sentia que estava sendo observada.

Morrigan nunca foi uma mulher medrosa, mas naquele momento ela sentiu uma pontada de pânico tomando conta de si. Tentou manter a calma e retomar a trilha que a levaria ao riacho, mas estranhamente ela não conseguiu se situar.

“Tenha calma, Morrigan. Você está em Avalon e não tem como se perder aqui, certo?”, pensou, enquanto tentava se tranqüilizar. Tentou localizar o Sol, para saber o lugar onde estava e assim achar a direção de onde tinha vindo, mas parecia que a luz do Sol vinha de todos os lugares.

Tomada pelo desespero, ela se sentou sobre a raiz de uma grande Aveleira. Apoiou o queixo entre as mãos e fechou os olhos. “Se cheguei aqui, tem de existir um jeito de voltar”.

-Morrigan Morrigan, será que o sangue das fadas já está tão diluído em teu próprio sangue que a impede de ver as coisas com clareza?

A Sacerdotisa se sobressaltou ao ouvir aquela voz, que ecoou em meio às árvores e que parecia vir de todas as direções. Era uma voz límpida, tranqüilizante, mas que a perturbava um pouco. Retirou da cintura o punhal de sua iniciação e o segurou firmemente.

-Quem está aí? – perguntou, procurando a pessoa que falara com ela.

-Ora, Morrigan, estou bem aqui.

E do meio das árvores, surgiu uma mulher. Ela era pequena e morena, coroada com folhas de salgueiro; usava um longo vestido verde-acinzentado, fazendo com que ela parecesse parte da própria floresta. Tinha um porte altivo e majestoso, assemelhando-se à uma Senhora de Avalon, mas Morrigan pôde ver que ela não era uma Sacerdotisa.

A mulher sorriu para ela; um sorriso calmo e sereno, mas que mesmo assim deixava a sacerdotisa perturbada. Ela se aproximou mais, e quando estava diante de Morrigan, afagou carinhosamente os cabelos escuros dela.

-Ah, minha fadinha, porque estes pensamentos a perturbam tanto? – A mulher perguntou.

Morrigan parecia petrificada, sem saber ao certo o que fazer ou o que dizer. Ergueu o rosto e encarou a mulher e só então teve a certeza que a mulher era do povo encantado, o povo das fadas.

-Por que você zomba de mim? – Morrigan se levantou, tentando trazer o encanto da Deusa sobre si para parecer alta e majestosa. – E não me chame de Fada!

A mulher-fada não ligou para o jeito ríspido da Sacerdotisa. – Ah, minha pequena, não deixe que esses pensamentos te inquietem. Agora, passado, presente e futuro se encontram e se fundem para que possas cumprir o teu destino.

-Como assim? Do que você está falando? – A sacerdotisa parecia confusa, segurando frouxamente o seu punhal.

-Aquele que deves encontrar não está em Avalon... Teu destino não se encontra aqui, minha criança... Tua missão está longe daqui.

A mulher-fada segurou carinhosamente o rosto de Morrigan, afagando as linhas que lhe delineavam o rosto sério. Morrigan fechou os olhos, tentando controlar o súbito desejo de chorar e de recostar a cabeça no colo daquela mulher; e ser consolada por algo que ela nem mesmo sabia o que era.

De olhos fechados, ela sentiu que a mulher tocava o sinal da Lua crescente em sua testa e soprou sobre seus olhos. E então, uma calma momentânea tomou conta dela.

-Às vezes, os sonhos nos trazem respostas e curam algumas feridas. – A mulher disse, enquanto abraçava a Sacerdotisa – Nesta noite, tu terás algumas das respostas que precisas. Eu, como Senhora das Fadas e da Ilusão, te prometo isso.

Morrigan se afastou, olhando a mulher com surpresa e notou que ela lhe lembrava alguém conhecido. Por vezes, parecia-se com Eriu, por causa do seu jeito calmo e sábio; às vezes lhe lembrava sua mãe, de quem ela pouco se recordava, mas que sabia ter aquele mesmo jeito carinhoso e que era a única que a chamava de “minha fadinha”; e às vezes, parecia-se com ela própria.

-Olhe, o caminho que procura está bem ali, está vendo? – A mulher disse, enquanto apontava para uma trilha em meio às árvores. – Não precisava se apavorar tanto...

Morrigan se surpreendeu ao ver que a trilha sempre estivera ali. Quando pensou em dizer algo para a Mulher-Fada, viu que ela já não estava mais ali.

“Será que o que ela disse está relacionado com a Visão de Eriu?”, pensou, enquanto retomava a trilha. Após alguns metros, pôde reconhecer o terreno familiar de Avalon, mas de súbito, perdera todo o interesse em ir até o riacho. A manhã já havia avançado muito e ela tinha coisas a fazer.

Pensando nas estranhas palavras da Mulher-Fada, ela retomou a trilha e voltou para a casa das Moças.


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Gina estava em frente ao lago. Deitada sobre a relva, ela observava as nuvens fofas no céu azul e alguns pássaros que se movimentavam sobre as árvores. A brisa suave acariciava o seu rosto e ela estava quase adormecendo, quando notou que havia alguém se aproximando.

Harry se deitou ao lado dela, aninhando Gina em seus braços. A garota pousou a cabeça sobre o peito dele, sentindo-o subir e descer, devido à sua respiração. Sentiu as mãos dele percorrendo o seu cabelo ruivo, acariciando-a de leve.

-Aqui é tudo tão calmo, não é, Harry?

Ele nada respondeu, limitando-se a acariciar a garota.

Gina sentia que nunca havia sido tão feliz na vida. No momento, tudo o que importava era ela e Harry, juntos, deitados sobre a relva e sentindo aquela magia os envolvendo. Ergueu o rosto, para observar Harry melhor.

Aos poucos foram se aproximando, as bocas se tocando e quando estavam prontos para aprofundar o beijo...

Gina despertou, amaldiçoando a alma infame que a acordara daquele sonho maravilhoso. Ainda de camisola, ela se levantou contrariada, para ver quem havia batido na porta. Abriu a porta e deu de cara com Morrigan, que parecia mais estranha do que o normal.

-Bom dia, Morrigan – A ruiva disse, esfregando os olhos – Desculpe, acho que acabei dormindo demais.

A Sacerdotisa sorriu vagamente para ela. – Não se preocupe. Troque-se, que ainda temos muito que fazer.

Gina se lembrou que começaria naquela manhã a receber suas instruções. No dia anterior, Morrigan resolveu que ela deveria conhecer as dependências da Casa das Moças e se habituar com as regras do lugar. Mesmo não estando ali para receber o preparo de uma sacerdotisa, ela deveria seguir algumas regras básicas, nada demais, mas coisas necessárias.

Após estar devidamente vestida, Gina seguiu Morrigan pelos corredores do rústico edifício, até chegarem no pátio de pedras cinzas.

-Para onde nós estamos indo? – Gina perguntou, ao que Morrigan apenas indicou o grande monte coroado com as pedras circulares.

Enquanto se encaminhavam para o Tor, a Sacerdotisa perguntou: -Gina, você sabe exatamente o que significa ter a Visão?

-Sinceramente, Morrigan? – A sacerdotisa fez um sinal negativo – Não tenho a menor noção. Eriu disse que é um Dom, mas eu não sei quase nada sobre isso. Sei que posso ver coisas que os outros não vêem, mas não exatamente o que ver e quando ver.

A Sacerdotisa ponderou, tentando imaginar por onde deveria começar.

-As mulheres trouxas costumam chamar de “intuição feminina”, o que nós bruxas chamamos de Visão. Por vezes, quando estamos com a mente bem preparada e em harmonia com as forças que regem o universo, podemos vislumbrar coisas que aconteceram, coisas que estão acontecendo ou que estão por vir.

-Então, se eu aprender como usar esse Dom, vou poder ver coisas que estão acontecendo em outro lugar? – Gina perguntou, interessando-se pelo assunto.

-Depende... – Morrigan diminuiu o ritmo de suas passadas, de modo que as duas pudessem andar lado a lado. – Normalmente, só se pode ver coisas que estejam relacionadas a algo próximo a você.

Vendo que Gina havia compreendido muito pouco, a Sacerdotisa explicou melhor: - Por exemplo, Eriu pode ver coisas que estejam relacionadas com a segurança e o destino de Avalon, pelo fato de ser a Grã-Sacerdotisa daqui. Ela também pode ver coisas que tenham a ver comigo ou com Dylan, pelo laço de sangue que existe entre nós.

-Hm...Certo... – Gina ficou pensativa. – Mas, porque eu tive uma visão com o Harry?

-Laços criados através de Magia também são fortes o suficiente para despertar a Visão, ou o fato de vocês serem namorados também.

Gina pareceu um pouco desconcertada. – Eu nem mesmo sei se ainda somos namorados.

Morrigan sorriu. Segurou a mão de Gina carinhosamente – Isso não importa, minha querida, o que importa é o amor que um sente pelo outro e isso já é o suficiente para criar um elo forte entre vocês. Você o ama, não ama?

Gina nem precisou pensar, antes de responder com ênfase: - Claro que eu o amo. Já me disseram que eu sou muito nova para saber se isso é amor ou apenas uma paixonite juvenil, mas desde que eu o vi pela primeira vez, eu tive a certeza de que nunca haveria outro em minha vida.

-Talvez, vocês estejam destinados há muitas eras – Morrigan disse, sentindo uma pontada de angústia. “Será que todos têm direito ao amor, menos eu?”.

-Morrigan, está tudo bem com você? – Gina perguntou, vendo que a Sacerdotisa parecia estar distante.

-Sim, sim, está tudo bem – A sacerdotisa mentiu “E que bela sacerdotisa estou me saindo: mentindo para uma jovem que estou instruindo...”. – Você prefere subir ao Tor pelo caminho processional, ou cortar caminho por dentro da mata. Pelo caminho processional é mais demorado, mas a subida não é tão cansativa.

-Por mim, tanto faz... – A ruiva respondeu, dando de ombros.

“Então, vamos pelo atalho em meio à mata. Assim ela poderá entrar em contato com os espíritos antigos e sentir um pouco da Magia que está presente na natureza”.

-Bem, voltando ao assunto – Morrigan continuou a sua explicação – Além de poder vislumbrar um pouco das coisas que estão escritas nas páginas da vida, se estiver devidamente preparada, poderá aprender a compreender o que se passa no interior de outra pessoa: o que pensa, o que sente... Mas isso requer um pouco de prática.

-Isso significa que aprenderei Legilimência? Eu vou aprender a ler a mente dos outros?

-A mente humana não é um livro para ser lido. Mas através de um trabalho de observação, você poderá saber o que a pessoa está sentindo ou desejando.

Vendo que teriam um pouco de dificuldade para subir o atalho usando aqueles vestidos longos, a Sacerdotisa aconselhou Gina a atar a barra do vestido na cintura, enquanto ela própria fazia isso.

-Veja, Gina, como são maravilhosas as coisas criadas pela Deusa. Deixe que um pouco da Magia que está presente nas coisas simples a invada e a deixe inebriada com o encanto da natureza.

De fato, a sacerdotisa estava certa. Era maravilhoso sentir a harmonia da natureza: o ruído do vento sobre a copa das árvores, o cantarolar distante dos pássaros no céu, o farfalhar das folhas, abaixo de seus pés. Caminharam silenciosas por longos minutos e quando Gina já estava se arrependendo de não ter escolhido o caminho processional, viu que já estavam próximas às pedras circulares do Tor. Um pouco ofegante, ela se sentou sobre a sombra das pedras, recuperando o fôlego perdido na subida aladeirada.

A sacerdotisa esperou que a outra jovem recuperasse um pouco de suas forças, antes de iniciar as suas lições. Ela ainda continuava respirando com facilidade, já que estava habituada a subir o caminho íngreme até ali.

-Eu a trouxe aqui, pois é um lugar que tem uma grande concentração de Magia. – Morrigan conduziu a ruiva até o centro do círculo de pedras. Sentaram-se em posição de lótus, uma em frente à outra, sob o céu azul de nuvens fofas. – Essas pedras foram colocadas aqui há tantos anos, que nem os antigos Veneráveis que fundaram essa Ilha saberiam dizer. Sinta, Gina, que tudo isso faz parte de um Mistério tão grande e que você, neste momento, também faz parte deste Mistério. Pode parecer pequeno e insignificante, mas às vezes, uma pequenina pedra pode ser o suficiente para provocar um desmoronamento.

A ruiva se assustou com as palavras de Morrigan. A Sacerdotisa parecia estar distante, vendo coisas ocultas aos olhos de Gina. Mas logo, a Sacerdotisa voltou a si, fazendo com que a visão indesejada se afastasse.

-Vamos começar do início. – Morrigan instruiu Gina à fechar os olhos e tentar manter a respiração tranqüila e regular. – Tente manter a mente livre de qualquer tipo de pensamento indesejado. Pode parecer difícil no começo, então, comece por ouvir o ruído de sua respiração, sentindo o ar entrar e sair de seus pulmões. Sem pressa nenhuma.

No começo, como Morrigan prevenira, tinha sido realmente complicado. Gina não sabia por que estava fazendo aquilo, se era realmente necessário... Vários pensamentos assolavam sua mente: pensou em sua casa, sua família e na angústia que sua mãe deveria estar sentindo. Pensou em Harry e na guerra iminente que batia à sua porta. Nas estranhas coisas que aconteceram com ela durante os anos.

Gina sentiu que uma sombra encobria o seu rosto, que até então, estava sendo banhado pelo Sol. Morrigan estava em frente à ela, entoando um mantra numa língua desconhecida, enquanto com o polegar, pressionava levemente a fronte de Gina.

Aos poucos, a ruiva foi relaxando, sentindo todos os pensamentos se esvaindo como água. O ar em seus pulmões indo e vindo, indo e vindo... A terra, firme abaixo de seus pés, lhe dando a sustentação necessária; e para tudo estar completo só era necessário o elemento fogo.

Sim, agora Gina compreendia um pouco da Magia de que tanto aquelas Sacerdotisas falavam. A Magia não estava em sacudir uma varinha e dizer algumas palavras em latim, mas nas pequenas coisas, nos pequenos detalhes que passavam despercebidos aos olhos humanos.

Uma palavra, um toque, um olhar... Tudo isso, quando feito da maneira certa, poderia criar um encantamento. E nisso consistia a Magia daquelas mulheres belas e assustadoras.

“Sim, Eriu tinha razão ao dizer que ela tem algo de Sacerdotisa dentro de si... Apesar de ter o coração ligado à um homem, ela já é capaz de compreender um pouco dos Mistérios. É uma pena que tenha chegado a nós tão tarde. Se fosse criada aqui, poderia ser grande e infinitamente poderosa... Mas a Deusa sabe o que faz e se ela chegou à nós neste momento, deve ser por uma boa razão!”

Passaram boa parte daquele dia no Tor.

Morrigan explicou à Gina, quais os alimentos eram nocivos à Visão e como as Sacerdotisas no primeiro ano de instrução ficavam sem comer carne, tendo apenas frutos e grãos em sua dieta, além da água do Poço Sagrado – que como Gina já sabia, abria as portas à Visão.

E a lição daquela manhã foi simples, mas essencial: encontrando o eixo dentro de si e estando em harmonia com as forças invisíveis, era possível encontrar o caminho para a iluminação. Não é o que você faz, mas como você faz.


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Quando à noite, voltou para o seu quarto solitário na casa das Moças, Morrigan tinha um sentimento de satisfação dentro de si: estava sendo bem-sucedida com sua aluna. Forçar a Visão vir seria um pouco mais difícil e exigiria um grande sacrifício da ruiva, mas estava satisfeita em ver que ela era capaz de tornar a mente um campo livre e aberto para isso. Como a Mulher que a preparou sempre dizia: “Primeiro é necessário preparar o terreno, para depois semear a semente”.

Assim que pousou a cabeça sobre o travesseiro, a Sacerdotisa dormiu quase que instantaneamente, sem se lembrar das palavras da Mulher-Fada naquela manhã estranha, que estava tão longe e tão perto ao mesmo tempo.

Quando a Lua corria longe sobre o céu, Morrigan abriu os olhos, totalmente desperta. Sentiu algo muito estranho: um frio enregelando os seus ossos e que logo foi substituído por uma sensação agradável de liberdade.”Será a morte?”

Quando levantou da cama, ela não se espantou ao constatar que o seu corpo ainda repousava sobre a cama, respirando regularmente. Ela se sentia tão leve, que se abrisse os braços, seria capaz de voar; como se as distâncias fossem mínimas e ela pudesse cruzar mares e terras com uma simples caminhada.

Uma experiência extracorporal era algo muito interessante, mas normalmente ocorria quando estava sob o efeito das drogas rituais, onde mente e corpo se separavam para que pudesse olhar para dentro de si mesma. Mas esse tipo de experiência raramente ocorria de maneira espontânea.

Algo estranho e semelhante à uma obsessão fez com que ela se sentisse inquieta, ansiosa... Como se estivesse prestes à se encontrar com alguém.

Aos poucos o seu espírito (ou o que quer que tenha se desprendido de seu corpo) começou a se movimentar. Como um espectro, a Sacerdotisa deixou que aquela estranha força a dominasse e a guiasse. Não se espantou ao ver que poderia atravessar portas e paredes, terra e pedra. Explorou as dependência da Casa das Moças, observando a calmaria e o silêncio que predominava naquela construção. Atravessou o pátio, indo para o bosque de macieiras que circundava a Casa da Senhora. Mas algo em seu interior lhe dizia que aquele não era o seu destino naquela noite; nem o bosque de macieiras e nem a Casa da Senhora.

Atravessou o bosque perfumado, chegando no seu limiar. Um arrepio percorreu o seu corpo, ao ver que estava adentrando o bosque de carvalhos. Sabia que aquele lugar era místico, com suas árvores antigas e Veneráveis, que eram adoradas pelos druidas. O divino deveria ser contemplado em meio à natureza, pois como poderiam adorar os Deuses dentro de templos construídos pelas mãos humanas?

Morrigan conteve um suspiro ao se deparar com um grande carvalho. Desde criança, ela ouvia as histórias que estavam relacionadas àquela árvore.

Aquele era o túmulo do último Merlin que existira, o túmulo de um traidor. Aquela história sempre a fascinara, pois era triste e melancólica. Uma história trágica de amor e poder, que terminou daquela maneira.

Um vulto saiu por detrás da árvore. Tinha o caminhar deselegante e grotesco, apoiando-se no tronco da árvore para se aproximar de Morrigan. Na penumbra, o seu rosto estava oculto, mas assim que um raio de luar penetrou em meio aos galhos das árvores e incidiu sobre o rosto dele, a Sacerdotisa pôde vê-lo melhor. Era um homem encurvado, usando as vestes antigas de druida. No rosto carregava um sorriso que poderia ser irônico, mas que para Morrigan parecia ser encantador. O homem poderia ser belo, não fossem algumas cicatrizes de queimaduras que carregava ao longo do rosto e pescoço.

O mais impressionante nele eram os vivos olhos azuis que possuía. Pareciam penetrar na mente e coração da sacerdotisa. Ele a olhava com reconhecimento, como se a conhecesse a muitos séculos, como se fossem amigos ou até amantes.

Ao se aproximar daquele homem, Morrigan sentiu que ela própria estava muito diferente. Parecia ser mais alta e não era o efeito da Magia da Deusa que estava sobre si. Alisando as longas mechas de seus cabelos, ela viu que eles estavam loiros e mais anelados; como se ela estivesse possuindo o corpo de outra pessoa.

-Ah, Nimue, minha amada, como eu senti tua falta! – O homem disse. Ele tinha uma voz doce e tão melodiosa que Morrigan não se cansaria de escutá-la. Mas estranhou o modo como o homem a chamara. “Acaso Nimue não era o nome da Sacerdotisa que condenou o último Merlin à morte?”

Mas quando abriu a boca para indagar algo, sua voz soou estranha e palavras indesejadas foram proferidas por ela. – Eu também senti tua falta, Kevin! – ela disse, se aproximando mais ainda dele – Eu lamento tanto que as coisas tivessem acontecido daquela forma, meu amor...

-Eu sei, eu sei, mas já aconteceu e não há nada que possa reverter a situação. Eu fiz o que julguei ser a vontade dos Deuses, assim como você fez o que foi ordenado pela Dama do Lago.

Kevin segurou as mãos da jovem à sua frente e aproximando-as de seus lábios, depositou um beijo suave.

-E por causa desse erro, nós fomos fadados à isso. – ela disse, acariciando o rosto dele - À viver em meio aos nossos erros, passando tantas vidas nos desencontrando e nos sentindo incompletos. Acaso isso é justo?

E pela primeira vez na vida, Morrigan chorou. Não sabia ao certo o porque de estar se sentindo assim ou a razão daquele estranho sonho (se é que isso poderia ser considerado um sonho). A única coisa que ela gostaria, era ter aquele homem em seus braços e afagá-lo; tentando reparar os danos que lhe foram feitos.

E como se uma luz tivesse se acendido em sua mente, ela compreendeu: era ele!

O homem que Eriu disse que estaria em seu destino, o homem que a Mulher Fada disse que ela deveria encontrar. Ela havia se enganado ao imaginar que o homem fosse Remus e, para ser sincera, se sentiu aliviada por isso. Tudo o que ela não precisava era ter uma garota ciumenta (Tonks, no caso) tentando azará-la.

Enquanto algumas lágrimas teimosas escorriam pelo rosto pálido da moça, ela finalmente encontrou o que tanto ansiava: respostas... Respostas parciais, mas ainda assim eram respostas.

-Não, isso não foi justo. Mas também não fomos de todo inocentes... – ele ergueu a mão fina e de toque macio até o rosto da moça, acariciando-a . –Sem você, eu caminhei durante séculos em meio às trevas. Sem ter o teu corpo junto ao meu, o cheiro de sua pele e de seus cabelos. – A puxou para mais perto de si, comprimindo o seu corpo no dela – Ah, como eu preciso de você, meu amor... Você me deixará novamente?

-Não, nunca – ela repetiu freneticamente, enquanto o mar de lágrimas banhava o seu rosto – Agora, eu sei que nunca conseguiria viver em paz sem você. Eu vou encontrá-lo, nem que para isso eu passe o resto da eternidade.

Ao ouvir essas palavras, o homem sorriu fazendo com o que o seu rosto se iluminasse de alegria. Segurou o rosto da jovem entre as mãos, secando as lágrimas que ela tinha no rosto. Ficaram longos minutos se fitando, enquanto a jovem acariciava levemente as mãos do homem. Curiosa, ela procurou pela tatuagens de dragão, que a maioria dos druidas carregava, mas se espantou ao ver que ele tinha outro símbolo no seu antebraço esquerdo: um crânio colossal de aparência medonha e que tinha uma cobra no lugar da língua.

-Mas... - Ela olhou intrigada para o símbolo e um sentimento ruim se apoderou dela ao passar os dedos sobre o antebraço dele. - O que isso significa?

Ele nada disse a respeito da marca. Limitou-se a sorrir fracamente para a jovem, que aos poucos sentia uma força a arrastando de volta para o seu quarto e para o seu corpo que jazia esquecido na Casa das Moças. Protestou contra aquela estranha força, pois não gostaria de se despedir de seu amado justamente naquele momento.

Mas os seus esforços foram em vão e num último momento de lucidez ela viu o vulto do homem se desvanecer em meio às sombras.

Morrigan ficou perturbada com aquele estranho sonho, sem saber, que alguém à milhas e milhas de distância dali também tivera o mesmo sonho.


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Sobre o capítulo: Bem, vocês devem estar se perguntando o que isso tem a ver com a história. Mas não se esqueçam da profecia da Eriu que está no cap. “Lar, amargo lar” e fala sobre o homem de duas faces. Aliás, alguém já conseguiu descobrir quem é ele? Agora ficou fácil, né? Se não descobriram, aguardem o próximo cap.: “O homem de duas faces”.
Eu sei que vocês devem estar sentindo falta do nosso herói grifinório, mas tenham calma que ele logo, logo aparece.
Bem, acho que é só.
Agradeço os reviews deixados na fic e aguardo a opinião de vocês.
Grande beijo e até o próximo.



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