CAPÍTULO 2 - NOVAS AMIZADES



CAPÍTULO 2



 



NOVAS AMIZADES



 



 



 



 



 



 



O Expresso de Hogwarts seguia pelos trilhos, rumo Norte, em direção às montanhas em meio às quais localizava-se a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, cuja real localização não era divulgada, sendo magicamente protegida para que não soubessem se ela localizava-se na Inglaterra ou na Escócia. E era para lá que ia Harry, cheio de expectativas quanto ao seu curso. Para qual Casa seria selecionado? Será que Severo Snape iria pegar muito no seu pé, devido às antigas tretas entre ele e os Marotos, principalmente com seu pai? Como seria o perfil de Alvo Dumbledore e Minerva McGonnagall, os quais vira poucas vezes, só sabendo que eram bruxos poderosíssimos e visceralmente anti-Trevas?



Resolveu não pensar demais naquilo para não se estressar e tratou de pegar na mochila um presente que seu pai lhe dera: um Discman melhorado com Feitiços Tecnomágicos, uma área recente da magia, os quais permitiam a um aparelho eletroeletrônico funcionar em locais com alta concentração de energia mágica sem que entrasse em curto. A banda bruxa “As Esquisitonas” também havia lançado CDs no mercado trouxa, por intermédio de um de seus membros, Donaghan Tremlett, nascido trouxa e filho de um executivo do mercado fonográfico. Colocou um CD da banda no aparelho, adaptou os fones aos ouvidos e começou a ouvir a música da banda:



_ “Vida, vida é magia,



Está à toda a nossa volta,



Dentro e fora de nós,



Como a força que nos move...



 



Naquele momento, a porta da cabine abriu-se e uma pessoa entrou.



_Com licença, posso ocupar a cabine com você? O resto do trem está cheio e, “não sei por quê”, não fui bem recebido nas cabines que não estavam completamente lotadas.



Harry desligou o aparelho, tirou os fones e cumprimentou o recém-chegado, vendo que era o ruivo a quem ele ajudara com o carrinho, na plataforma.



_Claro que sim. Você é bem-vindo a esta cabine. _ o aspecto do garoto era o de alguém de origem humilde, com roupas reformadas, provavelmente herdadas de irmãos mais velhos, gastas mas imaculadamente limpas. Sua mascote também parecia ter sido herdada: um rato marrom gorducho, com aparência de meio velho, com um dedinho faltando em uma de suas patas dianteiras, dormindo dentro de sua gaiola.



_Obrigado. Digamos que, de certa forma, é meio difícil de nos aceitarem. Muitos bruxos são meio preconceituosos quanto a origens e... outros detalhes.



_Como assim? _ perguntou Harry _ Discriminados por origem trouxa ou por alguma suposta relação com as Trevas?



_Nem uma coisa nem outra. Minha família é toda puro-sangue, embora não demos a mínima para essa besteira. Quanto às Trevas, sempre fomos visceralmente contra, totalmente leais a Dumbledore e à causa da Luz. Discriminam-nos pela nossa posição social humilde e por não termos preconceitos contra trouxas. Por sinal, meu pai os adora, é fascinado pela sua cultura e tecnologia. Então, algumas famílias bruxas mais radicais nos consideram como “Traidores do Sangue”, por não nos isolarmos e relacionarmo-nos com eles. Inclusive, acabamos tendo de obter algum destaque por esforço próprio, para conquistarmos o nosso lugar.



_Então vocês são contra as Trevas. Que bom saber. Aqueles outros três rapazes eram seus irmãos, não eram? Então, contando com sua irmã, vocês são cinco?



_Sete. Há mais dois, que já se formaram. Gui foi Monitor-Chefe e trabalha atualmente para o Gringotes, no Egito, como Desfazedor de Feitiços. Meu outro irmão, Carlinhos, hoje trabalha com dragões, na Romênia e foi Capitão e Apanhador do time de Quadribol da Grifinória, levando-os à vitória por vários anos seguidos. Ah, quanto aos outros três que você viu, Percy é Monitor da Grifinória, recebeu o distintivo este ano. Fred e Jorge são do time de Quadribol, Batedores titulares.



_Espere aí! Se o seu irmão foi Apanhador da Grifinória e chama-se Carlinhos, então você é um...



_... Weasley. Sou Ronald Weasley. Pode me chamar de “Rony”.



_Muito prazer, Rony. Eu sou... _ mas, antes que Harry pudesse apresentar-se, a porta abriu-se e a garota que ele ajudara com os livros entrou, com o lábio inferior trêmulo e os olhos pesados e úmidos.



_Com licença, posso ficar aqui com vocês? A maior parte das outras cabines estão lotadas e, em uma das que entrei, fui muito mal recebida e até me chamaram de “Sangue-Ruim”. Eu sei mais ou menos o que é e não gostei nada. _ e a garota começou a chorar ao lado de Rony, que a abraçou e procurou acalmá-la.



_Calma, garota. Conte-me o que foi que houve.



_Eu estava à procura de uma cabine na qual houvesse uma vaga, mas várias estavam lotadas e em várias delas algumas pessoas me olharam de um jeito meio hostil, como se eu estivesse tomando o lugar de alguém. Inclusive, alguns murmuravam “Trouxa”. Mas foi em uma delas que eu fui ofendida daquela maneira por um garoto grandalhão que me disse: “Você não tem nada o que fazer aqui, Sangue-Ruim”. Naquele momento, outro garoto, um loiro, disse: “Cale-se, Crabbe! Ela entrou por acaso e pode até não ser bem-vinda aqui, mas não é o caso de pegar pesado! Além disso, sendo nascida trouxa ela nem deve ter entendido o significado do que você disse. Garota, vá e não misture-se conosco, para o seu próprio bem”. Então eu saí, meio desorientada e vim parar aqui.



_Vocês são bem-vindos a esta cabine, bem como a qualquer lugar onde eu estiver. Meu pai reservou esta cabine para mim e outro amigo, que até agora não apareceu, mas disse que eu não só poderia como deveria acolher quem quer que precisasse de um lugar. Ele nem precisava dizer. _ disse Harry, observando a garota com mais atenção, depois daquela vez, na plataforma. Da sua altura, um pouco mais baixa do que Rony. Vestia uma saia jeans, sobre um legging preto e botas de cano alto, também pretas. Uma blusa cor-de-rosa DKNY e uma jaqueta índigo GAP completavam o conjunto. Seus cabelos eram castanhos e lanzudos, como também eram castanhos os seus olhos que, mesmo congestionados e lacrimosos, tinham uma expressão firme e inteligente.



_Muito obrigada. Sabem, eu nasci trouxa mas, desde que manifestei magia, procurei ler tudo o que eu pudesse sobre o mundo mágico, sendo que um dos meus preferidos é “Hogwarts, Uma História”. Para mim foi fácil, pois sempre gostei de ler. Meus colegas na escola me chamavam de “Traça de Livros”, pois eu sempre estava com um na mão. Meus pais são dentistas e vivemos em Londres.



_Dentistas? _ perguntou Rony _ Profissionais trouxas que tratam de problemas dos dentes? Na Bruxidade os problemas dentários são resolvidos com poções ou feitiços.



_Você vive em Londres? Onde? _ perguntou Harry.



_Notting Hill.



_E eu em Chelsea. Você é de onde, Rony?



_Sou do interior do país, Ottery St. Catchpole.



_Em Devon? _ perguntou Harry



_Sim. Como sabe?



_Meu pai trabalha no Ministério e me falou de um colega, Chefe de um Departamento, que era de lá, chamado Arthur.



_É o meu pai. _ disse Rony _ É o Chefe do Departamento de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas. E o seu pai, o que faz?



_Ele é Auror.



_Uau! Eu gostaria de ser Auror. Combater contra bruxos das Trevas e levá-los à justiça.



_E você, como se chama? _ perguntou Harry para a garota.



_Granger, Hermione Granger.



_Seja bem-vinda à nossa cabine, Hermione. _ disse Harry.



_Obrigada. Sinto-me bem melhor agora.



_Hermione, “A Guardiã dos Segredos”. _ disse Rony, lembrando-se do significado do nome da garota.



_E eu acabei não me apresentando. Toda hora em que eu ia fazê-lo, acontecia alguma coisa. Meu nome é... _ e mais uma vez não foi possível para Harry apresentar-se, pois naquele momento a porta da cabine abriu-se novamente e viu-se a cabeça loira de Draco Malfoy.



_Ei, Harry, finalmente eu te encontrei. Venha à nossa cabine, estamos fazendo uma pequena confraternização. Alguns puro-sangues estão reunidos e até o Prof. Snape já passou por lá para dar um alô. _ e, vendo quem estava em companhia de Harry, comentou _ Harry, tome cuidado com o que você faz e com quem você anda. Sua família é tão tradicional quanto a minha, mas algumas coisas, tais como certas companhias, podem te deixar malvisto na Bruxidade e afetar sua popularidade, lá em Hogwarts.



_Draco, sinto muito mas acho que vou ter de declinar do seu convite. Eles são convidados à minha cabine e deixá-los agora seria uma indelicadeza. Além disso, eu acho que existem outras formas piores de ser malvisto pela Bruxidade, como você deve saber. Embora minha família seja tão tradicional quanto a sua, como você disse, eu iria me sentir deslocado em sua confraternização.



_Por que, Harry? _ perguntou Draco.



_Você disse que os puro-sangue estão reunidos. Acho que você não sabe ou deve ter se esquecido de que eu sou mestiço, minha mãe nasceu trouxa. Então, eu seria “Persona non Grata” em sua festa. Não que isso signifique algo para mim, pois eu acho que você deve conhecer o “motto” do brasão de minha família, que é “Diferenças Não Importam”. Portanto eu acho que seria melhor que eu não fosse lá, até mesmo para não constranger você. Quanto à popularidade, isso não me importa pois, melhor do que ser popular na escola, é ter amigos nos quais seja possível confiar, mesmo que sejam poucos. Por último, eu tive uma impressão muito boa de você, durante aquela conversa que tivemos na Plataforma 9 ½ e não gostaria que ela piorasse. Será que você realmente acredita nas coisas que está dizendo ou isso é algo que sua família lhe impõe? Reflita sobre isso, está bem?



_OK, Harry, tudo bem. Entendo seus motivos. _ disse Draco, lembrando-se do que o seu pai lhe dissera _ E quanto à senhorita, Srta...



_... Granger. Hermione Granger.



_Quanto à senhorita, Srta. Granger, meu amigo Crabbe pegou pesado lá na cabine e eu o repreendi. Mas o que eu disse está valendo, seria mais seguro não se aproximar de pessoas mais radicais, que poderiam mesmo querer atingi-la com mais do que palavras. Até a próxima. _ e Draco retornou para sua cabine. Harry notou que ele, mesmo posando de superior, não conseguira tirar os olhos de Hermione.



Como o sol estivesse começando a ficar mais fraco, Harry guardou os óculos de sol e o boné, pegando seus óculos redondos. Foi então que os dois olharam para ele com mais atenção, vislumbrando a cicatriz em sua testa.



_Espere aí, ele te chamou de “Harry”! _ disse Rony _ Então você é...



_... Potter. Harry Potter. É um grande prazer conhecê-los.



_Eu li sobre você. _ disse Hermione _ Você e sua família escaparam de um atentado do Você-Sabe-Quem...



_... Voldemort. _ disse Harry, sem importar-se com os tremores dos seus dois novos amigos _ Vamos dar às pessoas seus verdadeiros nomes. Nunca me aconteceu nada por dizer o nome daquele assassino. E devo dizer que vocês fazem um casal muito bonito.



Hermione e Rony que, por distração, ainda estavam abraçados, separaram-se, vermelhos como duas cerejas.



_E você sobreviveu ao impacto direto de uma “Avada Kedavra”. Jamais isso havia acontecido com alguém. _ disse Rony _ Até então, a única maneira de escapar era tentar desviar-se, saltando para fora do raio de ação da maldição e rezar. E lhe restou esse sinal na testa, não é?



_Sim, fiquei com esta cicatriz. _ e Harry mostrou a marca em sua testa.



_E Draco Malfoy tratou você como se fossem amigos. _ disse o ruivo, admirado com o fato _ Você sabe quem é ele e sua família, não é?



_Sim, sei. Na verdade eu o conheci hoje, na estação. Draco está comportando-se como um riquinho esnobe e babaca, enquanto que seu pai jura inocência. Mas eu sei que Lucius Malfoy era o segundo em comando de Voldemort, embora jure aos quatro ventos que foi forçado a aderir às Trevas. Apesar disso, a primeira impressão que tive de Draco, quando conversamos lá na Plataforma 9 ½, não foi ruim e eu raramente me engano com o caráter das pessoas. Até posso estar enganado, mas eu acho que o cara não é realmente de todo mau e que fica posando de esnobe e seboso ou mesmo de trevoso para satisfazer ao pai.



_Espero que você esteja certo, Harry. Dizem que Draco e outros filhos de trevosos estudaram na Mansão Malfoy, em Wiltshire, com preceptores. Acredito que não tenha sido só Matemática e Língua Inglesa que eles estudaram, pois aquela mansão possui Feitiços de Ocultamento e Defesa de dar inveja a uma fortaleza. Seria fácil estudarem e praticarem Artes das Trevas sem que ninguém percebesse. _ disse Rony.



_É, imagino. _ disse Harry _ Mesmo assim, é duro imaginar que coloquem crianças de menos de dez anos para praticarem “Imperius”, “Cruciatus” e “Avada Kedavra”.



_Das Trevas pode-se esperar tudo, segundo o que eu já li, Harry. Um dos maiores Aurores, hoje aposentado, costumava sempre repetir seu lema, “Vigilância Constante”. _ disse Hermione.



_Alastor “Olho-Tonto” Moody. Ele é um velho amigo do meu pai e eu o conheço há algum tempo. _ disse Harry _ Foi ele quem pegou o assassino do irmão de Sirius, Regulus. O rapaz havia entrado para os Death Eaters e, ao ver as barbaridades que eles cometiam, pulou fora, horrorizado.



_Mas ninguém deserta de Você-Sabe-Quem...



_... Voldemort. _ disse Harry.



_OK, V-Voldemort. _ disse Rony _ Ninguém deserta de suas fileiras sem retaliação.



_Exato. E foi então que Voldemort mandou que Evan Rosier matasse Regulus. E Moody pegou Rosier, embora tenha deixado um pedaço do nariz na luta. E Moody pegou outros Death Eaters, inclusive os Lestrange e Bart Crouch, Jr., que haviam capturado e torturado os Longbottom, um casal de Aurores, pais do meu amigo...



A porta da cabine abriu-se, novamente e Harry exclamou, sorrindo:



_... Neville! Até que enfim! Por onde andou?



_Desculpe, Harry. Eu mal podia dar um passo sem que me cumprimentassem ou que perguntassem de você. Seamus, Ernie e Boot estão em uma cabine aqui perto. Também cruzei com o Malfoy, o cara parecia bem distraído.



_Falei umas verdades para ele. Amigos, este é Neville Westenra Longbottom, afilhado de meus pais. Nascemos com uma diferença de poucos dias e os pais dele eram colegas do meu, na Seção de Aurores do Ministério.



_Muito prazer, Neville. _ disse Rony.



_O prazer é meu. Ei, você é Rony Weasley, o irmão de Fred e Jorge, não é? Eles são mestres em logros e brincadeiras.



_Já me falaram algo sobre eles. _ comentou Hermione _ Dizem que são os sucessores de um grupo de outros tempos, chamado “Os Marotos”. Eu sou Hermione Granger. Muito prazer.



_O prazer é meu, Hermione. _ disse Neville.



_Meu pai era um dos Marotos. _ disse Harry _ Eles aprontavam bastante, principalmente contra sujeitos que bancavam os valentões. Sirius me contou que certa vez trocaram a presilha de cabelo de Lucius Malfoy por uma enfeitiçada, que começou a comê-los. Se ele não a retirasse logo, teria ficado careca. Madame Pomfrey teve de usar uma poção para restaurar o comprimento deles. Em outra vez, fizeram com que o Prof. Snape cantasse em um Karaokê trouxa, durante as férias, antes do sétimo ano.



_Essa ficou famosa, principalmente porque os Marotos saíram meio frustrados, pois o Prof. Snape não fez feio. Cantou muito bem e recebeu cumprimentos de Dumbledore. Mas ele não gosta muito de falar sobre isso, diz que compromete sua imagem de durão. _ disse Neville _ Mas Nereida me contou que ele não é mal-humorado em casa. Pelo contrário, é um excelente pai.



_Pelo que eu soube, Severo Snape já passou por muita coisa na vida. É natural que ele seja reservado. _ disse Harry.



_Realmente, já ouvi falar. _ disse Rony.



E os quatro ficaram conversando, enquanto o trem prosseguia em sua viagem.



 



Retornando para sua cabine, Draco Malfoy recriminava-se por suas falhas (“Maldição! Quase que eu pus tudo a perder, por duas vezes. A primeira por repreender Crabbe, o que poderia despertar as suspeitas de todos os outros e a segunda por ter corrido o risco de Harry me julgar uma pessoa com a qual não valeria a pena travar uma amizade. Meu pai me disse para tomar muito cuidado e não falhar e eu sei, na pele, o que significa falhar com Lucius Malfoy”, pensou o bruxinho, lembrando-se do que ocorrera).



 



Alguns dias antes do embarque, Lucius adentrou a Mansão Malfoy, recém-chegado da República Tcheca e foi atrás de Draco, encontrando-o em seu quarto, a visitar o site da Audi na Internet.



_Draco, pare um pouco com o que está fazendo. Preciso conversar com você. _ disse Lucius.



_Sim, meu pai. _ respondeu Draco _ Como foi a viagem a Praga?



_Muito boa, meu filho. Você estará indo para Hogwarts neste ano. Sei que obterá destaque e que, muito provavelmente, será selecionado para a Sonserina, a Casa onde todos os Malfoy da Inglaterra estudaram e que meu velho amigo e colega de escola Severo Snape dirige. Mas tenho uma tarefa importantíssima para você.



_E qual é ela?



_Já deve ter ouvido falar de Harry Potter, não é?



_Eu e o resto da Bruxidade. Ele sobreviveu, junto com sua família, a um atentado do Lorde das Trevas. Jamais algo assim havia acontecido.



_Pois é. Vocês têm a mesma idade, com cerca de um mês de diferença. Ele também está indo para Hogwarts, já me informaram.



_E o que isso tem de mais, meu pai?



_Você deverá aproximar-se dele, tentar ganhar sua confiança e sua amizade.



_Mas, por que, meu pai?



_Por enquanto isso é tudo o que você precisa saber. Deixe o resto comigo. Para você, bastará fazer o que estou lhe mandando.



_Mas, meu pai, se eu souber mais eu poderei desempenhar a tarefa de uma melhor maneira e com mais eficiência. _ disse Draco, querendo saber a razão pela qual o pai queria que ele se aproximasse de alguém de quem ele só havia ouvido falar. Mas seu pai não quis entrar em detalhes.



_Não me questione, menino, eu já lhe disse tudo o que você precisa saber. Nem mais, nem menos.



_Mas...



_Continua insistindo? Mas que insolência! Acho que eu não te ensinei o suficiente sobre obediência. Mas sempre é uma boa hora para relembrar as lições. “Crucio”!



Draco Malfoy caiu ao chão e, mais uma vez, sentiu na pele os efeitos da Maldição Cruciatus, lançada por seu pai. Alguns segundos (que pareceram séculos) depois, Lucius suspendeu a maldição. Draco ficou estendido no chão, suando frio e nauseado.



_E veja se não me questiona mais, filho. As conseqüências podem ser ainda piores. _ disse Lucius Malfoy, saindo do quarto de Draco.



Logo que Lucius saiu, uma pequena figura entrou no quarto e olhou, horrorizada, para o jovem à sua frente.



_Jovem mestre Draco! O que houve?



_Meu... meu pai fez d-de novo, Ziggy. Mais uma Cruciatus p-para o meu currículo.



_Ziggy vai ajudar o jovem mestre Draco a ir para a cama, descansar um pouco.



_Acho melhor tomar um banho antes, Ziggy. Estou suando por poros que eu nem desconfiava que tinha.



Com a ajuda de Ziggy, Draco cambaleou até o banheiro e despiu-se, entrando na banheira de hidromassagem. Os jatos de água iam, aos poucos, relaxando seu corpo e diminuindo a dor da Maldição Cruciatus. Logo mais ele já estava recuperado, trajando vestes de casa e indo procurar seu pai, para dizer que cumpriria a tarefa que lhe fora delegada, sem fazer mais perguntas. Lucius ficou satisfeito e cumprimentou seu filho pela lealdade.



 



De volta ao presente, no Expresso de Hogwarts...



 



Draco reprimiu um calafrio, ao recordar-se das dores que sentira (“Por que será que meu pai quer que eu me aproxime de Harry Potter? Sei que meu pai não é flor que se cheire, que não serve para santo, mas eu tive uma boa impressão de Harry, quando conversamos. Praga, por que é que meu pai tinha de ser justamente o segundo em comando do Lorde das Trevas? E o pior é que eu sei que ele não renunciou aos antigos hábitos. Isso significa que, por mais que eu tente, sempre vão me olhar como o ‘Herdeiro das Trevas’, já que V-V-Voldemort não deixou descendentes conhecidos. Aliás, nem sei se ele ainda tem humanidade suficiente para gerar filhos. E por causa disso, tenho de ficar bancando o ‘Bad Boy’. Mas que #$*%!! que é ter de manter essa imagem, principalmente para não parecer diferente dos outros amigos. E ainda tem a Pansy, com aquela história maluca que nossos pais inventaram, de que estaríamos prometidos em casamento, ao atingirmos a maioridade. Tá certo, eu gosto da Pansy, ela não é feia, tem uma personalidade bastante forte e, aparentemente, uma grande convicção para as Trevas, provavelmente herdada de sua família. Todos os amigos de meu pai acham que o Lorde irá voltar um dia e eu sei que as viagens dele para o exterior cumpriam uma dupla finalidade. Ao mesmo tempo que ele fazia negócios para as Empresas Malfoy, procurava por sinais e pistas dele pelo mundo. Ele deve estar com mais de setenta anos a essa altura e os remanescentes dos Death Eaters esperam por ele como se fosse o novo Messias. Quanta besteira! Mas teve uma coisa agora que não está me deixando em paz: os olhos da Granger e aquele lábio trêmulo. Tá certo, eu já fiz muita gente chorar, inclusive e principalmente garotas, com essa postura de ‘Riquinho-Esnobe-e-Cínico’, mas nunca vi alguém reagir daquela forma a um comentário pejorativo e eu não sabia se ela iria abrir um berreiro ou pular no pescoço do Crabbe e estrangulá-lo. Só sei que tive de me segurar para não abraçá-la e dizer que tudo estava bem. Como posso me sentir assim em relação a alguém que vi hoje pela primeira vez na vida e que, além de tudo, tem origem trouxa? Merlin, que confusão! É melhor não ficar pensando muito nisso para não dar na vista. Fico preocupado com o que meu pai e outros ‘associados’ dele podem estar planejando quanto a Harry. Bem, só me resta ver no que vai dar”).



E, depois desses pensamentos, Draco Black Malfoy entrou na cabine onde outros filhos de trevosos confraternizavam, tentando disfarçar sua preocupação. Porém, Pansy Parkinson, uma garota bonita e de olhar esperto, com cabelos cortados meio curtos, em estilo “Chanel”, percebeu que ele não estava muito bem e tratou de abraçá-lo, chamando-o para sentar-se ao seu lado. Com um jeito todo especial ela começou a acariciar a nuca do loiro, deixando-o um pouco mais relaxado e disposto a pensar nos problemas quando eles se apresentassem.



Na cabine de Harry, os quatro novos amigos continuavam sua conversa.



_E você, Harry, tem a capacidade de vestir-se como trouxa de uma maneira admirável. _ disse Rony, olhando para as roupas de Harry, todas de marcas esportivas conhecidas _ A grande maioria dos bruxos não sabe combinar as peças e o resultado é algo tragicômico.



_O fato de minha mãe ter nascido trouxa ajuda bastante, Rony. Mas você também sabe combinar bem as peças.



_É que meu pai adora a cultura trouxa. Mas nunca consegui entender o gosto e, às vezes, o fanatismo que os trouxas têm por determinadas marcas, as tais “Grifes”.



_Acho que eu posso explicar, Rony. _ disse Hermione _ Algumas marcas, principalmente de roupas, acabam por destacar-se por qualidade, durabilidade ou por estarem ligadas a algum nome tradicional.



_Tipo “Hermès”, “Prada”, “Louis Vuitton” ou “Möet & Chandon”?



_Exato, Rony. _ disse Hermione _ Mas você conhece bem essas marcas, hein?



_Meu pai sempre leva revistas trouxas para casa. Por isso eu sei que a jaqueta do Harry é Puma e os óculos são Oakley.



_Não me importo muito com as marcas pelas marcas. Eu as uso porque gosto do quanto essas roupas têm qualidade, são duráveis, confortáveis e bonitas e não pelo quanto as pessoas babam por elas, incensando-as e considerando-as como símbolos de Status. _ disse Harry _ Tanto que eu as compro nas promoções de final de estação. Encontro o que eu quero e mais barato do que se eu comprar no auge da estação. Roupa masculina tem essa vantagem, atravessa várias temporadas não parecendo ser de coleção anterior. Acontece que sempre há aqueles fanáticos por grifes que preferem adquirir mais caro do que esperar o momento certo. Bem, cada um é cada um. Aliás, vejo que você também está usando uma calça Levi’s, uma 501. Elas surgiram na época da Corrida do Ouro dos EUA, quando Levi Strauss resolveu fazer roupas para os mineradores, utilizando os tecidos azuis que cobriam os fardos de suprimentos. Eram roupas resistentes, não eram desconfortáveis e deram origem a todos os jeans que existem hoje.



_Herdei do Percy. Incrível como ela fica mais bonita à medida que envelhece. Minha mãe só colocou um Feitiço de Durabilidade. Mas grande parte de nossas roupas é mais antiga e as de inverno são tricotadas à mão, principalmente os suéteres.



_Acho lindos os suéteres de lã tricotados à mão. _ disse Hermione. Rony ficou como um pimentão e seus olhos verdes brilharam.



Neville lembrou-se de um assunto importante.



_Gente, ainda andam à procura do Você-Sabe-Quem, mesmo achando que ele morreu.



_Neville, diga “Voldemort”. Seus pais nunca tiveram medo de dizer o nome dele, pelo que me disseram.



_Éramos muito pequenos, Harry. Lembro-me apenas do que minha avó disse, que eles foram capturados e torturados por Death Eaters.



_Foi algum tempo depois do atentado do qual escapamos. Quatro Death Eaters capturaram os dois e submeteram-nos à tortura com Maldição Cruciatus até que houveram danos cerebrais bastante sérios.



_Exatamente. _ disse Neville, com uma expressão sombria no olhar, ao lembrar-se da última visita aos pais, no St. Mungus _ Os Medi-Bruxos ainda têm algumas esperanças, mas não sei, não. Na verdade eu gostaria de já ser especializado em Farmacologia Bruxa, para poder colaborar nas pesquisas para uma poção que pudesse curá-los. Bem, antes disso preciso me formar, não é?



_E quem fez isso com eles, Neville? _ perguntou Hermione, horrorizada.



_Os dois gêmeos Lestrange, Rudolph e Rabastan. Além deles, ainda participaram o filho de Bart Crouch...



_... O Chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia? Eu já o vi certa vez, no Ministério. _ comentou Rony _ Por isso ele é tão calado e tem aquele ar meio triste.



_Também pudera. Ele estava cotado para ser o Ministro, quando houve o escândalo. O rapaz morreu em Azkaban, pouco tempo depois da mãe. E, por último, Bellatrix, a esposa de Rudolph.



_Espere aí, Neville! _ disse Harry _ Ela não é...



_... Prima de Sirius, seu padrinho. Ela é irmã de Andrômeda e de Narcisa, a mãe de Draco Malfoy. Os três sobreviventes estão embolorando em Azkaban.



_Caracas! Como tudo se entrelaça! _ exclamou Rony _ Agora que vocês falaram na família Black, lembro-me de que meu avô era casado com uma Black. “Cedrella” era o seu nome.



_Era parente de Sirius, sim. Lembro-me dele haver dito que ela teve seu nome retirado da árvore genealógica por ter casado-se com um bruxo considerado traidor do sangue.



_Era Septimus Ronald Weasley, meu avô. Realmente, as famílias bruxas são quase todas entrelaçadas.



_Mudando de assunto, como vocês acham que será o ano em Hogwarts? Já ouvi falar de alguns dos professores. _ disse Hermione.



_Bom, tem a Profª McGonnagall, de Transfiguração. Ela também é a Vice-Diretora da escola e Diretora da Grifinória. _ disse Rony _ Durona e exigente ao extremo, mas justa. Também há o Prof. Filius Flitwick, de Feitiços. Não se iludam pelo tamanho dele. É pequeno mas muito poderoso. É o Diretor da Corvinal.



_A Diretora da Lufa-Lufa é a professora de Herbologia, Pomona Sprout. Estou para ver quem conheça mais plantas do que ela. _ comentou Neville.



_E há o Prof. Snape, Diretor da Sonserina. Leciona Poções, tem um grande conhecimento de Química e Farmacologia bruxa e trouxa e gosta de proteger os alunos da sua Casa. É muito inteligente e reservado, sendo que muitos consideram-no até antipático. Dizem que Dumbledore confia muito nele, embora possua um passado meio questionável, pelo que dizem.



_Esses são os Diretores das Casas. Mas há outros grandes professores em Hogwarts, pelo que eu li no “Guia de Educação Bruxa da Grã-Bretanha”. Há a professora de Vôo...



_... Madame Hooch. _ disse Harry _ Foi Capitã e Artilheira das “Harpias de Holyhead”, durante vários anos, antes de começar a lecionar. E a atual Capitã do time é Gwenog Jones, que foi uma de suas alunas mais destacadas. Também há a professora de Astronomia, Aurora Sinistra.



_Aliás, dizem que a Torre de Astronomia tem muitas histórias para contar. A maioria delas imprópria para menores. _ comentou Neville _ E existe o professor de História da Magia, Binns.



_Pois é. É a única matéria lecionada por um fantasma. E dizem que ele tem um conhecimento excepcional.



O carrinho de lanches passou pela cabine e os quatro adquiriram salgados, doces e suco de abóbora, tudo delicioso. Já havia escurecido e o Expresso de Hogwarts estava prestes a chegar ao povoado bruxo de Hogsmeade, perto do qual localizava-se o imponente castelo da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.



Os freios rangeram e o trem parou na plataforma. Os alunos desembarcaram, já trajando as vestes escolares: camisas brancas, coletes ou suéteres e calças em cinza-escuro, com a opção da saia plissada para as garotas. Meias e sapatos pretos, assim como eram pretas as gravatas verticais, que tinham o brasão de Hogwarts: Um escudo dividido em quatro partes, com um “H” sobreposto às figuras-símbolo de cada Casa. O leão da Grifinória, a Águia da Corvinal, o texugo da Lufa-Lufa e a serpente da Sonserina. Após a Seleção, receberiam gravatas, toucas e cachecóis com as cores das Casas. Sobre esse uniforme, ia uma capa preta, com capuz e detalhes de punhos e barra nas cores principais das respectivas Casas: vermelho para a Grifinória, azul para a Corvinal, verde para a Sonserina e amarelo para a Lufa-Lufa.



_Não se preocupem com a bagagem, meus jovens. _ disse o chefe da estação para os alunos do primeiro ano _ Elas serão transportadas para o castelo. Vocês irão de barco.



_Alunos do primeiro ano! Venham comigo, alunos do primeiro ano! Por aqui! _ ouviu-se uma voz potente e os alunos voltaram-se para a direção de onde ela vinha.



_Hagrid! _ exclamou Harry _ Há quanto tempo que você não aparece lá no Beco Diagonal!



_Meio ocupado com uns animais que estou separando para as aulas de Trato das Criaturas Mágicas do Prof. Kettleburn deste ano, Harry. Como vão Tiago e Lílian?



_Mandaram um grande abraço e meu pai disse para não aceitar se você me convidar para ir ver as acromântulas.



_Aranhas?! _ Rony fez uma cara de quem não estava gostando nada daquilo que ouvia _ Vocês têm acromântulas por aqui?



_Calma, garoto. Elas ficam na Floresta Proibida, bem longe de Hogwarts. _ disse Hagrid, rindo _ No castelo só temos as pequenas. Ei, você é Rony Weasley, o irmão caçula de Carlinhos, não é? Ele foi um excelente aluno do Prof. Kettleburn e, por gostar de Dragões, sempre vinha conversar comigo, já que eu tenho algum conhecimento na área. Bem, vamos indo, gente. A travessia do Lago Negro terá início.



 



Os alunos do primeiro ano acompanharam Hagrid para fora da estação até o ancoradouro, onde uma flotilha de pequenos barcos aguardava por eles. Cada barco tinha capacidade para quatro pessoas e não possuía piloto. Harry, Rony, Hermione e Neville embarcaram em um deles, o segundo e ficaram aguardando. Assim que Hagrid embarcou no primeiro deles, ocupando sozinho todo o espaço do barco, todos começaram a mover-se, mantendo magicamente sua formação. Logo estavam a meio caminho e, na superfície escura do lago, divisaram movimentos.



_O que é aquilo, Hagrid? _ perguntou Hermione.



_Deve ser a lula gigante que vive no lago. Se não for ela, devem ser os Sereianos, curiosos com os novos alunos. Não podem ser Grindylows, pois eles só atacam abaixo de uma certa profundidade. É bem seguro. _ disse o Guarda-Caça.



À medida que avançavam, já era possível divisar, recortada contra o céu noturno, a imponente silhueta de um majestoso castelo, cujas janelas brilhavam como jóias ao deixarem passar a luz do interior. Finalmente chegaram a um túnel meio oculto pela vegetação, que ia dar em um bem protegido ancoradouro. Os barcos pararam e Hagrid passou para o cais de pedra.



_Desembarquem e sigam-me, alunos. Sejam bem-vindos.



Todos desembarcaram e seguiram Hagrid por uma escadaria iluminada por tochas e que ia dar em um saguão, no qual viam-se duas estátuas de javalis alados guarnecendo a escadaria e mais quatro estátuas, cada uma representando um dos Quatro Grandes, os Fundadores da escola: Helga Hufflepuff, Rowena Ravenclaw, Salazar Slytherin e Godric Gryffindor.



_Podem aguardar aqui. Logo em seguida alguém virá para conduzi-los. Boa sorte e que sejam felizes em suas Casas. _ disse Hagrid, pedindo licença e retirando-se.



_Harry! Procuramos por você em todo o trem, cara! Aí encontramos uma cabine e tratamos de ocupá-la. _ disse Seamus Finnigan, um garoto irlandês de cabelos loiro-escuros, que vinha acompanhado de outro de cabelos negros, chamado Theophilus Boot.



_Eu achei logo a cabine que meu pai reservou e fiquei esperando por vocês. Foi Neville quem me disse que vocês estavam em outra. De qualquer forma foi muito bom, pois fiquei conhecendo duas pessoas muito especiais. Seamus, Theo, quero apresentar a vocês Hermione Granger e Rony Weasley.



_Muito prazer. _ disseram Rony e Hermione.



_O prazer é nosso. _ responderam os dois bruxinhos.



Naquele momento, ouviu-se uma voz firme e todos voltaram-se para o alto da escadaria. Lá estava uma bruxa já de certa idade, vestida de preto, mas com uma faixa de Tartan atravessando diagonalmente seu tronco por debaixo do casaco, da direita para a esquerda. Usava óculos de armação retangular e tinha um ar severo e um olhar que parecia de aço. Mesmo assim era possível sentir a bondade emanando de sua figura.



_Jovens, queiram me acompanhar. Meu nome é Minerva McGonnagall. Sejam todos muito bem-vindos à Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.


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