O Início das Aulas



No dia seguinte da seleção, a mancha preta no nariz de Rony já tinha sumido o que fez com que se sentisse melhor e mais confiante para assistir as primeiras aulas em paz.



Em paz? Paz era o que Rony estava longe de ter. Desde o primeiro dia ele e Harry se tornaram amigos inseparáveis, porém tinha que admitir que andar ao lado de Harry Potter não era nada confortável. Todos estavam curiosas com o fato de o famoso menino que sobreviveu estar finalmente estudando, e por isso os dois não tinham um minuto sequer de sossego. As pessoas paravam nos corredores quando passavam, cochichando e apontando, e até mesmo fazendo fila do lado de fora das salas de aulas para poder vê-lo. Harry era um garoto tímido, e toda essa atenção o incomodava. Rony tentava se compadecer do amigo e por isso passavam muito tempo no dormitório ou na sala comunal da Grifinória conversando ou jogando xadrez, e quando tinham que ir para as aulas, tentavam se locomover o mais rápido possível. Às vezes se perguntava se caso o cara famoso fosse ele, se não ia gostar um pouco dessa atenção. Talvez no fundo gostasse um pouco, era bom ser destaque pra variar, mas Harry não gostava, e Rony respeitava seu amigo.



O grande problema é que Hogwarts era um labirinto, e tentar ir rápido para algum lugar era uma tarefa quase impossível. Todos os dias os meninos se perdiam tentando chegar nas salas, pois tinham mais de cento e quarenta escadas, algumas que eram paredes fingindo ser escadas, outras que parecia te levar para o andar de cima, mas ao subir na verdade estava te levando de volta para o mesmo lugar. Outras tinham degraus falsos que você tinha que decorar quais eram ou então enfiava o pé no fundo. Tinha centenas de corredores, alguns que inclusive mudavam de lugar, ou só apareciam em alguns dias da semana. Além disso, haviam portas que não abriam a não ser que a pessoa pedisse por favor, ou fizesse cócegas nelas no lugar certo e portas que não eram bem portas, mas paredes sólidas que fingiam ser portas. 



Era um verdadeiro caos, e quase todos os dias daquela semana Rony e Harry chegaram atrasados nas aulas. O ideal seria ter um mapa de Hogwarts, que tivessem desenhados todos os caminhos e atalhos, mas como infelizmente uma ferramenta dessas não existia, tinham que se virar para memorizar o caminho, ou contar com a sorte de encontrar algum fantasma de bom humor que os ajudasse. No geral, os fantasmas eram solícitos, principalmente Nick Quase sem Cabeça. Já de Pirraça eles passavam longe, pois o poltergaist fazia questão de atrapalhá-los sempre que podia, se não era dando informação errada, era pregando peças idiotas, hora acertando bolinhas de papel ou bombas de água, hora empurrando os alunos em armários.



Porém enfrentar Pirraça não era a pior coisa. O zelador, Argos Filch, era pior do que seus irmãos tinham lhe falado. Logo na primeira manhã de aula foram abordados pelo homem com ameaças de serem trancados nas masmorras e cutucões, pois estavam tentando forçar passagem por uma porta trancada num corredor que entraram por engano, e que, por azar, era justamente o corredor proibido do terceiro andar. Se não fosse o professor Quirrel estar passando na hora...



E Filch não trabalhava sozinho, ele contava com a ajuda de sua Gata, a madame Norrra, um animal magro e feio, igualzinho ao dono, que sabia exatamente quando um aluno fazia coisa errada e corria para busca-lo. Fred tinha dito uma vez que seu sonho de consumo era dar um belo pontapé naquela gata feia e Rony já de cara compartilhou a ideia, mas chegar perto da felina também não era fácil. Ela e Filch provavelmente eram os que mais conheciam as passagens secretas de Hogwarts, talvez equiparados com Fred e Jorge, e por isso chegavam rápido aos lugares, sendo difícil a tarefa de despistá-los.



Além disso haviam as aulas. Fazer magia era muito mais difícil do que imaginara. Sua mãe, pai e irmãos faziam magia com tanta naturalidade que Rony achou que era só pegar a varinha e florear, mas se enganou totalmente. Nunca imaginou ter que conhecer as estrelas do céu e suas posições e os planetas como estava aprendendo na aula de astronomia, toda quarta feira a meia noite. Ou saber cuidar de plantas e fungos e seus benefícios e funcionalidades como na aula de Herbologia, que tinha três vezes por semana com a professora Sprout, uma bruxa baixinha e gorducha diretora da Lufa-Lufa.



Ainda tinha a aula de História da magia. O professor era um fantasma que um dia adormeceu e quando acordou saiu para dar aula deixando seu corpo para trás. Era uma aula extremamente chata e maçante, não conseguia anotar as datas e nomes que ele falava pois era muita informação e ele falava baixo, e se o interrompesse ele ainda ficava bravo. No final acabava sempre pegando no sono, sendo acordado por Hermione que para falar a verdade, devia ser a única pessoa a prestar atenção no que o professor falava.



O Professor Flitwick, que ensinava Feitiços, era um bruxo miudinho que tinha de subir numa pilha de livros para enxergar por cima da mesa. A única aula que teve com ele não passou de teoria, e só com isso Rony percebeu que fazer feitiços não era nada simples. Os feitiços tinham uma pronúncia certa, além do floreio da varinha não ser o mesmo para todos. Teria que estudar, estudar muito, se quisesse realmente mostrar à sua família que era tão bom quanto os outros.



Na primeira aula que teve com a professora Minerva, que era professora de transfiguração, Rony percebeu que ela era tão severa e centrada quanto na primeira vez que a viu, e não precisou de cinco minutos de aula para constatar isso, pois logo no primeiro dia ela demonstrou em cada palavra que pronunciava:



— A Transfiguração é uma das mágicas mais complexas e perigosas que vão aprender em Hogwarts. Quem fizer bobagens na minha aula vai sair e não vai voltar mais. Estão avisados. — Transformou, então, a mesa em porco e de volta em mesa.



Todos ficaram muito impressionados com a demonstração e já pegaram suas varinhas esperando fazer o mesmo, mas não tinha passado dez minutos de aula e já puderam perceber que transformar móveis em animais não seria tão fácil como a professora Minerva fazia parecer. Depois de fazerem anotações complicadas, receberam um fósforo e começaram a tentar transformá-lo em agulha. Rony tentou, e tentou, e tentou mais uma vez, mas o fósforo não fazia qualquer menção de mudar. Olhou para os lados e ao que parecia ninguém estava conseguindo também. No final da aula, somente Hermione conseguiu produzir alguma coisa. A professora mostrou à classe com orgulho como o fósforo dela havia ficado totalmente prateado e um pouco arredondado, e deu a aluna um pequeno sorriso. Com certeza depois disso tudo Hermione ficaria ainda mais metida do que já era normalmente



No final desse dia o alunos foram finalmente para a aula mais aguardada por todos: defesa contra as artes das trevas. Sempre ouviu de sua família que era a melhor aula de todas, que, apesar de todo ano ter um professor novo, lá aprendiam feitiços de ataque e defesa, onde caso algum dia houvesse algum tipo de batalha, estariam prontos para lutar. E ainda, defesa contra as artes das trevas era a principal matéria para quem um dia almejava ser Auror, a profissão mais legal do mundo bruxo na sua opinião.



Porém, a aula foi o maior fiasco. O professor parecia ter medo de tudo, inclusive dos alunos; falava gaguejando e caso alguém o chamasse de surpresa ele gritava, assustado. Sua sala tinha um cheiro horrível de alho, que ele disse ser para se proteger de um possível vampiro que conheceu na Romênia e que prometeu atacá-lo qualquer dia desses. A única coisa que pareceu ser interessante foi quando ele  começou a contar sobre seu turbante, que disse ser um presente de um príncipe africano, que lhe deu quando o defendeu de um zumbi incômodo. Porém quando Simas Finnigan pediu detalhes de como o liquidou, Quirrell ficou nervoso e inquieto, e mudou de assunto bruscamente. Além disso, Rony reparou ao se aproximar do professor, que seu turbante tinha um cheiro esquisito, e quando contou à Fred e Jorge eles disseram que ele devia colocar mais alhos por baixo dos panos, para que ficasse protegido em todo lugar.



Finalmente sexta-feira chegou, e da semana foi o melhor dia. Rony e Harry finalmente acertaram o caminho para o salão principal sem se perder nenhuma vez, e puderam tomar o café da manhã com calma.



— O que temos hoje? — Harry perguntou enquanto Rony passava geléia em uma torrada.



— Poções duplas com o pessoal da Sonserina. — Falou, desanimado, ao lembrar-se que iria ter aula junto com Draco Malfoy. — O professor Snape é diretor da Sonserina. Dizem que sempre os protege, vamos ver se é verdade.



— Gostaria que Minerva nos protegesse. — Harry comentou.



Se tem uma coisa que a professora Minerva não demonstrou foi preferência pela sua casa e nem por ninguém; pelo contrário, passou uma pilha imensa de dever de casa.



Naquele instante chegou o correio. Centenas de corujas entraram sobrevoando as meses, fazendo um grande barulho e soltando penas por todos os lados. Rony esperou que a coruja de sua família, Errol, trouxesse sua correspondência. No dia seguinte à seleção Rony mandou uma carta para seus pais, contando que havia sido selecionado para a Grifinória e que se tornara amigo de Harry. Não tinha certeza se receberia alguma resposta pois Errol era uma coruja muito velha e as vezes demorava vários dias para levar e trazer as correspondências. Mas alguns minutos depois a velha coruja marrom veio voando de forma atrapalhada em sua direção. A ave tropeçou na mesa e caiu com a cara dentro de uma tigela de cereais. Algumas pessoas riram e Rony bufou; até mesmo sua coruja era velha e o envergonhava. Puxou Errol da tigela e pegou a carta em sua pata, ignorando os risinhos dos outros:



 



"Querido Rony,



Estamos muito contentes que você tenha ido para a Grifinória, não tínhamos dúvida de que você iria. Também é muito bom que você faça companhia a Harry, ele deve se sentir sozinho, o coitadinho. Você está se alimentando direito? Está colocando suas roupas sujas para lavar? Está trocando de cuecas todos os dias? Espero que sim! A partir de agora as coisas ficarão difíceis, você terá que estudar bastante e se dedicar as aulas, espero que  tire notas boas assim como seus irmãos e que não apronte nada, pois se eu receber alguma coruja reclamando de você, vai se ver comigo quando voltar. Estamos com muitas saudades, ainda não me acostumei a não ter você aqui comigo e Gina. Mande beijos para seus irmãos. Esperamos ansiosamente vocês no natal.



Com amor, Mamãe."



 



Rony sorriu, sua mãe não mudaria nunca. Deu alguns biscoitos para Errol, que parecia cansado.



— Obrigado. — Falou acariciando as penas dele. Errol deu umas bicadinhas em seu dedo.



— Me empresta sua pena? — Harry pediu.



O garoto escreveu alguma coisa e mandou sua coruja enviar. Edwiges era uma coruja branca e imponente, umas das corujas mais bonitas que já tinha visto. Perto dela, Errol parecia meio patético. Seu amigo parecia feliz com a carta que recebeu.



— Rúbeo me convidou para tomar chá na casa dele mais tarde. — Harry informou, feliz. — Vamos para a aula, melhor não nos atrasarmos no primeiro dia com aquele professor esquisito.



Ainda bem que saíram com antecedência, pois Rony e Harry se perderam no caminho. A sala de aula ficava nas masmorras e o caminho até lá era um pouco mais longo. Por sorte chegaram antes do professor entrar, e logo se ajeitaram em carteiras um pouco mais distantes. A sala era fria, muito mais fria do que no restante do castelo. Havia milhares de frascos de diferentes cores e líquidos e animais embalsamados flutuando próximos às paredes, dando um ar sombrio ao local. A matéria de Snape era uma das matérias mais interessantes – e complexas – que tinha visto, e teria curtido muito mais se não fosse por um único problema: Snape não gostava nada de Harry, sem ter nenhum motivo para isso, pois o menino sequer tinha aberto a boca.



No início da aula, Snape fez a chamada e ao chegar no nome de Harry, parou de falar.



— Ah, sim — disse baixinho. — Harry Potter. A nossa nova celebridade.



Draco Malfoy e seus amigos Crabbe e Goyle deram risadinhas escondendo a boca com as mãos. Sape fingiu não ver a zombaria dos sonserinos e quando terminou a chamada, levantou seus olhos negros para a classe, encarando-os um a um.



— Vocês estão aqui para aprender a ciência sutil e a arte exata do preparo de poções — começou. Falava pouco acima de um sussurro, mas eles não perderam nenhuma palavra. Como a Professora Minerva, Snape tinha o dom de manter uma classe silenciosa sem esforço. — Como aqui não fazemos gestos tolos, muitos de vocês podem pensar que isto não é mágica. Não espero que vocês realmente entendam a beleza de um caldeirão cozinhando em fogo lento, com a fumaça a tremeluzir, o delicado poder dos líquidos que fluem pelas veias humanas e enfeitiçam a mente, confundem os sentidos... Posso ensinar-lhes a engarrafar fama, a cozinhar glórias, até a zumbificar se não forem o bando de cabeças-ocas que geralmente me mandam ensinar.



Todos prenderam a respiração, assustados demais para sequer se mexer. Harry e Rony se entreolharam com as sobrancelhas erguidas. Hermione Granger estava sentada na beiradinha da carteira e parecia desesperada para começar a provar que não era uma cabeça-oca.



— Potter! — disse Snape de repente, o rosto de Harry ficou vermelho.  — O que eu obteria se adicionasse raiz de asfódelo em pó a uma infusão de losna?



Harry olhou suplicante para Rony, como quem pede ajuda, mas Rony estava tão confuso quanto ele. Já a mão de Hermione se ergueu no ar no mesmo instante: ela queria se mostrar como fazia em todas as aulas.



— Não sei, senhor — disse Harry. O garoto estava corado, mas, corajoso, respondeu olhando o professor nos olhos.



A boca de Snape se contorceu num riso de desdém.



—Tsk, tsk, a fama pelo visto não é tudo.



Harry ficou ainda mais vermelho, e o professor parecia satisfeito, como se estivesse provando algum ponto. Hermione continuava com a mão no ar, mas ele deu as costas, ignorando-a.



— Vamos tentar outra vez, Potter. Se eu lhe pedisse, onde você iria buscar bezoar?



Harry estremeceu levemente, ainda vermelho como um tomate. Rony queria muito ajudar o amigo, mas mesmo que soubesse a resposta, provavelmente não teria autorização para dizer. Snape estava implicando com Harry a troco de nada. Hermione esticava sua mão no ar o mais alto que pôde sem se levantar da carteira. Malfoy, Crabbe e Goyle, que se sacudiam de tanto rir.



— Não sei, senhor. — Harry repetiu, porém seu tom estava diferente. Estava visivelmente sem jeito, mas o tom de sua voz transpassava uma leve irritação.



— Achou que não precisava abrir os livros antes de vir, hein, Potter?



Snape encarava Harry com um ar de superioridade, mas o garoto não recuou e o encarava de volta olhando no fundo de seus olhos. Todos ali sabiam que ele fora criado por trouxas e que soube que era bruxo pouco antes de ir para Hogwarts, a história já tinha se espalhado, não era novidade. O que o professor pretendia envergonhando-o dessa maneira?



— Qual é a diferença Potter, entre acônito licoctono e acônito lapelo?



Ao ouvir isso Hermione se levantou da cadeira, ansiosa, a mão esquerda em direção ao teto da masmorra.



— Não sei — disse Harry, firme. — Mas acho que Hermione sabe, porque o senhor não pergunta a ela?



Alguns garotos riram, mas Rony ficou mais perplexo do que animado. Tinha percebido que seu amigo estava irritado com essa implicância gratuita, mas não imaginava que seria capaz de dar uma resposta dessas para o professor. Está aí um lado de Harry que não conhecia; seu pavio não era muito longo. O professor Snape torceu o lábio irritado com a resposta.



— Sente-se — disse com rispidez a Hermione, que sentou-se, triste. — Para sua informação Potter, asfódelo e losna produzem uma poção para adormecer tão forte que é conhecida como a Poção dos Mortos Vivos. O bezoar é uma pedra tirada do estômago da cabra e pode salvá-lo da maioria dos venenos. Quanto aos dois acônitos são plantas do mesmo gênero botânico. Então? Por que não estão copiando o que estou dizendo?



Rony sacou sua pena rapidamente, assim como todos na classe, saindo do torpor pelo atrito entre aluno e professor e começou a anotar. Snape curvou-se para Harry, os olhos semicerrados.



— E vou descontar um ponto da Grifinória por sua impertinência, Potter.



Mas tirar o ponto pelo jeito não tinha sido o suficiente para Snape descontar a raiva que sentiu por Harry ter-lhe respondido de forma mal-criada, e as coisas só pioraram para os alunos da Grifinória. Na continuação da aula de Poções, separou os alunos aos pares e mandou-os misturar uma poção simples para curar furúnculos.



Caminhava imponente com sua longa capa negra, observando-os pesar urtigas secas e pilar presas de cobras, criticando quase todos, exceto Draco, de quem parecia gostar. Tinha acabado de dizer a todos que olhassem a maneira perfeita com que Draco cozinhara as lesmas quando um silvo alto e nuvens de fumaça invadiram a masmorra. Neville conseguira derreter o caldeirão de Simas, transformando-o numa bolha retorcida e a poção dos dois estava vazando pelo chão de pedra, fazendo furos nos sapatos dos garotos. Em segundos, a classe toda estava trepada nos banquinhos enquanto Neville, que se encharcara de poção quando o caldeirão derreteu, tinha os braços e as pernas cobertos de furúnculos vermelhos que o faziam gemer de dor.



— Menino idiota! — vociferou Snape, limpando a poção derramada com um aceno de sua varinha. — Suponho que tenham adicionado as cerdas de porco-espinho antes de tirar o caldeirão do fogo?



Neville chorou quando mais furúnculos começaram a aparecer.



— Leve-o para a ala hospitalar — Snape ordenou a Simas.



Em seguida virou-se zangado para Rony e Harry, que estavam trabalhando ao lado de Neville.



— Você, Potter, por que não disse a ele para não adicionar as cerdas? Achou que você pareceria melhor se ele errasse, não foi? Mais um ponto que você perdeu para Grifinória.



Os olhos de Harry faiscaram em direção ao professor. Rony percebeu que ele iria falar mais alguma coisa que faria a Grifinória perder mais alguns pontos e ainda o meteria em apuros. Rapidamente deu um pontapé em Harry.



— Fica quieto! — cochichou. — Se responder de novo pode piorar as coisas.



— Qual é o problema desse cara? — perguntou o garoto, estressado — Nem o conheço, por que implica comigo?



Rony preferiu não dar corda à raiva que Harry sentia e não respondeu. O restante da aula ficaram em silêncio, assim como no caminho de volta e em boa parte do almoço. O garoto estava chateado, mas não era pra menos: já na primeira semana de aulas perdeu pontos para a casa da Grifinória, e sem nem ter aprontado nada.



— Não fica desse jeito. — Rony falou, tentando puxar assunto — Snape está sempre tirando pontos de Fred e Jorge.



Harry sorriu, mas seu rosto não melhorou.



— Não entendo o que fiz de errado para o professor Snape não gostar de mim. —  disse o garoto, frustrado.



— Talvez seja porque você é famoso. — Rony concluiu — Algumas pessoas não gostam de gente famosa, acham que são esnobes. Daqui a pouco ele percebe que você não é assim.



— Espero... — suspirou.



Passaram mais alguns minutos em silêncio. Teriam a tarde livre, talvez fosse bom convidar Harry para jogar xadrez de bruxo, isso iria fazer com que esquecesse um pouco do ocorrido. Estava ensinando ao amigo como jogar e até que ele estava aprendendo rápido, mas ainda assim não chegava nem perto de vencê-lo.



— Ei, Harry. O que acha de jogarmos xadrez à tarde? Talvez você já consiga segurar o jogo por mais de cinco minutos.



Harry riu, atirando uma bolinha de guardanapo amassado em sua direção.



— Me dê um tempo que eu vou te vencer! — Falou, desafiador — Mas essa tarde vou passar, tenho que visitar Rúbeo.



— Verdade, tinha esquecido. Será que posso ir? — Rony perguntou. Gostava de Rúbeo, e queria conhecer sua casa.



— Claro! — Harry falou, animado. — Ele vai adorar, aposto.



Os meninos voltaram para o salão comunal para adiantar seus deveres de casa. As cinco para as três eles saíram do castelo em direção à cabana de Hagrid, que ficava na orla da floresta proibida. A casinha de madeira era cercada por plantações de alguns frutos e pequenas árvores, e havia também um cercado com pequenos animais. À frente da porta tinha um par de galochas grandes o suficiente para caber seus doius pés de uma só vez.



Ao baterem na porta, ouviu-se uma grande agitação e uma série de latidos lá dentro.



— Para trás, Canino para trás. — ouviu-se a voz grossa de Hagrid lá dentro.



A cara barbuda do meio gigante apareceu na fresta quando a porta se abriu, mas no mesmo instante ele a fechou novamente.



— Espere aí. Para trás, Canino.



Finalmente ele abriu a porta, segurando com firmeza a coleira de um cão de caçar javalis enorme de cor marrom escura, que pulava e se contorcia, latindo forte, em direção aos meninos. Rony disfarçadamente entrou para trás de Harry: se o cão fugisse, atacava ele primeiro.



A cabana era enorme para ele, um bruxo comum, mas para alguém do porte de Rúbeo, era pequena. Tinha só um aposento, que era ao mesmo tempo cozinha, quarto e sala. A cama ficava ao canto e era enorme. Do lado oposto, uma chaleira apitava no fogo e o teto era repleto de presuntos e outras carnes frescas.



— Estejam à vontade — falou Hagrid e em seguida soltou canino. Rony e Harry recuaram no mesmo instante que o cão correu até eles e, para o seu azar, Canino pulou justamente em cima de Rony. Porém, ao contrário do que pensou, o cachorro começou a lamber-lhe a orelha, abanando o rabo freneticamente. Como Hagrid, parecia óbvio que Canino não era tão feroz quanto se esperava.



— Este é o Rony — Harry o apresentou, enquanto o ruivo tentava se desvencilhar de Canino.



— Mais um Weasley, hein? — exclamou Hagrid olhando para Rony, simpático — Passei metade da vida expulsando seus irmãos da floresta.



O meio gigante lhes ofereceu biscoitos e chá. Os biscoitos quase quebraram os dentes deles, mas Rony e Harry fingiram gostar. Desataram a contar à Hagrid como tinham sido as primeiras aulas e ele participava da conversa com um sorriso nostálgico no rosto, pontuando o que falavam com coisas de sua época de aluno, e os meninos ficaram contentes de ouvir Hagrid chamar Filch de guitarra velha.



— Quanto àquela gata, Madame Norrra, às vezes eu tenho vontade de apresentar o Canino a ela. Sabe que todas as vezes que vou até a escola ela me segue por toda parte? Não consigo me livrar da gata. É Filch que a manda fazer isso.



Harry, angustiado, contou sobre a aula com Snape. Hagrid, disse a ele que não se preocupasse, que Snape não gostava praticamente de nenhum aluno.



— Mas ele parecia que realmente me odiava. — retrucou inconformado.



— Bobagem! Por que o odiaria? — Hagrid perguntou retoricamente, parecendo tentar fugir do assunto. Então virou-se para Rony — Como vai seu irmão Carlinhos? Eu gostava muito dele, tinha muito jeito com animais.



— Carlinhos está ótimo! — falou animado, Carlinhos era seu irmão mais chegado. Rony sofreu quando teve que partir no ano anterior. — Está estudando dragões na Romenia. Disse que um dos dragões, o Rabo-Córneo-Húngaro que ele cuida, fez uma queimadura tão forte nele que quase ficou sem um dedo.



— Eu gosto muito de dragões, sabe. São animaizinhos muito interessantes. — Rony arregalou os olhos quando ele falou no diminutivo. Acho que não entendeu quando falou que seu irmão quase perdeu um dedo.



— Rúbeo! — exclamou Harry de repente. — Aquele arrombamento de Gringotes aconteceu no dia do meu aniversário! Talvez estivesse acontecendo enquanto a gente estava lá!



Hagrid deu um pulo à menção do assunto. De repente ficou sério, dizendo ter algo muito importante a fazer e que havia esquecido. Encheu a mão com os biscoitos duros e enfiou de qualquer maneira no bolso dos meninos, e praticamente os jogou para fora da cabana. Os garotos ficaram parados à porta por alguns instantes, assustados.



— Pelo jeito ele não quer falar sobre isso. — Harry concluiu enquanto voltavam.



— Por que você está tão interessado nesse caso do Gringotes? — Rony perguntou curioso — Não é a primeira vez que vejo você falar disso.



— No dia do meu aniversário Hagrid me levou ao banco para pegar meu... minhas coisas. — Harry evitava falar de dinheiro perto de Rony. Ele tentava poupá-lo do assunto, mas para Rony fazer isso era ainda pior. — Antes de passarmos no meu cofre, ele pegou um pacotinho nesse cofre que foi roubado. Era um pacote muito pequeno, não parecia nada importante, talvez os ladrões tenham errado.



— Talvez. Mas no mundo bruxo pequenas coisas tem tanto valor quanto muitos galeões...



— Então poderia ser alguma coisa muito importante mesmo. — Harry comentou, pensativo.



Rony procurou afastar esses pensamentos de sua cabeça. O que quer que fosse aquilo, não dizia respeito à duas crianças como eles. Harry era um bom menino, mas se preocupava demais. Melhor mesmo era pensar que o fim de semana passava rápido e mais aulas estavam por vir, e é claro, torcer para que não se metessem em mais confusão.


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