CAPÍTULO 4 - A CARTA E O SONHO



CAPÍTULO 4



 



A CARTA E O SONHO



 



 



 



 



 



 



Passavam-se os dias e Harry seguia com suas aulas, procurando estudar com afinco para tornar-se um bom bruxo. Suas notas eram muito boas em Defesa Contra as Artes das Trevas, Vôo, Feitiços e Astronomia. Boas em Transfiguração, História da Magia e Poções, ao custo de dominar o sono durante as aulas do Prof. Binns e escapar das armadilhas de Snape para tirar pontos da Grifinória através de sua pessoa, o que conseguia puxando pela memória e lembrando-se das dicas de preparo de poções que sua mãe lhe passara. Por sorte, Lílian Potter possuía um talento para Poções que rivalizava com o de Snape, embora algumas vezes ele não conseguisse evitar. Nesses momentos, Snape mal continha sua satisfação, pois parecia estar tirando pontos do próprio Tiago.



Harry procurava não deixar que aquilo o afetasse, mas não pôde deixar de citar o fato em uma das cartas que mandara para os pais. E, em Chelsea...



_Lílian, parece que o Narigudo está vingando-se de mim em Harry.



_Severo deve estar adorando. Acho que terei de mandar algo para Harry na próxima remessa.



_Não me diga que vai mandar seu...



_Meu “Livrinho Vermelho”. Acho que ele vai ser bem útil.



_Sem dúvida. Com seu “Maceteiro” nas mãos, Harry preparará qualquer poção que o Ranhoso mandar. E ainda será melhor, porque foi o próprio Snape quem montou o livro, juntamente com você, na época em que éramos alunos. Você era parceira de caldeirão dele nas aulas do Prof. Slughorn.



_E você era o de Sirius. _ comentou Lílian _ E vocês dois eram muito bons, embora gostassem de brincar. E as vítimas preferidas eram Severo e Lucius.



_Refere-se àquela vez em que fizemos Severo ficar loiro e Lucius com os cabelos verdes?



_Entre outras. _ disse Lílian, sorrindo.



_Você passou uma semana nos xingando e repreendendo. Como se a detenção que recebemos já não tivesse sido suficiente... _ disse Tiago, fingindo-se aborrecido.



_Coitadinho. _ ironizou Lílian, saindo para buscar o livrinho.



Tiago também tratou de pegar uma coisa para enviar ao seu filho. Algo que, julgava ele, também seria bastante útil.



 



Dentro da disciplina de Defesa Contra as Artes das Trevas, Mason valorizava o preparo físico, salientando que boa forma e bons reflexos poderiam fazer a diferença entre viver e morrer. Harry era seu monitor para o primeiro ano, devido à sua boa forma e conhecimento. Alguns tinham um pouco de dificuldade, pois a maior parte dos bruxos não era lá muito chegada a exercícios, Draco sendo um deles. Mas, depois de algumas semanas, todos já possuíam um preparo razoável.



O Dia das Bruxas aproximava-se, com a expectativa de uma grande festa em Hogwarts. Para Harry, a data lembrava o atentado que a família sofrera. Porém, devido a terem sobrevivido e Voldemort ter desaparecido, era motivo de comemoração para a família. Harry já havia ouvido falar das festas e de como Hagrid caprichava no cultivo das abóboras que eram escavadas para fazerem as máscaras e de cuja polpa era feito um excelente suco. Estava ele à mesa para o café da manhã, quando o correio-coruja começou a chegar. Na mesa da Sonserina, Draco recebia o costumeiro suprimento de doces e petiscos artesanais, feitos por seu elfo particular, Ziggy, seguindo as receitas passadas de geração em geração das famílias Black e Malfoy. Uma coruja deixou um exemplar do Profeta Diário para Hermione. Harry recebeu dois pequenos pacotes de seus pais, com a instrução de que abrisse depois. Errol, a velha coruja da família Weasley, deixou cartas para Percy, Fred, Jorge e Rony. Este último, ao pegar a sua, notou que o envelope estava um pouco mais grosso e pesado, descobrindo a razão ao abri-lo. No seu interior, havia um outro envelope, lacrado com o sinete da família Weasley, uma doninha rampante sobre uma colina com o símbolo do Infinito, sobrepostos a uma letra “W”. Vendo o sobrescrito, entregou o envelope a Harry.



_Harry, eu acho que é para você.



_Como poderia? Não conheço ninguém mais dos Weasley, além de você, Percy e os gêmeos... será que...?



_É da minha irmã. _ disse Rony, fazendo uma cara meio estranha, tipo “irmão-mais-velho-com-ciúmes” _ E só pode ser para você. Diz aqui: “Rony, por favor entregue isto ao garoto que te ajudou com o carrinho, lá na Plataforma 9 ½. Procure ser discreto.”



_ “Procure ser discreto”... Então, já melou. _ disse Harry, olhando à sua volta. Os outros Weasley debruçaram-se para ver a carta e constataram que a letra era da caçula. Além disso, ao verem Harry receber uma carta de uma garota, o coro de “Hmmmmmmm” dos colegas foi de dar inveja a um coral de beija-flores, assim como foi grande o “Ooohhhhh” de decepção, ao verem Harry guardar a carta no bolso das vestes, vermelho como o lacre do envelope.



_Se as velas de Hogwarts se apagassem neste exato momento, a cara de Harry forneceria toda a iluminação necessária à escola. _ comentou Soraya, divertindo-se ao ver a cara de Harry.



_Bonito selo. _ comentou Harry, depois que os risinhos cessaram e sua cor voltou ao normal _ Irlandês, não é?



_Sim. Os Weasley são originários de um povoado que hoje faz parte da região metropolitana de Dublin, chamado Kilbarrack. _ explicou Rony.



_Interessante. _ comentou Hermione _ Em um livro chamado “O Jovem Trovador”, grande parte da história passa-se em Kilbarrack.



_Eu já li esse livro. _ disse Dean Thomas _ É de Archibald Joseph Cronin, não é?



_Isso mesmo. _ disse Seamus Finnigan, que também era de família irlandesa _ Eu já li outros livros dele, além de alguma coisa de James Joyce.



_James Joyce? _ perguntou Hermione, corando _ Mas não é meio pesado para alguém da nossa idade?



_Pode ser, Hermione, mas eu valorizo o que é da nossa terra. _ disse Seamus, discretamente abrindo a camisa do uniforme e mostrando que, por baixo, usava uma camiseta da cerveja Guinness e uma corrente de ouro no pescoço, com um pingente em forma de trevo de quatro folhas.



_Também já li Joyce. _ confessou Hermione _ Mas achei a leitura meio difícil de digerir.



Depois do café, Harry e os outros foram levar o que haviam recebido para seus dormitórios. Harry ia guardar os pacotes no seu baú, mas Rony antecipou-se.



_Deixa que eu abro. Essas fechaduras costumam ser meio emperradas.



_Não, Rony! Cuidado! _ disse Harry, mas já era tarde. Rony acabara de levar um choque, que o lançou uns dois metros para trás.



_Caracas, Harry! O que foi isso?



_Feitiço de Segurança, criação de meu pai e de Sirius. Eles me ensinaram e eu coloquei um no baú.



_Com o que foi que me atingiram?



_Cerca de 20 mil volts.



_Isso pode matar alguém, cara!



_Não, a amperagem é baixa. A pessoa só leva um susto e é jogada longe. É o mesmo princípio dos bastões de choque trouxas.



_???



_Armas de defesa, que são utilizadas por mulheres em cidades grandes e perigosas, a fim de nocautear eventuais agressores. É como se o sujeito recebesse uma Azaração de Impedimento bastante forte.



_E como! Acho que vou colocar um desses no meu baú, também. Você me ensina?



_Depois das aulas, OK?



_Certo. Aliás, vamos nessa.



E foram para a aula de Poções.



 



Depois de mais um dia de aulas, no qual o professor de Feitiços, Flitwick, ficou satisfeito em ver que os alunos conseguiam levitar objetos cada vez mais pesados, Harry correu mais uns 3 mil metros, para o que agora tinha companhia. Rony Weasley, Hermione Granger e Soraya Black formavam com ele um dedicado grupo de jovens atletas amadores. Após terminarem, viram que eram observados por Nereida e Severo Snape.



_Vejo que leva a sério as recomendações de seu pai, Potter.



_Ele me disse que boa forma pode salvar a vida de alguém, professor. E salvou a vida dele por várias vezes.



_Inclusive quando o Lorde das Trevas tentou matá-los. Parece que seu pai lutou corpo-a-corpo contra ele.



_Acho que Voldemort... oops, desculpe, Prof. Snape. _ disse Harry, vendo Severo e Nereida tremerem _ Bem, acho que ele foi pego de surpresa, por isso apenas estuporou meu pai. Caso contrário, ele o teria matado de cara.



_Realmente, foi algo inusitado. Você-Sabe-Quem não costumava deixar nada para depois, matava logo. Mudando de assunto, você joga ou jogava aquele esporte trouxa, o Futebol, não é?



_Sim, professor. Pouco antes de receber a carta de Hogwarts, recebi uma proposta das categorias de base do Chelsea.



_Nunca vi muita graça em vinte caras correndo atrás de uma bola. E olha que esse esporte, como o conhecemos, foi desenvolvido aqui na Grã-Bretanha.



_Acredito que um trouxa também estranharia, se visse uma partida de Quadribol, pai. _ comentou Nereida.



_Com certeza. Seu pai ainda joga, Potter?



_De vez em quando, nos finais de semana, com Sirius, Remus e outros remanescentes da Ordem da Fênix. E o senhor, nunca jogou? _ e Harry arrependeu-se de haver perguntado, ao ver o quanto o rosto de Snape endurecera, mas logo o professor recuperou o controle.



_Tentei, mas nunca voei muito bem. Quem, por mais que tentasse, nunca foi aceito pelo time da Sonserina, no nosso tempo, foi Lucius. Ele tentou vaga para Apanhador, mas sempre ficava para trás. Da última vez em que tentou, foi vencido nos testes por Marina Forsythe.



-Ela foi jogar nas Harpias de Holyhead, não foi?



_Sim. Foi morta por Death Eaters, durante um jogo. Eles praticaram um atentado no estádio e ele foi atingida, em pleno vôo. Jamais identificaram o assassino.



_Poucos foram os que não perderam parentes ou amigos, durante os Dias Negros, professor. _ comentou Rony.



_Sim, Sr. Weasley. E outros perderam... outras coisas. Bem, Nereida, acho que está na hora de entrarmos.



_Sim, pai. _ disse a garota de cabelos negros e olhos azuis _ Gente, acho que vocês podem ganhar uma companheira nas corridas, se não houver nada contra uma sonserina no grupo.



_De forma alguma, Nereida. _ disse Hermione _ Você seria muito bem-vinda entre nós.



Todos os outros concordaram e despediram-se de pai e filha, que logo voltaram para o castelo. Soraya comentou:



_O Prof. Snape parecia estar querendo dizer alguma coisa.



_Acho que faço uma ideia. _ disse Harry _ Ele ficou estranho, quando falamos de Quadribol. Soube que ele nunca voou muito bem, mas a irmã dele, que também se chamava Nereida, foi Artilheira e, depois de formada, tornou-se Auror.



_Ela morreu em um combate contra Death Eaters, alguns anos depois de formada, não foi? _ perguntou Hermione _ Lembro-me de ter lido algo sobre isso. Bem, está na hora de também voltarmos para dentro.



_Tem razão. _ disse Rony _ Logo será a hora do jantar.



_Quando o assunto é comida... _ disse ela.



_Fase de crescimento, Mione. _ brincou Soraya.



_Desde que não seja para os lados, tudo bem. _ disse Harry _ Para isso temos os exercícios. Vamos nessa.



E subiram para o castelo.



 



Após o jantar, ocuparam-se das revisões do dia, na biblioteca. A bibliotecária era bastante rigorosa e exigente no cuidado com o acervo. Também, alguns livros tinham centenas de anos. Seu nome era Irma Pince e mantinha o padrão de sua antecessora, Madame Barnes. Diziam à boca pequena que ela e o zelador, Argus Filch, tinham um caso. Terminadas as revisões e os trabalhos de Mc Gonnagall e Sprout, subiram para a Torre da Grifinória. Enquanto os outros deixaram-se ficar um pouco mais na Sala Comunal, Harry disse que iria recolher-se mais cedo.



_Ei, cara, amanhã é sábado. Não precisa preocupar-se, pois dá para acordar um pouco mais tarde. _ disse Rony. Mas o ruivo sabia o porquê de Harry querer ir cedo para a cama.



 



Depois de escovar os dentes e vestir o pijama, Harry deitou-se e cerrou as cortinas do dossel de sua cama, colocando sua varinha em um encaixe na cabeceira, após acendê-la com um “Lumus”. Quebrou o lacre da carta e começou a lê-la. Com uma letra caprichada e um discreto aroma floral no pergaminho, provavelmente resultado do contato da mão da garota, a carta dizia:



Oi. Você pode até estranhar o fato de eu estar escrevendo para você. Afinal, nós mal nos conhecemos, vimo-nos apenas uma vez, lá na Plataforma 9 ½ e, infelizmente, não pudemos conversar mais pois você foi chamado. Não pense que eu fico escrevendo assim para todos (mesmo porque seria difícil encarar o ciúme do Rony) mas acontece que eu senti algo de especial naquele dia, vendo-o ajudar meu irmão com o carrinho e, depois, ajudando aquela garota com seus livros. Depois daquilo, confesso que penso em você freqüentemente, mesmo sem saber seu nome. Aliás, você também não deve saber o meu, pois eu garanto que o desligado do meu irmão não lhe disse. Meu nome é ‘Virgínia Ginevra Molly Weasley’, mas todos me chamam de Gina. E por que eu estou pensando em você? Nem eu mesma sei a razão, mas eu gosto disso. Acho que é porque fiquei comovida com o seu gesto e, espero que não me ache chata ou abusada, gostaria muito de poder revê-lo. Se você pudesse, durante as férias do Natal, nos fazer uma visita, eu ficaria muito contente. Creio que se eu escrever a Rony sugerindo, ele próprio poderá convidá-lo. Caso isso venha a acontecer, será muito bem-vindo. Só não repare, pois nossa casa é humilde mas harmoniosa. Espero que possa vir e gostaria muito de receber uma resposta a esta carta, até mesmo para saber qual o seu nome.



 



Gina Weasley



 



Relendo aquela carta, Harry lembrou-se da voz doce e do perfume floral da garota de brilhantes cabelos ruivos (“Jasmim”, pensou ele). Ficou imaginando como seria conhecer aquela família, cuja matriarca vira apenas de relance. Percy era meio pomposo, mas bastante correto, como condizia com um Monitor. Os gêmeos eram divertidos e inteligentes, sempre inventando traquinagens e pegadinhas. Rony fazia-se de meio bobo, às vezes, mas Harry sabia que era pura fachada, o ruivo era bastante observador e esforçado, além de ser um excelente enxadrista. Quanto ao pai deles, Harry apenas sabia que trabalhava em um dos Departamentos do Ministério da Magia, o de Controle do Mau Uso de Artefatos dos Trouxas, um pequeno departamento responsável por evitar que objetos trouxas enfeitiçados fossem usados de modo prejudicial, também tendo a atribuição de fiscalizar o uso da Tecnomagia. Como ainda não estava com sono e o dia seguinte seria um sábado, resolveu responder à carta da garota. Ao terminar, revisou o texto, fez pequenas correções e chegou ao resultado final:



 



Oi, Gina. Gostei muito de receber sua carta, principalmente porque eu também tenho pensado em você, com freqüência. Devo-lhe desculpas pelo fato de não ter me apresentado de maneira correta para você, lá na Plataforma 9 ½ e este é um erro que corrigirei agora. Meu nome é Harry Potter e meu pai conhece o seu, pois também trabalha no Ministério, como Auror. Seu irmão, Rony, viajou comigo na cabine do Expresso de Hogwarts e eu lhe digo que ali iniciou-se uma sólida amizade entre ele, eu e uma outra colega de Casa, Hermione Granger. Fomos todos selecionados para a Grifinória, juntamente com outra amiga, Soraya Black, filha do meu padrinho, Sirius. Fico feliz com sua impressão a meu respeito e preciso dizer que aquele nosso encontro, embora breve, me agradou bastante e que eu só não criei coragem para comentar sobre você com Rony porque ele me pareceu ser meio ciumento e protetor. Seu convite foi uma agradável surpresa e você pode estar certa de que escreverei a meus pais, para que me autorizem, assim que Rony me fizer a sugestão. Fico aguardando pela chegada dessa data e espero que no próximo ano letivo você possa estar conosco, aqui em Hogwarts. Até lá, a lembrança de sua imagem me fará companhia.



 



Harry Potter



 



Julgando satisfatória a carta, Harry colocou-a em um envelope e pingou lacre para fechá-lo, pressionando sobre ele o anel de sinete que havia sido de Tiago e que ele lhe dera, quando Harry recebera a carta de Hogwarts. Era um anel de ouro, com o brasão da Grifinória, mas com uma particularidade: girando a pedra em 180° , o brasão aparecia em relevo e com a palavra “Potter” logo abaixo, constituindo o sinete. Em seguida, abriu os pacotes que recebera de casa. Viu que sua mãe havia mandado um pequeno livro, acompanhado de um bilhete:



 



Filho, não deixe que Severo tome conhecimento desse livro, pois ele não iria gostar, já que nós dois o fizemos juntos, quando éramos alunos. Nele você encontrará dicas e macetes para um bom preparo de poções. Estudando-o, juntamente com os livros didáticos, você terá condições de evitar que ele pegue no seu pé. Aproveite-o bem. Um grande beijo.



Sua mãe



Lílian



 



_Legal! Isso vai me ajudar bastante. Agora, vejamos o do meu pai.



O pacote de Tiago trazia um espelho. O bilhete que vinha junto dizia:



 



Harry, este é um espelho de duas faces. Ele permite que você comunique-se com o detentor do par. O outro sempre estará comigo ou com Sirius. Nós os utilizávamos quando cumpríamos detenções separados. Caso o Narigudo resolva incomodá-lo além da conta, nos avise e daremos a você dicas de vinganças excelentes, sendo que o melhor é que ele jamais saberá que foi você e, caso saiba, não poderá provar nada. Só não deixe que sua mãe saiba disso. Use-o somente se for necessário.



Seu pai



Tiago



 



_OK, pai. Só se for necessário. _ e, guardando o que recebera, preparou-se para dormir. Mas havia algo que ele não sabia descrever muito bem, algo como uma sensação perturbadora. Então, as palavras saíram instintivamente de sua boca e ele fez o gesto, naturalmente _ “Protego! Acqua Frigida Cambio Glaciaria! Glaciaglobus!”



Um pouco acima dele, pronto para derramar um balde de água gelada sobre o jovem grifinório, estava o Poltergeist desordeiro de Hogwarts, Pirraça, encerrado em um globo de gelo, resmungando palavrões.



_Moleque dos diabos! Nem seu pai conseguia escapar de mim! Como percebeu que eu estava aqui?



_ “Globus Evanesco!” Não sei, Pirraça. Só senti que alguém ia aprontar comigo e me defendi. Agora, quer fazer o favor de sair daqui e me deixar dormir?



_Escapou desta vez, pequeno Potter. Mas eu ainda te pego em uma brincadeirinha, filhote de Maroto. Palavra do velho Pirraça! _ e o Poltergeist saiu do dormitório.



Com um suspiro, Harry preparou-se para dormir, antes lançando alguns Feitiços de Segurança, a fim de prevenir-se contra um possível retorno de Pirraça. Logo em seguida adormeceu, começando a sonhar. No começo, sonhou com cenas de Hogwarts, imaginando como seria a festa do Dia das Bruxas, que aproximava-se. Logo, começou a sonhar com um jogo de Quadribol da Grifinória contra a Sonserina, no qual ele era o Apanhador e capturava o pomo de ouro debaixo do nariz de Snape, que fervia de raiva. Então, seu campo de visão mudou e agora ele estava atravessando o Canal e sobrevoando a Europa Continental, atingindo a Itália em questão de minutos. O Adriático não foi nenhum obstáculo, logo sendo transposto e o bruxinho vendo-se por sobre o território da Republika e Shqipërisë, ou República da Albânia. Seu vôo foi ficando mais lento e ele finalmente parou, nas profundezas de uma floresta próxima à fronteira com a Macedônia, aos pés do Monte Korab. Adentrou as profundezas de uma caverna, no sopé da montanha.



Naquele momento, já era uma outra figura que estava ali e cujo rosto ele não via, pois ele era a figura, semi-sólida e translúcida. Ele só conseguia ver as mãos de dedos finos e longos e ouvir sua própria voz, baixa e sibilante, falando consigo mesmo:



_ “Logo, será logo. Sim, não irá demorar, eu sei. Ele está em Hogwarts e o meu servo também já está lá. Ele está preparando tudo e então, no tempo certo, dar-se-á o meu triunfante retorno. Tudo o que eu preciso é que o meu servo esteja atento e que me providencie aquilo de que eu preciso e que o guarde para mim. Então, abandonarei esta forma decadente e vingar-me-ei daqueles que me colocaram assim. Eles sentirão o peso de minha vingança, assim jura o Mestre das Serpentes. Mas, por enquanto, devo me alimentar para permanecer vivo. Minha ração diária deve estar chegando, creio ter ouvido Nagini chegar. Sim, lá vem o meu jantar.



Saiu para o exterior e começou a sibilar em vários tons. Logo uma criatura de corpo esguio chegava, arrastando o corpo quente de um quadrúpede inconsciente, com um único chifre na testa. Ele agachou-se e procurou uma calibrosa veia no pescoço do animal e nela cravou seus dentes. Sugou com vontade e algum tempo depois liberou o animal, que saiu cambaleante pela floresta, em passo lento. Seria mantido pelas proximidades, até que fosse novamente necessário. Passando por uma pequena lagoa, olhou para o seu reflexo, na superfície da água, banhada pelo luar. Um rápido vislumbre de um rosto pálido e achatado, com narinas em fenda e um líquido espesso e prateado a escorrer pelos cantos de sua boca: os restos do sangue que sugara do pobre unicórnio.



Naquele momento, Harry Potter despertou, banhado em suor e com uma incômoda ardência na cicatriz em sua testa.


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