Carlotta Meloni



Se você entende como assistir a um filme de Audrey Hepburn pode afetar uma pessoa, pode entender Carlotta Meloni um pouco melhor. Ela era linda. Tinha aquele tipo de beleza que se vislumbra uma vez no ponto de ônibus ou no parque e se lembra para o resto da vida. Carlotta Meloni era definitivamente encantadora.


Ela sabia disso também.


Como, afinal de contas, ela não saberia? Carlotta tinha cabelos longos, brilhantes e castanhos, e os olhos da mesma tonalidade. Sua pele era bronzeada e perfeitamente macia, um fato que ela atribuía ao chá verde e meditação, mas, na verdade, provavelmente tinha mais a ver com boa sorte na loteria genética.


Uma sextanista grifinória de talento moderado e notas medianas, Carlotta Meloni, porém, projetava um ar de perfeição. Ela tinha mãos delicadas, espessos cílios escuros, um nariz pequeno e elegante e – embora baixinha – um corpo esbelto. A voz dela era suave e doce. Conseguia fazer a informação mais banal soar emocionante... Especialmente se seu público fosse masculino.


Carlotta Meloni vivia uma vida relativamente tranquila. Meditava por meia hora todas as manhãs e era uma vegetariana rigorosa. Acreditava em algo chamado "amor livre", o que pode ter sido a principal razão de a maioria de seus amigos serem do sexo oposto. Possivelmente para seu crédito, porém, mantinha amizade com Shelley Mumps – uma garota que parecia ficar cada vez mais sem graça, enquanto Carlotta ficava mais bonita.


Carlotta sempre parecia satisfeita com a vida. Ela era feliz, comunicativa e jamais retraída (exceto durante aquela meia hora pela manhã). Era confiante, calma e andava de cabeça erguida (tinha uma postura adorável, na verdade). Carlotta não tinha nenhum motivo para se arrepender de nada, até onde todos sabiam.


Mesmo assim, isso foi o que seus colegas de classe declararam no relatório oficial.


Carlotta Meloni era feliz.


Ela estava feliz até aquele momento em 2 de setembro, por volta das 6:10 da manhã, quando encarou a lareira da sala comunal da Grifinória e tentou cortar os próprios pulsos.

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