Amigos,Ex amigos e James Potte

Amigos,Ex amigos e James Potte



Quando Donna anunciou sua saída para a aula de Aritmancia na quarta-feira à tarde, Lily não podia dizer que estava terrivelmente arrasada por conta disso. E quando, alguns minutos depois, Luke beijou-lhe o topo de seu cabelo ruivo e disse que tinha que ir à aula dos N.I.E.M‘s de Runas Antigas, a ruiva não derramou nenhuma lágrima. Finalmente sozinha em sua mesa na biblioteca, Lily abriu seu romance favorito de Jane Austen e se preparou para um duplo período completo de solidão. Amava os amigos, é claro, e gostava muito de Luke, mas a solidão... a solidão era legal.


Ocupando-se com a entrada do Sr. Knightley em Hartfield, Lily até mesmo conseguiu deixar de lado as batidas suaves de seu subconsciente, lembrando-lhe de como costumava passar os períodos livres com Severus.


Solidão era legal.


"Lily, eu preciso de ajuda."


Amigos, infelizmente, eram mais importantes.


"Alice, o que houve?"


A ruiva pousou o livro sobre a mesa, enquanto Alice Griffiths desabava numa cadeira à sua frente, uma expressão de desânimo total em seu doce rosto.


"Frank."


"Frank?"


"Meu namorado."


"Eu sei quem é Frank, querida."


"Bem, eu preciso de ajuda."


"Círculos, querida. Estamos falando em círculos."


Alice organizou os pensamentos antes de falar novamente. "Há algo errado com Frank. Ele tem agido tão estranho ultimamente, eu mal o reconheço."


Lily acariciou a mão da amiga em sinal de conforto. "Al, tenho certeza que é por causa dessas coisas estranhas que estão acontecendo... A investigação do Ministério, o que aconteceu com Adam e Carlotta... e o estresse adicional de ser monitor-chefe..."


"Começou antes disso," argumentou Alice. "Há algo estranho com ele desde que voltou das férias em agosto. Tem estado mal-humorado e antissocial... e fica bastante carente e insiste em fazer coisas comigo, e então, quando estamos juntos, ele começa a brigar sem motivo algum. Metade do tempo ele simplesmente fica enfurnado no dormitório ou sai para andar também, e ele tem estado completamente fora de si sobre o que aconteceu com Carlotta e Adam."


Após pensar por um instante, a ruiva suspirou: "Bem, Al, eu não sei como dizer isso, mas acho que Frank pode estar grávido."


A setimanista tentou não rir. "Isso é sério, Lily."


"Tudo bem, sendo séria. Como está a família dele?"


"Eu pensei nisso," respondeu Alice. "Mas o irmão dele disse que tudo estava bem nesse aspecto. Frank passou momentos agradáveis em suas férias na costa, e ninguém percebeu nada, mas desde então, toda vez que estamos juntos, ele é completamente imprevisível."


"Vocês dois não tiveram nenhuma briga de verdade, então? Quer dizer, uma briga grande, que poderia ter começado essa coisa toda?" Alice sacudiu a cabeleira cacheada. "Tem certeza? Então… então você tem que olhar os sintomas."


"O que quer dizer?"


"Bem, se alguém está doente, se olha os sintomas para saber o que há de errado. Então, examine o comportamento dele e veja que tipo de problema aquele comportamento indica. Ele está mal-humorado, você disse, e briguento."


"Hum, sim, ele simplesmente começa a discutir sobre coisas idiotas."


"Ele está alternadamente pegajoso e antissocial?"


"Passa mais tempo ‘caminhando‘ que nos últimos quatro anos do nosso relacionamento."


Lily assentiu. "E ele definitivamente não está grávido?"


"Lily."


"Certo, bem, me deixe pensar por um minuto." Ela pensou por um minuto. E então lhe atingiu em que direção todos aqueles sinais apontavam.


Merda.


Mas, não, estavam falando de Frank. Frank Longbottom. Não era algum babaca; era Frank.


"No que está pensando, Lily?" suplicou Alice após um tempo. Sendo uma garota prática e segura, Alice nunca parecera tão desesperada para Lily. A ruiva pensou rapidamente – havia momentos para honestidade e momentos para compaixão. O olhar nos olhos castanhos de Alice lhe disse que era o último caso.


"Eu não sei, Al. Pode... pode ser qualquer coisa. Quer dizer, Frank... ele te ama, e..."


"Ele não fala mais isso."


Lily piscou os olhos. "Quê?"


"Ele não diz mais ‘eu te amo‘. Ele não diz há semanas." A setimanista disse baixinho, sem encarar os olhos da ruiva.


Merda.


"Alice, Frank te ama. Eu sei disso, está bem? Confie em mim, vocês dois são cerca de 30% da razão de eu acreditar no amor. Jane Austen é os outros 70%." Alice sorriu. "Seja o que for que ele esteja passando, você não pode se culpar por isso".


"Mas eu não sei o que fazer!"


"Apenas converse com ele."


"Eu tentei… ele não me escuta."


"Então seja paciente," insistiu Lily. "Ouça, vocês estão juntos há muito tempo... quatro anos é um longo relacionamento para qualquer padrão, não apenas para adolescentes. E com tudo tão bagunçado na escola e no mundo, Frank provavelmente só está lutando para... se ajustar. Afinal, é o último ano de vocês aqui."


Descontente, Alice assentiu.


"Se ajuda," continuou a sextanista, "a Professora McGonagall me disse que designou Frank para monitorar minha detenção na sexta, já que ele é monitor-chefe. Eu vou falar com ele então, certo?"


"Você faria isso?"


"É lógico."


"Mas não diga que eu disse alguma coisa."


"É claro que não."


"Nem pense nisso. Se ele adivinhar, minta."


"Pra que servem as amigas senão para mentir umas pelas outras?"


"Eu te amo."


"Eu sei."


Levantando-se, Alice abraçou Lily brevemente, e então – com um último sorriso agradecido – saiu da biblioteca. A ruiva franziu o cenho para o romance. Estavam falando de Frank. Frank não podia...


Ela afastou o pensamento de sua mente. A biblioteca estava deserta (exceto pela corpulenta bibliotecária, a Sra. Sevoy, que continuava visível), e a monitora tinha que tirar vantagem dessa rara solidão antes que outra coisa a perturbasse.


"Lily, nós temos que conversar."


Amigos eram mais importantes que solidão, mas ex-amigos não.


Sem erguer os olhos, Lily reconheceu a nova companhia. Não disse nada; a respiração ficou presa na garganta.


"Lily, por favor." Ele se inclinou sobre a mesa. "Sei que não está lendo esse livro… temos que conversar, vocêsabe..."


"Sev, pare." Lily fechou o livro mais uma vez. "Severus,pare, estou falando sério, o.k.?" A Sra. Sevoy olhou feio e a ruiva lançou um olhar de desculpas em sua direção. Severus não se importou.


"Lily, por favor," sussurrou ele. "Você esteve me evitando a semana inteira, e..."


"Eu estive te evitando," respondeu Lily, "porque da última vez que conversamos pessoas acabaram na Ala Hospitalar. Isso te dá uma dica de quão bem estamos nos relacionando no momento, não é?"


"Eu não posso acreditar que você assumiu a culpa por aquilo," murmurou Severus, para o que Lily revirou os olhos.


"Eu não te vi reclamando."


"Eu... eu estava confuso... não conseguia lembrar qual de vocês fez aquilo. Estava tudo... confuso. Mas foi Potter – você assumiu a culpa por Potter, não foi?"


"Chegou a essa conclusão rápido demais, não foi?" foi tudo que ela disse.


"Ele seria desprezível o bastante para te deixar fazer isso," disse Severus. "Lily, você não podia pensar que..."


"Vá direto ao ponto, Sev. Eu estou tentando ler." Ela se odiava... Odiava Sev e sua maldita sinceridade… Odiava a biblioteca simplesmente por servir de cenário para aquela cena estúpida.


"Eu… Lily, eu quero ser seu amigo de novo. Quero que sejamos amigos. Eu quero..."


"Não."


"Lily..."


"Não."


"Mas..."


"Severus, eu sei que você sempre me fez ceder... perdoar qualquer coisa, fechar os olhos para tudo, mas não. Não mais."


O sonserino ficou sentado em silêncio por um tempo. A ruiva fingiu ler. "Por favor, Lily..."


"Vá embora, Sev." (Suavemente... ela não tinha certeza que era realmente o que queria).


Ele obedeceu. A monitora fechou os olhos e esperou até se sentir sozinha novamente. Quando olhou em volta da biblioteca mais uma vez, as façanhas de Emma Woodhouse não pareciam mais divertidas o bastante. Lily fechou o livro e descansou o queixo nas mãos, os cotovelos apoiados sobre o romance fechado.


Severus.


Seu estômago revirou-se em nós – nós intricados o bastante, que se estivessem em seus sapatos, em vez de estarem no estômago, provavelmente teria que pegar um par de fortes tosqueadores para cortá-los e comprar cadarços novos.


"Eu não posso comprar um estômago novo," comentou Lily, verbalizando o pensamento de forma inconsciente.


"É uma grande verdade."


A ruiva saltou três ou quatro centímetros da cadeira. Olhou em volta freneticamente. James Potter estava recostado em uma estante próxima, um sorriso torto em seu ("Estúpido," pensou Lily) rosto.


"Você estava bisbilhotando?" exigiu ela em voz baixa, para que a Sra. Sevoy não ralhasse com eles.


"Você estava falando sozinha?" indagou James. Com as mãos nos bolsos, ele não fez nenhum esforço para baixar o volume da voz ao andar em direção à mesa.


Lily franziu o cenho. "Você não tem alguns filhotes para afogar ou algo do tipo?"


"Está defendendo a violência contra os animais?" retrucou o outro. Solidão era muito, muito mais importante que inimigos.


"Alguma vez eu já apoiei suas atividades extracurriculares?" perguntou a ruiva. "E, por favor, não se..." James ocupou a outra cadeira da mesa: "... sente," concluiu a monitora com um suspiro. "Por favor, Potter, não tem nada melhor para fazer?"


"Na verdade, não. Já terminei todos os meus deveres de casa. Então, vejo que você e Ranhoso ,são amigos novamente."


"Você vê?" foi sua única resposta. Ela meio que gostava do fato de essa possibilidade claramente o irritar.


"Bem, não são?" Ele tentou parecer indiferente, mas não conseguiu tão bem quanto em outras ocasiões. Lily reabriu o livro.


"Mas você já concluiu que nós somos, e você nuncaestá errado, James."


"Eu não me importo, de qualquer forma."


"Evidentemente."


"Eu só estava entediado, e você não consegue não transmitir sua vida pessoal por toda a biblioteca, só isso."


"Bem, eu nunca teria suspeitado que você estivesse na biblioteca para ver isso. Me diga, quando foi que aprendeu a ler?"


"Isso foi um tanto maldoso," disse James alegremente.


Lily piscou. Foi? "Sinto muito," ela se desculpou rapidamente. Seu companheiro lhe lançou um olhar estranho, que ela não conseguiu interpretar. Após um tempo, a boca dele formou o sorriso semi-arrogante novamente e ele arqueou as sobrancelhas.


"Relaxa, Snaps. Não é como se eu desse a mínima."


"Não, é claro que não. Por que o grande James Potter se importaria que... do que me chamou?"


Seu sorriso torto se alargou para um sorriso completo ao levantar-se da mesa. Sem responder à pergunta, ele simplesmente acenou e disse: "Te vejo por ai, Snaps." E havia triunfo em seus passos ao se afastar.


Snaps.


Snaps?


...


Quê?

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