A Aula de Voo



Conforme os dias passavam, Rony se sentia cada vez mais em casa em Hogwarts. As pessoas já estavam se acostumando com a presença de Harry, e com isso os dois amigos podiam aproveitar um pouco mais do que a escola tinha a oferecer. Aproveitavam as horas vagas para passear ao ar livre nos jardins e observar a lula gigante serpentear no lago, andavam pelos corredores do castelo sem pretensão e com isso conseguiram descobrir algumas passagens secretas que facilitavam bastante suas vidas, e até mesmo na sala comunal conseguiam relaxar sem ninguém os observando de longe. Já tinham decorado grande parte dos caminhos e não chegavam mais atrasados nas aulas, além de conseguir despistar Pirraça, Filch e Madame Norrra com mais facilidade.



 Claro, não era tudo maravilhoso: todos os dias tinham pilhas e mais pilhas de dever de casa para fazer. Os professores pareciam esquecer que além das aulas deles, tinham várias outras e que o dia tinha apenas vinte e quatro horas, e que algumas delas deveriam ser usadas para dormir, ou comer, ou ir ao banheiro e os enchiam de tarefas sem pena. Também tinha Draco e seus amigos, que definitivamente declararam guerra à Rony e Harry e sempre que podiam implicavam com os dois.



Além disso, ainda tinha Hermione Granger. A cada dia que passava essa garota ficava mais insuportável. Todos os professores a adoravam, e ela fazia questão de se mostrar, tomando à frente em todos os momentos nas aulas, mostrando como floreava corretamente a varinha na hora que fazia um feitiço ou como seus resumos eram precisos; até mesmo Snape, que não gostava de ninguém com exceção de Draco, nunca encontrava nada para ofender em suas poções. Era irritante o sorrisinho prepotente que ela dava após cada elogio, e mais irritante ainda era que ela passava o tempo inteiro corrigindo as pessoas. Já havia corrigido-o umas três vezes durante algumas aulas, mesmo não tendo perguntado, e isso o deixava profundamente mal humorado. Harry dizia que ele estava exagerando, que ela era realmente esforçada e só estava tentando ajudar, mas Rony sabia que não; era uma metida a sabe-tudo que queria aparecer.



 Rony também teve a real noção da fama de Fred e Jorge. Cansou de ver sua mãe receber cartas e mais cartas reclamando do comportamento deles e contando as travessuras que faziam. Molly vivia se descabelando e espraguejando que os castigaria severamente. Sempre achou que sua mãe exagerava, mas viu que na verdade ela não sabia nem da metade do que aprontavam. Os gêmeos faziam questão de desrespeitar todas as regras possíveis e vivam em detenção, pareciam mesmo é gostar de arrumar confusão. Entupir banheiros, prender pessoas pelos pés em armadilhas, fugir fora do horário, soltar bombas de bosta no meio da sala comunal... não existia limite para a criatividade dos dois. Rony várias vezes teve a impressão de ver Pirraça em parceria com eles, mas logo afastou essa ideia da cabeça, afinal Pirraça não respeitava ninguém.



Em uma manhã, Rony e Harry seguiam para a primeira aula do dia quando viram um aviso pregado no grande quadro de avisos no corredor, aviso esse que o animou bastante: Finalmente teriam a primeira aula de voo. Não que não soubesse voar, sabia desde criança. Cresceu jogando quadribol no quintal com seus seis irmãos, e voar era uma de suas paixões. Por ser desajeitado não era um bom jogador de linha de frente, e nunca era escalado como artilheiro ou apanhador; porém era um dos mais altos de sua família e tinha braços e mãos grandes, então sempre acabava como goleiro. Durante um tempo isso o chateou, sentia como se isso fosse um prêmio de consolação só para não ficar de fora do jogo; porém com o tempo acabou gostando de verdade, e sempre que jogavam ele mesmo se escalava para proteger os aros improvisados que montavam no quintal. Seria bom ter aula de voo, finalmente alguma coisa que ele era bom. Cutucou Harry, animado, mas seu amigo não parecia compartilhar de sua animação.



— Típico — o garoto falou de cabeça baixa. — É o que eu sempre quis, fazer papel de palhaço montado numa vassoura na frente do Draco.



— Você não sabe se vai fazer papel de palhaço, vai que você aprende rápido? — Rony falou, dando tapinhas no ombro de Harry — De qualquer modo, Draco fica por aí dizendo que é bom em quadribol e tal, mas aposto que é mentira.



O Sonserino vivia contando vantagem sobre esse assunto. Reclamava em voz alta que os alunos do primeiro ano nunca entravam para o time de Quadribol e que estavam perdendo um exímio jogador como ele. Se gabava em longas histórias, que sempre pareciam terminar com ele escapando por um triz dos trouxas de helicóptero. Mas Rony sabia que era mentira, diferente dele que batera de verdade em uma asa delta voando na vassoura nova de Carlinhos, o que deu um baita problema para apagar a memória do trouxa que voava e uma bela bronca de sua mãe.



O que Rony queria de verdade era entrar para o time da Grifinória um dia. Cada casa em Hogwarts possuía um time e durante o ano haviam jogos entre as casas. O vencedor no final do ano levava a taça de quadribol, que era uma grande honra para a casa vencedora. Dali, do time da escola, saíam noventa por cento dos grandes nomes do Quadribol profissional de todos os tempos.



 Outro dia Rony, Harry, Neville e Dino Thomas, um outro aluno que também dividiam o dormitório, tiveram uma grande discussão sobre futebol, um esporte trouxa. Tentaram de todas as maneiras convencer a Neville e Rony que esse tal jogo era tão bom quanto quadribol, mas não chegaram nem perto de conseguir. Não via nada excitante em um jogo em que ninguém podia voar e só tinha uma bola.



A quinta-feira chegou rápido num dia fresco e ensolarado, conspirando a favor da aula daquela tarde. Rony já acordou ansioso pela, diferente de Harry e Neville, que permaneciam na grande mesa do salão principal olhando para seus pratos vazios, enjoados. Os garotos nunca haviam voado em uma vassoura na vida. Harry era compreensível pois nem sabia que era bruxo, mas Neville não era só bruxo, era um bruxo de família tradicional, puro sangue. Mas no fundo entendia, Neville conseguia causar estragos com os dois pés no chão, no ar seria desastre na certa.



Para sua surpresa, não era só Harry e Neville que estavam nervosos. Hermione parecia finalmente ter deixado aquele ar de superioridade de lado, dando lugar a um nervosismo evidente. É claro, ela também era nascida trouxa, nunca havia voado. Ela estava cansando a todos falando sobre um livro que leu no dia anterior, que dava dicas para o primeiro voo, e Neville tentava a todo custo decorar cada palavra que ela proferia. Uma bobagem, mas não seria ele a avisá-la. Diferente das matérias que tinham normalmente, não tinha aprender e decorar trechos de um livro; voar era prática, ou dom.



O som do farfalhar das asas das corujas, indicando que o correio havia chegado, desviou sua atenção de Hermione. Errol trouxe alguns bolinhos que sua mãe mandara, e Rony dividiu com seus irmãos e Harry.



— Vou comer depois, não tenho fome... — Falou, desanimado.



— Vejam, olha o que recebi! — Neville mostrava a bolinha de vidro, que parecia cheia de fumaça branca — É um Lembrol! Vovó sabe que sou esquecido. Isto serve para avisar que a gente esqueceu de fazer alguma coisa. Se a gente apertar e a fumaça ficar vermelha... Ah... — E ficou sem graça, porque o Lembrol de repente emitiu uma luz escarlate.



— ... Você esqueceu alguma coisa...



Neville tentava lembrar do que esquecera, quando de repente alguém puxou o Lembrol de sua mão. Rony virou-se e se deparou com um Draco que sorria debochado segurando o objeto. No mesmo instante Rony levantou-se, já irritado, seguido de Harry. Porém não deu tempo de reagir, pois como se farejasse a possível confusão, a professora Minerva apareceu ao lado deles.



— Que é que está acontecendo? — Perguntou séria.



— Draco tirou o meu Lembrol, professora. — Neville choramingou.



Mal-humorado, Draco jogou o Lembrol em cima da mesa.



— Só estava olhando — falou, e saiu de fininho com Crabbe e Goyle em sua cola.



No horário marcado os alunos da Grifinória encontraram-se com os da Sonserina no campo de Quadribol. Haviam cerca de vinte vassouras feias e velhas enfileiradas no chão. E ao fundo, andando rápido, vinha a professora de voo. Ela se chamava Madame Hooch, como tinha lido no quadro de aviso; tinha cabelos curtos e grisalhos, era alta e seus olhos eram amarelos como os de um falcão. Ela parou entre as fileiras de vassouras, em seguida, olhou para os alunos.



O que estão fazendo aí parados, de longe? — perguntou com rispidez. — Cada um ao lado de uma vassoura. Vamos, andem logo.



Rony apressou-se a escolher uma vassoura. Todas estavam em péssimas condições, e por fim ficou com uma preta, de ponta quebrada, como se alguém tivesse caído com ela de bico no chão.



— Estiquem a mão direita sobre a vassoura — mandou Madame Hooch diante deles — e digam "Em pé!”.



— EM PÉ! — gritaram todos.



A vassoura Rony subiu um pouco lenta, mas foi direto para sua mão. Teria considerado um grande feito, se a vassoura de Draco não tivesse subido de uma só vez, de maneira perfeita, assim como, para sua surpresa, a de Harry. O garoto sorriu, encantado, e Rony se incomodou um pouco; fazia isso a tanto tempo, o que fez errado afinal? Só não ficou mais triste pois a de Hermione Granger não subia por melhor que ela ordenasse, apenas se revirava no chão.



Então finalmente achou algo que ela não era boa.



Madame Hooch, em seguida, mostrou-lhes como montar as vassouras sem escorregar pela outra extremidade, e passou pelas fileiras de alunos corrigindo a maneira de segurá-la.



— Ei, você! — ela chamou para Draco, que montava pomposo uma vassoura carmim — Vá mais para o centro, dessa forma ela vai ficar desequilibrada.



O garoto crispou os lábios, irritado.



— Eu monto a vassoura dessa maneira há anos. — Informou, malcriado.



— Então você faz isso errado há anos. Vamos, conserte-se!



Rony, Harry e Neville, que estava em frente, não seguraram os risinhos, que não passou despercebido pelo loiro.



— Agora, quando eu apitar, dêem um impulso forte com os pés — disse a professora.— Mantenham as vassouras firmes, saiam alguns centímetros do chão e voltem a descer curvando o corpo um pouco para frente. Quando eu apitar: Três... Dois..



O sorriso de Neville pela bronca de Draco murchou no momento em que o ouviu que teria que alçar voo e, assustado, deu um impulso forte antes mesmo de o apito tocar os lábios de Madame Hooch.



— Volte, menino! — gritou ela, mas Neville subia girando e girando pelo ar. Todos começaram a gritar e a vassoura não parava de subir. Neville estava pálido, prestes a desmaiar, e quando a vassoura atingiu cerca de seis metros, Neville perdeu as forças e despencou, caindo na grama em um baque surdo, enquanto a vassoura continuou voando céu adentro.



 Madame Hooch voou para onde Neville estava, tão pálida quando ele, e soltou um suspiro de alívio após um exame superficial.



— Pulso quebrado — Ela murmurou, ajudando Neville a se levantar. Em seguida, virou-se para o restante dos alunos.



— Nenhum de vocês vai se mexer enquanto levo este menino ao hospital! Deixem as vassouras onde estão ou vão ser expulsos de Hogwarts antes de poderem dizer "Quadribol". Vamos, querido.



Ela saiu apoiando um Neville choroso pelos ombros. Assim que desapareceu de vsita, Draco desatou a rir.



— Vocês viram a cara dele, o panaca?



Os outros alunos da Sonserina riram junto.



— Cala a boca, Draco — retrucou Parvati Patil, uma menina de pele morena e longos cabelos negros da Grifinória.



— Uuuu, defendendo o Neville? — disse Pansy Parkinson, da Sonserina, uma garota de pele clara, cabelos curtos e negros e com cara de mandona — Nunca pensei que você gostasse de manteiguinhas derretidas, Parvati.



Rony ouviu Harry bufar, olhando fixamente para Draco. A última vez que viu seu amigo vom essa expressão foi quando enfrentou o Professor Snape.



— Olhe! — disse Draco, recolhendo alguma coisa do chão. — É aquela porcaria que a avó do Neville mandou.



Era o Lembrol. E Draco olhava-o cobiçoso, pensando em que maldade fazer.



— Me dá isso aqui, Draco — falou Harry em voz baixa. Todos pararam de falar na mesma hora. Sabia que Harry estava prestes a arrumar confusão. Era melhor se preparar caso tivesse que entrar em alguma briga.



Draco riu, debochado.



— Acho que vou deixa-la em algum lugar para Neville apanhar, que tal em cima de uma árvore?



— Me dá isso aqui! — berrou Harry, mas Draco montara na vassoura e saíra voando. Infelizmente Draco não mentiu quando disse que sabia voar. Em um segundo ele alcançou os ramos mais altos de uma árvore.



— Venha buscar, Potter! — provocou.



O rosto de Harry estava vermelho e ele respirava pesado. Rony pensou em ele mesmo montar a vassoura e ir atrás de Draco, mas Harry tomou a frente, agarrando a vassoura, decidido. Rony guinchou; ele nunca havia montado uma vassoura, ia passar vergonha.



— Não! — gritou Hermione no momento em que Rony ia pedir à Harry que parasse — Madame Hooch disse para a gente não se mexer, vocês vão nos meter numa enrascada.



No geral Harry tinha uma certa paciência com a chatice de Hermione, mas dessa vez não demonstrou: passou por ela como se não tivesse visto, montou a vassoura e alçou voo como se fizesse isso há anos. Como já tinha dito anteriormente, voar bem vinha de prática ou dom, e claramente Harry tinha dom.



— Boa Harry! — Rony gritou, mas Harry estava alto demais para ouvi-lo.



— Você acha isso legal? — Hermione bradou — Ele vai ser expulso e vamos perder pontos para a Grifinória.



Rony rosnou, virando-se para ela.



— Cala a boca! — bradou enraivecido — Você é muito irritante!



Hermione ficou vermelha e seus olhos marejaram, mas ele ignorou e olhou para cima, tentando entender o que Harry e Draco diziam, mas não dava para ouvir.



Entretanto, apesar de Harry estar se saindo bem, Rony ficou preocupado. Ele pode ter até surpreendido voando daquele jeito, mas já é querer demais que voasse perfeitamente. Draco era mais experiente e podia se aproveitar disso para derruba-lo da vassoura, e na altura que estavam poderia ser um acidente mais grave que o de Neville.



Porém mais uma vez o menino-que-sobreviveu impressionou a todos. Sem que esperassem ele curvou-se para frente, e disparou na direção de Draco como uma lança. O sonserino só conseguiu escapar por um triz.



Os meninos aplaudiram e Hermione voltou a reclamar. Harry realmente era surpreendente, nem mesmo Rony, nascendo bruxo e com todos seus irmãos aprendeu a voar tão rápido, e lá no fundo, sentiu-se incomodado de novo.



Harry e Draco continuaram de frente um para o outro. De repente o loiro gritou em alto e bom som “Então apanhe se puder” e atirou a bolinha.



Harry se curvou para frente e apontou o cabo da vassoura para baixo, e  no instante seguinte estava ganhando velocidade num mergulho quase vertical, apostando corrida com a bolinha. Rony sentiu um frio na espinha. Na velocidade que descia ele iria no mínimo quebrar todos os ossos de seu corpo, todos começaram a gritar mandando Harry parar, mas isso não era o pior: Pressentindo o que estava acontecendo, professora Mcgonagall apareceu correndo para onde os alunos estavam. Crabbe e Goyle deram um sorrisinho com a cara de desaprovação da professora que vinha andando rápido. Quando viu o mergulho de Harry ela parou com a mão na boca.



Harry esticou a mão a uns trinta centímetros do solo. Rony fechou os olhos para não ver Harry cair, mas o baque surdo que esperou ouvir não aconteceu. Quando abriu os olhos, Harry pousava suavemente na grama, com o Lembrol na mão, sorrindo vitorioso. Estava impressionado. Rony só tinha visto aquele tipo de manobra com jogadores profissionais, que treinavam há anos para tal feito. Diferente disso viu no máximo viu Victor Krum, um apanhador búlgaro de catorze anos que era uma promessa para a seleção de seu país, fazer a mesma coisa numa nota que saiu no jornal, mas nunca um novato que pegou pela primeira vez em uma vassoura.



— HARRY POTTER!



Rony tremeu como grito da professora Minerva. O sorriso de Harry murchou e no lugar sobrou uma cara assustada. A professora estava com as feições mais duras que de costume, e veio correndo para perto deles.



— Nunca... Em todo o tempo que estou em Hogwarts... — ela gaguejava, espantada, suas mãos tremendo com violência—... Como é que você se atreve... Podia ter partido o pescoço...



— Não foi culpa dele, professora...



— Calada, Srta. Patil...



— Mas Draco...



— Chega, Sr. Weasley, Potter me acompanhe, agora.



Harry seguiu com a professora Minerva para dentro do castelo. Será que seria expulso? Não podiam expulsá-lo, ele é Harry Potter, o menino que sobreviveu. Seu novo amigo.



Assim que sumiram, Draco, Crabbe e Goyle caíram na gargalhada.



— É um idiota, não? — Draco falou em meio a risos — Achou que iria se dar bem nessa só por ser famoso...



— Mas ele se deu melhor que você, seu retardado. — Rony falou para Draco, esquecendo que Crabbe e Goyle juntos acabariam com ele. — Aposto como você não faria nem a metade do que ele fez.



Draco pareceu desconcertado, mas se recompôs.



— E você, Weasley? Aposto que não sabe voar, seus pais não podem comprar uma vassoura para você...



Rony não pensou em mais nada, partiu para cima de Draco como um foguete. O loiro se assustou, mas não recuou. Porém antes que pudesse alcança-lo, Hermione entrou na sua frente, segurando seus braços.



— Não faz isso, vai acabar piorando as coisas para a Grifinória!



— Por que você se mete em tudo? — Rony bradou, já estava se cansando dela. — Me solta!



— Ouve sua namorada, Weasley. Porque se ela te soltar eu acabo com você.



— Cala a boca! – Rony falou irritado, tentando empurrar a garota, que era bastante forte, por sinal.



Madame Hooch voltou correndo e Rony, Hermione e Draco disfarçaram. Ela olhou desconfiada para os três, mas estes fingiram estar tudo bem.



— O sr Longbotton está bem, na ala hospitalar. — ela informou — Em suas posições, andem. A aula vai continuar!



Todos ficaram na mesma posição que estavam no início. O lugar ao lado de Rony, onde seria Harry ficou vago.



— Onde está Potter?



— Ele teve um probleminha, professora — Rony disse rapidamente antes que alguém contasse o que aconteceu. — Teve que voltar ao castelo com a professora McGonagall.



— Eu diria que teve um problemão! — Draco falou e todos da Sonserina riram.



— Bem, se está com a professora Minerva... Em suas posições? Digam “em pé”!



A partir dali a aula de Voo correu tranquilamente. Tirando a preocupação com o destino de Harry, Rony estava indo muito bem na aula. Alguns alunos tiveram alguma dificuldade, mas logo todos estavam no ar, todos menos Hermione. Os primeiranistas estavam dando voltas no campo a dois metros de altura, mas o máximo que a garota conseguiu foi levantar trinta centímetros e cair de novo. Ela estava com o rosto vermelho de vergonha, inconformada de não conseguir. Realmente ela parecia não gostar de não ser a melhor em alguma coisa., e ver esse desespero dava uma satisfação pessoal à Rony, que fazia questão de passar o mais perto dela possível para implicar.



— Por que você ainda não saiu do chão, menina? — Madame Hooch perguntou.



Viu Hermione gaguejar alguma coisa e a professora se aproximar. Naquele momento, Lilá Brown despencou no chão do lado oposto. Antes de socorrê-la, ela olhou para cima no momento em que Rony passava veloz perto de Hermione.



— Você Weasley! — Madame Hooch chamou — Ajuda a menina a voar!



Rony freou no ar, fazendo cara feia.



— Acho que não posso, Madame Hooch. Não sou bem em explicar as coisas...



— Não é bom em explicar mas é bom em fazer gracinhas. Eu estou vendo você voar próximo ao chão. — Todos deram risadinhas, Rony sentiu suas orelhas queimarem. — Desça e ajude.



Era uma ordem, então desceu contra a vontade para ajudar uma Hermione emburrada.



— Você não precisa vir aqui me ensinar se não quer, pode voltar a voar e dar rasantes. Eu não ligo para isso, nunca quis voar de qualquer maneira, isso tudo é uma grande bobagem.



Ela virou as costas e subiu na vassoura, dando impulso mais uma vez, mas continuava conseguindo somente os mesmos trinta centímetros de antes.



— Ótimo então. — Rony ia voltar para o alto, mas Madame Hooch o olhou de cara feia. Ele disfarçou, voltando para Hermione, observando-a. No momento em que ela dava impulso com o pé, seus cabelos cheios esvoaçavam em suas costas. Seu rosto contorcia, concentrado, e ela franzia o nariz, o que deixava seus dentes grandes à mostra. No geral essa seria uma expressão estranha, mas incrivelmente ela ficava bonita.



No que estava pensando?



Balançou a cabeça e pigarreou, afastando esses pensamentos, se concentrando apenas no que interessava.



— Você fica ereta demais, curva mais um pouco seu corpo. — falou alto, mas ela nem o olhou — E para de tremer, se você ficar com medo nunca vai conseguir. Isso é magia, a vassoura sabe que você está insegura.



Ela mais uma vez não o olhou, mas acatou de má vontade, e seguindo as dicas, conseguiu subir um pouco mais do que antes.



— Eu consigo sozinha agora. De qualquer forma, acabaria conseguindo. — Ela falou, pomposa, voando meio cambaleante para longe dele.



— Ainda é mal agradecida... — murmurou para si mesmo, voltando também.



A aula acabou já perto de anoitecer. Rony retornou para o dormitório às pressas, curioso para saber o que acontecera com Harry, mas o garoto não estava lá. Notou que suas coisas ainda estavam, isso significava que no mínimo ele estava sendo julgado antes de ser expulso. Demorou o máximo que pode na esperança dele aparecer, mas o garoto não deu sinal de vida durante todo o tempo. Desistiu de esperar e desceu para jantar, quem sabe na volta ele não estaria lá guardando suas coisas? Era duro pensar que seu único amigo em Hogwarts provavelmente seria expulso; sem dúvida Rony não tinha muita sorte.



Porém ao chegar ao salão principal ele teve uma surpresa: Harry estava sentado na ponta da mesa, conversando com os outros, alegre, como se nada demais tivesse acontecido, comendo despreocupado. Rony correu à seu encontro, curioso.



— Achei que você não viria mais. — Harry falou a Rony quando o mesmo se aproximou, abocanhando uma coxa de galinha.



— Eu que achei que você não viria mais! — Rony retrucou sem acreditar que Harry estava calmo na sua frente. — Você não foi expulso?



— Não. — ele falou, sorrindo largo, e Rony notou que ele tinha um pedaço de alguma coisa em seu dente. — Eu realmente achei que seria pois ela estava muito séria e calada durante todo o caminho que tomamos. Porém ao invés de me levar para o diretor me expulsar, me levou até um garoto chamado Olívio Wood, capitão do time de quadribol. Ela ficou bem impressionada com o modo que eu consegui pegar o lembrol e disse que nem mesmo seu irmão Carlinhos seria capaz de fazer igual. Então ela e Wood me convidaram a participar do time de quadribol da Grifinória. Estão precisando de um apanhador e nos testes não conseguiram ninguém talentoso, então disseram que eu era perfeito para ser o novo apanhador. Olívio me contou que meu pai também era jogador e foi capitão do time na época, e a professora Minerva disse que se eu treinasse com vontade perdoaria o modo como me comportei hoje.



Rony estava boquiaberto com a históra: Harry Potter apanhador do time da Grifinória? Mas há menos de um dia ele não sabia voar. Não teve como reprimir a pontinha de inveja que sentiu.



— Apanhador? — perguntou, disfarçando. — Mas os alunos do primeiro ano nunca vão para o time, você vai ser o jogador da casa mais novo do último...



— Século — completou Harry, enfiando o pastelão na boca. — Olívio me disse.



Rony estava tão admirado, tão impressionado, e orgulhoso de seu amigo que ficou ali sentado de boca aberta para ele. O menino-que-sobreviveu, o jogador mais novo do século... o que mais seria? Tinham tão pouco tempo na escola e Harry já havia conquistado coisas que Rony não havia na vida. Jamais fora alguém importante ou destaque de alguma coisa. Suspirou, desanimado. Não iria admitir, mas estava com inveja do amigo, e se sentindo culpado por pensar tal coisa. Harry não tinha culpa de ser talentoso e de Rony não ter nada de especial.



— Vou começar a treinar na próxima semana — continuou Harry. — Só não conte a ninguém, Olívio quer fazer segredo.



Rony assentiu, concentrado em não deixar Harry perceber seu breve complexo de inferioridade. Apesar do que pensava, estava verdadeiramente feliz por ele.



Fred e Jorge entraram nesse momento no salão e vieram correndo na direção onde os meninos estavam sentados.



— Que ótimo! — falou Jorge em voz baixa. — Olívio nos contou. Estamos no time também... Batedores.



— Sabe de uma coisa, tenho certeza de que vamos ganhar a taça de Quadribol deste ano — disse Fred. — Não ganhamos desde que Carlinhos terminou a escola, mas o time deste ano vai ser brilhante. Você deve ser bom, Harry, Olívio estava quase dando pulinhos quando nos contou.



— Em todo o caso, temos de ir, Lino Jordan acha que encontrou uma nova passagem secreta para sair da escola.



O gêmeos saíram apressados, e quase no mesmo momento, para seu desgosto, Draco, Crabbe e Goyle se aproximaram deles.



— Comendo a última refeição, Harry? Quando vai pegar o trem de volta para a terra dos trouxas?



— Você está bem mais corajoso agora que voltou ao chão e está acompanhado por seus amiguinhos — disse Harry, irônico.



Crabbe e Goyle fecharam os punhos, porém nada podiam fazer uma vez que a mesa dos professores estava cheia.



— Enfrento você a qualquer hora sozinho — provocou Draco. — Hoje à noite, se você quiser. Duelo de bruxos. Só varinhas, sem contato. Que foi? Nunca ouviu falar de duelo de bruxos, suponho?



Rony se empolgou. Um duelo de bruxos seria ótimo para colocar aquele loiro aguado no lugar dele. Provavelmente Harry não sabia duelar, mas ele também não sabia voar e voou, valia a pena apostar. Então antes que ele respondesse, tomou a frente.



— Claro que conheço — respondeu Rony — Vou ser o padrinho dele, quem vai ser o seu?



Draco analizou Crabbe e Goyle, talvez decidindo pelo maior, ou menos burro.



— Crabbe, meia-noite está bem? Nos encontramos na sala de troféus, está sempre destrancada.



Quando Draco foi embora, Rony e Harry se entreolharam.



— O que é um duelo de bruxos? — perguntou Harry. — E o que você quis dizer quando se ofereceu para ser meu padrinho?



— Bom, o padrinho fica lá para tomar o seu lugar se você morrer — Rony falou, tranquilo, começando finalmente a comer o pastelão que já estava frio. Surpreendido com a expressão no rosto de Harry, acrescentou — Mas as pessoas só morrem em duelos de verdade, sabe, com bruxos de verdade. O máximo que você e Draco conseguirão fazer será atirar fagulhas um no outro. Nenhum dos dois conhece magia suficiente para fazer estragos. Mas aposto que ele esperava que você recusasse.



— E se eu agitar minha varinha e nada acontecer?



— Jogue a varinha fora e meta-lhe um soco na cara — sugeriu Rony, já se imaginando dando um soco bem dado no nariz de Draco.



— Com licença.



Os dois ergueram os olhos. Era Hermione Granger. Já sentiu seu rosto esquentar de raiva. Ela estava perseguindo-os, só pode.



— Será que a pessoa não pode comer sossegada neste lugar? — exclamou, mas ela ignorou-o. Devia estar ainda ressentida com a aula de voo.



— Não pude deixar de ouvir o que você e Draco estavam dizendo... — ela falou exclusivamente para Harry, deixando claro que não era com ele o papo.



— Aposto que podia – Rony alfinetou, e ela ignorou mais uma vez.



— E você não deve andar pela escola à noite, pense nos pontos que vai perder para a Grifinória se for pego, vai ser muito egoísmo da sua parte.



— Para falar a verdade, não é da sua conta. — respondeu Harry, malcriado.



— Tchau — disse Rony e Hermione saiu de cara emburrada.



Rony passou a noite toda dando conselhos a Harry: "Se ele tentar lançar um feitiço é melhor você tirar o corpo fora, porque não consigo me lembrar de nenhum feitiço de proteção". Ainda bolaram uma estratégia para, caso Draco acertasse Harry, Rony o atacaria em seu lugar, na esperança se acertar só um soquinho naquele nariz fino. Por alguns momentos até pensou se deveria tentar fazer Harry desistir do duelo. Por mais que odiasse admitir, Hermione tinha toda razão. Podiam cruzar com Filtch ou Madame Norrra, ou até mesmo com algum professor, e caso fossem pegos perderiam muitos pontos para a Grifinória, além de ficarem em detenção. Mas a ideia de dar um soco em Draco não deixava que ele o fizesse.



— Onze e trinta — Rony cochichou, é melhor irmos.



Eles se ajeitaram, apanharam as varinhas e atravessaram sorrateiros o quarto da torre, desceram a escada em espiral e entraram na sala comunal da Grifinória. Algumas brasas ainda queimavam na lareira, transformando todas as poltronas em sombras disformes na parede. Tinham quase chegado à abertura no retrato quando uma voz falou da poltrona mais próxima.



— Não posso acreditar que vocês vão fazer isso.



Uma lâmpada se acendeu. Era Hermione Granger, de robe cor-de-rosa e a cara fechada. Mas que garota intrometida, inacreditável!



— Deixa a gente em paz! — exclamou entre os dentes. — Volte para a cama!



— Quase contei ao seu irmão — retorquiu Hermione. — Percy, ele é monitor, ia acabar com essa história.



Rony pensou em uma centena de coisas malcriadas para responder a Hermione, mas não tinha coragem de falar certas coisas a uma garota, por mais irritante que ela fosse. Respirou fundo e virou-se para Harry.



— Vamos — e o amigo. Era melhor ignorá-la para não perder a cabeça. Afastou o retrato da Mulher Gorda com empurrão e passou pela abertura.



— Mas que menina incoveni...



O retrato girou mais uma vez, e Hermione saiu de lá de dentro, o rosto contorcido, bufando.



— Vocês não se importam com a Grifinória, vocês só se importam com vocês mesmos, eu não quero que a Sonserina ganhe a Taça da Casa e vocês vão perder todos os pontos que ganhei com a Professora Minerva por saber a Troca de Feitiços.



— Vai embora. — Dessa vez foi Harry quem falou. Até ele já não aguentava mais as intromissões de Hermione.



— Tudo bem, mas eu preveni vocês. Lembrem-se do que eu disse quando estiverem amanhã no trem voltando para casa, vocês são tão...



Mas o que eram, eles não chegaram saber. Hermione se virara para o retrato da Mulher Gorda para tornar a entrar e se viu diante de um quadro vazio. A Mulher Gorda tinha saído para fazer uma visita noturna em algum outro quadro e Hermione ficou trancada do lado de fora da torre da Grifinória.



— Agora o que é que eu vou fazer? — perguntou amedrontada.



— O problema é seu — Rony respondeu satisfeito com o fato de ela ter se dado mal — Nós temos de ir, senão vamos nos atrasar.



Ele saiu satisfeito de ver o tosto choroso de Hermione ficar para trás. Mas não tinham nem tinham chegado ao fim do corredor quando Hermione os alcançou novamente.



— Vou com vocês.



— Não vai, não. — Rony olhando-a de cara feia.



— Vocês acham que vou ficar parada aqui, esperando o Filch me pegar? Se ele nos encontrar eu conto a verdade, que estava tentando impedir vocês de saírem, e vocês podem confirmar.



— Mas que cara-de-pau — disse Rony bem alto — Não vou confirmar nada, você veio porque quis, ninguém te...



— Calem a boca, vocês dois — mandou Harry bruscamente. — Ouvi uma coisa.



Era como se alguém estivesse farejando.



— Madame Norrra? — murmurou Rony, apertando os olhos para enxergar no escuro.



Não era Madame Norrra, era Neville. Estava enroscado no chão, dormindo a sono solto, mas acordou repentinamente assustado quando eles se aproximaram.



— Graças a Deus que vocês me encontraram! Estou aqui há horas, não consegui me lembrar da nova senha para entrar no quarto.



— Fale baixo, Neville. A senha é "focinho de porco", mas não vai lhe adiantar nada agora, a Mulher Gorda saiu.



— Como está o braço? — perguntou Harry.



— Ótimo — disse Neville mostrando. — Madame Pomfrey consertou-o na hora.



— Que bom, olhe, Neville, temos que estar em um lugar, vemos você depois.



— Não me deixem aqui! — pediu o menino, pondo-se de pé. — Não quero ficar sozinho, o barão Sangrento já passou por aqui duas vezes. Vai que o Pirraça resolve aparecer também?



Rony consultou o relógio e em seguida fez uma cara furiosa para Hermione e Neville.  Estava tudo correndo bem, até a senhora metida e o senhor atrapalhado aparecerem.



— Se formos pegos por causa de vocês, não vou sossegar até aprender aquela Poção do Morto-Vivo que Quirrell falou e vou usá-la contra vocês.



Seguiram sorrateiros pelos corredores escuros, tentando fazer o máximo de silêncio possível. A todo momento tinha a sensação que seriam flagrados e por isso não olhavam sequer para o lado. A sala ficava no terceiro andar e os quatro subiram as escadas nas pontas dos pés. Rony impediu Neville de tropeçar umas três vezes, evitando assim um barulho desnecessário. Finalmente depois do que pareceu uma eternidade chegaram ao local do encontro.



Haviam centenas de vitrines que guardavam milhares de troféus de todos os tipos. Os grifinórios seguiram rente à parede até o fundo da sala, mas não havia sinal de ninguém.



— Ele está atrasado, será que desistiu? — Rony sussurrou. Então uma batida na sala ao lado os sobressaltou, Harry e Rony sacaram as varinhas, esperando Draco e Crabbe aparecerem. Mas para seu desespero não era nenhum dos dois.



— Vá farejando, minha querida, eles podem estar escondidos em algum canto.



Era a voz arrastada de Filch falando com Madame Norrra. Os quatro entraram em desespero. Harry, mais frio, fez sinal para que o acompanhassem, e Rony o seguiu com Hermione e Neville logo atrás de si. Andaram pelo lado oposto que entraram, agachados, e mal tinham virado a primeira curva quando ouviram Filch e a gata entrarem na sala.



— Eles estão por aqui — ouviram-no resmungar —, provavelmente escondidos.



— Por aqui! — disse Harry. Eles começaram a descer uma longa galeria cheia de armaduras. Filch estava se aproximando cada vez mais depressa, e Neville, ao ver a sombra do zelador na parede oposta, se assustou, soltando um guincho, correndo desesperado. Mas de Neville que estavam falando, não deu três passadas e tropeçou, agarrando Rony pela cintura, e os dois desabaram em cima de uma armadura.



O barulho da queda foi alto o suficientes para acordar o castelo inteiro.



— CORRAM! — gritou Harry e os quatro desembestaram pela galeria, sem virar a cabeça para ver se Filch os seguia. As costas de Rony doíam e isso fazia com que corresse mais devagar; o que era de certa forma bom, pois suas pernas eram mais compridas do que qualquer um dos outros três e assim eles conseguiam acompanha-lo. Atravessaram uma tapeçaria, rasgando-a e por sorte encontraram uma passagem secreta. Entraram desesperados pelo corredor desconhecido, e milagrosamente saíram perto da sala de feitiços, há quilômetros de onde estavam.



— Acho que o despistamos — ofegou Harry, enxugando a testa. Neville caiu escorado na parede, com as mãos no joelho, chiando e falando desconexamente.



— Eu... Disse... A vocês — Hermione falou sem fôlego, agarrando o bordado no peito. — Eu... Disse... A vocês.



— Temos de voltar à torre de Grifinória — lembrou Rony, já estava farto de aventuras por hora. —, o mais rápido possível.



— Draco enganou você — disse Hermione a Harry. — Já percebeu isso, não? Não ia enfrentar você. Filch sabia que alguém ia estar na sala dos troféus. Draco deve ter contado a ele.



Harry ficou com o rosto vermelho e olhou para Rony, que cruzou os braços, inconformado. Hermione tinha razão, caíram na armadilha do Sonserino como patinhos.



Puseram-se a andar, desanimados, ansiosos para voltarem à torre da Grifinória. Isso não ia ficar assim, ia dar um jeito de se vingar daquele idiota loiro. Já tinham chegado quase à metade do caminho quando ouviram um barulho. Já se encolheram achando que era Filch, mas não era, era ainda pior.



Era Pirraça.



—Pirraça, por favor, você vai fazer a gente ser expulso. — Tentou negociar.



Pirraça soltou uma gargalhada.



— Passeando por aí à meia-noite, aluninhos? Tsc, tsc. Que feinhos, vão ser apanhadinhos.



— Não, se você não nos denunciar, Pirraça, por favor. — Hermione implorou.



— Devia contar ao Filch, devia — disse Pirraça bem comportado, mas seus olhos cintilaram de maldade. — É para o seu próprio bem, sabem?



Rony não aguentou, estava estressado demais para negociar com um poltergaist malcriado.



— Saia da frente — disse com rispidez, baixando o braço em Pirraça. Porém arrependeu-se de ter feito isso na mesma hora.



— ALUNOS FORA DA CAMA! — berrou Pirraça. — ALUNOS FORA DA CAMA NO CORREDOR DO FEITIÇO!



Passando por baixo de Pirraça eles saíram desembalados até o final do corredor que se encontravam, onde depararam com uma porta enorme impedindo a passagem... Rony, que estava à frente, puxou a argola da porta para abrir. Em vão. A porta estava trancada.



— Acabou-se! — gemeu, forçando inutilmente a passagem — Estamos ferrados! É o fim!



Ouviram passos, era Filch correndo apressado em direção aos gritos de Pirraça.



— Ah, sai da frente — Hermione empurrou Rony para o lado com ignorância, e, pegando a varinha da mão de Harry, bateu na fechadura, murmurando:



— Alorromora!



A fechadura deu um estalo e a porta se abriu, eles se atropelaram por ela, fecharam-na e apuraram os ouvidos, à escuta.



— Para que lado eles foram, Pirraça? — era Filch perguntando. — Depressa, me diga.



— Peça "por favor".



— Não me enrole, Pirraça, vamos, para que lado eles foram?



— Não digo nada se você não pedir "por favor" — disse Pirraça dando risinhos.



— Está bem, “por favor”.



— NADA! Nada haaa! Eu disse a você que não dizia nada se você não pedisse por favor! Haha! Haaaaaa! — E ouviram Pirraça voar rápido para longe e Filch xingar com raiva, correndo para o outro lado.



Rony respirou aliviado, recostando na porta. Mas perdeu o ar ao ver o que tinha na sua frente. Sentiu Hermione agarrar seu braço com força, pálida. Neville puxava a manga de Harry freneticamente, mas o garoto prestava atenção do lado de fora. Não estavam numa sala, achavam-se num corredor, o corredor proibido do terceiro andar. E agora sabiam por que era proibido.



Estavam encarando os olhos de um cachorro monstruoso, um cachorro que ocupava todo o espaço entre o teto e o piso. Tinha três cabeças. Três pares de olhos que giravam enlouquecidos. Três narizes, que franziam e estremeciam farejando-os. Três bocas babosas, a saliva escorrendo pelos cantos das presas amarelas.



— Ele acha que a porta está trancada, por isso se foi! — Harry falou. — Acho que escapamos. Para de me puxar, Neville! Que foi?



Harry arregalou os olhos assustado, recuando ao ver o bicho se aproximar lentamente. Rony estava tonto, Hermione agarrava seu braço com tanta força que dali a pouco ficaria dormente, e Neville estava prestes a chorar. Os rosnados eram ensurdecedores. Harry foi o único que teve frieza suficiente para tatear a porta até achar a maçaneta. Abriu de uma vez e os quatro saíram apressados, quase atropelando uns aos outros, e correndo desembestados corredor afora. Filch deve ter ido procurá-los do outro lado do castelo, pois se estivesse por perto certamente iria ouvi-los correr aos trotes pelo castelo silencioso. Correram sem parar até encontrarem o quadro da mulher gorda no sétimo andar, que para a sorte deles já tinha voltado ao seu posto. Ao ver os quatro alunos, colocou as mãos na cintura, invocada.



— Onde foi que vocês andaram? — perguntou ela.



— Não interessa. Focinho de porco, focinho de porco — ofegou Harry, e o quadro girou para frente.



Eles entraram no salão respirando pesado, suados, trêmulos e assustados, desmontando-se nas poltronas mais próximas. Foi por pouco, muito pouco. Não estiveram só perto de serem expulsos, estiveram perto de serem mortos. Era só para ser um duelo bobo, e quase acabou em tragédia.



Mas era essa a questão, por que mantinham uma coisa daquelas dentro de um castelo cheio de crianças e adolescentes travessos? Tiveram sorte em escapar, porém outros poderiam não conseguir. A troco de que correriam o risco de ter um acidente?



— O que vocês acham que eles querem mantendo um monstro daqueles aqui dentro? — perguntou a Harry.



Hermione se remexeu no sofá, seus cabelos estavam mais armados do que de costume, mas vendo sua cara feia, deduziu que pelo jeito já tinha recuperado o mau humor.



— Vocês não usam os olhos, usam? — perguntou com rispidez. — Vocês não viram em cima do que ele estava?



— No chão? — perguntou Harry. — Eu não fiquei olhando para as patas, estava ocupado demais com as cabeças.



— Não, não estou falando do chão. Ele estava em cima de um alçapão. É claro que está guardando alguma coisa.



Ela se levantou olhando feio para eles.



— Espero que estejam satisfeitos com o que fizeram. Podíamos ter sido mortos, ou pior, expulsos. Agora, se vocês não se importam, eu vou me deitar.



Rony ficou olhando para ela enquanto sumia escada acima, inconformado.



— Qualquer um pensaria que nós a arrastamos conosco, não é mesmo?



Mas Harry estava distraído com outra coisa e Rony sabia o que era. Se o cachorro estava guardando algo, sinal que era importante e que precisava de segurança máxima, e a única coisa que conseguia pensar era no que fora roubado de Gringotes. Mas, afinal, o que seria tão importante assim para precisar de um cão de três cabeças para guardar?


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