A Casa dos Riddle



 


Os habitantes de Little Hangleton continuavam a chamá-la de "Casa dos Riddle",


Harry trocou olhares com Ron e Hermione. Nada relacionado aos Riddle podia ser uma coisa boa.


ainda que já fizesse muitos anos desde que a família Riddle morara ali.


- Muitos anos mesmo - murmurou Harry.


- Não me diga que esse Riddle é o mesmo Riddle de Voldemort - murmurou Regulus, lembrando-se do segundo livro.


Harry somente assentiu.


Lily praguejou.


A casa ficava em um morro com vista para o povoado, algumas janelas pregadas, telhas faltando e a hera se espalhando livremente pela fachada.


Frank franziu a sobrancelha. Não parecia nem um pouco com uma casa no qual o nobre Lord Voldemort morraria.


Outrora uma bela casa senhorial, e, sem favor algum, a construção maior e mais imponente de toda a redondeza,


- Aposto que nenhum Malfoy vive perto, então - disse Sirius.


a Casa dos Riddle agora estava úmida, em ruínas, e desocupada.


- Assim como ele - murmurou Harry.


As pessoas do local concordavam que a velha casa dava arrepios.


- Se até mesmo os trouxas percebem que tem algo de errado... - James não concluiu a frase.


Meio século antes uma coisa estranha e terrível acontecera ali, uma coisa que os antigos habitantes do povoado ainda gostavam de discutir quando faltava assunto para fofocas.


- Deve ser um povoado realmente pequeno para precisar fofocar sobre algo que aconteceu meio século antes - disse Ginny.


- E pacato - acrescentou Hermione.


A história fora requentada tantas vezes e enfeitada em tantos pontos, que ninguém mais sabia onde estava a verdade.


- Então tem algo parecido com Hogwarts - disse Neville.


Todas as versões, porém, começavam no mesmo ponto:


- Então tem uma base verdadeira - murmurou Alice.


cinquenta anos antes, ao amanhecer de uma bela manhã de verão, quando a casa dos Riddle ainda era bem cuidada e imponente, uma empregada


- Talvez seja tão imponente porque ainda tinha uma empregada - sugeriu Lene.


entrou na sala de estar e encontrou os três Riddle mortos.


- Isso que eu acho de experiência traumática de trabalho.


A empregada saiu correndo morro abaixo, aos berros, até o povoado, e acordou o maior numero possível de pessoas.


- Nenhuma delas será capaz de ajudá-los agora - disse Frank.


— Caídos na sala com os olhos abertos! Gelados! Ainda com a roupa do jantar!


- Um ataque rápido e surpresa então - disse Ron.


A polícia foi chamada


- Não que eles saibam o que fazer - disse Josh.


e Little Hangleton inteiro fervilhou de espanto, curiosidade e mal disfarçada excitação.


Regulus revirou os olhos. Depois não entendiam porque ele não era muito sociável. Pessoas como aquelas eram desprezíveis.


Ninguém gastou fôlego em fingir tristeza com o que acontecera aos Riddle,


- Eles devem ser horríveis mesmo então - disse Alice.


- Claro, era a família de Voldemort - falou Ron.


porque eles eram muito impopulares.


- Ricos e impopulares. Não sei por que me lembrei dos Malfoys - disse Sirius.


- Tem certeza que não lembrou de si mesmo? - debochou Snape.


Os velhos Sr. e Sra. Riddle tinham sido ricos, esnobes e grosseiros,


- Odeio gente assim - disse Lene.


- Então você odeia o seu próprio namorado - falou Snape.


- Sirius não é nada disso - ela defendeu, embora ele fosse rico e um pouco esnobe e grosseiro.


e seu filho adulto, Tom, era tudo isso em grau maior.


- Igual a Lucius Malfoy - disse James. Ele conhecera Abraxas pessoalmente e, embora ele fosse ruim, não era pior que o filho.


A preocupação de todos que moravam em Little Hangleton era a identidade do assassino


- É algo para se preocupar - comentou Dorcas.


– pois não havia dúvida de que três pessoas aparentemente saudáveis não poderiam ter morrido, na mesma noite, de causas naturais.


- Principalmente três pessoas que viviam juntas, da mesma família - disse Ron.


O Enforcado, o bar local, faturou sem parar aquela noite;


- Somente uma prova que sempre há algo bom - disse Lissy, bem humorada.


os habitantes do povoado apareceram em peso para discutir a matança.


- Esse povo que gosta de discutir desgraça - comentou Alice.


- Acho que é uma forma de lidar melhor com o que aconteceu também - disse Dorcas.


Foram recompensados por terem deixado o conforto de sua lareira,


- De onde não deviam nem ter saído - falou Fred.


quando a cozinheira dos Riddle apareceu teatralmente


- Aposto que ela está gostando muito disso - comentou Harry.


e anunciou para o bar, repentinamente silencioso,


- Nada como a chegada de alguém que pode saber das coisas para calar as fofocas - disse Lene.


que um homem chamado Frank Bryce acabara de ser preso.


- Sempre soube que tinha sido Frank - comentou Neville, perturbando com o pai.


- Isso está errado. Não pode ter sido um trouxa... - comentou Regulus, estranhando a história toda. Como Frank se ligava a Voldemort?


— Frank! — exclamaram várias pessoas. — Nunca!


- Esse Frank deve ser bem popular - falou Ron.


Frank Bryce era o jardineiro dos Riddle.


- Coitado - murmurou Lily.


Morava sozinho em uma casa malcuidada na propriedade dos patrões.


- Melhor que nada - disse Harry.


Voltara da guerra com uma perna dura e uma intensa aversão por ajuntamentos e barulhos, e, desde então, trabalhava para os Riddle.


- Acho que essa família não faz muito barulho, pelo menos - falou Harry pensativo.


Houve um corre-corre geral para pagar bebidas para a cozinheira e ouvir maiores detalhes.


- Esse povo é muito fofoqueiro - disse Lene.


— Sempre achei que ele era esquisito


- Mais do que Harry Potter? - brincou Ginny. O namorado fez uma cara de cachorrinho sem dono. Ela não resistiu e o beijou.


— disse a mulher aos ouvintes ansiosos, depois do quarto xerez.


- Essa nem gosta de vender informações - murmurou Neville.


— Assim, antipático.


- Ser antipático não faz de ninguém um assassino - disse Snape.


- Claro que você diria isso - falou Sirius.


Tenho certeza de que não ofereci a ele só uma xícara de chá, ofereci bem umas cem.


- E mesmo assim não se tocou que ele não queria conversar com você? - disse Ron.


Nunca quis se misturar, nunca mesmo.


- Talvez ele só não goste de você - sugeriu Lene.


— Ah — disse uma mulher sentada ao balcão — mas ele passou muito sofrimento na guerra,


- Todos passam - murmurou Ron, sombriamente.


e gosta de uma vida tranquila. Isso não é razão...


- Exatamente - disse Dorcas.


— Quem mais tinha a chave da porta dos fundos, então?


- Alguém pode ter feito uma cópia ou usado um feitiço - sugeriu Hermione.


— vociferou a cozinheira. — Desde que me entendo por gente, sempre teve uma chave de reserva pendurada na casa do jardineiro!


- Se até você sabe disso, qualquer um pode saber também - disse Lily.


Ninguém forçou a porta ontem à noite! Não tem janelas quebradas!


- Porque realmente precisa quebrar janelas para invadir um lugar - disse George rindo histericamente com Fred. Aquela trouxa era tão idiota.


Frank só precisou entrar escondido na casa grande enquanto a gente dormia...


- Certo, ele fez isso. Mas por quê? - resmungou Lene, impaciente.


As pessoas trocaram olhares tenebrosos.


- Pronto, a decisão deles já foi formada - resmungou Harry que tinha sofrido com coisas assim o bastante para reconhecer.


— Eu sempre achei que ele tinha um jeito ruim, e não me enganei — resmungou um homem junto ao balcão.


- Certo, mas ele tem algo motivo para fazer isso? - questionou Frank impaciente.


— Foi a guerra que deixou ele esquisito, se querem saber a minha opinião — disse o dono do bar.


- Não queremos.


— Eu disse que não queria desagradar a Frank, não disse, Dot? — falou uma mulher agitada a um canto.


- Ela provavelmente tinha medo dele. Mas basta ele ser preso que ela acha a coragem para falar.


— Gênio terrível — concordou Dot acenando a cabeça com vigor. — Me lembro quando ele era criança...


- Então você o conhece desde criança, mas já está falando mal dele? - disse Alice.


Na manhã seguinte, quase ninguém em Little Hangleton duvidava que Frank Bryce tivesse matado os Riddle.


- Nada como uma ida no bar para convencer a todos que uma pessoa é um assassino.


Mas na cidadezinha vizinha de Great Hangleton, na delegacia de polícia escura e feia, Frank teimava em repetir sem parar que era inocente


- Ele provavelmente é - disse Alice.


e que a única pessoa que ele vira perto da casa, no dia da morte dos Riddle, fora um adolescente estranho, de cabelos negros e rosto pálido.


Riddle fora muito descuidado, pensou Harry, qualquer bruxo poderia ligar a morte a ele.


Ninguém mais no povoado vira o tal garoto


- Porque ele aparatou - murmurou Frank.


e a polícia não teve dúvidas de que Frank o inventara.


- Seria bem conveniente - disse Regulus.


Então, quando as coisas estavam ficando muito feias para Frank,


- Então isso quer dizer que as coisas não estavam feias o suficiente?


chegou o laudo sobre os cadáveres dos Riddle e tudo mudou.


- O que será que a polícia trouxa concluí sobre a morte causada por um feitiço?


A polícia nunca vira um laudo mais esquisito.


Lily suspirou. Devia ter alguém para lidar com esses casos, pois assim era muito fácil que os trouxas descobrissem sobre eles.


Uma equipe de legistas examinara os corpos e concluíra que nenhum dos Riddle fora baleado, envenenado, esfaqueado, estrangulado, sufocado ou, pelo que sabiam, sofrera qualquer violência.


- Nisso eles estão errados - murmurou Alice baixinho.


Com efeito, continuava o laudo, em tom de inconfundível perplexidade, os Riddle, tirando o fato de que estavam mortos, pareciam gozar de perfeita saúde.


- Eles são mais saudáveis que Sirius então - provocou Lene.


- Eu sou uma pessoa muito saudável - ele rebateu.


- Eu não diria isso. Sua alimentação é péssima.


- Mas eu compenso tudo no quadribol - argumentou.


Os legistas observaram (como se estivessem decididos a encontrar alguma coisa errada nos cadáveres)


- Eu estaria, se estivesse no lugar deles - comentou Dorcas.


- Eu também - falou Remus.


que cada membro da família tinha uma expressão de terror no rosto — mas, segundo afirmava a frustrada polícia, quem já ouvira falar de alguém morrer de pavor?


- Seria uma primeira vez - comentou Harry.


Lily olhou desconfiada para ele.


E como não havia a menor prova de que os Riddle tivessem sido assassinados, a polícia foi obrigada a soltar Frank.


- Pelo menos uma coisa boa - disse Ginny.


Os mortos foram enterrados no cemitério da igreja de Little Hangleton e, por algum tempo, suas sepulturas se tornaram alvo da curiosidade geral.


James fez uma cara de desprezo. Realmente esperava que o mesmo não tivesse acontecido com ele e Lily.


Para surpresa de todos, e acompanhado por uma nuvem de desconfiança,


- Nuvem de desconfiança - repetiu Fred, incrédulo. Era cada coisa que ouvia.


Frank Bryce voltou para sua casinha na propriedade dos Riddle.


- Mas se ele não voltasse, iriam desconfiar dele do mesmo jeito - comentou Alex.


- Para onde acharam que ele iria? - concordou Dorcas.


— Para mim, foi ele quem matou a família e não me interessa o que a polícia disse — comentou Dot no Enforcado.


- Sempre tem alguém assim - comentou Harry.


— E se ele tivesse um pingo de decência, iria embora daqui, sabendo que a gente sabe que foi ele.


- Então ele tem que fugir por causa de um crime que vocês acham que ele comentou? - perguntou Dorcas, incrédula.


Mas Frank não foi embora.


- Muito bem - disse Lene.


Ficou para cuidar do jardim para a família que veio morar logo depois na Casa dos Riddle,


- Os novos donos devem ser bem corajosos de contratá-lo depois do que acreditam que ele fez - comentou Lily.


- Ou burros - completou Snape.


Ela acenou com a cabeça, concordando.


e para a próxima – porque nenhuma das duas se demorou muito. Em parte, talvez tenha sido por causa de Frank que cada proprietário dizia que o lugar dava uma sensação desagradável e, por falta de moradores, acabou se desmantelando.


- Só falta me dizer que surgiram histórias de fantasmas por causa disso - falou Ron.


O ricaço que era o atual dono da Casa dos Riddle nem morava lá nem dava um destino a casa,


- Não entendo porque as pessoas fazem isso - disse Lily, frustada. Não via o ponto de ter uma casa em que não fosse morar.


James sorriu culpado. A família Potter possuía várias casas espalhadas pela Europa.


diziam no povoado que ele a mantinha por "causa dos impostos",


- Entendo - comentou Regulus.


embora ninguém entendesse muito bem o que significava isso.


Snape revirou os olhos. Que povo burro.


E o ricaço continuou a pagar a Frank para cuidar da jardinagem. Ele agora se aproximava do seu septuagésimo sétimo aniversário, muito surdo, a perna mais dura que nunca, mas era visto trabalhando pelos jardins quando fazia bom tempo, embora o mato já começasse a levar a melhor.


- Ele parece ser um bom trabalhador - comentou Lily, com pena.


O mato não era, no entanto, o único problema que Frank precisava enfrentar.


- Seria fácil demais se fosse isso - comentou Harry.


Os garotos do povoado tinham criado o hábito de atirar pedras nas janelas da Casa dos Riddle.


- Que coisa desagradável - comentou Lily.


Harry fez uma careta. Por um momento estranho, Lily lembrou muito a tia Petúnia.


Passavam de bicicleta por cima da grama que Frank se empenhava tanto para manter aveludada. Umas duas vezes eles haviam arrombado a velha casa para ganhar apostas.


- Eles não tem mais o quê fazer da vida? - perguntou Frank.


- Acho que não - comentou Remus.


Sabiam que o velho Frank era dedicado à propriedade e achavam graça vê-lo mancando pelo jardim, brandindo a bengala e ralhando, a voz roufenha, com os invasores.


- Pessoas doentes - comentou Ginny.


Frank, por sua vez, acreditava que os garotos o atormentavam porque, tal qual seus pais e avós, achavam que ele era um assassino.


- Se eu acreditasse que alguém era um assassino, eu iria fazer tudo para evitar a pessoa - disse Ron.


- A menos que seja Voldemort - acrescentou Hermione.


Por isso, quando acordou certa noite de agosto e viu uma coisa muito estranha na casa, ele simplesmente supôs que os garotos estivessem indo um pouco mais longe em suas tentativas de castigá-lo.


- Por que sinto que nada bom virá? - perguntou Lene.


Foi a perna dura que o acordou; doía mais do que nunca agora na velhice.


- A idade costuma piorar as coisas - disse Sirius.


Frank se levantou e desceu as escadas até a cozinha pensando em tornar a encher a bolsa de água quente para aliviar a rigidez do joelho. Parado a pia, enchendo a chaleira, ele olhou para a Casa dos Riddle e viu uma luz brilhando nas janelas do primeiro andar.


- Por favor, me diga que você não irá investigar isso - choramingou Alice.


- Você não iria?


Alice se recusou a responder.


FrankFrank percebeu na mesma hora o que estava acontecendo.


Frank levantou uma sobrancelha. Ele duvidava disso por várias razões.


Os garotos tinham invadido novamente a casa e, a julgar pelo bruxuleio da luz, haviam acendido a lareira.


- Seria muito bom se fosse isso - resmungou Harry.


Frank não possuía telefone


- Tá vendo, Ron? Telefone - implicou Fred. Ron revirou os olhos.


e, de qualquer modo, desconfiava demais da polícia,


- Acontece entre os melhores - disse Lene, dando de ombros.


desde que esta o levara para interrogatório depois das mortes dos Riddle.


- Justificável - disse Ron.


Na mesma hora, ele pousou a chaleira, correu para cima o mais rápido que a perna dura lhe permitiu, e logo voltou à cozinha, completamente vestido, e apanhou uma velha chave enferrujada no gancho junto à porta. Depois, pegou a bengala, que deixara apoiada na parede, e saiu pela noite.


Harry franziu a testa, mesmo antes de saber que ele era bruxo ele jamais irá atrás de quem tivesse invadido a casa dele tão desprotegido assim. Mesmo que achasse que tinha sido apenas as crianças da rua.


A porta de entrada da Casa dos Riddle não tinha sinais de arrombamento, e o mesmo acontecia com as janelas.


- Claro que não - disse Snape friamente.


Andando com dificuldade, Frank contornou a casa em direção aos fundos até chegar a uma porta semi-escondida pela hera, apanhou a velha chave, enfiou-a na porta e abriu-a silenciosamente.


- Por que eu tenho a sensação que eu vou desejar que ele nunca tivesse feito isso? - perguntou Dorcas.


Entrou em uma cozinha cavernosa. Havia muitos anos não entrava ali; ainda assim, mesmo no escuro, ele se lembrou de onde era a porta para o corredor


- Ele foi pouco para ai - ironizou Lene.


e tateou até encontrá-la, as narinas invadidas pelo cheiro de podridão, os ouvidos atentos a qualquer som de passos ou vozes no primeiro andar.


- Então ele não é tão tolo quanto parece - falou Frank.


Chegou ao corredor, que estava um pouquinho mais claro, graças às grandes janelas de caixilhos que havia de cada lado da porta de entrada, e começou a subir as escadas, abençoando a poeira


- Tenho que dizer que é a primeira vez na minha vida que eu ouço alguém abençoar a poeira - comentou Neville.


grossa que cobria a pedra, porque abafava o som dos seus passos e de sua bengala.


- Então deve ser uma quantidade de poeira enorme - comentou Lily, fazendo uma careta depois.


No patamar, Frank virou à direita e viu imediatamente onde se encontravam os intrusos: no finzinho do corredor havia uma porta entreaberta de onde saía uma luz vacilante,


- A luz está com medo de interagir?


- Cala a boca, Sirius.


que projetava uma longa nesga dourada no chão escuro. Frank foi se aproximando mais, segurando a bengala com firmeza.


- Não tenho certeza de que isso seria uma arma eficiente - comentou Ginny.


A alguns passos da entrada, conseguiu entrever uma faixa estreita do quarto adiante.


- Tá parecendo um filme de terror - Neville comentou desconfiado.


O fogo estava aceso na lareira. Isto o espantou.


- Sério? Que de tudo o que está acontecendo é isso que o assusta? - questionou Alice.


- Eu acho que foi ai que ele percebeu que talvez não fosse as crianças.


Parou e escutou com atenção, porque uma voz masculina falava dentro do quarto; parecia tímida e temerosa.


- Acho que não é uma criança - disse Fred irônico.


— Sobrou um pouco na garrafa, milorde, se ainda tiver fome.


- Não seria sede? - comentou Dorcas.


— Mais tarde — respondeu uma segunda voz. Esta também pertencia a um homem, mas era estranhamente aguda e fria como uma rajada repentina de vento gélido.


Todos se viraram imediatamente para Harry. Isso tinha praticamente confirmado que era Voldemort ali.


O Potter preferiu ficar calado do que dar alguma explicação.


Alguma coisa naquela voz fez os poucos cabelos na nuca de Frank ficarem em pé.


- Instinto - murmurou Alex, sombriamente.


— Me leve mais para perto do fogo, Rabicho.


- Aquele filho da... - James xingou Peter, sendo acompanhado por Remus e Sirius. Lily não o repreendeu.


Lene olhou com tristeza para o livro. Não queria acreditar que Peter conseguira cair ainda mais baixo.


Frank virou a orelha direita para a porta, para ouvir melhor. Ouviu o tinido de uma garrafa que alguém pousava sobre uma superfície dura, depois o ruído prolongado e seco de uma cadeira pesada arrastando pelo chão.


- Voldemort não consegue andar? - questionou Neville, confuso.


- Nessa época, ele estava bem fraco - murmurou Harry de volta.


Regulus não queria nem pensar como o garoto sabia disso.


O jardineiro viu de relance um homenzinho, de costas para a porta, empurrando a cadeira conforme lhe pediram. Usava uma longa capa preta, e tinha uma grande parte sem cabelo atrás da cabeça.


Sirius deu um sorriso cruel. Era de alguma forma boa saber que, em pelo menos uma coisa, Peter fora punido pelo que fizera.


Depois, ele desapareceu de vista.


- Você trazer comida para o mestre - zombou James.


Snape conteve o impulso de revirar os olhos com a infantilidade dele.


— Aonde foi Nagini? — perguntou a voz fria.


— N... Não sei, milorde — disse a primeira voz, nervosamente.


- E quando Peter não está nervoso? - debochou Sirius.


— Saiu para explorar a casa, acho...


- Uma pena que ela não esteja por perto. Talvez assim finalmente você tivesse o que merecesse - murmurou Harry, com ódio.


- Harry! - Lily o repreendeu, mas ele não pediu desculpas.


— Você vai ordenhá-la antes de nos recolhermos, Rabicho — disse a segunda voz. — Vou precisar me alimentar durante a noite. A viagem me cansou enormemente.


- Parece um velho - disse Ginny.


- Tecnicamente ele é velho.


A testa enrugada, Frank inclinou o ouvido para mais perto da porta, e escutou.


Sirius e Regulus trocaram olhares, pensando no que iria acontecer com esse homem. Certamente, Voldemort notaria que ele estava ali.


Houve uma pausa e, em seguida, o homem chamado Rabicho tornou a falar.


— Milorde, posso perguntar quanto tempo vamos ficar aqui?


- Não.


— Uma semana — disse a voz fria. — Talvez mais. O lugar é razoavelmente confortável, e ainda não podemos dar seguimento ao plano. Seria tolice agir antes do fim da Copa Mundial de Quadribol.


- Não me diga que você vai fazer alguma coisa na copa - disse James, irritado.


Os Weasleys, Harry e Hermione trocaram olhares. Ao ver isso, Dorcas resmungou. Era resposta o suficiente.


Frank meteu um dedo nodoso no ouvido e girou-o. Com certeza, devido ao acúmulo de cera, ele ouvira a palavra "Quadribol", uma palavra que não existia.


Lissy sorriu divertida. Era engraçado o como os trouxas invetavam desculpas sozinhos. Eles nem precisavam se esforçar.


— A... A Copa Mundial de Quadribol, milorde? — admirou-se Rabicho. (Frank enfiou o dedo com mais força no ouvido.)


- Vai acabar se machucando assim - comentou Alice.


— Me perdoe, mas... Não compreendo...


- Nenhuma novidade nisso - disse Ron.


Por que precisamos esperar o fim da Copa Mundial?


- Para chamar mais atenção - murmurou Lene.


— Porque, seu tolo, neste exato momento estão chegando ao país bruxos do mundo inteiro e todos os bisbilhoteiros do Ministério da Magia estarão em campo, à procura de sinais de atividades incomuns,


- Não que a maioria seja muito competente - disse Harry.


verificando identidades e tornando a verificá-las. Estarão obcecados com a segurança, tentando impedir que os trouxas percebam alguma coisa. Por isso vamos aguardar.


- Não acredito que vocês vão estragar a Copa - murmurou James, com um cara triste. Parecia um garotinho perdido.


Frank parou de tentar desentupir o ouvido.


- Ainda bem - disse Ailce.


Ouvira distintamente as palavras "Ministério da Magia", "bruxos" e trouxas.


- Deve ser algo bem confuso para um trouxa - disse Frank, pensativo.


Era óbvio que cada uma dessas expressões significava alguma coisa secreta,


- Ou não.


e Frank só conseguia pensar em dois tipos de gente que falava em código – espiões e bandidos.


- Não somos espiões ou bandidos! - reclamou Sirius, indignado.


- Mas também não falamos em código - lembrou James.


Frank apertou mais a bengala e apurou ainda mais os ouvidos.


Alice resmungou.


— Milorde continua decidido, então?


- Não, ele está super indeciso. Não está vendo? - questionou Josh, girando os olhos.


— perguntou Rabicho em voz baixa.


— Claro que estou decidido, Rabicho. — Agora havia um tom de ameaça em sua voz fria.


Não era o lugar de Pettigrew questionar as decisões de Lord Voldemort, pensou Snape.


Seguiu-se uma pausa – e então Rabicho falou, as palavras saíram de sua boca num atropelo, como se ele estivesse se obrigando a falar antes de perder a coragem.


- Pode ser qualquer coisa então. Porque o Peter não tem coragem para falar nada - disse Remus.


— Poderia ser feito sem o Harry Potter, milorde.


- No que você está envolvendo meu filho? - disse James, totalmente alerta agora. Lily segurou a mão dele, nervosa.


Harry estava surpreso. Nunca achou que Peter fosse tentar falar em seu favor, principalmente para Voldemort.


Outra pausa, mais longa,


- Acho que Peter se ferrou - disse Lily.


e então...


— Sem o Harry Potter? — sussurrou a segunda voz. — Entendo...


- Então isso quer dizer que você irá parar de envolver o Harry no que quer que esteja fazendo? - perguntou Alice, esperançosa.


- Duvido muito - comentou Regulus baixinho, preocupado. Ele olhou para Harry.


— Milorde, não estou dizendo isso porque me preocupo com o garoto!


- Bom saber - rosnou James.


— explicou Rabicho, a voz subindo esganiçada.


- É o que o desespero faz com as pessoas - disse Ron.


— O garoto não significa nada para mim, nadinha!


Lily olhava para o livro com tamanho ódio que ela parecia prestes a queimá-lo.


É só porque se usássemos outro bruxo ou bruxa, qualquer um, a coisa poderia ser feita muito mais rapidamente!


Uma parte egoísta de James queria desesperadamente que Voldemort concordasse com ele. Seria ruim que alguém sofresse, mas se fosse o seu filho...


Se o senhor me permitisse deixá-lo por algum tempo... O senhor sabe que posso me disfarçar com muita eficiência...


- É a única coisa no qual é bom - disse Remus, com desprezo.


Eu voltaria em apenas dois dias com a pessoa necessária...


- Ou então fugiria como o covarde que é - disse Ron.


— Eu poderia usar outro bruxo — disse a primeira voz, baixinho — é verdade...


- O que não quer dizer que você vá - disse Neville, desconfiado.


— Milorde, faz sentido — disse Rabicho, parecendo muito mais aliviado


Se ele acha que Voldemort está concordando com ele, é mesmo um tolo, pensou Snape.


— pôr as mãos em Harry Potter seria tão difícil, ele está tão bem protegido...


Harry deu uma risada irônica. Não se sentia nenhum um pouco bem protegido.


— E então você se oferece para ir buscar um substituto? Estranho... Talvez a tarefa de cuidar de mim tenha se tornado cansativa para você, Rabicho?


- Sempre foi. Ninguém gosta de um peso morto - disse James.


A sugestão de abandonar o plano não seria apenas uma tentativa de me abandonar?


- Eu falei - disse Remus.


— Milorde! N... Não tenho nenhum desejo de deixá-lo, absolutamente nenhum...


- Claro que não - disse Hermione, irônica.


— Não minta para mim! — sibilou a segunda voz. — Sempre percebo, Rabicho!


- Não é como se ele fosse um bom mentiroso - disse James.


- Mas ainda assim ele conseguiu enganar a todos nós - disse Sirius.


Eles trocaram olhares, sabendo bem que não notaram porque estavam muito ocupados com a própria vida.


Você está arrependido de ter voltado para mim.


- Ele nem sabe o que é arrependimento - disse Sirius com desprezo. Ele ensinaria a Peter o que era arrependimento quando o matasse lentamente.


Eu o horrorizo.


- Não sei porque ele esperava outra coisa - disse Harry.


Vejo você fazer careta quando olha para mim, sinto você estremecer quando me toca...


- Isso é nojo.


— Não! Minha devoção a milorde...


- É tão fraca quanto a que tinha por nós - disse Remus.


— Sua devoção não passa de covardia. Você não estaria aqui se tivesse aonde ir.


Harry sorriu levemente, porque sabia que Voldemort odiava covardes. Que pena para Peter.


Como posso sobreviver sem você,


- Isso é uma declaração de amor? - perguntou Fred.


- Eu acredito que sim, George - disse George. Ginny revirou os olhos. Ela não cairia mais nessa de trocar os irmãos, sabia bem diferenciá-los.


quando preciso que alguém me alimente a intervalos regulares? Quem vai ordenhar Nagini?


- Então ele se preocupa com algo fora ele mesmo - disse Lene, surpresa.


— Mas o senhor parece tão mais forte, milorde...


- Essa resposta não convenceu ninguém - disse Frank.


- Peter sempre foi ruim em argumentar mesmo - disse Remus.


— Mentiroso — sussurrou a segunda voz. — Não estou mais forte e uns poucos dias sozinho seriam suficientes para me roubar a pouca saúde que recuperei com os seus cuidados desajeitados.


Regulus desejou fortemente que Voldemort ficasse sozinho.


Silêncio!


Rabicho, que estivera resmungando incoerentemente, calou-se na mesma hora.


- Pelo menos ele sabe obedecer ordens - disse Lily.


Durante alguns segundos, Frank não ouviu nada exceto o crepitar do fogo.


- É o que normalmente acontece quando se pede silêncio, sabe? - disse Ron.


- A menos que você esteja com Sirius - acrescentou James.


Sirius somente sorriu.


Então o segundo homem recomeçou a falar, num sussurro que era quase um silvo.


Harry sentiu um calafrio. Ele sabia bem de onde estava vindo o impulso de silvar. Odiava ser lembrado que Voldemort também falava a língua das cobras.


— Tenho minhas razões para usar o garoto, como já lhe expliquei, e não vou usar mais ninguém.


Lily suspirou frustada. Claro que o assassino tinha que estar fixado com a ideia de usar seu filho e mais ninguém.


Esperei treze anos.


- Nunca entendi muito bem o que aconteceu nesse tempo - comentou Ginny.


Harry, Ron e Hermione trocaram olhares.


Mais uns meses não me farão diferença.


Harry estremeceu, lembrando-se do que falara no Ministério no quinto ano. Tinha soado parecido.


Quanto à proteção que rodeia o garoto, creio que o meu plano funcionará.


- Todos se enganam - comentou Lissy.


Preciso apenas um pouco de coragem de sua parte, Rabicho,


- Seu plano já falhou então - comentou Frank.


e você encontrará coragem, a menos que queira sentir o peso da cólera de Lord Voldemort...


- Ele falar dele mesmo na terceira pessoa nunca irá deixar de ser estranho - comentou Ron.


— Milorde, tenho que falar! — disse Rabicho, agora com pânico na voz.


Josh revirou os olhos. Ele era patético.


— Durante a nossa viagem repassei mentalmente o plano, milorde, o desaparecimento de Berta Jorkins não passará despercebido por muito tempo,


- O que vocês farão com a pobre Berta? - questionou Lily.


Harry deu um sorriso triste. Mais um morto...


e se dermos seguimento a ele, se eu enfeitiçar...


— Se? — murmurou a primeira voz. — Se?


- Alguém se ferrou.


Se você der seguimento ao plano, Rabicho, o Ministério jamais precisará saber que mais alguém desapareceu.


- Como vocês farão para ninguém notar? - questionou Regulus.


Você fará isso em surdina, sem confusão; eu bem gostaria de fazer isso pessoalmente, mas na minha condição atual...


- Você devia tentar fazer - sugeriu Alex, com um sorriso irônico.


Vamos, Rabicho, mais um obstáculo vencido, e o caminho até Harry Potter estará livre.


- De jeito nenhum - rosnou Lily, de modo protetor. Ela agarrou uma mão do filho com uma mão, com a outra segurava a varinha. Harry estava pronto para reclamar do exagero quando percebeu que ele não se importava. Nem um pouco.


Não estou pedindo que você aja sozinho.


Isso capturou a atenção de todos da sala, até mesmo Sirius que parou de fofocar com James.


Até lá, o meu fiel servo terá se reunido a nós...


- Quem será esse filho...


- James...


-... Esse idiota?


- Não irie estragar a surpresa, pai, só leia.


— Eu sou um servo fiel — disse Rabicho, com um levíssimo traço de aborrecimento na voz.


- Uma ótima ideia se irritar com Voldemort, não?


— Rabicho, preciso de alguém com cérebro,


- Ops, já foi eliminado - disse George.


alguém que nunca tenha vacilado em sua lealdade,


- Agora duplamente eliminado.


e você, infelizmente, não satisfaz nenhum dos dois requisitos.


- Nunca achei que diria isso, mas eu até concordo com Voldemort - disse Ginny.


— Eu o encontrei — disse Rabicho, e agora decididamente havia irritação em sua voz.


- Ele nunca soube se conter - disse Remus.


- E ele parece ter piorado - disse James.


— Fui eu que o encontrei. Fui eu que lhe trouxe Berta Jorkins.


Lily olhou horrorizada para o livro. Como ele pôde?


— É verdade — disse o segundo homem, parecendo achar graça. — Um lance de genialidade que eu nunca teria achado possível em você, Rabicho, embora, a verdade seja dita, você não fizesse ideia do quanto ela seria útil quando a pegou, não é?


- Claro que não - disse Ginny.


— Eu... Eu achei que ela poderia ser útil, milorde...


— Mentiroso — disse novamente a primeira voz, a zombaria cruel mais acentuada do que nunca.


- Como alguém escolher seguir esse homem? - perguntou Alex.


- Acho que ele não teve muita escolha agora - disse Josh, dando de ombros.


— Mas não nego que a informação da mulher foi preciosa.


Sirius balançou a cabeça. Berta sabia demais.


Sem ela, eu nunca poderia ter traçado o nosso plano, e por isso você terá a sua recompensa, Rabicho.


- Que justo - zombou Regulus.


Vou deixá-lo realizar uma tarefa essencial para mim, uma que muitos seguidores meus dariam a mão direita para realizar...


Harry ficou pálido. Voldemort era realmente cruel demais. Brincando assim, bem na cara de Rabicho, com o fato que ele iria perder a mão...


— V... Verdade, milorde! Qual...? — Rabicho parecia outra vez aterrorizado.


- Quando ele não está? - disse Ron.


— Ah, Rabicho, você não quer que eu estrague a surpresa! Sua parte virá bem no finzinho... Mas, prometo que você terá a honra de ser tão útil quanto Berta Jorkins.


- Isso não soou bem - disse Alice, desconfiada.


— O senhor... O senhor... — a voz de Rabicho saiu repentinamente rouca, como se sua boca tivesse ficado muito seca. — O senhor... Vai... Me matar, também?


- Sim. O que você irá fazer? - Lene perguntou, revirando os olhos.


— Rabicho, Rabicho — disse a voz fria suavemente — por que eu iria matá-lo? Matei Berta porque precisei.


- Porque você realmente não tem prazer em matar pessoas.


Ela não servia para mais nada depois do meu interrogatório, completamente inútil.


Regulus estremeceu, não querendo nem pensar no que tinha sido feito a Berta.


Em todo o caso, haveria perguntas embaraçosas se ela tivesse voltado ao Ministério com a notícia de que encontrara você nas férias. Seria melhor que bruxos presumivelmente mortos não esbarrassem em bruxas do Ministério da Magia em hotéis à beira de estradas...


Mais uma vida acabada por causa de Peter, pensou Sirius, irritado.


Rabicho murmurou alguma coisa tão baixinho que Frank não pôde ouvir,


- Eu quase me esqueço que Frank está ai - comentou Dorcas.


mas fez o segundo homem rir – uma risada sem alegria,


- Ele não sabe rir com alegria - sussurrou Harry - Ele é capaz de sentir felicidade - disse.


fria como a sua fala.


— Poderíamos ter alterado a memória dela?


Snape revirou os olhos. Peter era muito burro.


Mas os Feitiços da Memória podem ser desfeitos por um bruxo poderoso, como eu provei ao interrogá-la.


- O que será que ela escondia que foi preciso desfazer um feitiço de memória? - questionou Frank.


Teria sido um insulto à memória da bruxa não usar as informações que ela me forneceu, Rabicho.


- Tenho certeza que era com isso que ela estava preocupada - disse Ginny, em um tom frio.


Fora no corredor, Frank de repente percebeu que a mão que segurava a bengala se tornara escorregadia de suor. O homem de voz fria tinha matado uma mulher.


- Ele só percebeu agora? - questionou Lissy.


E falava disso sem um pingo de remorso – divertia-se.


- A única coisa que o traz prazer - disse Harry.


Ginny olhou para o namorado preocupada. Como seria para estar dentro da cabeça de um psicopata feito Voldemort?


Ele era perigoso – um doido.


- Exatamente.


E estava planejando outros assassinatos – esse garoto, Harry Potter, fosse ele quem fosse – corria perigo...


Regulus olhou preocupado para o Potter. Harry deu de ombros. Não via nenhuma surpresa nisso.


- Você vai ficar bem - prometeu James.


- Eu sei - mentiu Harry.


O jardineiro sabia o que devia fazer. Agora, como nunca antes, estava na hora de ir à polícia.


Como se ele fosse sair vivo dali, Regulus pensou, revirando os olhos.


Ele sairia silenciosamente da casa e iria direto à cabine telefônica no povoado...


- Você não acha que chamará atenção assim? - perguntou James.


- Ele não está aqui para responder, querido - lembrou Lily.


Mas a voz fria recomeçara a falar e Frank continuou onde estava, paralisado, escutando tudo que podia.


Snape estremeceu. Voldemort era assustador.


— Mais um feitiço... Meu fiel servo em Hogwarts...


- Quem em Hogwarts é aliado de Voldemort? - perguntou Lily, nervosa.


E Harry Potter será praticamente meu, Rabicho.


- Só sob o meu cadáver - rosnou Sirius.


- Nunca - concordou Harry.


Está decidido. Não haverá mais discussões.


- Voldemort não sabe debater - resmungou Dorcas.


Mas fique quieto... Acho que ouvi Nagini...


- Até a cobra é mais importante que Rabicho - disse James, com um prazer sombrio.


E a voz do segundo homem mudou. Começou a emitir ruídos que Frank jamais ouvira na vida, sibilava e bufava sem inspirar. Frank achou que ele devia estar tendo algum tipo de ataque ou acesso.


Harry ficou envergonhado. Será que era assim que ele soava quando falava com cobras?


Ginny pareceu entender o que ele estava pensando e deu um sorriso hesitante.


E então o jardineiro ouviu um movimento às suas costas no corredor escuro.


- Esse Frank deve ter sido um bom soldado - observou James.


Virou-se para olhar e ficou paralisado de medo.


- O que pode ser mais assustador que Voldemort? - perguntou Alice.


Alguma coisa deslizava em sua direção pelo chão escuro do corredor, e quando se aproximou da nesga de luz, ele percebeu, com um choque de terror, que era uma cobra gigantesca, no mínimo, com três metros de comprimento.


Neville estremeceu. Aquela cobra era assustadora.


Harry fechou a cara. Normalmente gostava de cobras, mas, obviamente, Nagini era uma exceção.


Apavorado, pregado no chão, ele viu aquele corpo ondulante abrir uma trilha larga e curva na poeira espessa do chão, sempre mais próximo, o que faria?


- Não sei - sussurrou Alice. Por mais que ele conseguisse escapar de Nagini, ainda tinha Voldemort. O homem estava condenado.


O único meio de fugir era entrar no quarto onde os dois homens estavam sentados planejando matar,


- Eu preferia enfrentar a cobra que Voldemort - disse Hermione.


mas se ele ficasse onde estava a cobra certamente o mataria...


Frank balançou a cabeça triste, não tinha mais o que fazer. O homem já estava morto.


Mas antes que se decidisse, a cobra emparelhou com ele e então, incrivelmente, milagrosamente, passou;


Harry franziu a testa. Isso era incomum. Será que a cobra só matava sob as ordens de Voldmort?


orientava-se pelos silvos e bufos que a voz fria emitia do outro lado da porta e, em segundos, a ponta do rabo da cobra, malhada de losangos, desapareceu pela abertura.


- Ela tem que ser muito rápido - observou Dorcas.


- Ela é - afirmou Harry, sem hesitar. Lily não quis nem pensar onde Harry tinha visto essa cobra.


Havia suor na testa de Frank agora e a mão na bengala tremia.


Josh deu um sorriso triste. O homem era muito corajoso, mas não era tolo.


No quarto, a voz fria continuava a silvar, e ocorreu a Frank uma ideia estranha, uma ideia impossível...


- Então provavelmente você está certo - comentou George.


Esse homem podia falar com as cobras.


- Eu disse - falou George.


Frank não entendia o que estava acontecendo.


Claro que não, Regulus revirou os olhos.


Queria mais do que tudo voltar para a cama com a sua bolsa de água quente. O problema é que suas pernas não pareciam querer se mexer.


- Sei como é - falou Neville - Pelo menos não é um feitiço - disse.


Harry olhou culpado para ele.


- Desculpe, cara.


- Está tudo bem.


Enquanto estava parado ali, trêmulo, tentando se controlar, a voz fria voltou de repente a falar em inglês.


- Gostaria de saber o que ele falou antes - disse Harry.


— Nagini trouxe notícias interessantes, Rabicho.


- Então já é mais útil que Rabicho.


— Ver... Verdade, milorde? — respondeu Rabicho.


— Verdade. Segundo Nagini, tem um velho trouxa parado do lado de fora do quarto, escutando cada palavra que dizemos.


Todos sentiram um arrepio. Agora estava mais que claro o destino do homem.


Frank não teve a menor chance de se esconder.


- Você não é rápido o bastante para isso - afirmou Frank, em um tom frio.


Ouviu passos e em seguida a porta do quarto se escancarou. Um homem baixo de cabelos grisalhos e ralos, um nariz pequeno e pontudo, olhos lacrimosos, parou diante dele com uma mescla de medo e susto no rosto.


- Uma descrição perfeita desse rato - rosnou James.


— Convide-o a entrar, Rabicho. Onde está a sua educação?


Harry moveu-se incomodado na cadeira. O que era isso que Voldemor tinha com modos e educação?


A voz fria vinha de uma velha poltrona diante da lareira, mas Frank não conseguiu ver quem falava.


- Você não quer ver - sussurrou Harry.


Regulus acenou, concordando.


A cobra, por sua vez, se enroscara no tapete podre diante da lareira, em uma medonha imitação de bichinho de estimação.


- Não é uma imitação - protestou Harry, mesmo sem saber por que exatamente estava defendendo a cobra de Voldemort.


Rabicho fez sinal para Frank entrar.


- Que educado - ironizou James.


Embora continuasse profundamente abalado, Frank segurou com firmeza a bengala e, coxeando, cruzou o portal.


- Esse cara é muito corajoso.


E tolo, pensou Snape.


O fogo na lareira era a única fonte de luz no quarto; projetava sombras longas e aranhosas nas paredes.


- É para combinar com os donos - disse Ron.


Frank fixou o olhar nas costas da poltrona; o homem sentado nela parecia ser ainda menor do que o seu criado,


James franziu a sobrancelha. Pelo que lembrava, Voldemort não era tão baixo.


pois Frank não conseguia sequer ver a parte de trás de sua cabeça.


- Espero que dessa vez seja só uma cabeça - murmurou Frank.


— Você ouviu tudo, trouxa? — perguntou a voz fria.


- Como ele vai saber o que é tudo? - resmungou Ginny.


— Do que foi que o senhor me chamou? — perguntou Frank, desafiando-o, porque agora que estava dentro do quarto, agora que chegara a hora de agir, ele se sentia mais corajoso, sempre fora assim na guerra.


Harry acenou com a cabeça, reconhecendo o sentimento. Não tinha medo de enfrentar Voldemort, mas não era exatamente corajoso para se defender em outras situações.


— Chamei-o de trouxa — disse a voz calmamente.


- Não pode significar coisa boa - disse Lene.


— Isso quer dizer que você não é bruxo.


- Não sei por que ele se deu o trabalho de dizer isso - disse Lissy - Quando está óbvio que ele matará Frank.


— Eu não sei o que o senhor quer dizer por trouxa — respondeu Frank, com a voz mais firme.


- Só não comece a gritar feito Harry.


- EI!


- Tá vendo?


— Só sei é que esta noite ouvi o suficiente para despertar o interesse da polícia,


- Uma pena que a polícia nunca vai ouvir sobre isso - disse Regulus.


ah, isto eu ouvi, o senhor já matou uma vez e está planejando matar mais!


- É isso que psicopatas como Voldemort fazem - disse Alex.


E vou-lhe dizer outra coisa — acrescentou, numa súbita inspiração — minha mulher sabe que estou aqui e se eu não voltar...


- Boa tentativa.


— Você não tem mulher — disse a voz fria, muito baixinho. — Ninguém sabe que você está aqui.


- Como ele sabe disso? - questionou Alice, assustada.


Harry não respondeu, só trocou um longo olhar com Hermione e depois Ron.


Você não disse a ninguém que vinha. Não minta para Lord Voldemort, trouxa, porque ele sabe... Ele sempre sabe...


- Nunca entendi essa mania de falar de si mesmo em terceira pessoa - comentou Alex, fazendo uma careta.


— É mesmo? — retrucou Frank com aspereza. — Lord é? Ora, não tenho muito respeito pelos seus modos, milorde.


Isso vai irritar Voldemort, pensou Harry.


Vire-se e me encare como homem, por que não faz isso?


- Não diga isso - pediu Lily, nervosa.


— Mas eu não sou homem,


Sirius levantou a sobrancelha.


- Sempre soube.


trouxa — retrucou a voz fria, quase inaudível devido ao crepitar das chamas. — Sou muito, muito mais do que um homem.


- Que mania de grandeza é essa? Acha que é um deus?


Mas... Por que não? Vou encará-lo... Rabicho, venha virar minha poltrona.


- Ele está muito debilitado - comentou Dorcas, com olhos astutos.


O servo deu um gemido.


— Você me ouviu, Rabicho.


- Você escolheu servi-lo. Agora o faça - murmurou James com desprezo.


Lentamente, com o rosto contraído, como se preferisse fazer qualquer coisa a ter que se aproximar do seu senhor e do tapete em que se deitara a cobra,


- Medroso - resmungou Remus.


o homenzinho se adiantou e começou a girar a cadeira. A cobra ergueu a feia cabeça triangular e sibilou baixinho quando as pernas da poltrona se prenderam no tapete.


Harry ficou pensativo. Por que será que Nagini protegia tanto Voldemort? Não fazia sentido.


E, então, a poltrona ficou de frente para Frank e ele viu o que havia nela.


Harry balançou a cabeça.


Sua bengala caiu no chão com estrépito. Ele abriu a boca e soltou um grito.


- É tão ruim assim? - perguntou Lene baixinho.


Harry assentiu.


Gritou tão alto que nunca ouviu as palavras que a coisa na poltrona


- E o que era? - perguntou Dorcas.


- Não sei - disse Harry.


disse ao erguer a varinha.


Regulus não tinha dúvidas do feitiço lançado.


Houve um relâmpago de luz verde, um ruído farfalhante e Frank Bryce desabou.


Alice fechou os olhos, triste. Frank estendeu a mão para ela.


Morreu antes de bater no chão.


- Pelo menos, ele não sofreu - James disse para consolar Lily, passando a mão pelos cabelos da menina.


A trezentos quilômetros dali, o garoto chamado Harry Potter acordou assustado.


- Por favor, me diga que você não viu tudo isso - pediu Lily.


Harry deu um sorriso culpado.


Lily só resmungou.


- Leiam o próximo capítulo - pediu estressada. Quantas vezes mais teria que descobrir que Harry passara por situações como essa?

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