O Chapéu Seletor



CAPÍTULO TRÊS



O Chapéu Seletor



 



 



 



A porta abriu-se com um ruído no mesmo instante que Rubeo Hagrid abaixou os braços. E ali, parada à frente, encontrava-se uma bruxa alta, de cabelos muito negros, presos em um coque alto e vestes verde-esmeraldas. Seu olhar para os alunos era intenso e suas feições severas; era o tipo de pessoa que você não ia querer irritar.



— Alunos do primeiro ano, Professora Minerva McGonagall — informou Hagrid.



Rony já tinha ouvido falar dela; era a diretora da casa em que seus irmãos pertenciam: Grifinória. E pelo que seus irmãos já tinham falado, ela realmente não era alguém que se deve irritar.



— Obrigada Hagrid. Eu cuido deles daqui em diante. — Ela tinha um tom de voz mandão que lembrava o de Hermione Granger, a menina chata do trem.



A professora escancarou a porta e os alunos a seguiram para dentro. Seus irmãos já haviam falado do tamanho do saguão, mas sua imaginação não chegou a tanto. Poderia caber o terreno inteiro da toca ali dentro que ainda sobraria espaço, e muito espaço. As paredes de pedra estavam iluminadas com archotes flamejantes, o teto era alto demais para se ver. A cada passo que dava Rony sentia que estava mais próximo do grande momento: a seleção das casas.



Esse assunto era um tanto confuso. No passado, seus pais disseram a Gui, o mais velho, que a seleção das casas era feita através de uma luta entre os alunos com os professores. No ano seguinte, o próprio Gui assegurou a Carlinhos que não era uma luta contra os professores e sim uma caçada à centauros no meio de uma floresta que ficava nos terrenos de Hogwarts. Carlinhos, por sua vez, afirmou a Percy que os professores prendiam os alunos em uma arena com um hipogrifo raivoso e que deveriam tentar montá-lo. Percy, que geralmente não gostava de brincadeiras, falou aos gêmeos que a seleção era feita com uma prova da grossura de um livro e deveria ser concluída em menos de dez minutos. Já os gêmeos garantiram a Rony que todas essas coisas eram verdadeiras, e que após aquilo tudo, teriam que lutar com um trasgo montanhês, o que o deixaria com uma enxaqueca. Como poderia fazer isso tudo se nunca fez nenhuma magia sequer, ou teve contato direto com algum animal mágico, e nem mesmo se deu ao trabalho de ler algum livro para se preparar para alguma prova? Sua tensão aumentava cada vez mais, assim como a sensação de que algo daria errado.



Os primeiranistas andaram por pouco tempo e pararam ao lado de uma porta, de onde podiam ouvir centenas de vozes. A escola inteira devia estar lá, no salão principal. Mas a Professora Minerva levou os alunos a uma sala vazia ao lado do saguão. Eles se agruparam lá dentro, um pouco apertados, olhando, nervosos, para os lados.



— Bem-vindos a Hogwarts — disse a Professora Minerva. — O banquete de abertura do ano letivo vai começar daqui a pouco, mas antes de se sentarem às mesas, vocês serão selecionados por casas. A seleção é uma cerimônia muito importante porque, enquanto estiverem aqui sua casa será uma espécie de família em Hogwarts. Vocês assistirão a aulas com o restante dos alunos de sua casa, dormirão no dormitório da casa e passarão o tempo livre na sala comunal. As quatro casas chamam-se Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina. Cada casa tem sua história honrosa e cada uma produziu bruxas e bruxos extraordinários. Enquanto estiverem em Hogwarts os seus acertos renderão pontos para sua casa, enquanto os erros a farão perder. No fim do ano, a casa com o maior número de pontos receberá a Taça da Casa, uma grande honra. Espero que cada um de vocês seja motivo de orgulho para a casa a qual vier a pertencer. A Cerimônia de Seleção vai se realizar dentro de alguns minutos na presença de toda a escola. Sugiro que vocês se arrumem o melhor que puderem enquanto esperam.



O olhar dela se demorou por um instante na capa de Neville, que estava afivelada debaixo da orelha esquerda, e em seguida sustentou o olhar em Rony, que teve certeza que se tratava se seu nariz manchado.



— Voltarei quando estivermos prontos para receber vocês — disse a Professora. — Por favor, aguardem em silêncio.



E se retirou da sala.



— Mas como é que eles selecionam a gente para as casas? — Harry perguntou.



Rony lembrou-se das histórias de seus irmãos e seu estômago embrulhou.



— Devem fazer uma espécie de teste, acho. Fred diz que dói à cabeça, mas acho que estava brincando.



Todos estavam apavorados com o que os esperava para a seleção das casas. Rony conseguiu ver seu reflexo no óculos de Harry, e percebeu que a mancha continuava intacta, para seu desespero. Se ela mandou que se arrumassem, provavelmente a aparência contava para alguma coisa. Sua sorte é que seu novo amigo, Harry, não tinha a melhor das aparências. Seus cabelos eram arrepiados e apontavam para todos os lados, e seus esforços para abaixá-los estavam sendo em vão. Hermione estava pouco à sua frente e cochichava algo que parecia ser feitiços. Não sabia nenhum feitiço a não ser aquele que Jorge o ensinara e que não funcionava. Estava ferrado. Pensou até em engolir seu orgulho e perguntar à garota algum feitiço de última hora, mas um alvoroço o trouxe de volta de seus pensamentos.



Harry, que estava ao seu lado, encolheu-se, escondendo-se de algo, e Rony viu que uns vinte fantasmas passavam pela parede dos fundos. Brancos-pérola e ligeiramente transparentes, eles deslizaram pela sala conversando e entre si, mal vendo os alunos por ali. Fantasmas não eram novidade no mundo bruxo, e seus irmãos já haviam falado nos fantasmas de Hogwarts. Sabia que o da Grifinória era o Nick Quase Sem Cabeça, tentou reconhece-lo mas o grupo passava com uma certa pressa, era difícil ver detalhes. O mais gordinho de todos seguia falando:



— Perdoar e esquecer eu diria, vamos dar a ele uma segunda chance...



— Meu caro Frei, já não demos a Pirraça todas as chances que ele merecia? Ele mancha a nossa reputação e, você sabe, ele nem ao menos é um fantasma.... — de repente, ele virou-se para o grupo de alunos. Harry encolheu-se um pouco mais. — Nossa, o que é que essa garotada está fazendo aqui?



O fantasma usava uma gola de rufos engomados e meiões.



— Alunos novos! — disse o frei Gorducho, sorrindo para eles.— Estão esperando para ser selecionados, imagino?



Rony e mais alguns alunos confirmaram com a cabeça.



— Espero ver vocês na Lufa-Lufa! — falou o frei, animado. — A minha casa antiga, sabe?



Nesse mesmo momento a professora Minerva voltou e os fantasmas saíram voando pela parede oposta. Ela observou se os alunos haviam se arrumado como ordenado antes, e emburrou a cara quando percebeu que o ruivo ainda tinha a mancha no nariz.



— Vamos andando agora.  A Cerimônia de Seleção vai começar.



Rony entrou na fila logo atrás de Harry, que embora tenha tentado, os cabelos continuavam tão desarrumados quanto antes. O salão Principal era exatamente como seus irmãos descreveram; iluminado por milhares de velas que flutuavam no ar sobre quatro mesas compridas, onde os demais estudantes já se encontravam sentados. As mesas estavam postas com pratos e taças douradas. No outro extremo do salão havia mais uma mesa comprida em que se sentavam os professores. O mais incrível era o teto, ou melhor, parecia não ter teto; tudo que via era uma bonita noite estrelada. Era lindo, e ao mesmo tempo assustador.



 A Professora Minerva levou os garotos para frente do salão, de modo que eles pararam enfileirados diante dos outros, tendo os professores às suas costas.



— É enfeitiçado para parecer o céu lá fora li em Hogwarts, uma história. — Hermione cochichou.



Rony não respondeu, ainda estava encantado com o salão, os professores, o teto mágico, com o clima de magia. Dali a poucos instantes finalmente seria um daqueles alunos sentados, assim como seus irmãos, que sorriam e acenavam para ele. Não demorou e a professora Minerva voltou trazendo consigo um banquinho, que colocou logo a frente dos alunos, e um chapéu de bruxo escuro, pequeno e muito velho e feio. Em sua casa certamente sua mãe teria jogado fora, consideraria um trapo.



Ao depositar o tal chapéu em cima do banquinho, o mesmo se mexeu, e um rasgo junto à aba se abriu como uma boca, e então começou a cantar.



 



Ah, vocês podem me achar pouco atraente,



Mas não me julguem só pela aparência



Engulo a mim mesmo se puderem encontrar



Um chapéu mais inteligente do que o papai aqui.



Podem guardar seus chapéus-coco bem pretos,



Suas cartolas altas de cetim brilhoso



Porque sou o Chapéu Seletor de Hogwarts.



E dou de dez a zero em qualquer outro chapéu.



Não há nada escondido em sua cabeça



Que o Chapéu Seletor não consiga ver,



Por isso é só me porem na cabeça que vou dizer



Em que casa de Hogwarts deverão ficar



Quem sabe sua morada é a Grifinória,



Casa onde habitam os corações indômitos.



Ousadia e sangue-frio e nobreza



Destacam os alunos da Grifinória dos demais,



Quem sabe é na Lufa-Lufa que você vai morar,



Onde seus moradores são justos e leais



Pacientes, sinceros, sem medo da dor,



Ou será a velha e sábia Corvinal



A casa dos que têm a mente sempre alerta,



Onde os homens de grande espírito e saber



Sempre encontrarão companheiros seus iguais,



Ou quem sabe a Sonserina será a sua casa



E ali estejam seus verdadeiros amigos,



Homens de astúcia que usam quaisquer meios



Para atingir os fins que antes colimaram.



Vamos, me experimentem! Não devem temer!



Nem se atrapalhar! Estarão em boas mãos!



(Mesmo que os chapéus não tenham pés nem mãos)



Porque sou único, sou um Chapéu Pensador!



 



O salão inteiro irrompeu em aplausos quando o chapéu acabou de cantar. Ele fez uma reverência para cada uma das quatro mesas e em seguida ficou imóvel outra vez. Rony estava atônito. Então todo aquele discurso era mentira! Provas longas, trasgos montanheses, hipogrifos raivosos... Nada disso era verdade. No fim teriam que vestir um chapéu, um bendito chapéu! Ia matar seus irmãos e seus pais. Brincadeira besta.



A Professora Minerva então se adiantou segurando um longo rolo de pergaminho.



— Quando eu chamar seus nomes, vocês porão o chapéu e se sentarão no banquinho para a seleção. Ana Abbott!



Uma garota de rosto rosado e marias-chiquinhas louras saiu aos tropeços da fila, pôs o chapéu, que lhe afundou direto até os olhos, e se sentou. Uma pausa momentânea...



— LUFA-LUFA! — anunciou o chapéu.



A mesa à direita deu vivas e bateu palmas quando Ana foi se sentar à mesa da Lufa-Lufa. Rony viu o fantasma do Frei Gorducho acenar alegremente para ela.



— Susana Bones!



— LUFA-LUFA! — anunciou o chapéu outra vez, e Susana saiu depressa e foi se sentar ao lado de Ana.



— Terencio Boot!



CORVINAL!



 A segunda mesa à esquerda que aplaudiu, vários alunos da Corvinal se levantaram para apertar a mão de Terêncio quando o menino se reuniu a eles.



Mádi Brocklehurst foi para a Corvinal também, mas Lilá Brown, uma menina loira de cabelos curtos, foi a primeira a ser escolhida para a Grifinória e a mesa na extrema esquerda explodiu em vivas.



O chapéu foi chamando nomes atrás de nomes. Em algumas pessoas demorava um pouco, em outras era rápido. A cada nome chamado, vivas e aplausos de cada uma das casas irrompiam pelo salão. Era uma verdadeira festa a cerimônia de início de ano letivo, os alunos de cada casa transpassavam o orgulho que sentiam por cada selecionado.



Porém tinha cada vez menos alunos esperando para ser chamado, e o nervosismo de Rony estava aumentando mais a cada momento. Olhou para a mesa da Grifinória e mais uma vez viu seus irmãos, e Fred lhe lançou um sorriso. E se não conseguisse sentar ao lado deles, na mesma casa? Já não bastava não ser tão bom quanto os outros, ainda iria para uma casa diferente da que toda sua família foi... Não podia pensar nisso, não era uma opção.



Simas Finnigan, um menino de cabelos cor de palha, passou sentado no banquinho quase um minuto, antes de o chapéu anunciar que iria para a Grifinória.



— Hermione Granger!



Hermione saiu quase correndo até o banquinho e enfiou o chapéu, ansiosa. Do jeito que era chata, certamente iria para a Sonserina, ou talvez para a Corvinal, já que era metida a sabe tudo. Na verdade não importava para onde ela seria selecionada, a única coisa que não queria é que ela fosse para...



— GRIFINÓRIA!



Hermione levantou-se sorrindo do banquinho, correndo satisfeita para a mesa. Rony ficou tão chateado que não conseguiu conter um gemido. Já não bastou os momentos inoportunos que ela apareceu durante a viagem, agora teria que aguentá-la por perto durante os próximos anos.



Quando Neville Longbottom, foi chamado, levou um tombo a caminho do banquinho, arrancando risinhos dos alunos sentados. O chapéu demorou muito tempo para se decidir sobre Neville. Quando finalmente anunciou "GRIFINÓRIA", Neville saiu correndo com o chapéu na cabeça, e teve de voltar em meio a uma avalanche de risadas para entrega-lo a McGonagall.



— Draco Malfoy!



Malfoy se adiantou quando chamaram seu nome. Rony, assim como o chapéu seletor, não precisou de muito tempo para descobrir para onde o garoto iria.



— SONSERINA!



Os nomes foram sendo chamados um a um. A animação do salão aumentava na medida que os novos alunos iam se acomodando nas mesas de suas casas. Parecia que tinha uma disputa silenciosa de quem ficava com a maioria.



— Harry Potter!



O salão irrompeu em murmurinhos por todos os lados. Rony via os alunos se levantando para vê-lo melhor, cochichando uns com os outros “Harry Potter?” “É ele mesmo?”. Harry se adiantou desajeitado, seu rosto estava vermelho por conta dos olhares que recebia, e então enfiou o chapéu na cabeça. O salão silenciou na mesma hora, todos na expectativa de para onde o garoto iria. Rony torceu que, seja lá para onde, que fosse para mesma casa e ele mesmo iria. Achara Harry um menino tão agradável, não conseguia vê-lo como "o famoso Harry Potter", via apenas como seu novo amigo, e o queria por perto.



O chapéu demorou um pouco para decidir, alguns cochichos começaram a ser ouvidos na mesa da Sonserina, onde pareciam particularmente interessados nele. Após uns instantes o chapéu seletor gritou:



GRIFINÓRIA!



A mesa da Grifinória irrompeu em vivas e palmas. Rony suspirou de alívio. Se tudo desse certo estariam realmente juntos. Harry parecia ter sido chacoalhado pelo chapéu, pois assim que levantou saiu cambaleando para a mesa da Grifinória, que o recebeu calorosamente, mais do que qualquer outro aluno selecionado. Pode ouvir Fred e Jorge gritando “Ganhamos Potter! Ganhamos Potter!" da mesa. Já os sonserinos estavam com cara de poucos amigos, especialmente Draco Malfoy. Já eram duas vitórias: irritaram Malfoy e ele e seu amigo ficariam na mesma casa, provavelmente. Não fosse por Hermione Granger ter ido para a Grifinória, estaria tudo perfeito.



E agora só faltavam três pessoas para serem selecionadas.



Lisa Turpin sentou-se no banquinho e Rony torceu para que o chapéu demorasse mais um pouco na menina. Ainda não estava preparado, seu estômago dava saltos mortais, podia sentir todos os doces que comera no trem fazendo uma festa dentro de si. O nervoso tomou conta de uma forma que não conseguia controlar, via o salão rodando e sentiu um mal estar muito forte; sua cara devia estar horrível!



— CORVINAL!



Lisa saiu correndo para receber as boas vindas da mesa da Corvinal. Rony fechou os olhos tentando se recompor e não passar a vergonha de vomitar na frente de toda a escola.



— Ronald Weasley!



Não teve tempo, já era a sua vez. Olhou de relance para seus irmãos, e Percy fez um sinal de positivo, o que deu um pouco mais de ânimo para ele. Andou, ou melhor, deslizou uma vez que não sentia suas pernas até o banquinho e colocou o chapéu na cabeça.



— Há! Mais um Weasley! — Rony ouviu uma voz grave e forte em sua cabeça, como se fosse um pensamento seu. — Vejamos... como seus irmãos vejo aqui um coração muito bom, é sim, muita bondade. Também vejo que você é muito leal aos seus amigos e à sua família. Tem um espírito protetor, daria sua vida por quem você ama. Também vejo muita coragem, uma coragem além do normal, poderia dizer até uma coragem de um guerreiro, um coração bravio e uma vontade enorme de mostrar que é capaz. É sim... Com certeza... Você seria grande na Lufa-Lufa... Porém tenho certeza que  será maior ainda na GRIFINÓRIA!



Foi tirado um peso enorme de seus ombros. Toda a mesa da Grifinória explodiu em vivas, e no momento que tirou o chapéu da cabeça viu que seus irmãos batiam palmas de pé. Rony saiu cambaleando para a mesa da Grifinória e sentou-se ao lado de um Harry sorridente. Provavelmente também torcia para que ficassem na mesma casa.



— Muito bem, Rony! — Percy exclamou pomposamente, na mesma hora em que Blás Zabini era mandado para a Sonserina. A Professora Minerva enrolou o pergaminho e recolheu o Chapéu Seletor.



Alvo Dumbledore se levantara. Era a primeira vez que via o diretor de Hogwarts pessoalmente, e ele era idêntico aos cartões que colecionava. Trajava vestes azuis e usava um oclinhos meia lua. Possuía uma longa barba prateada, e seus cabelos eram igualmente compridos. O diretor sorria radiante para os estudantes, os braços bem abertos, como se nada no mundo fosse mais gratificante do que ver tantos alunos reunidos.



— Sejam bem-vindos! — disse. Sua voz era confiante e irradiava felicidade. — Sejam bem-vindos para um novo ano em Hogwarts! Antes de começarmos nosso banquete, eu gostaria de dizer umas palavrinhas: Pateta! Chorão! Desbocado! Beliscão! Obrigado.



E sentou-se. Todos bateram palmas e deram vivas. Rony e Harry entreolharam-se. Aquilo não tinha feito sentido algum.



— Ele é... Um pouquinho maluco? — Harry perguntou a Percy.



— Maluco? — disse Percy despreocupado. — ele é um gênio! O melhor bruxo do mundo! Mas é um pouquinho maluco, sim.



Dumbledore tinha uma história incrível que envolvia lutas lendárias e descobertas históricas, além dos benefícios que trouxe à escola desde que entrou na escola como docente, principalmente quando assumiu como diretor.



A barriga de Rony roncou alto, e só então lembrou-se que não comia há um tempo. E como se lessem seus pensamentos, comidas apareceram magicamente nas meses. Era muita comida, de todos os tipos, algumas que nunca tinha visto. Seus irmãos sempre falaram do banquete de Hogwarts, que a comida de lá era divina, muitas melhores até do que a de sua mãe, mas sinceramente não achou que era nesse nível. A empolgação era tanta que não aguentava nem colocar a comida no prato, comia na mão mesmo, sob olhares de repreensão de Hermione, coisa que ele fingiu não ver. Por longos minutos não se ouviu muita conversa, apenas o tilintar de garfos e facas ecoando pelo salão.



— Isto está com uma cara ótima — disse o fantasma de gola de rufos observando, tristemente, Harry cortar o rosbife.



— O senhor não pode...?



— Não como há quase quatrocentos anos — explicou o fantasma. — Não preciso, é claro, mas a pessoa sente falta. Acho que ainda não me apresentei? Cavalheiro Nicholas de Mimsy-Porpington às suas ordens. Fantasma residente da torre da Grinfinória.



— Eu sei quem o senhor é! — Rony exclamou, lembrando-se do fantasma que procurava mais cedo — Meus irmãos me falaram do senhor. O senhor é o Nick Quase Sem Cabeça.



— Eu prefiro que você me chame de cavalheiro Nicholas de Mimsy. — O fantasma falou, formal, mas Simas Finnigan o interrompeu.



— Quase Sem Cabeça? Como é que alguém pode ser quase sem cabeça?



Nick pareceu insultado, e virou-se para Simas com as expressões endurecidas. Claramente aquele era um assunto que Nick não gostava de entrar.



— Assim disse com irritação. E agarrou a orelha esquerda e puxou. A cabeça toda girou para fora do pescoço e caiu por cima do ombro como se estivesse presa por uma dobradiça. Rony desviou o olhar na hora, enjoado; Harry soltou uma exclamação, Neville e Simas colocaram a mão na boca.



Satisfeito com a cara de espanto dos garotos, Nick Quase Sem Cabeça empurrou a cabeça de volta ao pescoço, tossiu e disse:



— Então, novos moradores da Grifinória! Espero que nos ajudem a ganhar o campeonato das casas este ano! Grifinória nunca passou tanto tempo sem ganhar a taça. Sonserina tem ganhado nos últimos seis anos! O barão Sangrento está ficando quase insuportável. Ele é o fantasma da Sonserina.



Rony deu uma olhada na mesa de Sonserina e viu o fantasma de olhos vidrados, uma cara muito magra e vestes sujas de sangue prateado. Estava ao lado de Malfoy, que continuava com cara de poucos amigos.



— Como foi que ele ficou coberto de sangue? — perguntou Simas muito interessado.



— Nunca perguntei, sabe? — respondeu Nick Quase Sem Cabeça,  como se o incentivasse a fazer o mesmo, não perguntar tanto.



Depois que todos comeram tudo o que podiam, as sobras desapareceram dos pratos deixando-os limpinhos como no início. Rony sentia-se estufado, não conseguiria comer mais nada... esquece, conseguiria sim, conseguiria comer muito mais, pois num piscar de olhos surgiram as sobremesas. Tijolos de sorvete de todos os sabores que se possa imaginar, tortas de maçãs, tortinhas de caramelo, bombas de chocolate, roscas fritas com geléia, bolos de frutas com calda de vinho, morangos, gelatinas, pudim de arroz... Não quis nem saber, colocou de tudo um pouco em seu prato, sem cerimônia.



— Eu sou meio a meio — disse Simas, iniciando uma conversa. — Papai é trouxa. Mamãe não contou a ele que era bruxa até depois de casarem. Teve um choque horrível.



Os outros riram.



— E você, Neville?



— Bom, minha avó me criou e ela é bruxa, mas a família achou durante anos que eu era completamente trouxa. Meu tio-avô Algi vivia tentando me pegar desprevenido e me forçar a recorrer à magia. Ele me empurrou pela borda de um cais uma vez, eu quase me afoguei. Mas nada aconteceu até eu completar oito anos. Meu tio Algi veio tomar chá conosco e tinha me pendurado pelos calcanhares para fora de uma janela do primeiro andar, quando a minha tia-avó Enid lhe ofereceu um merengue e ele sem querer me deixou cair. Mas eu desci flutuando até o jardim e a estrada. Todos ficaram realmente satisfeitos. Minha avó chorou de tanta felicidade. E vocês deviam ter visto a cara deles quando entrei para Hogwarts. Achavam que eu não era bastante mágico para entrar, entendem. Meu tio Algi ficou tão contente que me comprou um sapo.



Rony também podia ouvir Hermione conversando com Percy



— Espero que elas comecem logo, tem tanta coisa para a gente aprender, estou muito interessada em Transfiguração, sabe, transformar uma coisa em outra, claro, dizem que é muito difícil, a pessoa começa aos poucos, fósforos em agulhas e coisas pequenas assim.



Rony bufou, impaciente, se perguntando mais uma vez por que essa menina não foi para outra casa. Se era tão sabe-tudo devia ter ido é para a Corvinal. Não sabia explicar o porquê, mas sua presença o incomodava. Desde a primeira vez que a viu no trem sentiu algo estranho por ela, e decidiu que esse “algo” não era coisa boa.



Os minutos foram passando e o cansaço e o sono começaram a chegar. Já não prestava mais atenção nas conversas e a única coisa que queria naquele momento era sua cama. Estava com o queixo apoiado em sua mão quase cochilando quando...



— Ai!



Rony deu um pulo assustado com o grito de Harry. O garoto levou a mão à testa, olhando para a mesa dos professores um pouco cismado.



— Que foi? — perguntou Percy a ele.



— N-nada. – Harry falou esfregando o ponto que parecia ser sua cicatriz – Quem é aquele professor que está conversando com o Professor Quirrell?



Rony virou-se e viu que Harry se referia como Quirrell a um homem que usava um turbante roxo e parecia muito nervoso. Também pudera, o professor que estava com ele era assustador. Tinha um nariz de gancho e os cabelos ensebados, como se não o lavasse há algum tempo e usava vestes negras, que em contraste com sua pele muito branca fazia com que tivesse uma aparência fantasmagórica.



— Ah, você já conhece Quirrell é? Não admira que ele pareça tão nervoso, — Percy continuou a falar com Harry — aquele é o Professor Snape. Ele ensina Poções, mas não é o que ele queria. Todo o mundo sabe que está cobiçando o cargo de Quirrell, que é professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Conhece um bocado as Artes das Trevas, o Snape.



Rony observou por um tempo o tal professor. Parecia ser muito severo e intolerante.



Finalmente, as sobremesas também desapareceram, e o Professor Dumbledore ficou de pé mais uma vez. O salão silenciou na mesma hora.



— Só mais umas palavrinhas agora que já comemos e bebemos. Tenho alguns avisos de início de ano letivo para vocês. Os alunos do primeiro ano devem observar que é proibido andar na floresta da propriedade. E alguns dos nossos estudantes mais antigos fariam bem em se lembrar dessa proibição.



Os olhos azuis cintilantes de Dumbledore faiscaram na direção de Fred e Jorge, que se entreolharam, fingindo não notar que era com eles. Rony não pode deixar de sorrir.



— O Sr. Filch o zelador, me pediu para lembrar a todos que não devem fazer mágicas no corredor durante os intervalos das aulas. Os testes de Quadribol serão realizados na segunda semana de aulas. Quem estiver interessado em entrar para o time de sua casa deverá procurar Madame Hooch. E, por último, é preciso avisar que, este ano, o corredor do terceiro andar do lado direito está proibido a todos que não quiserem ter uma morte muito dolorosa.



Rony sentiu um calafrio ao ouvir Dumbledore falar aquilo.



— Ele não está falando sério! — Harry cochichou com Percy.



— Deve estar — respondeu Percy franzindo a testa para Dumbledore. — É estranho porque em geral ele sempre nos diz a razão porque somos proibidos de ir a algum lugar A floresta está cheia de animais selvagens, todo o mundo sabe disso. Acho que poderia ter dito aos monitores, pelo menos.



— E agora, antes de irmos para a cama, vamos cantar o hino da escola! — exclamou Dumbledore com um enorme sorriso, em contraste com os sorrisos dos outros professores, que murcharam na hora. Rony soltou um muxoxo, estava louco para ir dormir.



Dumbledore fez um pequeno aceno com a varinha como se estivesse tentando espantar uma mosca na ponta e surgiu no ar uma longa fita dourada, que esvoaçou para o alto das mesas e se enroscou como uma serpente formando palavras.



— Cada um escolha sua música preferida — convidou Dumbledore — e lá vamos nós!



E a escola entoou em altos brados:



Hogwarts, Hogwarts, Hogwarts, Hogwarts,



Nos ensine algo por favor,



Quer sejamos velhos e calvos



Quer moços de pernas raladas,



Temos às cabeças precisadas



De idéias interessantes.



Pois estão ocas e cheias de ar,



Moscas mortas e fios de cotão.



Nos ensine o que vale a pena.



Faça o melhor, faremos o resto,



Estudaremos até o cérebro se desmanchar.



Todos terminaram a música em tempos diferentes. E por fim só restaram os gêmeos cantando sozinhos, ao som de uma lenta marcha fúnebre. Dumbledore regeu os últimos versos com sua varinha e, quando eles terminaram, foi um dos que aplaudiram mais alto.



— Ah, a música — disse secando os olhos. — Uma mágica que transcende todas que trazemos aqui! E agora hora de dormir.



— Andando! —Percy gritou.



Os novos alunos da Grifinória o seguiram por entre os grupos que conversavam, saíram do salão principal e subiram a escadaria de mármore. Rony não conseguia prestar atenção no caminho que traçavam. Lembrava-se vagamente de algumas tapeçarias, passagens obscuras e algumas escadas, mas se perguntasse o caminho novamente não saberia dizer. Tudo o que queria naquele momento era dormir.



Uma sequência de bengalinhas coloridas flutuavam displicentemente no ar num corredor estreito que pegaram. Quando Percy passou por baixo delas, desataram a dar pancadinhas em seu braço.



— Pirraça — cochichou Percy para os alunos do primeiro ano. — Um Poltergeist. — E falou em voz alta — Pirraça, para com isso!



Um som alto e grosseiro, como o ar escapando de um balão respondeu.



— Quer que eu vá procurar o barão Sangrento? — Percy ameaçou, então ouviram um estalo e um homenzinho com olhos escuros e maus e a boca escancarada apareceu, flutuando de pernas cruzadas no ar, segurando as bengalas.



— Oooooooooh! — disse com uma risada malvada. — Calourinhos! Que divertido!



E mergulhou repentinamente contra eles. Todos se abaixaram.



— Vá embora, Pirraça, ou vou contar ao barão, e estou falando sério! — ameaçou Percy novamente.



Pirraça estirou a língua e desapareceu, largando as bengalas na cabeça de Neville. Eles o ouviram partir zunindo, fazendo retinir os escudos de metal ao passar.



— Vocês tenham cuidado como Pirraça — recomendou Percy, quando retomaram a caminhada. — O barão Sangrento é o único que consegue controlá-lo, ele não dá confiança aos monitores. Chegamos.



No finzinho do corredor havia um retrato de uma mulher muito gorda vestida de rosa. Ela sorria maternalmente, vendo os pequenos alunos.



— Senha? — pediu ela.



Cabeça de Dragão — disse Percy e o retrato se inclinou para frente revelando um buraco redondo na parede. Todos passaram pelo buraco, e então se viram na sala comunal da Grifinória, um aposento redondo cheio de poltronas fofas. Rony teve vontade de deitar para dormir nas poltronas mesmo, mas se conteve.



Percy indicou às garotas a porta do seu dormitório e, aos meninos, a porta do deles, no alto de uma escada em caracol. Ao subir, encontraram finalmente suas camas, cinco camas com reposteiros de veludo vermelho escuro.



As malas já haviam sido trazidas e já estava ao lado das camas. Cansados demais para falar muito, eles enfiaram os pijamas e caíram na cama.



— Comida de primeira, não foi? — comentou Rony para Harry ainda lembrando do sabor delicioso daquele banquete. Olhou para o lado e viu Perebas, seu rato, esgueirar-se pelos lençóis dobrados — Se manda, Perebas! Está roendo os meus lençóis.



Rony virou-se para Harry novamente, mas o garoto já havia adormecido sem ao menos tirar os óculos. Rony riu, tirou e colocou os óculos ao lado de sua cama. Colocou Perebas na caixa e finalmente deitou-se, olhando para o teto, sentindo como se houvessem borboletas em sua barriga.



Agora era pra valer! Assim que acordasse no dia seguinte, teria aula de verdade, aprenderia magia de verdade, diferente das que fazia sem querer quando estava assustado ou seus irmãos o irritavam. Magia para se defender, para ajudar alguém. Iria aprender magia para um dia fazer a diferença. E não via a hora de começar.


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