O sobrenome



Você tem absoluta certeza que ela não falou nada com você, James?" indagou a bruxa do Ministério pela décima sexta vez. Um tipo profissional, com cabelo curto cor de palha, pouca maquiagem, a mulher parecia ter uma resposta específica em mente toda vez que fazia uma pergunta, e quando James ou alguém respondia o contrário dessa suposta resposta, ela ficava irritada. Passara os últimos minutos tentando convencer o rapaz de que Carlotta Meloni tivera algum tipo de conversa com ele durante o curso do drama naquela manhã.


"A coisa toda aconteceu em cerca de quinze segundos," reiterou James. "Ela não teve tempo de dizer nada. E eu já te disse, ela parecia fora de si... os olhos estavam fora de foco e ela estava... maníaca."


"Bem, ela dificilmente estaria em si," disse a bruxa – que instruíra o capitão de quadribol a "apenas chamá-la de Drake." "Eu suponho que estivesse bastante chocada por ser pega no meio de seu... hum... ato infeliz e, surpresa, agiu de acordo. É claro, jovens garotas tolas podem ficar bastante emotivas, o que explicaria porque ela parecia – como você colocou – não conhecer seus colegas de casa. Em resumo, acho que é um caso encerrado."


A tentativa de suicídio de uma "jovem garota tola" era aparentemente desanimadora em comparação às outras preocupações no Ministério, se essa tal de Drake era o melhor que podiam enviar. Aquela, de qualquer forma, era a opinião de James.


Drake sentou-se na cadeira da Professora McGonagall – a professora de Transfiguração fora cumprir o horário de aulas para que o restante da escola não ficasse lançando perguntas acerca do acontecido. Professor Dumbledore terminara sua própria série de perguntas muito mais diretas e inteligentes quinze minutos antes, então James e Drake foram deixados a sós no escritório de McGonagall.


"O Curandeiro Holloway ainda nem terminou o exame," apontou James, incrédulo. "Não sabemos se ela foi azarada, ou se estava sob a maldição Imperius..."


"Besteira," interrompeu Drake, folheando distraidamente uma pilha de papéis. "Os alunos de Hogwarts não saberiam como conjurar uma Maldição Imperius". Ela parou de repente. "A não ser que esteja me dizendo que eles ensinam esse tipo de magia aqui. É isso que está dizendo, James?" Sem dúvida, imagens de manchetes passaram pela mente da bruxa. Manchetes como "Drake, a Investigadora do Ministério, Descobre Magia das Trevas em Hogwarts; Vergonha de Dumbledore" e coisas desse tipo.


"É claro que não," disse James com impaciência. "Mas a magia que os professores nos ensinam não é tudo que sabemos, Srta. Drake..." ele usou intencionalmente o título e esperou a reação dela; "Se fosse assim, não haveria cretinos como..." ele mediu a própria coragem... "como os Comensais da Morte por aí, não é?"


"É apenas ‘Drake,‘" corrigiu a bruxa friamente. "O que você está se referindo é tudo política, James. Apenas politicagem trivial. Tem ideia de quão complexa uma investigação assim seria? Essa é precisamente a razão de eu não estar interessada nesses movimentos políticos insignificantes. Eles têm pouca importância na minha tarefa aqui."


O rapaz discordou. "Têm pouca importância? Os Comensais da Morte não são apenas um modismo político. Eles são parte de uma profunda falha disseminada..." Ele parou, percebendo que estava começando a parecer com seu pai à mesa do café da manhã. "Olhe," começou novamente, "você não sabe o que fez Carlotta fazer isso. Por que ela não voltou ao dormitório na noite passada? Poderia ter sido magia das trevas, ou..."


"Você está sugerindo," suspirou Drake, "que os supostos Comensais da Morte invadiram o castelo, azararam uma garota de dezesseis anos, e a manipularam a ir à sala comunal de sua casa cortar os próprios pulsos?"


Bem, de fato soava um pouco improvável.


"Mesmo assim, você não sabe porquê..."


"Essas adolescentes populares sempre estão procurando novas formas de chamar atenção," interrompeu Drake. "Muito provavelmente foi apenas uma simples tentativa de ter audiência."


James fez uma careta. "Mas Carlotta Meloni não é assim. Ele não faria algo assim para chamar atenção... ela não precisa disso. Quer dizer, você olhoupara ela?"


"Sério, James." Drake finalmente localizou o pedaço de pergaminho que estivera procurando e puxou-o para o topo da pilha. "Agora, qual é mesmo o seu nome completo?" perguntou, mergulhando a pena no tinteiro sobre a mesa de McGonagall.


"James Potter," o rapaz lhe disse monotonamente. Drake fez uma pausa e o capitão de quadribol imediatamente soube o porquê. Com bastante frequência isso tinha acontecido à menção de seu sobrenome.


"Algum parentesco com...?"


"Sim," respondeu James friamente.


"É mesmo?" Com uma leveza mal fingida, Drake acrescentou: "E qual é o parentesco? Um tio, ou...?"


"Meu querido velho pai," disse o outro. "Escute, você terminou comigo ou o quê?"


"Bem, Sr. Potter..." Sua voz atingiu um tom mais alto. "Sabe, eu ficaria bastante interessada em ouvir quais devem ser suas teorias sobre a Senhorita Meloni..."


"Porque eu sou uma testemunha ocular ou porque meu pai é o chefe do seu departamento, Srta. Drake?" interrompeu-a. Ela ficou um tanto boquiaberta, e ele se levantou. "Foi o que pensei. Eu tenho aula daqui a pouco – se você tiver alguma pergunta de verdade, pode me encontrar lá."


Ele partiu em direção à porta. "Um momento, agora, Sr. Potter," Drake conseguiu gaguejar, tentando criar a impressão de severidade e polidez ao mesmo tempo. "Eu ainda não terminei. Ainda há alguns assuntos oficiais que devo esclarecer antes..."


Enquanto se retirava do escritório, ocorreu a James quão raramente ele fazia o que lhe mandavam.

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